O tal do passaporte bralemão

Comprando sei-lá-o-quê com minha irmã em uma livraria na Alemanha, vimos na prateleira uma capinha para passaporte que imitava a aparência exterior de um passaporte alemão: vermelha, com o brasão e os dizeres típicos.

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“Não seria engraçado colocar nossos passaportes [brasileiros] em capinhas dessas?” Por pura diversão, e também por eu estar sem capinha de passaporte desde a época daquelas da Embratel (elas ainda existem?), minha irmã comprou uma para mim.

Só mais tarde pensei que talvez não conviesse usá-la. Alguém do controle de imigração na Alemanha poderia achar ofensivo. Talvez um policial federal brasileiro mal-humorado pudesse encrencar. Ou então talvez eu tivesse problemas em outros países da Europa, se erroneamente achassem que minha intenção era fazer-me passar por cidadão europeu. Poderia ter problemas semelhantes também nos Estados Unidos, onde turista europeu tem dispensa de visto em visitas de até 90 dias, uma vantagem que brasileiro não tem.

Afinal, resolvi (num desses momentos raros para mim) permitir que a inclinação à comédia fosse mais forte que a precaução contra a tragédia. A diversão potencial que o passaporte bralemão oferecia era muito boa para ser desperdiçada. Para evitar maiores problemas, bastava entrar na fila certa (a de brasileiros ou a de não europeus, conforme o caso) e apresentar às autoridades o passaporte já aberto na página de identificação.

Após um ano e meio de uso constante da capinha (e algumas viagens, inclusive à Europa, aos Estados Unidos e a países do Mercosul), ela gerou repercussão apenas duas vezes, ambas na minha atual viagem à Argentina. (Ah, pois é: estou na Argentina.)

Na primeira, um funcionário da companhia aérea percebeu e comentou. “Passaporte alemão? Ah, não, é uma capinha…” Nada mais.

A segunda gerou alguma tensão. Um policial federal brasileiro, no controle de saída, viu o passaporte aparentemente alemão e logo pediu que eu devolvesse a ele o formulário de entrada (que só estrangeiros recebem; brasileiros, não). Expliquei que não tinha o tal formulário porque não era o caso. “Sou brasileiro; é só uma capinha.” Ele sorriu. Pensei em complementar: “é uma analogia à minha irônica realidade: aparência alemã, mas nacionalidade brasileira”. Mas só sorri de volta, agradeci e dei lugar ao próximo da fila.

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