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Mi Buenos Aires querido

Mi Buenos Aires querido,
cuando yo te vuelva a ver,
no habrá más penas ni olvido.

Demorou uns sete anos, mas enfim volvi a ver mi Buenos Aires querido na semana passada. Tudo começou com um seminário sobre Direito Internacional do Investimento Estrangeiro realizado pela Fundação Friedrich Ebert. Minha chefe não pôde ir, então fui eu, com direito a apresentar uma corajosa palestra sobre arbitragem investidor-Estado — em castellano!

Vista do NH City & Tower Hotel

Foram dois dias de trabalho e dois de passeio que pareceram duas semanas de cada. Além do proveito profissional, extraí da viagem um proveito social impressionante para tão pouco tempo. Conheci pessoalmente um professor, o Bira, e uma colega de trabalho canadense, a Sabrina, com os quais só tinha tido contato virtualmente. Revi meu hermano argentino, Enrique, e conheci sua querida noiva, Lucrecia (em breve, mais uma viagem matrimonial internacional!). Tive uma inesperada reunion do Mestrado na NYU com uma ex-colega argentina, Veronica, e uma ex-colega grega, Theano.

E no sábado chegou minha amiga Joe para nossos passeios intensivos pela cidade! Claro que, sendo a primeira visita dela a Buenos Aires, fizemos diversas atividades turísticas que para mim foram repetecos:

  • Caminhar pela Avenida de Mayo, observando a arquitetura e passando por (e parando em) livrarias, cafés, galerias

Buenos Aires ou Paris?

  • Atravessar a Avenida 9 de Julio, em um só sinal aberto (ou seja, correndo muito)

Lado norte do edifício do Ministério de Obras Públicas, com o retrato de Evita Perón (vista do meio da Avenida 9 de Julio)

  • Entrar na Catedral Metropolitana e visitar o mausoléu de San Martín

O mausoléu do General José Francisco de San Martín

  • Ir à Plaza de Mayo e pedir a um estranho que tire a clássica foto com a Casa Rosada

A foto não teria como ficar boa, porque, enfim, estranhos não tiram fotos boas

  • Caminhar pela Calle Florida e entrar nas Galerías Pacífico para tirar foto do teto e comer um sorvete de doce de leite Freddo

Uma foto das Galerías Pacífico, mas que não seja do teto!

  • Seguir da Florida até a Torre de Los Ingleses e a Estación Retiro Mitre

Estación Retiro + Joe Carmen Miranda + Torre de los Ingleses

  • Caminhar pela Feria de San Telmo e [cogitar] comprar souvenirs para meio mundo

A Feria de San Telmo parece que não termina nunca

  • Ir até La Boca só para ver uma ruela colorida, a Calle Caminito

Uma foto de Caminito que não seja de casas multicoloridas

  • Ir a Puerto Madero e tirar uma foto da Puente de la Mujer

Puerto Madero e Puente de la Mujer

  • Ir até o Obelisco e depois afastar-se o suficiente para conseguir tirar uma foto dele

Soy el falo mayor de Buenos Aires,
puedo ser tierno, engañador o arisco,
vivo de amor y por amor me muero
soy un amigo gamba: El Obelisco.

  • Visitar o Jardín Japonés

Jardín Japonés de Buenos Aires

Repetecos, mas não desagradáveis, porque (1) pessoas nostálgicas gostam de reviver experiências e porque (2) tudo fica bem em boa companhia. (Não tem como não se divertir com a Joe. Depois da clássica selfie na frente da Casa Rosada, o pedido dela foi: “Tá, antes de postar no Instagram, coloca um filtro aí que me deixe parecida com a Shakira.”)

Num próximo post, conto sobre as atividades turísticas que não foram repeteco… #suspense

De spam à biblioteca ao suicídio à arquitetura

Confesso que hesitei antes de pôr em prática, logo no primeiro post substancial após quatro meses mudos, a ideia de escrever um texto que tocasse em assuntos não muito agradáveis, como “spam” e “suicídio”. Depois percebi que poderia suavizar a coisa ao tratar, no mesmo texto, de “biblioteca” e “arquitetura”.

Foi com a frustração de um amigo arquiteto (oi, Mateus Coswig!) com minha “publicação para anunciar publicação” que afinal decidi escrever o texto. (Para não deixar dúvida: tomei a decisão porque ele é arquiteto e um pouco porque suponho que goste de bibliotecas; não porque [eu / ele] goste de spam ou suicídio.)

