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O tal do passaporte bralemão

Comprando sei-lá-o-quê com minha irmã em uma livraria na Alemanha, vimos na prateleira uma capinha para passaporte que imitava a aparência exterior de um passaporte alemão: vermelha, com o brasão e os dizeres típicos.

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“Não seria engraçado colocar nossos passaportes [brasileiros] em capinhas dessas?” Por pura diversão, e também por eu estar sem capinha de passaporte desde a época daquelas da Embratel (elas ainda existem?), minha irmã comprou uma para mim.

Só mais tarde pensei que talvez não conviesse usá-la. Alguém do controle de imigração na Alemanha poderia achar ofensivo. Talvez um policial federal brasileiro mal-humorado pudesse encrencar. Ou então talvez eu tivesse problemas em outros países da Europa, se erroneamente achassem que minha intenção era fazer-me passar por cidadão europeu. Poderia ter problemas semelhantes também nos Estados Unidos, onde turista europeu tem dispensa de visto em visitas de até 90 dias, uma vantagem que brasileiro não tem.

Afinal, resolvi (num desses momentos raros para mim) permitir que a inclinação à comédia fosse mais forte que a precaução contra a tragédia. A diversão potencial que o passaporte bralemão oferecia era muito boa para ser desperdiçada. Para evitar maiores problemas, bastava entrar na fila certa (a de brasileiros ou a de não europeus, conforme o caso) e apresentar às autoridades o passaporte já aberto na página de identificação.

Após um ano e meio de uso constante da capinha (e algumas viagens, inclusive à Europa, aos Estados Unidos e a países do Mercosul), ela gerou repercussão apenas duas vezes, ambas na minha atual viagem à Argentina. (Ah, pois é: estou na Argentina.)

Na primeira, um funcionário da companhia aérea percebeu e comentou. “Passaporte alemão? Ah, não, é uma capinha…” Nada mais.

A segunda gerou alguma tensão. Um policial federal brasileiro, no controle de saída, viu o passaporte aparentemente alemão e logo pediu que eu devolvesse a ele o formulário de entrada (que só estrangeiros recebem; brasileiros, não). Expliquei que não tinha o tal formulário porque não era o caso. “Sou brasileiro; é só uma capinha.” Ele sorriu. Pensei em complementar: “é uma analogia à minha irônica realidade: aparência alemã, mas nacionalidade brasileira”. Mas só sorri de volta, agradeci e dei lugar ao próximo da fila.

Caminhada única em Limburg

Como comentei num dos últimos textos, em 2013 passei a Páscoa com a família na Alemanha. Antes que chegue a Páscoa de 2014 (faltam dois meses!), vou contar da última.

Não foram férias, propriamente. Férias, no meu caso, costumam ser aquele tempo que eu reservo, não para descansar, mas para me cansar ainda mais, fazendo caminhadas de 20 quilômetros por dia (como em Montevidéu) ou turismo intensivo (como na Índia).

O diferente da Páscoa na Alemanha foi que eu descansei. Fiquei em casa com meus pais, minha irmã, meu cunhado e, principalmente, meus sobrinhos (de então quase três anos; hoje, quase quatro). Brincamos de Lego e de carrinho e de boneca e de avião e de tanta coisa mais que nem me lembro — a imaginação deles está sempre a mil.

Houve um dia — um só dia, em duas semanas — em que não resisti ao turista inquieto que há em mim e fui caminhar pela cidade e fazer algumas fotos. Limburg an der Lahn é uma cidade pequena (cerca de 33.000 habitantes) e bastante antiga (as primeiras menções a ela datam do ano 800), às margens do rio Lahn. No centro antigo, a presença das construções em enxaimel é marcante.

Kornmarkt, ou Mercado de Cereais

Mais casas em enxaimel

Dizeres em letras góticas: “Esta casa está nas mãos de Deus…”

Alte Lahnbrücke, ou Antiga Ponte do Lahn, construída em 1306; por aqui passava a Via Publica, uma estrada que, na Idade Média, ligava importantes cidades, como Bruxelas (Bélgica), Colônia (Alemanha), Frankfurt (Alemanha) e Praga (Boêmia, República Tcheca) 

Parte interna do Limburger Schloss, o castelo de Limburg

A Catedral de São Jorge (Sankt-Georgs-Dom ou Georgsdom) fica bem no alto de uma rocha às margens do rio Lahn e domina a vista da cidade; foi inaugurada em 1235

Nave central da Catedral

Calçadão no centro da cidade, com destaque à Prefeitura (Rathaus), construída em 1899

Aqui, lá e acolá pela Alemanha

Meu fevereiro na Alemanha foi bastante intensivo em trabalho, tempo com a família e viagens.

