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Bye Bye, Budapest: triatlo na Ilha Margit

O último dia da Expedição 2015 em Budapeste foi de arrancar lágrimas de nostalgia: céu perfeitamente azul, temperatura ideal e um passeio agradável e tranquilo.

Nada mais apropriado para se despedir de Budapeste – sem causar ciúme nem a Buda nem a Peste – que passar o dia na Ilha Margarete ou Margit (Margit-sziget), que fica no meio do Danúbio (mapa) e, portanto, não é propriamente nem Buda nem Peste!

A parte do triatlo, no título do post, é só brincadeira. Não fizemos triatlo nenhum. Mas quase: andamos de bicicleta, caminhamos bastante (mas não corremos…) e nadamos. 😀

Começamos o dia com um brunch húngaro reforçado no Művész Kávéház (mapa, website em Húngaro, facebook), na chiquérrima Avenida Andrássy, 29. Como (estranhamente) não tirei foto lá, o Művész acabou ficando de fora do post sobre cafés e restaurantes de Budapeste. Foi inaugurado em 1898, em estilo Neo-Renascentista, e restaurado em 2008. Quase em frente à Ópera, é mais um dos muitos cafés elegantes da época, como o New York Café e o BookCafé.

Depois do Művész, passamos um tanto de dificuldade e perdemos um tempinho tentando alugar uma segunda bicicleta do sistema de compartilhamento MOL Bubi usando o aplicativo de celular. Teria sido mais fácil e rápido ir logo até a máquina disponível na Déak Ferenc ter, como afinal fizemos – e em um minuto ambos tínhamos bicicletas alugadas!

Fomos pedalando pelo centro de Peste, passando pelo Parlamento, até a Ponte Margit (Margit híd). A ponte em T liga Buda e Peste, e também permite descer na Ilha Margit, no Danúbio.

Danúbio e o lado Buda da Ponte Margit

A partir do século XI a Ilha Margit foi ocupada por diferentes ordens religiosas. Vimos lá importantes ruínas medievais: da igreja e do convento dominicanos, do século XIII, e da igreja franciscana em estilo gótico, do século XIV. No convento dominicano viveu a Princesa Margit, filha do Rei Béla IV, na segunda metade do século XIII; a ilha acabou recebendo o nome da princesa. Os religiosos abandonaram a ilha em meados do século XVI, para fugir da ocupação dos turcos, que destruíram as construções. Só no século XIX as ruínas foram reencontradas.

A ilha foi aberta ao público em 1869 e hoje é um grande parque, com gramados, muita um jardim japonês, um roseiral, hotéis-spas, um complexo esportivo e, claro, banhos termais.

Na entrada sul da ilha, o chafariz e, ao fundo, o monumento ao centenário da unificação de Buda e Peste (comemorado em 1973)

Um dos belos jardins

Detalhe do roseiral

O grande gramado do centro da ilha – e nenhuma nuvem no céu espetacularmente azul!

Almoçamos no restaurante aos pés da Torre da Caixa d’Água e depois, subimos seus 57 metros. A torre foi construída em 1911 e hoje funciona como espaço para exibições artísticas, além de oferecer vistas incríveis da ilha e da cidade.

Não é uma foto panorâmica, mas ao longe se podem ver alguns marcos da cidade. Da esquerda para a direita, temos a cúpula da Basílica e outros prédios do centro de Peste, o Monumento à Libertação no alto de Gellért Hill, a cúpula do Parlamento e o Castelo de Buda.

Superzoom: o Parlamento, em Peste, e o Castelo, em Buda

Por fim, depois de andar de bicicleta e caminhar pela ilha, fomos nadar na Praia Palatinus (Palatinus Strandfürdő, mapa, website em inglês). Há 11 piscinas , todas externas, incluindo uma de ondas e outra com toboáguas. O movimento tranquilo no dia em que fomos (início de temporada) permitiu que aproveitássemos bastante. Desci os quatro toboáguas!

Deu um aperto no coração encerrar o agradável dia no Palatinus, mas, como se vê nas últimas fotos, a tarde estava caindo… Alugamos bicicletas para voltar a Peste, jantar pela última vez em alto estilo húngaro (no Callas, com música ao vivo), voltar ao apartamento e fechar as malas, para partir cedo da manhã no dia seguinte de volta para as Américas.

Voltamos com a bagagem cheia de nostalgia. A Expedição 2015 foi um sucesso absoluto.

Budapeste ao anoitecer – Danúbio iluminado

E a Expedição 2015, com seus n posts, chega ao post n-1… Hoje farei a despedida noturna de Budapeste, com uma seleção de fotos das melhores vistas no entorno do Danúbio ao entardecer e à noite – do lado Buda e do lado Peste!

No último dia da participação especial da minha amiga Stephanie na Expedição 2015, fizemos – com minha irmã Lu e meu cunhado James – um passeio de barco pelo Danúbio ao entardecer, fortemente recomendável. O dia estava um pouco nublado, então não muitas fotos ficaram boas. Independentemente disso, o passeio valeu muito.

Também gosto do desafio da fotografia na hora mágica e de longa exposição (aqui no blog há exemplos de Köln, New York, Genève, Paris, San Antonio… e provavelmente outros de que nem me lembro), por isso não podia deixar de convidar a Lu a pegar seu contêiner de paciência e me acompanhar numa caminhada fotográfica ao longo do rio.

Pra começar, claro, o Parlamento, tal como se pode ver no passeio de barco: bem de perto e bem de frente. Mesmo atravessando a Buda é difícil ter a mesma vista.

Caminhando perto do Memorial dos Sapatos tirei esta foto da Igreja Mátyás e do “terraço” Bastião dos Pescadores, ambos já iluminados ao entardecer (o post sobre a visita a Buda conta mais sobre essas construções).

Ainda fotografando a partir do lado Peste, capturei o Castelo de Buda iluminado ao entardecer, com a Ponte das Correntes, igualmente iluminada, “atrapalhando a vista” (isso da “ponte iluminada atrapalhando a vista” virou mania fotográfica minha, como se verá a seguir).

Noutro dia, mais uma da Igreja Mátyás, do Bastião dos Pescadores e da Ponte das Correntes (atrapalhando a vista), todos iluminados ao entardecer.

Nesse mesmo dia achei um bom lugar, pertinho do Vigadó, para fotografar o Castelo de Buda, que aqui parece revestido de ouro!

Então atravessamos a Buda. Uma das paradas para foto foi o Várkert Bazár (ou Bazar dos Jardins do Castelo). É o prédio alongado (e também muito bem iluminado) que se vê “aos pés” do Castelo na foto acima.

Não comentei sobre o Várkert Bazár em outros posts porque, inacreditavelmente, não o visitamos (ficou como “gostinho de quero mais”). Foi construído de 1875 a 1883 em estilo Neo-Renascentista, como um portão aos jardins do Castelo de Buda. Até pouco tempo atrás, o lugar estava praticamente em ruínas, mas foi lindamente restaurado no início da década e hoje recebe eventos, concertos, mostras de arte.

