Acho que virei um blogueiro domingueiro! Durante a semana não sobra tempo para postar; só me resta o meu agradável tempo sabático dos domingos. O problema é que, quando o assunto vai acumulando ao longo da semana, o resultado tende a ser um post domingueiro altamente aleatório (como este).
* * * * *
Um dia desses um amigo meu tinha a seguinte frase como status no Google Talk: “Woman to me on the subway: ‘if you touch me, I’m gonna f*** you up!'” (Lamento, mas isso é intraduzível aqui no blog.) Bom, claro que eu tive que chamá-lo pra perguntar, “quê?”
Pois foi bem isto: uma mulher, do nada, começou a vociferar insultos pra tudo que é lado dentro do metrô, e acabou sobrando pro meu amigo (que não tinha nada a ver com o pastel, obviamente, e que não tinha sequer encostado nela). Disse ele que ela estava visivelmente drogada ou embriagada (ou ambos), empurrando as pessoas e causando tumulto dentro do vagão de metrô.
Mais tarde, ao sair da biblioteca para almoçar, sou testemunha de outro desses momentos malucos (embora de um nível de agressividade um pouco inferior). Alguém atravessava a rua, na faixa de segurança, mas quando o sinal de pedestres estava fechando ou começando a fechar.
Até aí, nada de extraordinário. Aqui todo o mundo faz isso. Respeitar o sinal de pedestre? Usar a faixa de segurança? Nunca atravessar a rua em diagonal? São regras. Mas todas opcionais em Nova Iorque. (Pra esclarecer: o pedestre transgressor não era eu. Só não nego que poderia ter sido!)
O extraordinário só aconteceu quando um carro parou diante da faixa de segurança onde o pedestre atravessava a rua. O homem que estava sentado no banco do passageiro abriu a janela, esticou a cabeça pra fora (de uma forma tão cômica que só vendo), e começou a berrar, a plenos pulmões: “Hey… HEY! NO! Don’t cross! It says don’t cross! Don’t cross!”
Eu não consegui conter o riso. Nessas horas, não há o que dizer senão o que eu já disse por aqui outra vez: “It’s New York City…” O negócio é relevar e seguir andando, fingindo que tudo é normal.
* * * * *
Meu novo passaporte mercossulino ficou pronto na segunda-feira. É bonito.
Frustração número 1: diz que foi emitido no C.G. (Consulado Geral) de Nova York. Não: nada contra que meu passaporte tenha sido emitido aqui. É que o purista (napoleônico) dentro de mim continua achando que é ou “Nova Iorque” ou “New York”. Esse purista fica quieto na maior parte das vezes, mas de tempos em tempos ele aparece. Fiquei um pouco chateado de ver uma grafia controversa em um documento oficial. Mas tudo bem.
Frustração número 2: enquanto o passaporte antigo mostrava todo o nome, sem subdivisões, o novo mostra “prenomes” e “sobrenomes” separadamente. Tudo muito lindo para os hermanos. No caso do “Fulano Hernández García”, o prenome é Fulano, o sobrenome do pai é Hernández, e o sobrenome da mãe é García. Então, no passaporte vai constar que os sobrenomes são “Hernández García”, vão chamá-lo de “Mr. Hernández” ou “Señor Hernández”, e tudo bem. Para os nomes de formação portuguesa, porém, vai dar confusão. No caso do “Beltrano Pereira Ribeiro”, o prenome é Beltrano, o sobrenome da mãe é Pereira, e o sobrenome do pai é Ribeiro. No passaporte, os sobrenomes serão “Pereira Ribeiro” e, como a maioria das gentes fora de Brasil e Portugal não sabe da diferença (e a organização dos nomes no passaporte não ajuda em nada a esclarecê-la), em vez de “Sr. Ribeiro”, vão chamá-lo de “Sr. Pereira”, ou seja, “Sr. Filho-da-Mãe”. Não acho que haja problema em ser “Sr. Filho-da-Mãe”… é só uma questão de se acostumar.
* * * * *
Outro dia, no térreo da Biblioteca Bobst, entrei num dos elevadores para subir ao décimo. Entrou também uma moça, desconhecida, que ia descer no terceiro. Em algum ponto entre o térreo e o terceiro, o elevador começou a oscilar e trepidar com força e simplesmente estancou. Na próxima fração de segundo, vi (e foi a única coisa que vi) poeirinhas voando diante dos meus olhos. Na próxima fração de segundo, em coro, a moça e eu murmuramos, “Oh, my God!” Na próxima fração de segundo, o elevador continuou parado, e a moça completou, “ainda estamos vivos?” Na próxima fração de segundo, eu comecei a rir. Então o elevador subiu ao terceiro andar. A moça saiu do elevador e me desejou boa sorte. Então o elevador subiu ao décimo e eu saí. Vivo.
Pingback: De spam à biblioteca ao suicídio à arquitetura | Martin D. Brauch