Na primeira quinzena, trabalhei num artigo sobre direito e política internacionais do investimento estrangeiro. Esse artigo precisa ainda receber os comentários e a aprovação dos meus orientadores – meu professor na NYU e minha supervisora no IISD – e então ser entregue ao Institute for International Law and Justice da NYU, do qual recebi bolsa para o estágio em Genebra. Terminada a primeira versão do artigo, comecei a trabalhar como consultor em dois projetos do IISD.

Essas atividades principais, desenvolvidas em dias de semana ao longo do mês, foram permeadas por momentos em família – com meus pais, irmã, cunha e os sobrinhos gêmeos Isabel e Felipe, nascidos em julho de 2010. As sessões de “babação do dindo Guri” foram numerosas e deliciosas. Os gêmeos retribuiram a atenção aprendendo em minha homenagem sua primeira palavra, um diminutivo do meu apelido: Gu.

Além disso, em alguns passeios de meio-turno e em todos os fins de semana de fevereiro viajei bastante pela Alemanha para resolver assuntos burocráticos e visitar amigos aqui, lá e acolá. Alguns amigos eu não via desde 2008, quando fiz o estágio no Secretariado das Nações Unidas para o Clima, em Bonn. Mas antes de contar sobre os passeios… dois acontecimentos inusitados.

* Inusitado I *

Na tarde do dia 14/02, estava eu trabalhando na sala da casa da minha irmã em Untershausen quando tive a experiência de meu primeiro terremoto! Foi um tremor de 4,4 graus na escala Richter, seguido de dois tremores secundários (algum tempo depois). Não houve danos, felizmente – foi só um susto emocionante!

* * Inusitado número II * *

Na noite de 15/02. estava eu de banho tomado, de pijama, sentado na sala do apartamento dos meus pais em Isselbach, trabalhando enquanto esperava por eles. Tocou a campainha. Achei que eram meus pais, mas era uma enfermeira, que não apenas chegou, mas chegou chegando: quando vi ela estava no meio da sala. Tinha vindo com urgência para atender minha esposa (?) doente.

No meu alemão limitado, tive que explicar a ela que só podia ser um engano e que ela tinha o endereço errado. Ela foi embora pedindo desculpas e eu fiquei por aí – para cuidar da minha esposa (!), o que eu só consegui fazer quando parei de rir, uns 15 minutos mais tarde.

Contei o acontecido num curto update no facebook e recebi vários comentários dando continuidade à história – minha irmã Lu desejando melhoras à cunhada; a amiga Jen fingindo ser minha esposa e reclamando de eu ter mandado a enfermeira embora; a amiga Évelyn sugerindo que eu levasse a minha esposa para um passeio de recuperação na Bavária… No dia seguinte, postei no facebook fotos da viagem com minha esposa ao Castelo de Neuschwanstein, na Bavária – mas resolvi parar, porque a coisa estava ficando fora de controle.

* * * Passeios * * *

Agora sim, aos passeios! A agenda foi intensa, então o relato vai ser resumido, com algumas fotos, só para dar um gostinho. Outras fotos selecionadas estão no meu álbum Deutschland Februar 2011.

Diez (02/02): Visitei com meus pais o Schloss Oranienstein, um castelo barroco construído pela princesa holandesa Albertine Agnes.


Schloss Oranienstein

Frankfurt (03-05/02): Fui ao Consulado Americano para fazer um reconhecimento de firma (burocracias para o NY bar!) e aproveitei para visitar um casal de amigos uruguayos – Magui e Diego.


Remando a Frankfurt


Almoço (Flammkuchen) com Magui

Heidelberg (06/02): Com meus pais, fui a um concerto da orquestra e do coro da Universidade de Heidelberg, em comemoração aos 625 anos da universidade: uma sinfonia de Schubert e uma missa de Bruckner.


Concerto na Stadthalle Heidelberg

Bonn (11/02): Recordando os bons tempos do meu estágio no Secretariado das Nações Unidas para a Mudança do Clima, fui a Bonn. Passeei pelo centro antigo, comprei coisinhas para meus sobrinhos na Bouvier (minha livraria preferida na cidade!), comprei também umas partituras de flauta para mim… e terminei com um almoço num restaurante grego, com Maria e Elsa, que trabalham no secretariado.


Beethovenstadt Bonn

Colônia (Köln) (11-12/02): Ainda na sexta-feira 11 à noite, encontrei-me com a Barbara, ex-colega de estágio no secretariado, e fomos a Colônia, onde ela mora. Depois da janta chegou o Tobias, namorado dela, e ficamos os três colocando os papos em dia por hoooras. No fim da noite, antes de pegar o trem de volta pra casa, fui para a outra margem do Reno para tirar fotos noturnas da cidade.


