Tenho sobrinhos e afilhados gêmeos, um casal. São as pessoinhas mais amáveis e, ao mesmo tempo, terríveis. Nisso, nada de anormal: são crianças saudáveis de três anos de idade que têm toda a energia do mundo pra gastar. Brincam e fantasiam como se não houvesse amanhã e como toda criança deveria poder fazer.
São dessa geração que intuitivamente acha que todo display é obviamente touch. (Afinal, a ideia de um que não seja é incompreensível, inconcebível.) Pela exposição à informação e às tecnologias, vivem num mundo já bem diferente daquele em que seus pais cresceram. A diferença entre o mundo dessas crianças e o de seus avós, então, é tão abismal que nem vou começar a diferenciá-los.
Como tio, sou responsável por contribuir da melhor forma possível para o desenvolvimento integral dos dois pimpolhos. Um dia desses saí a procurar um DVD educativo para mandar de presente a eles. O que encontrei foi uma dificuldade surpreendente numa tarefa que deveria ser tão simples para quem mora a cinquenta metros de uma livraria.
Foi muito difícil escolher, não só porque há muitas opções, mas também porque muitas são de gosto ou moral questionáveis. Não quero dar exemplos, para não fazer crítica editorial. Para meu argumento basta dizer que não me senti 100% confortável com nenhum dos DVDs. Escolhi dois, mas aconselhei minha irmã a verificar se eram de fato adequados, antes de os reproduzir para as crianças.
E foi aí que me dei conta: como pais, minha irmã e meu cunhado teriam de fazer isso de qualquer forma. Se a responsabilidade pesa sobre os ombros de um tio a milhares de quilômetros dos sobrinhos, imagina sobre os deles. Sustento material e nutricional, saúde física e emocional, educação formal e informal, desenvolvimento moral e espiritual — a responsabilidade dos pais alcança todos esses aspectos da vida dos filhos, especialmente na primeira infância, mas até a maioridade (no sentido intelectual, não no jurídico).
Ontem foi Dia dos Pais. Minha reflexão, embora diga respeito tanto a papais quanto a mamães, aconteceu espontaneamente num momento significativo do ano. Refleti sobre a responsabilidade que meu pai e minha mãe tiveram e ainda têm pela minha formação como ser humano completo. Refleti, olhando para minha irmã e meu cunhado, pais há poucos anos, sobre a responsabilidade que já têm e ainda terão na formação dos dois pimpolhos amados deste titio babão que escreve. E também refleti, olhando para um casal de amigos que está esperando um bebê, sobre as responsabilidades que já têm e sobre as que logo virão.