O vídeo promocional mostra a beleza do prédio restaurado e dos jardins:

Budapeste é mesmo inesgotável. Nem me despedindo eu consigo me despedir. 🙂

Continuando a caminhada fotográfica noturna, à noite, vimos o Parlamento ao longe, revestido de ouro (com a Ponte das Correntes atrapalhando a vista).

Também vimos o elegante Gresham Palota, ou Palácio Gresham, onde hoje funciona o hotel Four Seasons em Peste. A cúpula da Basílica de Santo Estêvão também aparece ao fundo. E nesta foto a Ponte das Correntes aparece, mas até que não atrapalha tanto a vista.

Por fim, como não poderia deixar de ser, paramos (por bastante tempo) perto da Batthyány tér para fotografar o Parlamento.

Parque Memento: um dos melhores passeios em Budapeste

O Parque Memento (website em inglês, mapa) foi, de longe, um dos melhores passeios que fizemos durante a Expedição 2015 a Budapeste.

(E falando em longe… o parque fica bastante longe do centro da cidade; 30 a 40 minutos de ônibus. Minha irmã, meu cunhado e eu fomos de ônibus urbano, com uma conexão bem complicada – mas, pra facilitar, voltamos ao centro com o ônibus direto que liga o parque à Déak Ferenc tér, a estação que conecta as linhas M1, M2 e M3 do metrô. Vale reservar umas três horas para o passeio. E vale muito fazer a visita guiada – nossa guia foi excelente.)

Vamos ao parque. Mas, antes, aos antecedentes do parque!

Na Segunda Guerra, a Hungria estava do lado perdedor. O Exército Vermelho Soviético chegou para libertar os húngaros da tirania das forças alemãs nazistas. O Dia da Libertação, com ficou conhecido o 4 de abril de 1945, significava para a Hungria, a um só tempo, o fim dos horrores de um regime opressor, de uma Grande Guerra e da sombra do Holocausto.

Mas os libertadores soviéticos foram prolongando sua ocupação… e acabaram estabelecendo no país o regime comunista e uma ditadura totalitária, com mais opressão e estado de terror. E assim a Hungria continuava do lado perdedor.

De 1947 a 1988, o regime soviético espalhou pelas ruas e praças de Budapeste não só terror, mas também diversas estátuas e monumentos (muitos deles também aterrorizantes – e odiados pelo povo) em homenagem aos ideais comunistas e aos seus líderes.

Com o fim do regime comunista no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, antes que a população farta da ditadura destruísse os monumentos que o glorificavam, o governo de Budapeste decidiu removê-las e preservá-las em um parque memorial – o Parque Memento.

As botas de Stálin

Uma construção esquisita em frente ao parque (fora dele) – botas sobre um pedestal? – lembra que não se trata de uma homenagem ao comunismo, mas em homenagem à sua queda.

Nos primeiros anos da ditadura soviética, tinha sido instalado na praça Felvonulási tér – na parte sul do Parque da Cidade – um pedestal elevado e, sobre ele, uma estátua de bronze de 8 metros de altura de Josef Stálin, Primeiro Secretário do Partido Comunista, Chefe de Estado, General. Era diante desse pedestal e da estátua de Stálin que se realizavam as paradas militares organizadas pelos soviéticos.

Mas num levante civil húngaro contra a ditadura, em 23 de outubro de 1956, a multidão cortou a estátua pelas pernas, derrubando o corpo. Ficaram só as botas – um deboche ao ditador.

Infelizmente aquele 23 de outubro não foi o fim da ditadura. Os próprios comunistas removeram as botas e remodelaram o pedestal (sem repor a estátua). O que está em frente ao Parque Memento é uma réplica em tamanho real do pedestal e das botas de Stálin.

O portal do Parque Memento

Ákos Eleőd foi o arquiteto cujo projeto venceu o concurso para o desenho do parque, inaugurado em 1993. Seu projeto é rico em simbolismo, como ficará evidente em muitos dos comentários ao longo do texto. Foi intitulado “Uma Frase sobre Tirania”, em homenagem ao poema do húngaro Gyula Illyés; o poema está gravado na grande porta central do parque.

O imponente portal de tijolo à vista lembra elementos arquitetônicos muito usados pelos comunistas: formas clássicas, grandes colunas, alcovas em arco. O arquiteto usou esses elementos para representar o regime comunista, que, com mania de grandeza, esmagou as liberdades individuais e humilhou a população húngara.

O portal também representa a promessa vazia do comunismo. Apesar da imponência aparente, não há nada atrás, nenhum edifício. Só fachada.

A grande porta central (onde está gravado o poema) está, como na foto abaixo, sempre fechada. Para entrar, é preciso encontrar uma outra solução, uma porta lateral. É outra alusão do arquiteto à vida no regime comunista: “para cada grande porta existe uma pequena janela”.

Na parte esquerda do portal, está uma estátua de bronze de Lênin, outro líder do Partido Comunista na Rússia. A estátua de 4 metros de altura, esculpida por Pál Pátzay, ficava também na Felvonulási tér, próxima à estátua (e, depois, às botas) de Stálin.

Na parte direita do portal, fica uma estátua de 1971 do escultor György Segesdi, retratando Marx e Engels, teóricos alemães do comunismo. A tem 4,2 metros de altura e, originalmente, ficava perto da sede do Partido Comunista. É a única estátua cubista de Marx e Engels. O escultor queria construí-la com chapas de aço, mas os políticos da época insistiram no uso de um material mais pesado e tradicional – o granito.

Soldado Soviético Libertador

Entrando no parque, à direita, fica a estátua de bronze de 6 metros de altura do Soldado Soviético Libertador, esculpida por Zsigismond Strobl Kisfaludy, em 1947.

Essa estátua ficava numa posição extremamente privilegiada: no alto do Gellért Hill, aos pés do Monumento à Liberdade (na foto abaixo ainda se vê o pedestal onde ficava). Pretendia ser, por assim dizer, o “protetor soviético” do próprio espírito de liberdade!

Originalmente, o monumento em Gellért Hill era em homenagem à libertação da Hungria das forças alemãs nazistas pelo exército soviético. A inscrição no pedestal dizia: “à memória dos heróis soviéticos libertadores – a povo húngaro, com gratidão – 1945”.

O monumento acabou ficando lá e não sendo “condenado” ao Parque Memento porque ganhou novo significado. Hoje a inscrição diz: “à memória de todos aqueles que sacrificaram suas vidas pela independência, pela liberdade e pela prosperidade da Hungria”. Isso inclui os que sacrificaram suas vidas para livrar a Hungria dos soviéticos antes homenageados!