Catedral (Dom) e Hohenzollernbrücke


Cologne – vista da cidade antiga

Braunfels (17/02): Meus pais e eu passamos a manhã em Braunfels, onde há um grande número de casas em estilo enxaimel (em alemão, Fachwerk). Também fizemos uma visita guiada ao castelo, que, tal como Oranienstein, também pertence à nobreza holandesa.


Enxaimel em Braunfels


Schloss Braunfels

Colônia (Köln) revisitada (18/02): Fui de novo a Colônia para passar o dia com o amigo Lev, ex-colega da NYU. Entre outros passeios, subimos ao alto de uma das torres da catedral (157 m)! (Só pra lembrar: escadas, ok – na Idade Média não faziam torres com elevador.) Trata-se da maior catedral gótica do norte da Europa (a segunda maior é York Minster, que visitei em 2007). As torres são as segundas mais altas torres de igreja em todo o mundo, perdendo apenas para a da Catedral de Ulm (161 m), que eu subi com meu cunhado em 2001… antes que a era da fotografia digital começasse pra nós!

Depois do passeio com o Lev, encontrei Barbara e Tobias de novo para irmos juntos a um tradicional show de carnaval chamado Immisitzung. As piadas culturais e o pesadíssimo sotaque kölsch (ou seja, da região de Colônia) atrapalharam minha compreensão, mas no contexto até que entendi bastante! O tema da festa é a diversidade cultural de Colônia e, por isso, os convidados são incentivados a fantasiar-se de acordo. Por sugestão da Barbara, fui como teuto-brasileiro – mas não digo mais nada sobre minha fantasia. Fotos no álbum online.


Vista de Colônia do alto da catedral


Com o Lev na frente da catedral

Düsseldorf (19/02): Ir dormir às 3:30 da manhã depois da Immisitzung (!) não me impediu de acordar às 7:30 para pegar um trem a Düsseldorf, onde visitei o amigo Jens, que conheci na Argentina em 2008. Muita conversa para pôr em dia, claro, e muitos passeios pela bela cidade, que visitei pela primeira vez! Além de visitarmos um centro cultural japonês (Düsseldorf tem a maior colônia japonesa na Alemanha), fizemos uma caminhada sugerida pelo centro da cidade, procurando pistas para resolver uma charada… foi bem divertido!


Com o Jens no jardim japonês EKO-Haus (templo budista ao fundo)


Wallstraße – ou, como foi na semana da fusão das bolsas alemã e nova-iorquina, o título alternativo da foto é: “Dois nova-iorquinos observam o novo nome de Wall Street, em frente ao seu Starbucks preferido.”


Casa com relógio e sinos na Marktstraße

Koblenz (24/02): Para comemorar o aniversário da minha mãe, fomos comer sushi no nosso restaurante preferido aqui da área, em Koblenz.


Görresplatz, Koblenz

Descontando as idas e vindas entre Isselbach (onde moram meus pais) e Untershausen (onde moram irmã, cunha e sobrinhos), essas – ufa! – foram minhas superviagens pela Alemanha em fevereiro.

Para ter uma ideia aproximada da distância percorrida, coloquei os itinerários todos no Google Maps – de Isselbach a cada um dos destinos e de volta a Isselbach, somando… 1.226 km!

Ver ampliação

Claro que eu não podia terminar o post sem fazer menção ao meu meio de transporte mais usado (e preferido): InterCity Express (ICE) o trem de alta velocidade (até 300 km/h) da Deutsche Bahn, rede ferroviária alemã. Na volta de Düsseldorf, pouco depois que a tela do trem chegou a marcar 274 km/h, registrei na foto:


Voltando pra casa de ICE a 266 km/h!

Semana longa e linda

A semana passada foi provavelmente a mais longa e linda que já vivi. É incrível: há mais ou menos dez dias ainda estava na Alemanha, e agora estou de volta ao Brasil e totalmente imerso no meu quotidiano de maluco! Tanta coisa aconteceu, e não quero deixar isso tudo passar em branco… Por isso, retomo os acontecimentos da quinta-feira, dia 27/03, até hoje.c Aí entra um dos grandes propósitos do Blog do Guri: publicar minhas impressões sobre a vida, não só para o meu leitor paciente e persistente, mas também para o Guri de daqui a algum tempo, ou mesmo para os netinhos que provavelmente não virei a ter!

