Não só de pão, mas também de café

(Quase) todos precisamos trabalhar. “Do suor do teu rosto comerás o teu pão”, diz o Gênesis. Ora, se é pra suar tanto, que se tenha ao lado pelo menos uma toalhinha ou uma água gelada.

Ou um café. Para os envolvidos com trabalhos acadêmicos ou intelectuais, desses que não requerem muito mais infraestrutura que um notebook e uma conexão à Internet, tem sido muito comum a procura por cafés como locais de trabalho – muito além do aproveitamento mais tradicional dos cafés como lugares de encontro com amigos, à la Central Perk.

Nos últimos dois anos, tenho trabalhado em “escritórios” no conceito tradicional da palavra, mas por um tempinho antes disso fui consultor jurídico e tradutor freelance. Nesse período de mais flexibilidade para escolher (e variar) meu local de trabalho, saindo às vezes do home office e de bibliotecas, segui a tendência e tentei alguns cafés. Encontrei uns onde foi muito bom trabalhar.

Em NYC

Minha frequência a cafés certamente começou em NYC, onde eu aprendi a apreciar café, a bebida, e os cafés, os lugares. Nos arredores de Greenwich Village, essa vila cosmopolita onde cursei Mestrado (e morei e fiz amigos e participei de uma igreja e fiz natação e – enfim, onde vivi intensamente!), não faltavam opções de cafés.

Começo, claro, pelos da rede Starbucks. Há quem não goste. “Enlatado.” Nunca tive problemas com a Starbucks. Penso nostalgicamente nos sabores natalinos: o Gingerbread Latte, o Peppermint Mocha. Perto da NYU tinha a loja mais óbvia, a da Washington Square, que eu não frequentava muito, até porque era muito estudantil para o meu gosto. Gostava de blogar na da Astor Place e me lembro de ter feito uma tradução na da Broadway com Bond.

Mesmo não tendo problema com a rede, reconheço: o encanto maior está nos cafés menores, os que não são de rede ou pertencem a redes pequenas, locais.

Um deles era o VBar&Café, na Sullivan Street, ao lado de onde funcionava a igreja (que se mudou, mas o VBar continua). Algumas vezes fui lá para estudar – tanto para o Mestrado quanto para um experimento de estudos e discussões de Teologia que comecei com o pastor Ben.

Outro era o Think Coffee, na Mercer Street. Esse também era bastante lotado de estudantes, mas tinha um café ótimo e uma ênfase bem legal em sustentabilidade.

Um longínquo era a Hungarian Pastry Shop, na Amsterdam Avenue, quase em frente à Catedral de St. John the Divine e perto daquela outra universidade que fica mais no Norte de Manhattan. Valia a pena percorrer a distância até lá, o que fiz algumas vezes. É uma confeitaria que se enquadra perfeitamente no conceito de “café” usado neste texto. Também se enquadra no conceito de fazer a pessoa comer coisas gostosas até estourar, porque os doces e os cafés húngaros são tão divinos quanto o São João da Catedral em frente.

Uma das minhas últimas experiências em cafés de NYC, quando estava trabalhando em projetos de consultoria e procurando outras oportunidades, foi no Café Grumpy de Greenpoint, que está na lista do Zagat de melhores cafés de NYC. Ambiente descontraído, ótimo atendimento.

Em POA

Porto Alegre também anda aderindo à tendência de transformar cafés em escritório. Antes de começar a trabalhar em escritórios tradicionais – ou mesmo depois, para colocar os e-mails em dia num lugar que não fosse a poltrona e ao sabor de um café que não fosse o que eu mesmo tinha de passar –, testei alguns por aqui também.

Como não moro perto do bairro Moinhos, a maioria dos sugeridos na matéria do link acima não são muito pra mim. Um de que gosto bastante, sugerido pelo meu primo Fer, é o Fran’s Café, na Nilo, que me ganhou pelo conforto, pela seleção de cafés saborosos e, num dia em particular, pelo Sinatra como música ambiente.

Tem também a Confraria do Café ali no Bourbon Country. O segredo é o mezanino, onde há um pouco mais de sossego que no piso principal do shopping. A desvantagem (ou outra vantagem, dependendo do ponto de vista) é que às vezes os atendentes te esquecem ali.

Outros cafés de Porto Alegre eu visitei na qualidade de mero bebedor de café, não como prospector de escritório. O Press Café é conveniente para quem visita o Iberê Camargo, Melhor se for no fim da tarde, claro, para aproveitar também o pôr-do-sol sobre o Guaíba.

Um tempo atrás fui com a Rezita (aquela amiga ingrata que não lê meu blog) ao ZCafé, não para trabalhar, mas porque me cansei de acompanhar o desfile da Rezita pela Padre Chagas e disse a ela que precisava de café para continuar a viver. Não cheguei a pensar se o ambiente era bom para trabalhar. Só me lembro de que estava exausto e de que o café foi bom.

O último que conheci, a convite da amiga Fah Heinrich, foi o Baden Cafés Especiais, na Jerônimo de Ornelas. Mesmo que a intenção da visita tenha sido puramente social e gastronômica e nada laboral, aprovei o lugar também para trabalhar. Os papéis de parede estampados se mordem um pouco (e depois se juntam como velhos amigos para morder meu senso estético), mas tudo bem: mesmo nisso se reconhece a intenção de deixar o ambiente aconchegante.

Pretendo continuar indo a cafés, aqui e ali, e coletando minhas impressões. Se for para trabalhar (o que inclui organizar as ideias e colocar os e-mails em dia), ótimo. Ainda melhor se for só para saborear um bom café – sem precisar derramar uma gota de suor.

Uma ideia sobre “Não só de pão, mas também de café

  1. Pingback: Eu precisava tanto de uma escrivaninha | Martin D. Brauch

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