Memorial da Amizade Húngaro–Soviética

Essa estátua de bronze, esculpida em 1956 por Zsigismond Strobl Kisfaludy, tem traços que demonstram o desequilíbrio da amizade entre húngaros e soviéticos. O trabalhador húngaro, em vestimentas simples, oferece as duas mãos, em posição de subserviência; o soldado soviético, por sua vez, mais alto e forte, oferece apenas uma mão e mantém-se afastado.

Monumento aos Pioneiros

Para doutrinar as crianças na ideologia comunista e soviética, o Partido Comunista criou o Movimento dos Pioneiros, para crianças de 6 a 14 anos.

Estátua de Lênin

Nikita Khrushchev, Primeiro Secretário do Partido Comunista da Rússia, visitou a grande siderúrgica húngara Csepel em 1958. Durante a visita, comentou que deveria haver ali uma estátua que lembrasse os trabalhadores da ideologia comunista e os encorajasse ao trabalho. A “falha” foi corrigida rapidamente, e uma estátua de bronze de Lênin, com a mão elevada, foi instalada em frente à fábrica no mesmo ano.

Estrela vermelha de cinco pontas

A estrela vermelha de cinco pontas é um emblema do movimento internacional dos trabalhadores. Durante o regime comunista, foi colocada em prédios públicos civis e militares, fábricas, escolas, até mesmo no topo do Parlamento. No centro do Parque Memento, há uma estrela de flores, semelhante à que havia perto do marco zero de Budapeste, em Buda.

No Brasil, é o símbolo do Partido dos Trabalhadores (PT).

Na Hungria, com uma emenda de 1993 ao Código Criminal de 1993, chegou a ser crime o uso do símbolo – assim como o da suástica, da SS (a polícia nazista), a cruz flechada (símbolo do Partido da Cruz Flechada, o “primo húngaro” do Partido Nazi) e a “foice & martelo” (outro conhecido símbolo comunista – como o do Partido Comunista do Brasil, PCdoB).

A polêmica sobre essa proibição renderia outro post cheio de Direito… talvez ainda renda! Mas o resumo da situação é o seguinte…

Attila Vajnai, um membro do Partido dos Trabalhadores da Hungria, usou um broche da estrela vermelha de cinco pontas e foi multado pelo Judiciário Húngaro. Apelou à Corte Europeia de Direitos Humanos, que, em 2008, decidiu contra a Hungria. Para a Corte, a multa aplicada pela Hungria violava a liberdade de expressão.

Em virtude desse e de casos semelhantes, em 2013 a Corte Constitucional da Hungria declarou inconstitucional aquela norma do Código Criminal, entendendo que a proibição dos símbolos era muito ampla e imprecisa. E o uso dos símbolos voltou a ser permitido em maio de 2013.

Memorial do Movimento dos Trabalhadores

Esse monumento, construído por István Kiss em 1976 em placas de aço, representa a supostamente perfeita ideologia do movimento dos trabalhadores. As duas mãos protegem esse tesouro frágil e ao mesmo tempo o exibem a todos.

Monumento à República Soviética Húngara

Antes da Primeira Guerra, a Hungria fazia parte do Império Austro-Húngaro, que, perdedor, desmantelou-se. O fim da monarquia foi seguido de instabilidade política, econômica, social e de política externa. Em 21 de março de 1919, aproveitando-se dessa instabilidade, ativistas liderados por Béla Kun e inspirados na Revolução Russa proclamaram uma ditadura do proletariado e criaram a República Soviética Húngara. O regime durou apenas 133 dias.

Para homenagear essa (primeira) República Soviética Húngara, os soviéticos do regime comunista posterior à Segunda Guerra resgataram uma imagem usada em posters de 1919, a ilustração “Às Armas!”, de Róbert Berény.

O escultor István Kiss tornou essa ilustração tridimensional por meio de sua estátua de 1969, que ficava também na Felvonulási tér, próxima às estátuas de Lênin e Stálin.

A população de Budapeste não tardou a ridicularizar a estátua. Diziam que parecia um gigante que vinha correndo pelo meio do Parque da Cidade, passando por entre as copas das árvores e tentando chamar a atenção de alguém: “Ei, você esqueceu seu cachecol!

Por fim, a parede dos fundos do parque

As alusões geniais do arquiteto Ákos Eleőd à promessa ilusória, circular e vazia do comunismo estão por toda parte. Os caminhos internos do parque, que levam às estátuas, têm o formato do símbolo matemático do infinito (∞, um “8 deitado”). O centro desses “infinitos” é o centro do próprio parque, onde está a estrela de cinco pontas feita com flores vermelhas. E o caminho que fica no eixo central do parque, por sua vez, leva a uma parede nos fundos.

Encerro com uma citação do livro “Na Sombra das Botas de Stálin – Guia de Visitantes ao Parque Memento” (In the Shadow of Stalin’s Boots – Visitor’s guide to Memento Park), que – além das informações ensinadas pela excelente guia que nos acompanhou durante a visita – foi referência muito útil na preparação deste post:

Mas a estrada na qual o visitante tem caminhado só continua por mais alguns metros: de repente ela atinge a parede dos fundos. Daqui não se pode ir adiante; só se pode voltar. É um beco sem saída.

Em Budapeste visitei até museu

Com tantos passeios por Budapeste (e ainda faltam algumas histórias a contar!) durante a Expedição 2015, visitei apenas dois grandes museus: o Museu Nacional da Hungria (Magyar Nemzeti Múzeum) e o Museu de Artes Aplicadas (Iparművészeti Múzeum), ambos no centro de Peste. Seria impossível comentar exaustivamente sobre cada as atrações de cada um, por isso me atenho a comentários sobre as favoritas – sejam do público em geral, sejam minhas.

Museu Nacional da Hungria

(mapa, website em inglês)

O Museu Nacional da Hungria foi fundado em 1802, mas só em meio século depois mudou-se para o grandioso palácio neo-clássico onde hoje se encontra, construído entre 1837 e 1847 pelo arquiteto Mihály Pollack.

A escadaria da entrada leva ao primeiro andar, onde, logo à esquerda, está exposta em uma sala com iluminação controlada uma das peças mais valiosas do museu: o manto da coroação, em tecido de seda bizantina bordado com fios de ouro e prata. Conforme a inscrição em latim na própria peça, o manto foi confeccionado por ordem do Rei Santo Estêvão (o primeiro rei da Hungria) e sua esposa Giselle no ano 1031. No site oficial há mais sobre a história do manto.

Ainda no primeiro o andar, há Entre o Oriente e o Ocidente, uma mostra arqueológica permanente, com artefatos encontrados no atual território da Hungria desde 400.000 a.C. até o século IX da era Cristã, quando os magiares se estabeleceram na região.

No segundo andar, está a grande exposição permanente sobre a História da Hungria, que contempla desde a criação do Estado Húngaro (em 896) até a queda do regime comunista (em 1990). Gostei particularmente (como tende a ser o caso) da parte que mostra móveis, vestimentas e objetos dos séculos XVIII e XIX, quando a Hungria estava sob o domínio da dinastia dos Habsburgos. A parte sobre a Segunda Guerra (da qual a Hungria participou do lado perdedor) decepcionou; parece haver uma perspectiva histórica distorcida, de vitimização, como se a participação do Estado Húngaro tivesse sido totalmente passiva.