Quinta-feira, 27 de março

Como tinha dito no post anterior, fui à cidade de Colônia (Köln) com duas amigas estagiárias do Secretariado, e lá encontrei outra amiga, ex-estagiária. Visitamos a majestosa Catedral, a maior igreja gótica do Norte da Europa (seguida pela de York, que também visitei, em dezembro passado!) e com a segunda maior agulha de torre (só menor que a da Catedral de Ulm… que também visitei, e até subi ao topo da torre com meu cunhado Volker, quando fui à Alemanha pela primeira vez, em 2001… em termos de turismo sacro, meu currículo tá bem intressante!). Depois dali, jantamos em um restaurante bem legal, tivemos papos profundos… e ganhei (mais!) presentes de despedida! E mais aperto no coração…

A Catedral de Colônia: é praticamente impossível tirar uma foto de toda a igreja, por isso está cortada… mas por isso também dá pra ter uma idéia da sua grandiosidade!

Da esquerda para a direita: eu, Barbara (Alemanha), Weili (China) e Outi (Finlândia)

Sexta-feira, 28 de março

Dia de despedidas no Secretariado… Coletei as últimas assinaturas de check-out do Secretariado: burocracia nostálgica, dizendo adeus a várias pessoas! Em seguida, ainda fiz meu último projeto de trabalho: criei uma lista de bookmarks úteis para futuros estagiários do Departamento Jurídico (tudo no contexto do meu trabalho como “intern focal point” – em desvio de função, claro, mas não importa). Almocei na cantina indiana, como sempre, com minhas amigas estagiárias, como quase sempre, mais o Cam (supervisor-tio) e outro amigo, um consultor do Secretariado que estava indo embora no mesmo dia. Recebi meu certificado (yuhu – estágio concluído!) e uma carta de recomendação generosa da minha supervisora. Ela ainda me convidou para uma caminhada à beira do Reno, para falar de “duas áreas em que eu posso melhorar”; uma conversa franca, agradável e puramente construtiva. Um dia desses eu conto mais sobre um dos aspectos a melhorar, que é totalmente verdadeiro (percebi direto!) e suscetível de discussão com os leitores do BdG. 😉

Por fim, distribuí os cartões de despedida que vinha escrevendo nas semanas anteriores… e fiz meu último “goodbye tour” pelo sexto andar do Secretariado! Já era o fim do expediente e por isso a Outi e a Weili foram embora comigo. No jardim do Secretariado, fizemos tantas fotos de despedida que nos sentíamos até celebridades. Ainda fomos comer chocolates caseiros (MmMmMmMm…) e jogar mais conversa fora em uma casa de chá em the Famous Kessenich Centre-of-the-Universe (pra quem não conhece a história: tá aqui!).

Eu e Weili, em frente ao castelinho do Secretariado (Haus Carstanjen)

Outi e eu, também em frente à Haus Carstanjen
(Créditos da espinha na testa: muito crêpe em Paris no findi anterior!)

Amei essa foto: até parece que eu tô felicíssimo de estar indo embora,
mas essa cara feliz é só porque as gurias estavam fazendo palhaçada pra eu rir!

Depois de muita resistência, despedimo-nos finalmente e me fui pro meu quarto na Kessenicher Straße, dar um jeito de empacotar toda a minha vida em Bonn nos últimos quatro meses… A Ca e o Volker me buscaram tarde da noite, e no caminho até a casa deles em Untershausen fui contando tudo o que escrevi neste post – só que eles tiveram o privilégio (ou: fizeram o sacrifício) de ouvir tudo com mais detalhes!

Sábado e domingo, 29 e 30 de março

Foram dois dias de relax, reempacotamentos e acomodações (quem me dera poder ter feito as malas de forma eficiente e perfeita em quatro horas na sexta-feira!), mas também das mais difíceis despedidas: minha irmã e meu cunhado foram tudo de Bonn pra mim durante meu período na Alemanha. Desde o início de janeiro, e graças ao meu telefone ultrabaratex (30€ para falar por 3 meses!), potencializamos nossa capacidade de transmimento de pensação: não sei quantas vezes eu pensava em falar com a Carina e ela me ligava, ou eu ligava pra ela e ela me dizia que estava pensando em me ligar… 😛

Foram tempos inesquecíveis de compartilhar, principalmente em nossas inúmeras (e intensivas) viagens pela Europa. Passeamos muito mais do que eu poderia imaginar em relativamente pouco tempo: Koblenz, Frankfurt, Luxemburgo, Zurique, Lausanne, Genebra, Dachau, Viena, Berlim, Paris… e tenho até medo de estar esquecendo algum lugar especial. Ah, claro: Untershausen, o QG da família na Alemanha.

Eu tinha prometido que só choraria no avião (e sou fiel aos meus compromissos). Embora eu soubesse que igual morreria de saudade, nossa despedida tinha que ser mais um “até logo” que um “adeus” – até porque logo eles estarão aqui no Brasil. E quando digo “logo”, quero dizer LOGO, mesmo: semana que vem já estarão aí. Claro que é porque não conseguiram viver sem mim por perto. 😉

Volker, Carina e Martin, com o QG ao fundo (e a bandeira mais linda do mundo!)