Spam já foi assunto aqui no blog há cinco anos. Aliás, virou categoria de (seis) posts, numa época em que eu recebia (de mim mesmo, aparentemente!) misteriosas mensagens bíblicas por e-mail. Agora tenho até saudade daquele devocional esquisito de que passei a gostar.

Spam é um dos objetos do meu excesso de zelo. O Gmail apaga automaticamente os e-mails não resgatados da caixa de spam depois de 30 dias do recebimento, mas eu não deixo isso acontecer. Cada dia dou uma olhadinha. Em dois ou três segundos leio as linhas de assunto, para me certificar de que o filtro de spam não pegou nada importante. Já encontrei e-mails que deveriam ter ido para a caixa de entrada; bastou para me fazer pensar que o zelo vale a pena. Na maior parte das vezes, não há nada mesmo de importante ali, porque o filtro é bastante bom, como a maioria das coisas no Gmail. (Não, a Google não me paga.)

Ao resgatar do silêncio este blog, aproveitei para limpar seu filtro de spam dos comentários. Havia centenas de comentários no filtro. Todos eram spam. Mas um deles, mesmo sendo spam, era interessante. Chamou minha atenção porque dizia respeito à Bobst.

A Elmer Holmes Bobst Library, ou simplesmente Bobst, é a biblioteca central da NYU. Nela eu muitas vezes estudei para o Bar Exam, o exame da ordem de advogados do Estado de NY. No verão de 2010 eu escrevi sobre essa rotina e compartilhei uma foto do “dilema Bobst”: um montão de coisas para estudar versus o convite ao verão em NYC.

Houve também o post em que contei sobre o dia em que achei que o elevador da Bobst cairia comigo dentro, mas aí já me excedi nas divagações nostálgicas.

Foi junto a um terceiro post, The Bobst Mysteries, que apareceu o comentário spam interessante. Ali eu tinha escrito sobre três aspectos que me intrigavam na seguinte foto, tirada do décimo andar da Bobst, olhando para baixo sobre o grande átrio central.

We are PEOPLE not PROFIT. Bobst.

Não carece repetir a história toda; só uma partezinha. O terceiro fator intrigante era o formato de cruz de cada haste da grade de proteção:

Por incrível que pareça, há quem consiga não se sentir suficientemente encorajado pelo vidro de mais de dois metros de altura e pelas grades a ficar com os pés firmes no corredor-galeria e a desistir da ideia de aprender a voar. Seria coincidência o formato das hastes das grades?

Eis que o comentário spam interessante dizia o seguinte (traduzo do inglês):

Não sabia onde postar isto, acabo de encontrar teu blog hoje e saí pela tangente. Encontrei isto: “Fato interessante sobre a biblioteca da NYU: quem para no último andar (lado Sul) e olha para baixo não mais sente vontade de se matar. Foi propositalmente planejado para reduzir [o número de] suicidas que pulam dali. As pontas das grades de metal de cada andar foram projetadas para parecerem cruzes, enquanto o piso foi projetado para parecerem espigões [coisas pontiagudas, “spikes”] à distância. Foi, é claro, inspirado na obra “Depth” [“Profundidade”], de M.C. Escher.”

(Essa obra “Depth“, que eu não conhecia, deve mesmo ter servido de inspiração para o piso do átrio da biblioteca.)

O comentário spam fez referências muito mais explícitas que as minhas aos suicídios ocorridos na Bobst. Foram três. Os dois primeiros foram em setembro e outubro de 2003. Do terceiro eu me lembro. No dia 3 de novembro de 2009, faltando um mês para o fim do meu primeiro semestre de mestrado, li de boca aberta o e-mail circular do presidente da NYU: “É com grande pesar que devo informá-los da morte de um aluno, esta manhã, na Bobst.”

Em 2012, a NYU encomendou de um estúdio de arquitetura uma reforma para dificultar essas manobras. A solução foi separar as galerias do grande átrio com telas de alumínio perfuradas num padrão que imita uma “chuva de pixels”. O resultado dessa reforma eu ainda não vi (nem, portanto, fotografei); apenas conferi a cobertura feita por um blog do NY Times, que inclui várias fotos. A página do estúdio de arquitetura tem outras fotos, muito boas (é só seguir o caminho Projects > Institutional > Academic > NYU Bobst Library).

Numa rápida googlada, acabei encontrando o texto do comentário spam, nas mesmas palavras, no site New York Architecture, com fotos e textos sobre diversos prédios de NYC.

Como e por que esse comentário spam foi, muito apropriadamente, aparecer no post em que eu comentei sobre as hastes em formato de cruz? Assim surge mais um Bobst Mistery.