Uma das minhas partes preferidas do museu conta a história de um piano muito especial. Foi fabricado por Thomas Broadwood, de Londres, que construía os melhores e mais modernos pianos da época, e enviado a Viena em 1817. Pertenceu a ninguém menos que Beethoven, que, segundo o relato histórico, amava o instrumento e o utilizou até vir a falecer. O piano foi adquirido em um leilão por C. A. Spina, um negociante de arte e editor de música. Em sinal de respeito, Spina doou o piano a Liszt, o compositor maior da Hungria, grande admirador de Beethoven. Liszt, por sua vez, doou o piano ao Museu nacional da Hungria em 1873. Hoje o instrumento está lá exposto. O nome “Beethoven” está gravado no mogno, acima do teclado.

Museu de Artes Aplicadas

(mapa, website em inglês)

O palácio do Museu de Artes Aplicadas foi, literalmente, o primeiro edifício de Budapeste que me chamou a atenção. No táxi do aeroporto para nosso airbnb, ao ver a linda cúpula com cerâmicas coloridas Zsolnay (do mesmo estilo das que estão na Igreja Mátyás e na Igreja Calvinista, em Buda), mandei uma mensagem para minha irmã, que já estava no apartamento. “Lu, estou passando por uma cúpula verde espetacular… tô perto?

 

A cúpula verde espetacular

Vista aérea (foto de foto) do palácio do museu

No teto da entrada do palácio, mais cerâmica Zsolnay

O palácio do museu por si só vale a visita. Foi projetado pelos arquitetos Ödön Lechner e Gyula Pártos no estilo Secessão, ligado ao Art Nouveau, e inaugurado pelo Imperador Franz Joseph em 1896, para a festa do milênio da Hungria. Notam-se as influências Indo-Orientais e, especialmente na parte externa, o uso da cerâmica Zsolnay.

A coleção permanente inclui peças de mobiliário, têxteis, vidros, cerâmicas e obras de arte. No dia da nossa visita, as mostras temporárias eram sobre arte islâmica e sobre a obra fantástica e criativa do próprio Lechner.

Vitral da cúpula

O pátio interno e as galerias com arcos indo-orientais

Detalhes dos arcos próximos às escadarias

Aquincum: a origem romana de Buda

Não conheço a Itália (ainda). Já vi algumas construções ou ruínas romanas na Alemanha (em Bonn) e no Reino Unido (em York). Por isso, estava bastante curioso para conhecer as ruínas romanas de Aquincum, ao norte de Buda. Num dia de folga, atravessamos de metrô para a estação Batthyány ter, de onde tomamos um trem HÉV até o Museu Aquincum. Chegando lá, fiquei muito impressionado com o tamanho do parque arqueológico.

Panorama do parque arqueológico de Aquincum

Em meados do primeiro século depois de Cristo, os romanos estabeleceram um castrum, assentamento militar para fins de defesa, na região da atual Óbuda (literalmente, Antiga Buda). Ao norte dali, formou-se o assentamento civil que deu origem a Aquincum.

Em 106 d.C., o Imperador Traianus elevou Aquincum ao status de capital da província romana de Pannonia Inferior. Seu sucessor, o Imperador Hadrianus, declarou-a Colonia Splendidissima. No seu auge, Aquincum chegou a ter entre 50.000 e 60.000 habitantes.

Nos seus cinco séculos de existência, Aquincum chegou a uma área de 2,7 quilômetros quadrados. Os muros da cidade tinham 1,5 quilômetro de extensão, e o aqueduto, 3,5 quilômetros. Havia dois anfiteatros – um civil, para 5.000 ou 6.000 pessoas, e um militar, para 13.000 pessoas – e dois fóruns, importantes centros da vida pública romana. Também havia 9 banhos públicos (apenas 2 a menos que Roma!) e 4 banhos privados. Já naquela época surgia a tradição das termas de Budapeste.

A cidade começou a decair a partir das invasões dos Sármatas (povos iranianos), em meados do século IV, e dos Germanos, a partir do século V. Na Idade Média, Buda surgiu onde ficava o campo de legionários de Aquincum; no outro lado do Danúbio, Peste surgiu a partir da fortificação romana de Contra-Aquincum.

Em 1778, um vinicultor de Óbuda descobriu resquícios de de um sistema de aquecimento de uma antiga casa romana. Foi a primeira descoberta arqueológica ligada à cidade de Aquincum. Aos poucos, uma área maior foi escavada, embora chegando apenas a um quarto da área original da antiga cidade.

As ruínas visíveis hoje demonstram o impressionante nível de urbanização de Aquincum: ruas calçadas, fórum, tribunal (basilica), anfiteatro, mercado público (macellum) e aqueduto, templo (Mithraeum), além de prédios privados, como casas e lojas (tabernae). É fácil identificar as fornalhas para o aquecimento das águas dos banhos e o avançado sistema de aquecimento das casas: sob o piso passavam canais de água quente e vapor.

Junto ao muro da cidade, hoje está o lapidarium, com diversos túmulos, estátuas e monumentos de pedra. Outra atração é a casa de um pintor do século II, reconstruída para demonstrar a arquitetura e o estilo de vida da época. No prédio do museu estão os artefatos encontrados nas escavações.

A Budapeste dos cafés e restaurantes

Parte importante da Expedição 2015 foi conhecer diferentes cafés e restaurantes de Budapeste, seja para descansar dos intensos passeios nos dias de folga, seja para sair um pouco de casa nos dias de trabalho e passar o dia abusando do WiFi grátis. O New York Café – o mais lindo do mundo – ganhou um post especial devido ao seu interior espetacular, mas visitamos muitos outros. Neste post ficam algumas dicas, antes que a memória comece a falhar…

BookCafé

Andrássy út 39 (mapa, Facebook)

Na chiquérrima Avenida Andrássy funcionava a Grande Loja de Departamentos Paris (Párisi Nagyáruház), que abriu em 1910 num lindo edifício no estilo Art Nouveau (na parte da frente). Hoje funciona ali a livraria Alexandra.

Fachada da livraria Alexandra, na Andrássy út

A Kis Herceg – O Pequeno Príncipe, em húngaro, na livraria Alexandra

Uma escada no segundo andar da parte dos fundos da livraria leva ao surpreendente Salão Lotz (Lotz terem), de estilo distinto (Neo-Renascentista), que abriga o BookCafé, um dos nossos preferidos para trabalhar (e o café e os pratos de almoço eram bastante bons também). Alguns garçons até nos reconheciam. Viramos fregueses!