Segunda-feira e terça feira, 31 de março e primeiro de abril

Cheguei a Buenos Aires às 6h da madrugada da segunda-feira e já fui recebido no aeroporto pelo meu amigo Enri. Buscamos minha mamá argentina, Virginia, que estava na cidade, e fomos até sua casa em La Plata. Reencontrar esses (e outros!) amigos queridos e rever lugares que me trazem recordações tão boas foi quase como uma volta ao passado. Rapidinho eu tinha esquecido a longa viagem e a noite mal-dormida no avião. Estava de volta à Argentina depois de mais de um ano (ver este post e os seguintes), só que perecia que tinha saído de lá apenas alguns dias antes!

Foram só dois dias de visita, mas acho que consegui completar minha to do list:

  • Visitar Enri, Virginia, Alvaro e a pensão onde me senti em casa em La Plata;
  • Fazer de novo a caminhada de todos os dias até a Fundación Biosfera, onde fiz estágio, e pôr a conversa em dia com Horacio, meu chefe;
  • Encontrar meu amigo Bruno e conhecer sua namorada Andrea (coitados: eu falei tanto das minhas viagens e do meu estágio que devem ter ficado tontos!);
  • Coisas básicas: comer facturas (medialunas e outras), comprar alfajores e dulce de leche da Havanna, tomar mate argentino…

Fiz tudo isso e tanto mais nas entrelinhas: conheci ainda mais pessoas legais (argentinos e yankees, haha!), dei boas risadas, e pra completar me deliciei com as comidas (inclusive uma raclette vegetariana) da Virginia, uma cozinheira grega de mão cheia! Hehehe… 😉

Com parte da grande familia Konstantinidis,
minutinhos antes do ataque à raclette vegetariana (hummm…!)

Andrea, Bruno e eu, na estação terminal de La Plata
(o “casal metálico” dançando tango, ao fundo, não me deixa mentir!)

As novidades não terminaram, mas a incrível viagem do Guri à Europa (com paradinha na Argentina no retorno), infelizmente, sim… Este post serve de suave transição para meu novo (?) tempo aqui no Brasil, que de novo, aliás, tem pouco: voltei a fazer exatamente o que estava fazendo há quatro meses, antes de viajar! A parte realmente boa foi o reencontro com meus pais e com aqueles parentes e amigos que já tive a oportunidade de rever (claro que faltam muitos, ainda, mas isso só se resolve com bastante tempo!). Uma hora ou outra publico postálbuns-resquícios das minhas viagens; sei que ainda estou devendo alguns.

No mais, meu desafio agora (como muito bem colocado pela mamá Vir, que de La Plata às vezes lê o blog!) é, mesmo de volta ao Brasil e à minha rotina universitária sem-graça, continuar mantendo o BdG interessante (se é que ele já é interessante pra alguém). Se vou ter sucesso ou não, só o leitor poderá dizer, com o tempo. O certo é que vou seguir a empregar meus melhores esforços para vencer esse desafio! 😉

C’est (presque) fini

A semana passada foi bastante turbulenta, por causa da finalização do meu paper, e curta, por causa do feriado da Sexta-Feira Santa. No feriadão da Páscoa (sexta-feira até segunda-feira inclusive), a viagem a Paris foi maravilhosa, mas não propriamente rejuvenecedora: Ca, Volker e eu fizemos muitos passeios e voltamos bastante exaustos. Pra completar, esta (última) semana está sendo igualmente atribulada (e, aliás, igualmente curta, já que a segunda-feira também foi feriado).

Terça-feira: papo de despedida com minha simpática landlady (a dona da casa onde fica o quarto que eu alugo aqui em Bonn). Ela queria ver fotos da minha família, então mostrei as da minha formatura da Economia, do ano passado.

Quarta-feira: janta de despedida com o chefe do Legal Affairs, minha supervisora e o meu tio-supervisor; foi um momento muito agradável, em um lugar lindo aqui de Bonn-Bad Godesberg (o Godesburg), e com comida excelente (e eu, como convidado, yay!).

Quinta-feira (ou seja, hoje, daqui a algumas horas), vou à cidade de Colônia (em alemão: Köln) com algumas amigas estagiárias. Mais despedidas…

No trabalho aqui no Secretariado, terminei o paper e mandei a versão final ontem (e a finalíssima hoje, aiai!). Durante o dia de hoje preparei o meu relatório de estágio, que pretendo revisar e concluir até o fim do expediente. E até amanhã preciso terminar de coletar assinaturas no meu formulário de check-out (em duas palavras: trâmites burocráticos).