Délhi: último destino do tour pela Índia

Após visitar Mumbai, Jaisalmer, Jodhpur, Jaipur e Agra, terminei a viagem pela Índia na capital, Délhi. Lá fui muito bem recebido pela amiga Ranjitha, ex-colega de mestrado.

Por uma feliz coincidência, cheguei à capital indiana em um feriado nacional: o Dia da República, quando se comemora o aniversário da promulgação da Constituição da Índia (26 de janeiro de 1950). Depois de passear um pouco com a Ranjitha na vizinhança onde ela mora, visitando um templo hindu e provando doces indianos na doçaria Nathu’s, fomos ao centro de Nova Délhi, ver a iluminação dos edifícios do governo em comemoração ao Dia da República. (Ao tradicional desfile militar que ocorre na tarde do dia 26 de janeiro eu não tive a oportunidade de assistir.)

Rashtrapati Bhavan, complexo palaciano presidencial da Índia, iluminado para o dia nacional.

Detalhe do Rashtrapati Bhavan, decorado com luzes e a bandeira indiana.

Caminhando do palácio até o restaurante onde jantamos, passamos pelo India Gate, um monumento nacional em homenagem aos soldados indianos que lutaram na I Guerra Mundial e nas Guerras Anglo-Afegãs de meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX. O monumento, como o palácio, estava decorado para a festa.

Índia Gate, iluminado com as cores da Índia

No dia seguinte, a Ranjitha voltou à advocacia — e eu voltei à minha intensa rotina de passeios com guia turístico! Logo de manhã cedo, a primeira parada foi em Old Delhi, a cidade antiga. O principal destaque foi a Jama Masjid, a maior e mais conhecida mesquita da Índia, construída em arenito e mármore em meados do século XVII, por ordem do imperador mogul Shah Jahan (o mesmo que determinou a construção do Taj Mahal para sua falecida esposa). Também fiz um passeio de rickshaw pelas ruas estreitas da cidade antiga.

Panorâmica de Jama Masjid

Jama Masjid

As próximas paradas foram o Raj Ghat, jardim memorial onde Mahatma Gandhi foi cremado, e o Mausoléu de Humayun. O túmulo foi construído em 1565 para o segundo imperador mogul e tem diversos elementos de inspiração para muitos outros edifícios de arquitetura mogul (inclusive o Taj Mahal): a simetria perfeita, a cúpula de mármore, as jalis (telas de treliça de pedra).

Chegando ao Mausoléu de Humayun

Também fui ao Parque Arqueológico Mehrauli, que se destaca pelo Qutb Minar, a mais alta torre isolada da Índia, de arenito e mármore. O minar de cinco andares começou a ser construído no ano 1192 como símbolo de poder do primeiro reino muçulmano (sultanato) no Norte indiano. Tem 379 degraus e 72,5 metros de altura, com diâmetro de 14,3 metros na base e 2,7 metros no topo.

Qutb Minar

Ao fim do dia intenso de passeios, jantei na companhia da Ranjitha e da Ruchira, também amiga indiana e ex-colega de mestrado, no Oh! Calcutta, restaurante com pratos da região de Bengala.

No dia seguinte, parece que comecei a sutil transição do mundo do turismo e da História para o mundo do trabalho e do Direito: assisti, por convite do pai da Ranjitha, a alguns minutos de uma sustentação oral na câmara do Tribunal de Délhi especializada em Direito da Energia. Pode parecer uma quebra de clima, balde de água fria nas férias, mas foi uma experiência muito legal!

Os julgadores eram um juiz-jurista e um juiz-engenheiro. Mesmo em poucos minutos, já pude começar a entender do assunto de que estavam tratando (embora, naturalmente, não conhecesse as normas indianas aplicáveis ao caso). Mas o que nunca me sairá da cabeça daquele dia, sobretudo pela insistência da advogada de defesa em repeti-la, é a expressão “Your Lordship“, correspondente ao “[Vossa] Excelência” usado no Judiciário brasileiro.

Ainda sobrou um tempinho para um passeio nos jardins Lodi, onde há túmulos construídos nos séculos XV e XVI — hoje, um parque amplo e bem-cuidado.

Sheesh Gumbad, um dos túmulos nos jardins Lodi.

Por fim, almoço, malas e aeroporto de Délhi, para começar a longa jornada de volta: primeiro a Mumbai, depois a Dubai, depois a São Paulo, e enfim a Porto Alegre. Uma longa viagem com direito a virose (nos últimos dias, parece que uma das temidas bactérias da água indiana enfim me encontrou!), mas essa parte vamos deixar pra lá.