O BookCafé poderia muito bem rivalizar com o New York Café como o mais lindo do mundo. O salão é ricamente decorado com candelabros e, no teto, pinturas de Károly Lotz – o mesmo artista húngaro que pintou o teto do salão da grande escadaria do Parlamento Húngaro e que contribuiu com vitrais para a Igreja Mátyás, em Buda.

O interior do BookCafé

Detalhe do teto do BookCafé

Smúz

Kossuth Lajos tér 18 (mapa, Facebook, web)

Outro café de que viramos fregueses foi o Smúz. Lá, o café era um dos melhores. Também servem uma deliciosa limonada quente com gengibre (Gyömbéres limonádé). Como fica na Praça Kossuth Lajos, tem vista privilegiada para o Parlamento e o Danúbio.

Não resisti e tirei foto da minha página preferida do cardápio – puro design.

Anyám szérint… According to my mom…

Wesselényi u. 25 (mapa, Facebook)

Outro café muito bom – especialmente para o café da manhã – e pertinho de casa era uma casinha de boneca de alguém que preza muito a opinião de sua mãe, a ponto de chamar seu estabelecimento de De acordo com minha mãe… Foi bastante tranquilo trabalhar no segundo andar, razoavelmente silencioso e com pouco movimento.

Hummus Bar Budapest

Wesselényi u. 14 (mapa, Facebook, web)

Passando aos restaurantes: na mesma rua do “De acordo com minha mãe…”, quase atrás da Grande Sinagoga, fica o nosso restaurante preferido da rede Hummus Bar Budapest. É de suspirar só de pensar no hummus dali. Delicioso. Porções muito fartas e baratas.

E o uso da vírgula serial (“hummus, falafel, and more…”) deixa o lugar ainda mais encantador.

Mazel Tov

Akácfa u. 47 (mapa, Facebook, web)

Quase ao lado de casa, na rua Akácfa mesmo, fica o “ruin pub” Mazel Tov. O hummus ali é igualmente delicioso ao do Hummus Bar – justamente por ser da mesma rede.

Rosé Étterem

Akacfa u. 24 (mapa, web)

Não longe do Mazel Tov fica o Restaurante Rosé (Rosé Étterem), que minha irmã insistentemente chamava de Rosie’s. Era um refúgio ideal para um almoço muito bom e próximo de casa.

KönyvBár & Restaurant

Dob u. 45 (mapa, Facebook, web)

Também no Erzsébetvaros, pertinho de casa, fica o KönyvBár & Restaurant. Repleto de estantes de livros, lembra uma aconchegante biblioteca. Foi ali que provei meu primeiro Tokaji, o vinho de sobremesa da região de Tokaj. Esse vinho recebeu a primeira denominação de origem da história, a partir de 1730.

Nonloso Caffé

Zrínyi u. 16 (mapa, Facebook, web)

Perto da Basílica de Santo Estêvão fica o Nonloso, um dos primeiros restaurantes a que fomos; talvez tenha até sido o da noite da minha chegada. A taça de vinho tinto da casa, que pedi no tamanho médio para pegar leve, era mesmo assim praticamente um balde.

Tivemos de voltar lá mais vezes para repetir o mesmo prato: queijo camembert recheado com cogumelos chanterelle refogados, servido com molho de frutos silvestres e salada de folhas frescas. “Vamos lá naquele do camembert?”

Dunacorso Étterem

Vigadó tér 3 (mapaFacebook, web)

O Restaurante Dunacorso é um restaurante mais turístico, de excelente qualidade, à beira do Danúbio. Das mesas na parte externa há lindas vista para o Castelo de Buda, logo do outro lado do rio, e para o Teatro Vigadó (Vigadó Concert Hall).

Dunacorso e, ao fundo, o Castelo de Buda

Teatro Vigadó

Callas Café & Restaurant

Andrássy út 20 (mapaFacebook, web)

O restaurante da janta de despedida, no final de maio, foi o Callas. Em plena Avenida Andrássy, bem ao lado da Ópera, o restaurante só poderia ser grandioso e de pura elegância. Escolhemos uma mesa na parte externa, para aproveitar a música ao vivo e a vista noturna da Ópera.

Escultura, arquitetura e música na Praça e Academia Liszt

Um dos meus trajetos preferidos para uma caminhada de nosso airbnb em Erzsebetváros até a Avenida Andrássy era a Praça Liszt (Liszt Ferenc tér, mapa), um corredor arborizado de restaurantes, bares e cafés. No centro da praça está a estátua de bronze do renomado músico húngaro Franz Liszt (Liszt Ferenc), assinada pelo escultor húngaro László Marton (1986).

Estátua de Ferenc Liszt, por Marton László

Outra estátua que chama atenção na praça é a de Sir Georg Solti, maestro húngaro que, para escapar da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra, radicou-se no Reino Unido. A estátua foi inaugurada em outubro de 2013, na reabertura da escola de música diante da qual foi colocada a obra e da qual o maestro foi aluno: a Academia de Música Franz Liszt (Liszt Ferenc Zeneakadémia).

Estátua de Georg Solti

A Zeneakadémia (mapa, site oficial em inglês) é considerada o coração musical de Budapeste. Foi fundada em 1875; portanto, em 2015 se comemoram seus 140 anos. O belo palácio Art Nouveau onde hoje funciona – restaurado em 2013 – foi construído de 1904 a 1907 e tem dois auditórios: um para 1200 pessoas e outro, para 400 pessoas.

Fachada da Liszt Ferenc Zeneakadémia; no centro, mais uma estátua de Liszt

Passando por ali logo nos primeiros dias da Expedição 2015, minha irmã e eu entramos para ver a programação de maio e adquirir os primeiros ingressos para concertos em Budapeste!

Hall de entrada da Zeneakadémia

Levei algum tempo para encontrar o assento: Középerkély Bal (mezanino centro-esquerdo), 5. Sor (fila 5), 4. Szék (assento 4)

Chegamos cedo para contemplar o auditório principal

No teto do auditório, “poesia”, “ritmo” e outros elementos da música

Orquestra de Câmara entrando no auditório

Em 13 de maio, o concerto foi com a Orquestra de Câmara Franz Liszt (Liszt Ferenc Kamarazenekar) e o clarinetista (também maestro) Michael Collins:

  • Johann Baptist Vanhal, Sinfonia em Sol Menor, Op. 17/2 (ouvir aqui)
  • Wolfgang Amadeus Mozart, Concerto para Clarinete em Lá Maior, K 622 (ouvir aqui)
  • Edward Grieg, Quarteto de Cordas No. 1 em Sol Menor, Op. 27 (ouvir aqui)

Em 20 de maio, voltamos à Zeneakadémia para um concerto com a Filarmônica Nacional da Hungria (Nemzeti Filharmonikusok), o Coro Nacional da Hungria (Nemzeti Énekkar) e solistas, especialmente Mihály Berecz, pianista prodígio de 17 anos:

  • Wolfgang Amadeus Mozart, Flauta Mágica, Abertura, K 620 (ouvir aqui)
  • Wolfgang Amadeus Mozart, Concerto para Piano em Dó Maior, K 503 (ouvir aqui)
  • Joseph Haydn, Oratório As Sete Palavras de Cristo na Cruz (ouvir aqui)

A Grande Sinagoga de Budapeste

De volta ao bairro judeu de Budapeste, dedicamos um post a mais uma sinagoga (além da Ortodoxa, já mostrada aqui): a Grande Sinagoga da Rua Dohány (Dohány utcai nagy zsinagóga). É a maior da Europa e representa um centro importante do Judaísmo Neológico.