E no mais, em casa, ando escrevendo (a mão, coisa incrível) cartõezinhos de despedida para um mooonte de amigos que fiz aqui no Secretariado. É uma tarefa demorada, mas que vale muito pela carga emocional que contém!

E por falar em emoções… além da janta de despedida, ganhei cinco CDs (entre eles música clássica, sacra e Coldplay – amo muito tudo isso!) da assistente aqui do Legal Affairs. Ela é simplesmente o máximo, muito querida! Eu disse a ela que não deveria fazer isso, gastar tanto em presentes, e ela disse que só faz isso pros estagiários com quem ela simpatiza. Claro que depois disso eu me derreti… 😛 Ah, e hoje após o almoço uma colega estagiária chinesa veio ao meu escritório deixar um DVD com seu filme favorito. É um filme japonês e o DVD é alemão, então no futuro (talvez depois de ver o filme) eu ponho o título e comento aqui no BdG.

Et c’est ça : c’est presque fini ! Nem acredito, mas amanhã já é meu último dia desse período tão bom da minha vida! Não sei quando vou postar de novo, porque ainda tenho que fazer malas e preparar outras coisas, e ainda quero aproveitar o tempo que resta com a Ca e o Volker.

Depois, um pulinho de dois dias na maravilhosa La Plata (Argentina), e depois de Buenos Aires ao glorioso Aeroporto Internacional Salgado Filho, e da Capital (claro, Capital com C maiúsculo é Porto Alegre, ora!) mais três horinhas de viagem até a Paris Rio-Grandense (hahaha, forcei um pouco, mas claro que estou me referindo a Pelotas). Longa viagem…

Mais tarde, quando estiver de volta ao Brasil e a poeira da viagem sentar, atualizo o blog com postálbuns de tantas viagens sobre as quais faltou publicar por aqui. À la prochaine ! 😉

Reflexões de um estrangeiro

Foi tal a freqüência de eventos sinistros, tristes ou difíceis (ou tudo isso ao mesmo tempo!) nos últimos dias que acabei relaxando na postagem. Acho que tudo começou com o acidente no sábado passado, mas continuou durante a semana passada com o suor para a finalização do meu paper (sim: mandei o último rascunho para a SUPERvisora na sexta-feira e agora só estou à espera dos comentários!). Vejamos se consigo pôr a postagem e as notícias em dia.

No domingo visitei com minha irmã e meu cunhado o campo de concentração de Dachau, que foi o primeiro a ser construído no regime nazista e persistiu até o fim da Segunda Guerra. Claro que não dá pra dizer que esse tipo de visita seja “legal”, mas é sem dúvida interessante, algo que todo o mundo deveria fazer (talvez só) uma vez. Tirei apenas quatro fotos. Não vale a pena postá-las aqui: o que vale, mesmo, é a mensagem. Numa parte do memorial, diz, em francês, inglês, alemão e russo: Que o exemplo daqueles que foram exterminados aqui entre 1933 e 1945 porque resistiram ao nazismo ajude a unir os vivos pela defesa da paz e da liberdade, em respeito pelo ser humano (tradução minha). Noutra parte diz simplesmente: Nunca mais (tradução minha), em hebraico, francês, inglês, alemão e russo. Claro que uma visita assim só podia me deixar pensativo…

Na segunda-feira, indo de bonde (Straßenbahn) do centro de Bonn para (a gloriosa) Kessenich, conversava com minha irmã pelo celular. No mesmo vagão, uns guris estavam brincando uns com os outros, mas naquelas brincadeiras meio violentas, que não dá pra saber direito se é carinho ou se é porrada. Se me lembro bem, a Ca me disse para ficar um pouco quieto no telefone, porque poderiam inventar de me incomodar. Eu achava que não tinha problema, porque eles estavam no lado oposto do trem.

Porém, depois que desceram, umas duas paradas antes da minha, e antes do bonde voltar a andar, um deles bateu com tudo no vidro da janela, bem onde eu estava sentado. E quando eu digo “bateu com tudo” quero dizer: com vontade de botar pra quebrar, mesmo. Engoli em seco e me concentrei em ficar na minha; não queria parecer assustado nem mudar de lugar, porque devia ser bem isso que eles queriam. Disfarcei o susto (estou bastante seguro de que consegui!) e segui conversando normalmente ao telefone. Em segundos, o trem fechou a porta e começou a se mover… e o cara veio de novo bater com tudo na janela do trem, bem onde eu estava!

Pelo telefone contei pra minha irmã o que tinha acontecido e brinquei que, a rigor, com essa cara de alemão que eu tenho, eu não deveria ter problemas com neonazis. Só com a resposta dela é que fui me dar conta: posso até ser “imune”… mas só enquanto não abro a boca e falo português!