Deixei a Índia com os olhos repletos de belas imagens, apesar dos fortes contrastes entre partes deslumbrantes e partes de extrema desesperança. Durante a viagem, reforcei minhas impressões positivas sobre o povo indiano e sobre a riqueza histórico-cultural do país. Espero ter a oportunidade de voltar lá um dia, para conhecer o Leste e o Sul.

Rajastour, dia 2 (Jaisalmer): Forte de Jaisalmer

Após a visita ao lago, fomos à atração principal do dia: o Forte de Jaisalmer, construído em 1156 pelo Maharawal Jaisal Singh. Milhares de pessoas ainda moram dentro do forte, fazendo dele o único ainda habitado da Índia. Segundo o guia, brâmanes (membros da casta mais elevada, dos adoradores do deus Shiva) têm direito vitalício e hereditário a morar dentro do forte.

Forte de Jaisalmer ao fundo
Garoto-propaganda NYU posando para a foto
Primeiro portão de entrada no Forte de Jaisalmer: Ganesh Prol
Músico na entrada do Forte de Jaisalmer
Suraj Prol, um dos quatro portões de acesso ao forte
Pelos quatro portões que dão acesso ao forte (Ganesh ProlAkshaya ProlSuraj Prol e Hawa Prol) chega-se à praça Dussehra Chowk, de onde se pode ver o Raj Mahal (Raj = Rei, Mahal = Palácio, portanto, Palácio Real).
No palácio, como em muitas havelis (mansões) de Jaisalmer, há lindos exemplos de jalis: telas de treliça de pedra esculpidas no arenito. Elas protegem do sol forte, mas deixam entrar a brisa do deserto. Também têm a vantagem de permitir que as mulheres (muçulmanas) vejam o movimento da rua sem ser observadas.
Loja em Dussehra Chowk, com itens de tapeçaria em exposição
Jalis do Raj Mahal
Sacada em outro detalhe do Raj Mahal
Vista geral do Raj Mahal
Em diversas casas dentro do forte, vi decorações de casamento. Além das bandeirinhas e outros ornamentos, as pessoas costumam pintar painéis com o deus Ganesha, o filho de Shiva e Parvati que tem corpo de homem e cabeça de elefante. É considerado um deus de riqueza e proteção. Por isso é que as ilustrações deles são comuns nas casas dos recém-casados e no alto dos marcos das portas.
Casa de recém-casados com painel de Ganesha
O guia local em seguida me levou para o alto do Hotel Garh Jaisal, de onde se tem uma bela vista aérea do forte e de toda a cidade de Jaisalmer. Dali fica bem claro por que Jaisalmer é conhecida como a Cidade Dourada: as construções de arenito, em toda parte, reluzem sob o sol forte do deserto.
Entrada do Hotel Garh Jaisal
Jaisalmer, a Cidade Dourada
Entrada do forte de Jaisalmer, vista do Hotel Garh Jaisal
A última visita dentro do forte foi ao complexo de sete templos interligados da religião jainista, construídos entre os séculos XII e XVI. A arquitetura e a riqueza de detalhes são bastante impressionantes (embora opressivas aos olhos cristãos). Nas fotos seguintes, para encerrar o post, alguns detalhes. No próximo post, relatos e fotos das visitas às havelis (mansões ou palacetes) de Jaisalmer, do lado de fora do forte.
Fachada do principal templo jainista do Forte de Jaisalmer
Portal de entrada do templo jainista
Garoto-propaganda NYU no templo jainista
Detalhe de escultura decorativa
Mais uma escultura
Área central de um dos templos
Cúpula de um dos templos
Detalhe de escultura na parede
Detalhes de esculturas na parede
Templo jainista visto de cima

Casamento indiano: Grand finale

Uma festa para 2.500 convidados. Um casamento de duas semanas tinha de ter um encerramento à altura! Cheguei ao local da festa (ao ar livre, no jóquei clube de Mumbai) logo do início, com os amigos da NYU. Entramos na área da festa pelo corredor iluminado um pouco antes da entrada oficial dos noivos com suas famílias. Todos estavam ainda mais espetacularmente elegantes que nos outros eventos!

Chegada da família após a passagem pelo corredor iluminado
Noiva posando para fotos com a família e o noivo

Claro que nem todos os 2.500 convidados estavam todos, ao mesmo tempo, no local da festa: algum fluxo certamente houve. Mesmo assim, para comportar tantos convidados, o local tinha de de ser enorme. Havia três longos buffets (vegetariano, não vegetariano e de sobremesas), um coffee bar, estação de chás (que na Índia não poderia faltar!), uma área com sofás para conversar e relaxar, uma área com as mesas de jantar.

