Após visitar Mumbai, Jaisalmer, Jodhpur, Jaipur e Agra, terminei a viagem pela Índia na capital, Délhi. Lá fui muito bem recebido pela amiga Ranjitha, ex-colega de mestrado.
Por uma feliz coincidência, cheguei à capital indiana em um feriado nacional: o Dia da República, quando se comemora o aniversário da promulgação da Constituição da Índia (26 de janeiro de 1950). Depois de passear um pouco com a Ranjitha na vizinhança onde ela mora, visitando um templo hindu e provando doces indianos na doçaria Nathu’s, fomos ao centro de Nova Délhi, ver a iluminação dos edifícios do governo em comemoração ao Dia da República. (Ao tradicional desfile militar que ocorre na tarde do dia 26 de janeiro eu não tive a oportunidade de assistir.)
O Rashtrapati Bhavan, complexo palaciano presidencial da Índia, iluminado para o dia nacional.
Detalhe do Rashtrapati Bhavan, decorado com luzes e a bandeira indiana.
Caminhando do palácio até o restaurante onde jantamos, passamos pelo India Gate, um monumento nacional em homenagem aos soldados indianos que lutaram na I Guerra Mundial e nas Guerras Anglo-Afegãs de meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX. O monumento, como o palácio, estava decorado para a festa.
Índia Gate, iluminado com as cores da Índia
No dia seguinte, a Ranjitha voltou à advocacia — e eu voltei à minha intensa rotina de passeios com guia turístico! Logo de manhã cedo, a primeira parada foi em Old Delhi, a cidade antiga. O principal destaque foi a Jama Masjid, a maior e mais conhecida mesquita da Índia, construída em arenito e mármore em meados do século XVII, por ordem do imperador mogul Shah Jahan (o mesmo que determinou a construção do Taj Mahal para sua falecida esposa). Também fiz um passeio de rickshaw pelas ruas estreitas da cidade antiga.
Panorâmica de Jama Masjid
Jama Masjid
As próximas paradas foram o Raj Ghat, jardim memorial onde Mahatma Gandhi foi cremado, e o Mausoléu de Humayun. O túmulo foi construído em 1565 para o segundo imperador mogul e tem diversos elementos de inspiração para muitos outros edifícios de arquitetura mogul (inclusive o Taj Mahal): a simetria perfeita, a cúpula de mármore, as jalis (telas de treliça de pedra).
Chegando ao Mausoléu de Humayun
Também fui ao Parque Arqueológico Mehrauli, que se destaca pelo Qutb Minar, a mais alta torre isolada da Índia, de arenito e mármore. O minar de cinco andares começou a ser construído no ano 1192 como símbolo de poder do primeiro reino muçulmano (sultanato) no Norte indiano. Tem 379 degraus e 72,5 metros de altura, com diâmetro de 14,3 metros na base e 2,7 metros no topo.
Qutb Minar
Ao fim do dia intenso de passeios, jantei na companhia da Ranjitha e da Ruchira, também amiga indiana e ex-colega de mestrado, no Oh! Calcutta, restaurante com pratos da região de Bengala.
No dia seguinte, parece que comecei a sutil transição do mundo do turismo e da História para o mundo do trabalho e do Direito: assisti, por convite do pai da Ranjitha, a alguns minutos de uma sustentação oral na câmara do Tribunal de Délhi especializada em Direito da Energia. Pode parecer uma quebra de clima, balde de água fria nas férias, mas foi uma experiência muito legal!
Os julgadores eram um juiz-jurista e um juiz-engenheiro. Mesmo em poucos minutos, já pude começar a entender do assunto de que estavam tratando (embora, naturalmente, não conhecesse as normas indianas aplicáveis ao caso). Mas o que nunca me sairá da cabeça daquele dia, sobretudo pela insistência da advogada de defesa em repeti-la, é a expressão “Your Lordship“, correspondente ao “[Vossa] Excelência” usado no Judiciário brasileiro.
Ainda sobrou um tempinho para um passeio nos jardins Lodi, onde há túmulos construídos nos séculos XV e XVI — hoje, um parque amplo e bem-cuidado.
Sheesh Gumbad, um dos túmulos nos jardins Lodi.
Por fim, almoço, malas e aeroporto de Délhi, para começar a longa jornada de volta: primeiro a Mumbai, depois a Dubai, depois a São Paulo, e enfim a Porto Alegre. Uma longa viagem com direito a virose (nos últimos dias, parece que uma das temidas bactérias da água indiana enfim me encontrou!), mas essa parte vamos deixar pra lá.
Deixei a Índia com os olhos repletos de belas imagens, apesar dos fortes contrastes entre partes deslumbrantes e partes de extrema desesperança. Durante a viagem, reforcei minhas impressões positivas sobre o povo indiano e sobre a riqueza histórico-cultural do país. Espero ter a oportunidade de voltar lá um dia, para conhecer o Leste e o Sul.