Na noite do dia seguinte, terça-feira, fiquei trabalhando até mais tarde no Secretariado, e antes de sair troquei umas palavras com uma assistente administrativa do Legal Affairs, a única que também ainda estava por lá. Contei sobre o incidente da véspera e ela, que também é estrangeira (filipina), me disse que alguns bairros da cidade são desaconselhados para estrangeiros, por causa da xenofobia de alguns moradores locais. Disse também que uma vez gritaram para um conhecido dela algo em alemão do tipo: “volta pra casa!” (querendo dizer: pro teu país de origem).

Com duas amigas estagiárias, fui ao Langer Eugen na quarta-feira para uma sessão de cinema restrita para funcionários da ONU. (“Sessão de cinema”, aqui, quer dizer projeção de DVD em um datashow! 😉 Mesmo assim, não se pode reclamar: a imagem e o som estavam excelentes!) O filme? Hotel Ruanda. E aí está, mais uma das minhas recomendações de cinema! Sei, mais um filme-de-catálogo, mas muito boa sugestão pra quem ainda não viu! Minhas duas amigas saíram chorando e, pra ser bem sincero, eu também estava quase lá! O filme é bastante pesado, triste, emocionante, e talvez ainda assim “adocicado” perto dos horrores que na realidade devem ter acontecido. E pensar que tudo ocorreu por causa de um ódio entre grupos étnicos inventados, cujas diferenças existiam apenas na sua imaginação, que nutria preconceitos infundados…

Finalmente, no sábado fomos a Berlim. O postálbum, incluindo o relato dos passeios tão interessantes que fizemos e até de um agradável reencontro de amigos, vai ficar para outra hora; por enquanto, só consigo pensar em algumas coisas que me entristeceram. Fiquei negativamente supreso com a quantidade de “gente estranha”, perdida na vida, que vi pelas ruas. Às vezes tinha a impressão de que nem estava na Alemanha. Foi a primeira vez que me senti verdadeiramente inseguro desde que estou por aqui. Na noite de sábado, a Ca ainda me contou que, anos atrás, soube de um estudante brasileiro que apanhou por um grupo de jovens furiosos por não saber falar alemão (direito). Aliás, bem no início do passeio, já no trajeto do aeroporto para o hotel, nazivandalismo no trem: quatro pequenas suásticas desenhadas num dos bancos. Minha irmã me disse que, para não ter qualquer problema, seria melhor não publicar a foto no blog enquanto estou na Alemanha.

Posso até não publicar foto nenhuma; aliás, acho nem depois de voltar ao Brasil. O que não consigo é esconder minha inquietação e deixar de expressá-la aqui, por meio de palavras. Eu simplesmente não entendo. Num um povo que já passou por uma história tão triste e que vive diariamente em meio a memoriais erguidos em homenagem a todos os que foram exterminados… A cidade de Berlim, por exemplo, é um grande monumento, e parece impossível que alguém, morando lá ou tendo ido pelo menos alguma vez para lá, seja capaz de esquecer-se das atrocidades do nefasto nacional-socialismo. Como pode que, nesse ambiente, alguns (ainda) não tenham aprendido a lição?

Ao escrever este post, tenho a especial preocupação de ser justo e de não deixar margem para que me entendam mal. Há tanta gente neste país que é “do bem” (a começar em grande estilo pelo meu cunhado) e que por isso não merece que essa gente “do mal” faça com que gente estrangeira como eu construa uma imagem negativa da Alemanha e um conceito perverso dos alemães. Enfim: o mal existe e temos de aprender a conviver com ele, mas isso de forma alguma significa aceitá-lo! O segredo (ou parte importante dele) veio no meu devocional da quarta-feira passada, que me surpreendeu com uma lição que não posso deixar de repassar aqui; um consolo que é ao mesmo tempo um desafio:

É no fogo dos insultos, grosseiros ou refinados, que o cristão se vai definindo, que ele vai sendo trabalhado e lapidado. Se ele retribuir na mesma moeda – dente por dente, e olho por olho – deixa de ser uma testemunha de Jesus. Antes deverá aprender a reagir como uma laranjeira carregada de frutas: ela responde com saborosas laranjas aos que atiram paus e pedras. Não é nenhuma reação natural de nossa parte. É a graça de Deus que nos capacita a amar até os que nos odeiam. (Orando em Família, 2008, p. 83)

E o vento levou

Acabo de receber no e-mail do trabalho um boletim meteorológico (adaptei e traduzi):

…até quinta-feira, 13 de março de 2008, às 4:00, há um alerta meteorológico para o estado de Nordrhein-Westfalen: chuvas esporádicas e ventos de até 90 km/h, em alguns casos chegando até 115 km/h. Os ventos mais fortes devem ocorrer hoje entre 11h e 21h.