Visão geral do lado de cá
Visão geral do lado de lá
Coffee Bar

A área central da festa tinha uma árvore iluminada e decorada com flores e colares, no mesmo estilo do corredor da entrada. Ali os noivos receberam cada um dos convidados e tiraram fotos. Foram para ali logo depois de entrarem na festa, lá pelas 19:30. Até pouco depois da meia-noite (quando os colegas da NYU e eu voltamos para o hotel), os noivos ainda não tinham jantado… Uma maratona de cumprimentos e fotos. Cãibra nas bochechas de tanto sorrir. (Sempre me dói um pouco quando os noivos ficam tanto em função do protocolo que não conseguem aproveitar adequadamente a festa de casamento!)

Já os convidados aproveitaram a festa e foram muito bem servidos com diversos tipos de coquetéis de frutas (todos não alcoólicos), petiscos… e uma refeição fabulosa em tamanho e sabor. Mais uma vez, contei com a ajuda do amigo indiano (e hindu e vegetariano) Atul, da NYU, que me deu todas as dicas sobre os pratos a provar (e, de novo, provei de tudo e me deliciei com tudo!). Achei excelente a ideia de uma área de sofás, que eu nunca tinha visto (talvez porque nunca tivesse ido a uma festa com tantos convidados que tivesse espaço para uma área de sofás!). Passei um tempão ali com o pessoal da NYU e outros amigos que fiz ao longo dos eventos do casamento.

Convidados curtindo a festa
Foto quase oficial da reunion NYU LL.M. 2010 (com a roupa que ganhei da noiva!)

O dia seguinte ao casamento foi de correria: madrugadão para finalizar as malas e ir ao aeroporto, de onde voei a Jodhpur, para começar o passeio turístico pós-casamento. Minha aventura indiana estava apenas começando… e continuará aqui nos próximos posts!

Elephanta Island e Prince of Wales Museum: últimos passeios em Mumbai

E chegou o último dia das festividades de casamento na Índia (sábado, 19 de janeiro). Porém, como a festa de casamento seria só à noite, aproveitei meu último dia de passeio em Mumbai.

O Remy, colega de Singapura da NYU com quem dividi o quarto no hotel, topou acordar cedo para pegarmos o primeiro ferry até Elephanta Island (ou Gharapuri Island) uma ilha a cerca de 10 quilômetros a sudeste de Mumbai onde há as impressionantes Elephanta Caves, cavernas hindus e budistas esculpidas em rocha basáltica entre os séculos V e VIII d.C. As Elephanta Caves e o Chhatrapati Shivaji Terminus (Victoria Terminus) são os dois locais da região de Mumbai que estão inscritos na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO.

No barco, saindo para Elephanta Island
Taj Mahal Palace e Gateway of India
Rumo a Elephanta Island
Chegada em Elephanta Island: macacos, não me mordam!
Entrada da caverna principal, templo de Shiva, o principal deus hindu.
Painel de Bhairava (Shiva) matando Andhaka
Painel Trimurti (ou Trimurti Sadashiva ou Maheshmurti),
representando Brahma (criador), Vishnu (preservador) e Shiva (destruidor)
Painel Ardhanarishvara, representando a união entre
Shiva e sua esposa Parvati
Painel que retrata o casamento de Shiva e Parvati

Na volta de Elephanta Island, uma aventura de táxi (porque tudo o que envolva trânsito em Mumbai pode ser considerado aventura, ainda mais se também envolver táxi) até o restaurante Britannia & Co., uma joia persa pertinho do hotel. No restaurante, veio conversar conosco o Sr. Boman Kohinoor, filho do fundador do estabelecimento. Simpático saudosista da era britânica, ele veio nos mostrar a carta (plastificada) que lhe enviou a Rainha Elizabeth II, em que agradece a ele a correspondência gentil e a lealdade.

A experiência de andar de táxi em Mumbai
Britannia & Co.: restaurante de culinária persa próximo ao Grand Hotel Bombay
Com o Remy, saboreando um Berry Pulav no Britannia

Durante a tarde (sozinho, porque os amigos foram descansar para a cerimônia do casamento, mas eu me neguei, obviamente), fui dar umas últimas voltas por Mumbai. Passei pela Estação Churchgate e fiquei umas horinhas no Museu de Mumbai (mapa). Num lindo exemplo de arquitetura indo-sarracênica fica um vasto acervo de diversas obras de arte da Índia, do Nepal e do Tibet, com destaque para esculturas em pedra, pintura em miniatura, artes decorativas (em pedra, madeira, marfim, metais, têxteis), porcelana, armaduras…

Prédio antigo da Churchgate Station
Museu Chhatrapati Shivaki Maharaj Vastu Sangrahalaya;
antes, Prince of Wales Museum of Western India
Hall de entrada do museu
(antes de me dizerem que não podia fotografar, nem sem flash!)

