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“Tudo, e tu?”

Por que alguém escreveria “já estou melhor, obrigada” com azulejos na parede? A pergunta do último post continua sem resposta. Mas uma coisa é certa, e o Felipe captou muito bem ao comentar esse post: se fosse pra eu escrever algo parecido em azulejos, seria “Tudo, e tu?”!

Aceitei o desafio.

Era mais ou menos isso, Felipe? 😉

“Já estou melhor, obrigada”

O mês de junho foi silencioso aqui no blog. E vou romper esse incômodo silêncio com algo inusitado que me intriga há quase um ano e meio. Isto:

Já estou melhor, obrigada“, escrito com azulejos numa parede no centro de Lisboa, bem pertinho da estação de metrô do Chiado. Passei ali várias vezes no Ano Novo de 2008, quando estava por lá com toda a família (“ah, those happy times…“). Em 02/01/2008, antes que fosse embora e perdesse a oportunidade, fotografei.

Por que alguém escreveria “já estou melhor, obrigada” com azulejos na parede? Hoje resolvi googlar (não sei como não me tinha ocorrido fazer isso antes) e, embora não tenha encontrado a resposta, encontrei três fellow blogueiros que fotografaram o mesmo local. Um, em 21/10/2007; dois, em 31/03/2008; e três, em 16/04/2009.

Vale a pena conferir os links, porque os demais blogueiros tiveram mais sorte do que eu: conseguiram capturar os azulejos sem aquele armário ou sei-lá-o-quê metálico horrendo que aparece na minha foto, na frente do “hor” do “melhor”. (“Já estou mel, obrigada”?)

Além do mais, é legal porque são três perspectivas diferentes, de três pessoas que nem se conhecem, sobre um mesmo detalhezinho que lhes chamou a atenção ao passar por uma ruela de Lisboa.

Um detalhezinho, mas não se pode dizer que seja ‘insignificante’… Teve algum significado para uma determinada lisboeta que, em algum momento na história, ficou tão agradecida por alguma coisa – pela solidariedade dos amigos enquanto estava em uma fase ruim, quem sabe? – que resolveu registrar esse agradecimento num letreiro de azulejos.

Talvez mais curiosa que a razão de a mensagem estar ali seja a razão de alguns repararem (como eu) e outros não (acho que da minha família poucos deram bola). Disse bem a blogueira número um (xanda); cito:

Todos os dias, milhares de pessoas passam atarefadas em direcção ao metro do Chiado… poucas olham para o lado… e destas, muito poucas reparam na mensagem deixada na parede: “Já estou melhor, obrigada” =)

Será que é por acaso que poucos reparam e muitos não? Pode ser que não só na vida da lisboeta agradecida esses 23 azulejos tenham algum significado. Pode ser que também sirvam para gerar uma sensação de pequenez do universo, de proximidade entre pessoas que estão por aí, aparentemente tão distantes, mas mais próximas do que imaginam por causa das suas percepções parecidas quanto ao que há ao seu redor.

Quanto a mim, sei lá se já estou melhor (não que esteja propriamente mal, mas melhor… não sei). De igual forma, pretendo voltar a postar.

Relembrando Portugal

Antes de ir a Portugal, prometi a minha prima Marcelle, então vestibulanda, que tiraria uma foto junto ao túmulo de Luís Vaz de Camões. Hoje, resolvi publicar aqui a foto em homenagem a minha prima… ex-vestibulanda… agora bixo 2008 da Medicina da UFRGS!

Aproveito para lembrar um dos mais lindos e conhecidos sonetos de Camões, bastante popularizado pela canção “Monte Castelo”. Embora Renato Russo escrevesse lindas letras, o sucesso desta em particular ele deveu à genialidade de Camões e do apóstolo Paulo em I Coríntios 13! Mas voltemos a Camões…

Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Postálbum de Lisboa

Conforme prometido, dedico um post retroativo sobre minha viagem à capital portuguesa, na semana em torno da virada de ano.

Em primeiro lugar, foi uma viagem em família: mãe e pai, irmãs e cunhados, e eu – o avulso convicto. Nos últimos dois dias da estada, mais duas pessoas juntaram-se a nós: amigas brasileiras e cristãs que temporariamente trabalham na Igreja Anglicana em Londres. Na verdade, com a chegada delas, a viagem continuou sendo em família!

Em segundo lugar, foi uma experiência bastante intensa, e é uma pretensão muito ousada resumir tudo num só post. Ainda assim, é o que eu preciso fazer, porque a vida continua, e assim também deve acontecer com minha atividade de postagem, antes que comecem a surgir comentários com xingamentos – que, aliás, eu mereceria, porque tenho sido relapso com a atualização do blog!

Então vamos lá: Postálbum de Lisboa, um Guia de Viagem do Guri, com recomendações para o leitor e potencial visitante! Não podes deixar de…

1. Visitar o centro da cidade

Visitar a Praça do Comércio (Terreiro do Paço) e a margem do Tejo, caminhar pelas ruas do centro da cidade, observar os mosaicos das calçadas e os prédios da época da reconstrução pós-terremoto de 1755, tomar um eléctrico (português europeu para o que conhecemos como bonde!) para subir e descer as ladeiras nas ruelas estreitas, assistir a uma apresentação de fado tomando vinho do Porto… “Coisa de turista”, é verdade, mas isso não quer dizer que esses programas não valham a pena e não devam ser feitos! Quanto ao eléctrico, sugiro esperar por um que não esteja muito lotado… Superlotação atrapalha a vista e traz outros inconvenientes (por enquanto, faço mistério!).