Acho que hoje vou voltar pra casa voando… 😛 Que o Papai do Céu me proteja!

Haribo

Outi (a estagiária finlandesa) e eu temos muito orgulho de Kessenich, a vizinhança onde moramos aqui em Bonn. O “centro” do lugarejo consiste em uma quadra com um supermercado, duas agências bancárias, alguns estúdios de cabeleireiros, papelaria, café, academia – e era isso! Ainda assim, mereceu de nós o título de Kessenich Centre (seguindo o padrão britânico aqui do secretariado, hehe!), que depois acabou evoluindo para the Famous Kessenich Centre-of-the-Universe.

Apenas “mais um” dos motivos de orgulho para os habitantes de Kessenich é a fábrica da Haribo, nada menos que a maior produtora de guloseimas dos tipos gummi e jelly do mundo, fundada em Kessenich em 1920. “Gummi bears”, os famosos ursinhos, são seu principal produto (imagem abaixo). O nome da empresa vem do nome de seu fundador e da sua cidade: Hans Riegel Bonn, e o slogan rima bem bonitinho, mas fica meio sem graça quando traduzido:

Haribo: macht Kinder froh (und Erwachsene ebenso)

Haribo: faz crianças felizes (e adultos também)

Sexta-feira passada dois amigos (Barbara e Martin, ambos alemães) terminaram seu período de estágio aqui no Secretariado. Como programação de despedida, visitamos a loja da Haribo: um supermercado onde se pode comprar pás e pás de doces, literalmente! Das prateleiras com os mais diversos tipos de doces da Haribo, cada formiga, digo, cada consumidor pega uma pá e faz sua própria seleção. Tem que estar muito firme na dieta pra resistir a um atentado desses… (Eu, claro, não estava firme em dieta nenhuma!)

Langer Eugen parte 2

Só pra deixar um gostinho do que estou fazendo aqui no Langer Eugen (Campus da ONU em Bonn) desde ontem e até amanhã: vejam aqui a transmissão em vídeo (das partes públicas) da reunião de que estou participando. Apareço já no primeiro link (“Opening of the meeting”)! Nesse vídeo estou ao lado do “Chair”, desempenhando a função de “spotter”, ou seja, fazendo a lista de inscrições dos participantes que desejam fazer pronunciamentos. Pode parecer que não, mas para mim tem sido divertidíssimo! Ontem saí daqui, assim como também hoje devo sair, física e intelectualmente exausto… vale a pena!

Duas fotos: uma do Langer Eugen, tirada da “minha” parada de ônibus. A parada chama-se Deutsche Welle, porque aquele prédio branco (no primeiro plano da foto, com parabólicas no telhado) é a própria! O prédio alto, no segundo plano, é o da ONU, como muito bem atesta o logotipo no alto! Tem 29 andares: contem de cima para baixo até o décimo-nono… ali estou eu durante estes dias!

A segunda foto foi a surpresa de ontem de manhã: neve! Foi a primeira vez que vi neve em Bonn desde que cheguei aqui, e isso já faz dois meses. (Chegou a nevar outra vez, mas num findi; portanto, eu não estava aqui.) Fiquei literalmente em choque quando, de manhã cedo antes de sair para o trabalho, abri a janela e vi tudo coberto de branco na rua, e acabei não resistindo: tirei uma foto, mesmo com os olhares de estranhamento de alguns dos meus vizinhos curiosos!

Langer Eugen

Muito trabalho nos últimos dias, porque os gregos vêm aí! Só para não abrir um rombo na minha postância, aí vão algumas notícias de ontem. Bah, ler jornal da véspera é cruel, né? Mas não é o caso: aconteceu ontem, mas continua sendo atual, pelo menos até o fim da semana que vem! 😉

Com um pessoal aqui do Legal Affairs, fui ao Langer Eugen, o prédio maior do Campus da ONU aqui em Bonn (no link acima, em alemão, um pouco da história do prédio e também fotos). Lá é que será realizada a reunião do enforcement branch na semana que vem.

No Langer Eugen nós “inspecionamos” as instalações onde se realizará a reunião. Nada ruins, devo dizer: uma sala muito ampla no décimo-nono andar, com vista sobre o rio Reno na direção da cidade de Köln (Colônia). A cantina onde almoçaremos, então, é ainda mais privilegiada, no vigésimo-nono, que se não me engano é o último.

Ah, claro: o meu escritório durante a reunião será… numa cabine de tradutor! É claro que me lembrei do filme The Interpreter – ótima sugestão, aliás, pra quem ainda não viu!