Mumbai

Com as intensas programações do casamento, tive de aproveitar os curtos intervalos para passear um pouco em Mumbai. Após o Mosallah, saí com alguns amigos da NYU para caminhar e fotografar alguns pontos turísticos mais óbvios (com meu foco involuntário na arquitetura gótica), expandindo o passeio já realizado pelas redondezas do hotel.

General Post Office (mapa aqui), o Escritório Geral dos Correios,
um dos exemplos de arquitetura indo-gótica
Pombos no telhado, em casa na frente do General Post Office

A Estação Chhatrapati Shivaji (nome original em inglês: Victoria Terminus, em homenagem à Rainha Vitória, do Reino Unido) é um dos edifícios neogóticos mais impressionantes. Foi designado Patrimônio Mundial pela Unesco em 2004. Até hoje em funcionamento, por ali passam três milhões de pessoas por dia.

Chegando ao Victoria Terminus
Pátio interno da parte administrativa do Victoria Terminus
Torre principal do Victoria Terminus
Entrada principal do Victoria Terminus; à esquerda, o pavilhão dos trens
À esquerda, a entrada principal; à direita, a parte administrativa
O decadente saguão dos trens no Victoria Terminus,
não condizente com a majestade externa do edifício

O prédio da sede da Brihanmumbai Municipal Corporation (BMC), a Corporação Municipal da Grande Mumbai, é outro exemplo da arquitetura gótica de Mumbai. O edifício fica bem em frente à Victoria Terminus. A BMC é responsável, em Mumbai, por serviços públicos como os de saúde e hospitais, iluminação, manutenção de parques, tratamento de esgotos e segurança.

Sede da BMC, vista da Victoria Terminus
Destaque para a torre principal da sede da BMC
Detalhe da sede da BMC
Outro edifício de inspiração gótica

A Flora Fountain (Fonte de Flora) é um chafariz-escultura do século XIX que retrata a deusa romana Flora. Fica na Hutatma Chowk (Praça do Mártir).

Flora Fountain
Detalhe da Flora Fountain
Detalhe da Flora Fountain

Outra exemplo imperdível da arquitetura gótica de Mumbai é a Bombay High Court, a Alta Corte de Mumbai. Com 75 juízes, têm jurisdição originária e de apelação. Suas decisões só podem ser apeladas à Suprema Corte da Índia.

Bombay High Court
Bombay High Court

Por hoje, o último exemplo da arquitetura gótica e veneziana de Mumbai é a Rajabai Clock Tower (Torre de Relógio Rajabai), com 85 metros de altura. Está localizada no campus da Universidade de Mumbai, inspirada no Big Ben e construída entre 1869 e 1878.

Rajabai Tower

Casamento indiano: passeio e roupa nova

O dress code para o almoço do meu segundo dia de casamento indiano era roupa formal indiana. Para não usar a roupa que ganhei e ter de repeti-la na festa principal, resolvi ir às compras! (Repetir roupa nem seria tão grave assim, eu acho, mas, num contexto de tanta elegância, não tive coragem.)

Como a loja recomendada pela noiva só abriria às 10h, aproveitei para passear um pouco pelas redondezas do Grand Hotel Bombay. (Lembro que, para quem costuma caminhar dezenas de quilômetros nos lugares que visita — vide NYC, Boston, Philly e Montevideo, apenas como exemplos —, “redondezas” pode ser um conceito mais amplo que o usual!) As redondezas do hotel apresentam características arquitetônicas que evidenciam a influência inglesa durante o Raj Britânico, de 1858 até a independência da Índia, em 1947.

Mumbai — ou Paris — ou Londres
Elphinstone College
Cricket
Biblioteca David Sassoon e um desfile imprevisto de saris
Um toque da bagunça urbana indiana; torre da universidade ao fundo (Rajabai Clock Tower)
Mais um prédio que me chamou muito a atenção: a Majestic House

Terminei o breve passeio no Gateway of India, arco concebido para dar boas-vindas ao Rei George V e à Rainha Mary, da Inglaterra, quando visitaram a Índia em 1911, mas concluído somente em 1924. Perto do arco, chama a atenção o Taj Mahal Palace Hotel, palco do atentado terrorista de 2008.