Foi construída entre 1854 e 1859 pelo arquiteto vienense Ludwig Förster. Inspirada em modelos islâmicos do Norte da África e da Espanha medieval, tem estilo neomourisco ou neoislâmico, mas também com elementos bizantinos e góticos. Na fachada principal, chamam a atenção as duas torres octogonais de 43 metros, com cúpulas douradas, e a rosácea.

Detalhe da fachada principal da Grande Sinagoga

O interior – com capacidade para quase 3.000 pessoas – é deslumbrante, com afrescos do arquiteto húngaro Frigyes Feszl. Vários elementos lembram igrejas cristãs, como os mezaninos e, ainda menos comum em sinagogas, o órgão de tubos. O original, com 5.000 tubos, foi construído em 1859 e usado por músicos famosos, como Franz Liszt e Camille Saint-Saëns.

O templo, como se poderia supor, também sofreu durante a Segunda Guerra: foi bombardeado  em 1939 pelo Partido da Cruz Flechada (o primo húngaro do Partido Nazi alemão), e depois usado como base de rádio para os alemães e até como estábulo. De novembro de 1944 a janeiro de 1945, formou parte importante do Gueto de Budapeste, abrigando muitos dos judeus isolados por ordem do governo. Voltou a ser templo durante o período comunista e foi finalmente restaurado ao seu esplendor original nos anos 1990.

Nave principal da Grande Sinagoga

Detalhe da parte dianteira, onde se observa o órgão de tubos

O púlpito, outro elemento que lembra igrejas cristãs

Lustre e claraboia

Parte posterior do templo (mais alguns tubos do órgão, à direita)

Ainda no complexo da sinagoga, fica o Templo dos Heróis, para 250 pessoas; é o “templo de inverno” da congregação. No pequeno pátio lateral fica um cemitério, o que tampouco é usual haver ao lado de uma sinagoga. É que ali, muito por falta de alternativa, foram jogados e posteriormente sepultados os corpos de mais de 2.000 judeus que morreram durante o período do Gueto de Budapeste.

Na parte dos fundos, há o Memorial do Holocausto Raoul Wallenberg, em homenagem aos pelo menos 400.000 judeus húngaros mortos na Segunda Guerra. Destaca-se a Árvore da Vida, a escultura de um salgueiro-chorão, do artista Imre Varga; nos ramos estão inscritos nomes de vítimas. Ali também há o túmulo simbólico de Raoul Wallenberg, um diplomata sueco que resgatou muitos judeus, concedendo-lhes passaportes suecos e enviando-os para abrigos – e mais tarde, acusado de espião norte-americano, foi executado pelos soviéticos. Perto do túmulo há uma parede-vitral que simboliza o fogo do Holocausto.

A Árvore da Vida

Parede-vitral

Por fim, no prédio atrás do memorial (que se vê iluminado pelo sol na foto acima), há o Museu Judaico. Além de relíquias religiosas e objetos rituais, há uma sala que trata da vida dos judeus durante a Segunda Guerra. Para encerrar, fotos da repugnante propaganda anti-semita (traduções e explicações nas legendas).

No cartaz superior, um judeu com um saco de dinheiro e a inscrição: “Tomarei o reino e o poder”. No inferior: “A arma dos judeus é dinheiro. Não se entregue nas mãos de armas inimigas!”

Na entrada do gueto, o cartaz: “Bairro Judeu (Zsidónegyed): Cristãos estão proibidos de entrar”. (Faltou completar: e judeus, de sair…)

“Szalámi” é “salame”, mesmo. 🙂 Destaque para o judeu “devidamente” identificado com a estrela de Davi e para a curiosa igualização entre comunismo (a foice e o martelo) e judaísmo (a estrela de Davi).

Dia (intenso) em Buda

Neste post a Expedição 2015 atravessa o Danúbio para mudar de ares e mostrar um pouco de Buda, especialmente o bairro Víziváros (“cidade da água”), o distrito do Castelo de Buda e o morro Gellért. É possível ver todos esses lugares ao longo de um dia de caminhada intensa. Porém, para ir com calma a outras atrações de visitação mais demorada (por exemplo, a Galeria Nacional Húngara, que fica dentro do Castelo de Buda), um dia certamente não é suficiente.

Víziváros

Chegamos a Buda de metrô (linha M2), descendo na estação da praça Batthyány tér. Dali vale a pena descer às margens do Danúbio para ter a melhor vista geral do Parlamento Húngaro, que fica diretamente à frente, do outro lado do rio (a foto ficou no post sobre o Parlamento). Na Batthyány tér, chamam a atenção o Mercado construído entre 1900 e 1902 – hoje ocupado por um supermercado, um banco e outras lojas – e a Igreja de Santa Ana, um lindo monumento barroco, construído por padres jesuítas entre 1740 e 1762.

O Mercado da Batthyány tér

Torres da Igreja de Santa Ana

Seguindo ao sul pela Fő utca, a rua principal do Víziváros, logo se chega aos fundos da Igreja Calvinista, construída de 1893 a 1896. Foi a primeira igreja reformada em Buda. Chamam a atenção sua torre de 62 metros de altura, a mais alta do lado Buda, e os desenhos multicoloridos dos telhados, feitos de cerâmica Zsolnay. (Outros exemplares do uso dessa cerâmica virão… neste post e em outros!) Nos fundos da igreja, perto da Fő utca, fica uma estátua de Samu Pecz, o arquiteto da Igreja Calvinista – e também de outros importantes prédios de Budapeste, como o Grande Mercado da Fővám Square

Igreja Calvinista de Buda

Estátua de Samu Pecz

No encontro da Fő utca com a Lánchíd (Ponte de Correntes), fica a entrada imponente do túnel de 350 metros que corta o Morro do Castelo; foi construído entre 1853 e 1857, pelo engenheiro Adam Clark, que também construiu a Ponte de Correntes. A praça à frente do túnel é o centro oficial de Budapeste, a partir de onde são calculadas as distâncias rodoviárias.

A entrada do túnel

Distrito do Castelo de Buda

É possível ir a pé ou de ônibus até o alto do morro do Castelo de Buda, mas há também um meio mais turístico e cênico: o funicular (Budavári Sikló). A partir da praça Adam Clark (bem ao lado da entrada do túnel), o funicular percorre uma distância de 95 metros para subir os 51 metros de altura do morro. Foi inaugurado em 1870, mas foi destruído durante a Segunda Guerra; só foi reinaugurado em 1986.