No centro da cidade, um ponto a visitar é o Panteão Nacional, uma construção imponente e com uma bela vista para o Tejo, onde estão sepultadas diversas personalidades portuguesas.

2. Observar os azulejos

Os azulejos que revestem boa parte dos prédios de Lisboa são uma das peculiaridades mais encantadoras da cidade. Há de diversos padrões e cores. Observa também os edifícios que apresentam um tipo diferente de azulejo por andar: é surpreendente como as combinações dão certo mesmo que os tipos de azulejos não combinem entre si!

Ah, claro: para ir a fundo na azulejomania, vale visitar o Museu Nacional do Azulejo, que compreende uma exposição sobre o processo de fabricação dos azulejos, além de variados exemplares oriundos de diversos lugares e feitos em diferentes períodos.

3. Subir num elevador

Parte importante do passeio pelo centro turístico da cidade é subir algum dos elevadores que unem a cidade baixa e a alta. Minha família e eu fomos a apenas um, o Elevador de Santa Justa (ou do Carmo). Estar no elevador em si é como entrar em uma viagem ao passado, e a vista lá do alto é muito bonita. Na primeira foto, vê-se a cidade e, ao fundo, no topo do morro, o Castelo de São Jorge – aliás, outra visita interessante, tanto pela história quanto pela vista que se tem sobre a cidade.

Na segunda foto, também tirada do alto do elevador do Carmo, vê-se a Praça de Dom Pedro IV (o Dom Pedro I do Império do Brasil!), também conhecida como Praça do Rossio, e o Teatro Dona Maria.

4. Comer delícias tipicamente portuguesas

Lisboa é o sonho de consumo de toda formiga (como eu). A cultura do que costumamos chamar de doce de Pelotas nasceu lá. Experimentá-la é tão delicioso quanto ir a uma Fenadoce permanente. Claro que é igualmente calórico, por isso vale o lema aquele das propagandas de cerveja: aprecia com moderação! Pastéis de Belém são uma boa opção, especialmente se comprados em Belém mesmo, em uma das lojas tradicionais (que obviamente tende a cobrar um euro por um docinho – mas, afinal de contas, isso é turismo, meu amigo!).

Tirei a foto antes de comer uma rabanada em uma especial homenagem à Sandrine, uma querida amiga que, se está lendo este post, deve estar babando a essas alturas. Sandi: provei rabanada e amei! Ainda assim, é bom advertir: é uma bomba calórica daquelas de comer uma vez na vida, e era isso. Tá bem – uma vez por ano, talvez. 😉

5. Visitar o Parque das Nações

O Parque das Nações foi construído para sediar a Expo 1998. Fora o teleférico ao longo do Tejo, a Torre Vasco da Gama (edifício mais alto de Lisboa) e o Oceanário, aparentemente não há muitas atrações permanentes. O que vale no Parque é caminhar e ver a arquitetura moderna e criativa: as referências à navegação são evidentes, como na foto acima. Partindo do centro chega-se lá bem facilmente através de uma linha de metro (não metrô!).

6. Ir a Belém

Patrimônio Mundial segundo a UNESCO, o Mosteiro dos Jerónimos é, na minha opinião, um dos pontos altos da visita a Lisboa/Belém. Há quem ache bobagem, mas eu me detive um bom tempo no gigantesco painel de três linhas: numa, a cronologia descrevendo a história de Portugal; noutra, a do mosteiro; na terceira, a mundial. Em seguida, vale dar um pulo no Padrão dos Descobrimentos e na Torre de Belém, também Patrimônio Mundial.

Detalhe externo do Mosteiro

Nave da Igreja

Claustro do Mosteiro

Padrão dos Descobrimentos

Torre de Belém

7. Acreditar no que dizem os cartazes

Um dos momentos de mais adrenalina da viagem, em um eléctrico desumanamente lotado a caminho de Belém, foi sentir a minha carteira sair lentamente do bolso de trás da calça jeans. Minha sorte foi que me virei subitamente e, por causa do movimento, fiz com que a carteira caísse no chão. A partir daí, claro, passei a andar com a carteira no mais profundo dos bolsos da minha mochila.

O curioso da história é que eu nunca gostei de andar com a carteira no bolso, nem tenho esse costume. Certas coisas acontecem pra ensinar lições que a gente já sabia…

Carteiristas (Portugal) = batedores de carteira (Brasil)
(A diferença é que no Brasil são mais bem treinados!)

8. Ir a Sintra

O Palácio Nacional da Pena, outrora residência de verão da família real portuguesa, é sem dúvida o mais deslumbrante entre os que há na vila histórica de Sintra, tanto a construção em si quanto a decoração dos ambientes. De lá se pode ver o Castelo dos Mouros, construído no século VIII. Mais próximo da vila fica o Palácio Nacional de Sintra, utilizado pela família real portuguesa até o fim da monarquia, no início do século XX.

Palácio Nacional da Pena

Castelo dos Mouros

Palácio Nacional de Sintra

Um excelente fechamento para a visita a Sintra, bem como para este postálbum, é a Quinta da Regaleira. As descrições supermísticas sobre o parque contidas nos guias turísticos de Sintra assustam, mas a verdade é que o parque é uma aventura, com grutas secretas, o poço iniciático (uma espécie de torre invertida). O palácio, de projeto do italiano Luigi Manini, é de interesse mais arquitetônico do que histórico. A dica é não perder muito tempo no palácio e ir desvendar os mistérios do parque, preferencialmente aproveitando a luz do dia.

Palácio da Regaleira

Capela da Quinta da Regaleira