Gateway of India
Taj Mahal Palace Hotel ao fundo

Depois do passeio, fui à Fabindia (mapa aqui), a loja recomendada pela noiva, e comprei meu traje indiano número dois (além de uns chás orgânicos que encontrei no caminho!). Tinha combinado de encontrar as amigas da NYU Pam e Sarah na mesma loja. Voltei com elas ao hotel, para nos prepararmos para o almoço. Mas sobre o meu primeiro almoço indiano vestido como indiano eu conto no meu próximo post!

Casamento indiano: piquenique à beira do lago

O primeiro evento do casamento foi um dia de piquenique na casa de férias da família da noiva, à beira do lago-represa de Uksan, em Kamshet, a sudeste de Mumbai.

Quer dizer, foi o primeiro evento de que participei. O casamento começou com a cerimônia perante a autoridade religiosa (muçulmana), no início de janeiro, restrita às famílias — a alguns homens das famílias, entenda-se. A festa principal (para 2.500 convidados), gran finale do casamento, ficou marcada para 19 de janeiro. Antes dela, houve duas semanas de recepções menores, essencialmente familiares, mas para as quais eu também estava convidado. Acabei participando apenas da segunda dessas semanas, até porque eu não tinha tanto tempo de férias e queria também aproveitar para passear em outras partes da Índia.

Voltando ao piquenique: o dia começou cedo. Às 6h da manhã estava em frente ao hotel com os demais amigos da NYU ali também hospedados, aguardando um dois dois ônibus que levariam os convidados a Uksan. A viagem de 110 Km por estradas caóticas em meio a paisagens rurais deslumbrantes durou umas três horas. Aproveitei para pôr o papo em dia com a Pam, amiga canadense que “era” minha Study Group de Transnational Law na NYU (nosso grupo de estudos era, na verdade, uma dupla!).

A proposta do piquenique, conforme o informado no convite, era: “pipa, banho no lago e mehendi [tatuagens festivas para o público feminino]”. Acabou sendo bem mais: comidas deliciosas, apresentações artísticas, cricket, música e dança.

Uma das convidadas ganhando uma tatuagem de henna (mehendi)

Na chegada, a decoração ao ar livre e a vista do lago compensaram o chacoalhar da viagem. Três tendas decoradas com flores e mobiliadas com espreguiçadeiras foram estrategicamente montadas no gramado, uma ideia excelente para as conversas dos convidados. Uma grande tenda branca protegia as mesas de refeição do forte sol. Outra ideia genial foi a árvore das pipas: cada convidado escrevia uma mensagem aos noivos em uma pequena pipa de celofane e a pendurava numa árvore, que ficou repleta de pipas coloridas.

Ao fundo, o lago; ao centro, as tendas floridas com espreguiçadeiras;
à direita, parte da tenda branca com as mesas de refeição
A Pam fotografando a árvore das pipas depois de deixar sua mensagem ali
A tenda branca com as mesas de refeição;
ao fundo, uma ponta de terra perto do lago, lugar das pipas e, depois, do cricket

O café-da-manhã que nos esperava na chegada era um verdadeiro banquete. Numa das extremidades da tenda branca, um buffet vegetariano; na outra, um não vegetariano. Eu me senti bem em casa no lado vegetariano, graças à ajuda do amigo indiano Atul, colega da NYU e vegetariano como eu, que me deu todas as dicas de que eu precisava quanto aos pratos indianos. Infelizmente não tive como memorizar todos os nomes, mas o certo é que eu provei de tudo que o Atul me recomendava. Mal tinha terminado o farto café-da-manhã, foi servido um almoço mais completo ainda.

A Rahela, a noiva, já tinha dito para mim e outros colegas estrangeiros da NYU que nesse piquenique várias “comidas de rua” indianas bem originais seriam servidas e que poderíamos comer sem preocupação, porque tudo seria feito com ingredientes de procedência segura. O grande problema de estrangeiros com alimentação na Índia é com a água, que comumente agride os estômagos e intestinos não imunizados contra alguma bactéria particularmente indiana. Por isso, o cuidado especial da noiva. Além de chai (obviamente), café e refrigerantes, serviram também água engarrafada, para a segurança dos gastrointestinal dos estrangeiros!

Ah, e nada de álcool, em nenhum evento do casamento, por observância aos preceitos islâmicos. Não por isso a diversão foi menor que em qualquer casamento a que eu já tivesse ido!

O lado vegetariano do buffet

Meu delicioso prato de café-da-manhã
Os noivos estavam superfelizes, visitando cada uma das mesas

Com meu prato de almoço à sombra, junto com o pessoal da NYU
(O chapéu também foi ideia dos organizadores!)