A subida é rápida; o trem percorre 1.5 metro por segundo. Mais demorada é a espera na fila de quem não comprou ingresso antecipado! Enquanto se espera, pode-se ver no muro de contenção à esquerda uma pintura do brasão do Reino da Hungria pintada em 1880.

Esperando na fila do funicular

Brasão do Reino da Hungria

À medida que o funicular sobe, vai surgindo a bela vista que se tem do lado Peste, com destaque à Ponte de Correntes, ao Palácio Gresham (é o edifício Art Nouveau que fica bem de frente para a ponte; hoje abriga um hotel Four Seasons) e, um pouco mais ao fundo, a Basílica. E se subindo de funicular a vista já é linda, do alto do morro fica ainda melhor…

Peste, vista do funicular

Parlamento da Hungria, visto do alto do Morro do Castelo de Buda

Detalhe do Palácio Gresham, em Peste, visto de Buda

Visão panorâmica de Peste; à esquerda, o Parlamento; ao centro, a Ponte de Correntes

Dando as costas à bela vista de Peste, à direita se vê a fachada do Palácio Sándor (Sándor Palota), edifício neoclássico construído em 1806. Serviu originalmente como residência oficial do primeiro ministro até a Segunda Guerra, quando foi muito danificado. Hoje, restaurado, é a residência oficial do Presidente da Hungria (nas guaritas, guardas presidenciais à postos).

À esquerda há um portão ornamental, com escadarias que levam ao pátio do Palácio Real. Para nossa sorte, ali estava acontecendo uma festival de música e dança, com delícias húngaras à venda: sucos, geleias, pastéis, doces, marzipan…

Fachada do Palácio Sándor

O portão ornamental

O pátio do Palácio Real

Delícias húngaras!

Chás e diversos tipos de marzipan

No Palácio Real funcionam o Museu de História de Budapeste, a Galeria Nacional Húngara e a Biblioteca Nacional Széchenyi – atrações que não chegamos a visitar… é preciso mais tempo! Apenas caminhamos pela parte externa, desbravando os pátios do Palácio Real.

Fachada do Palácio Real, na entrada da Galeria Nacional Húngara, com destaque à cúpula neoclássica

Um dos destaques do pátio ocidental do Palácio Real é a Fonte Mátyás. Foi construída em 1904 e representa o Rei Mátyás Corvinus (bem no alto) em uma caçada, durante a qual se apaixonou por Szép Ilonka, também retratada na fonte.

Fonte Mátyás

Detalhe da Fonte Mátyás

Portão dos Leões, que leva a um pátio interno do palácio

No pátio interno

Saindo da área do Palácio Real rumo à parte histórica da cidade de Buda, ao lado do Palácio Sándor fica o Teatro da Corte de Buda (Várszínház), o primeiro teatro de Budapeste. O prédio foi construído como igreja e monastério carmelitas em 1763, mas convertido em teatro em 1787. Na parede, uma lembrança de que Beethoven deu um concerto ali em 7 de maio de 1800.

Ao longo da Uri urca ficam, lado a lado, casa que outrora pertenceram a aristocratas. Em muitas delas há um portão central que leva a um amplo pátio interno.

O grande destaque do centro histórico de Buda é, sem dúvida, a Igreja de Mátyás. Embora dedicada à Nossa Senhora, a igreja é conhecida pelo nome do Rei Mátyás Corvinus.

A igreja passou por diversas fases arquitetônicas. Foi originalmente construída em estilo românico no século X, pelo Rei Santo Estêvão, fundador da Hungria. Não há resquícios arqueológicos dessa construção original, destruída pelos mongóis em 1241. Foi reconstruída entre os séculos XIII e XV em estilo gótico tardio. Quando convertida em mesquita pelos turcos,  em 1541, perdeu muitos dos detalhes. No final do século XVII tentou-se reconstrui-la em estilo barroco. Mas foi no final do século XIX que a igreja ganhou o atual estilo neo-gótico, por obra do arquiteto Frigyes Schulek. Muito danificada durante a Segunda Guerra, foi restaurada de 1950 a 1970 e de 2006 a 2013.

A igreja abriga o Museu de Arte Eclesiástica, com muitas relíquias.

Igreja Mátyás

Detalhes das coloridas cerâmicas Zsolnay nos telhados da igreja

Portal principal da igreja

Interior da Igreja Mátyás

Interior da Igreja Mátyás

Vitrais do século XIX, de Frigyes Schulek, Bertalan Székely e Károly Lotz

Interior da Igreja Mátyás

Nave principal da Igreja Mátyás

Tumba do Rei Béla III e Anne de Châtillon

Se a Basílica tem a destra mumificada de Santo Estêvão, a Igreja Mátyás tem o pé direito mumificado de São János

Estátua da Imperatriz Sissi no interior da Igreja Mátyás

Também obra do arquiteto Frigyes Schulek (que restaurou a Igreja Mátyás ao estilo atual no final do século XIX) é o Bastião dos Pescadores (Halászbástya), um terraço (para fins estéticos, não de defesa) em estilo neo-românico e neo-gótico construído em 1895. Em frente ao bastião fica uma estátua equestre do Rei Santo Estêvão. Do bastião também se têm ótimas vistas de Peste, especialmente do Parlamento – com a Igreja Calvinista “atrapalhando” a vista.

Bastião dos Pescadores

Parlamento da Hungria (com a torre da Igreja Calvinista na frente!)

Réplica de um baixo relevo do século XV do Rei Mátyás

Torre barroca da Igreja de Santa Maria Madalena

A última atração sobre a qual comento da cidade antiga de Buda é imperdível Hospital na Rocha (Sziklakórház). Abaixo do morro do Castelo de Buda há um sistema natural de 10 Km de cavernas, formadas depois da era glacial. Desde a Idade Média, essas cavernas vinham sendo usadas pelos residentes (por exemplo, como excelentes adegas naturais). Porém, com a eclosão da Segunda Guerra, o governo resolveu dar-lhes nova utilização. Interligou as cavernas existentes e construiu um hospital de emergência para ataques aéreos, que funcionou de 1939 a 1945. Depois disso, até 1948, o local funcionou para a produção de vacinas. Em 1956, voltou a ser hospital, em meio à revolução que ocorria em Budapeste. De 1958 a 1962 foi ampliado e reconstruído no espírito da Guerra Fria, para funcionar como hospital e… bunker nuclear! O site oficial conta mais sobre a história do Hospital na Rocha.

Dentro dos corredores (de certa forma macabros) do hospital nas cavernas, há mobília e instrumentos cirúrgicos da época, bonecos de cera em reconstruções de cenas comuns do hospital, uma sirene de bunker que os visitantes podem ativar… e mais umas surpresas.

Quando eu disse que é imperdível, eu quis dizer que é imperdível, ok?

Entrada do Hospital na Rocha (dentro não é permitida a fotografia)

Morro Gellért

Como se a caminhada pela cidade antiga de Buda não tivesse sido suficiente, seguimos para um passeio mais esportivo: subir os 140 metros do Morro Gellért, para contemplar as mais amplas vistas de Budapeste.

Começamos a subida bem perto da Ponte Isabel (Erzsébet hid), pertinho dos banhos termais Rudas. A primeira parada para descanso (e foto) foi junto à estátua de São Gellért, que abençoa a cidade, levantando uma cruz.

Por fim, seguimos ao alto do morro, onde fica o Monumento à Libertação (Szabadság Szobor). A estátua de bronze tem 14 metros de altura e fica no alto de um pedestal de 26 metros. Foi erguida em 1947 para relembrar a liberação soviética da Hungria durante a Segunda Guerra. Por causa da sua posição privilegiada, pode ser vista de muitas partes da cidade; o formato sugestivo fez com que se tornasse conhecida como o “abridor de garrafa”.

Ponte Isabel (Erzsébet hid) e Peste, ao fundo

À esquerda, o Castelo de Buda; à direita, ao fundo, vê-se a cúpula do Parlamento, em Peste

Estátua de São Gellért

O Monumento à Libertação

Monumento à Libertação, do alto do pedestal

Uma das estátuas laterais representa a luta contra o mal

Vista panorâmica de Budapeste, do alto do Morro Gellért

Superzoom sobre a Basílica de Santo Estêvão (96 m) a Budapest Eye (roda gigante de 65 m de altura)

Caminhada pela Andrássy até o Parque da Cidade

A Avenida Andrássy (Andrássy út) está para Budapeste assim como a Champs-Élysées está para Paris: é a mais cara e elegante avenida da capital húngara.

A avenida de 2,5 Km foi construída entre 1872 e 1885, ligando o centro ao Parque da Cidade, para as comemorações do milênio da Hungria, em 1896. Ao longo da Andrássy foi surgindo um conjunto de palácios ecléticos de inspiração Neo-Renascentista, construídos por importantes arquitetos para receber residências e estabelecimentos comerciais da alta sociedade da época.

Na parte mais próxima ao Danúbio, ficam cafés, teatros e butiques de luxo; na parte mais próxima ao Parque dos Heróis (Hősök tere) e ao Parque da Cidade (Városliget), ficam belas residências e embaixadas. Ao longo da Andrássy ficam a Ópera e também a Praça Liszt (Liszt Ferenc tér), que será objeto de outro post especial.

Quando ficou pronta, a Andrássy foi considerada uma obra-prima de planejamento urbano, e até o transporte coletivo era proibido. Por isso em 1893 se começou a construir sob a avenida a primeira linha de trens subterrâneos da europa continental: o Metrô do Milênio. Foi inaugurado em 1896, por Franz Joseph e Sissi, e continua em uso; é a linha M1 ou amarela.

A UNESCO reconheceu a Andrássy como um símbolo do desenvolvimento de Budapeste como uma metrópole moderna, transformando a estrutura urbana de Peste. Em 2002, a avenida foi inscrita como Patrimônio Mundial, juntamente com o Distrito do Castelo de Buda, as margens do Danúbio, o Parlamento e as ruínas da cidade romana de Aquincum, inscritos em 1987.

O nome da avenida foi uma homenagem ao Conde Gyula Andrássy, estadista húngaro que no século XIX foi Primeiro Ministro da Hungria e Ministro das Relações Exteriores do Império Austro-Húngaro. É uma figura histórica tão importante para os húngaros que ganhou uma estátua equestre num local privilegiado: ao lado do Parlamento da Hungria.

Estátua equestre de Gyula Andrássy e, ao fundo, o lado sul do Parlamento

Bem no início da Andrássy está o Palácio Foncière, construído em 1882 para a subsidiária de uma seguradora belga. Hoje a estátua de Hermes continua lá, mas atrás dele havia uma cúpula, destruída durante a Segunda Guerra.

Parte superior do Palácio Foncière

Chamam a atenção no lado sul da avenida as estátuas na entrada de dois prédios: na loja do Empório Armani, dois guris; na loja da Gucci, duas gurias.

Os guris de Armani

As gurias de Gucci

No lado norte fica o Museu da Casa do Terror (Terror Háza Múzeum) (mapa e site oficial), com exposições e memoriais sobre as ocupações nazista e soviética.

Prédio do Museu da Casa do Terror

Também no lado norte fica o edifício da Universidade Húngara de Belas Artes (mapa e site oficial). A fachada superior está coberta de decoração em sgrafitto.

Detalhe da fachada da Universidade de Belas Artes

A Andrássy culmina na Praça dos Heróis (Hősök tere), que se vê de longe. O monumento também foi construído para comemorar o milênio da Hungria. Nos semi-círculos das laterais há estátuas de líderes húngaros, com estátuas equestres dos símbolos de guerra e paz, trabalho e bem-estar, conhecimento e glória. No alto da coluna coríntia de 36 metros de altura há uma estátua do Arcanjo Gabriel, que segura com a mão direita a coroa de Santo Estêvão e, com a esquerda, uma cruz dobrada. No centro da praça há o Monumento ao Soldado Desconhecido.

A Praça dos Heróis

No lado sul da Praça dos Heróis, fica o Palácio das Artes (Műcsarnok) (mapa e site oficial), com exposições de arte e design. No lado norte, fica ao Museu de Belas Artes (Szépművészeti Múzeum) (mapa e site oficial).

O Palácio das Artes

No Parque da Cidade, atrás da Praça dos Heróis, do Palácio das Artes e do rinque de patinação, fica o Castelo Vajdahunyad (mapa e site oficial). Parece mais antigo, mas foi construído em 1896 para as comemorações do milênio da Hungria. Originalmente era uma construção temporária, de madeira e papelão, apenas para as festividades, mas foi reconstruído em tijolo e pedra no início do século XX. As diferentes partes do castelo relembram os diferentes estilos que marcam a evolução arquitetônica da Hungria: Românico, Gótico, Renascentista e Barroco.

Entrada do castelo

Detalhes medievais góticos do castelo

Mais detalhes góticos

Réplica de Jaki Kapolna, a Capela de Jak, em estilo Românico, já com traços góticos; é a parte do castelo com o estilo mais antigo, dos séculos XI a XIII

O palácio com os estilos mais recentes (séculos XVI a XVIII) representa uma mescla dos estilos Renascentista e Barroco

Também no Parque da Cidade ficam as termas de Széchenyi.

Edifício Neo-Barroco das termas de Széchenyi

Esses são só alguns exemplos dos muitos lugares para ver e visitar ao longo da Andrássy. Uma caminhada pelos seus 2,5 Km é imperdível para quem visita Budapeste. Aqui e ali há caminhadas sugeridas para turistas, com informações interessantes.