Os noivos dançando, inicialmente com a família, mas depois com todos os convidados
(e aí não tirei mais fotos, porque também fui aprender uns passinhos indianos!)

Meu primeiro casamento indiano

Há cerca de um ano recebi por e-mail o convite de casamento da Rahela, uma das boas amigas indianas que fiz durante o mestrado na NYU: casamento marcado para o início da segunda quinzena de janeiro de 2013.

Fiquei empolgado e desde logo quis ir, mesmo que implicasse algum $acrifício. Um autêntico casamento indiano, na Índia, com a oportunidade de rever, além da própria noiva, outros amigos do mestrado (também convidados), não é algo que me aconteça muito frequentemente.

Fiquei empolgado, mas não planejei nada, porque a data parecia tão distante! Lá por setembro a Rahela pediu meu endereço postal para enviar o convite impresso. Por erro do correio indiano, o convite foi enviado ao Equador (?) e reenviado de lá a Porto Alegre.

Afinal, só no início de dezembro marquei férias, pedi (e consegui!) o visto indiano, comprei as passagens e reservei com um agente de viagem indiano recomendado pela Rahela um pacote pós-casamento – tudo para viajar em meados de janeiro!

Porto Alegre – São Paulo – Dubai – Mumbai… Quase 19h de voo depois, cheguei à Índia por volta das 8:30 da manhã no horário local, no dia 16 de janeiro. A Índia tem um meio fuso horário: se lá eram 8:30, no Brasil eram 7h30min mais cedo (1:30 da manhã).

Já na chegada ao aeroporto, ficou em evidência pela primeira vez a organização neurótica da noiva (é um elogio, porque eu amo organização neurótica!): um motorista me esperava para me levar ao Grand Hotel Bombay, em Ballard Estate, um simpático e muito bem localizado hotel onde a noiva tinha pré-reservado quartos de hotel para todos os convidados da NYU.

O trânsito do aeroporto ao hotel é uma história à parte. Foi um tratamento de choque para o turista recém-chegado. O trânsito na Índia é caótico. Levei mais de duas horas (no horário de pico!) para percorrer uma distância de uns 24 quilômetros. E o motorista não tinha muita certeza de onde ficava o hotel, porque “endereço”, na Índia – tipo rua e número, mesmo – não é lá algo muito comum. “Bairro tal, perto do posto do correio” é um endereço megapreciso para os padrões indianos que conheci.

Chegando ao quarto do hotel, mais uma surpresa: a noiva tinha pedido para deixarem na mesa de centro do meu quarto uma bandeja de madeira, pintada a mão por crianças envolvidas em um projeto social e coberta com guloseimas indianas, para lanches rápidos.

Sobre a minha cama, havia um pacote com uma calça pyjama bege e uma espetacularmente linda túnica kurta azul-petróleo com bordados, exatamente do meu tamanho – roupa em estilo indiano para eu usar no evento principal do casamento (porque houve vários!).

Enquanto fazia os planos de viagem, eu tinha comentado com a Rahela por e-mail que gostaria de usar roupas indianas e que nem levaria terno. Pedi a ela que me recomendasse lojas onde comprá-las em Mumbai e me indicasse alguma amiga ou amigo dela que pudesse me ajudar com isso, já que ela, como noiva, não teria tempo para isso.

Ela de pronto me respondeu que as sugestões de lojas e amigos estariam em uma folha de contatos no hotel, mas que eu só precisaria usá-los se quisesse comprar mais um conjunto de roupas indianas – porque um conjunto ela já tinha comprado para mim! Hospitalidade indiana é algo.

Depois de me instalar no hotel, almocei em um restaurante ali no entorno uma comida muito boa, mas apimentadíssima. Bem feito, porque na primeira refeição eu já me esqueci da recomendação da minha irmã Lu, que tinha ido à Índia uns seis meses antes de mim: pede sempre que preparem a comida o menos apimentada possível. Mas por mim tudo bem, porque acho que comer lacrimejando (em prantos, na verdade) e fungando deveria mesmo fazer parte da experiência.

À tarde eu dormi, porque estava exausto da viagem, e à noite saí para jantar com a Rahela e o Murtuza (o noivo), as irmãs da noiva e todo o pessoal da NYU. Fomos ao Leopold Café, na Colaba Causeway, que ficou (ainda mais) famoso em Mumbai por causa do ataque terrorista de 2008.

No próximo post, contarei sobre o piquenique à beira do lago!