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A Grande Sinagoga de Budapeste

De volta ao bairro judeu de Budapeste, dedicamos um post a mais uma sinagoga (além da Ortodoxa, já mostrada aqui): a Grande Sinagoga da Rua Dohány (Dohány utcai nagy zsinagóga). É a maior da Europa e representa um centro importante do Judaísmo Neológico.

Foi construída entre 1854 e 1859 pelo arquiteto vienense Ludwig Förster. Inspirada em modelos islâmicos do Norte da África e da Espanha medieval, tem estilo neomourisco ou neoislâmico, mas também com elementos bizantinos e góticos. Na fachada principal, chamam a atenção as duas torres octogonais de 43 metros, com cúpulas douradas, e a rosácea.

Detalhe da fachada principal da Grande Sinagoga

O interior – com capacidade para quase 3.000 pessoas – é deslumbrante, com afrescos do arquiteto húngaro Frigyes Feszl. Vários elementos lembram igrejas cristãs, como os mezaninos e, ainda menos comum em sinagogas, o órgão de tubos. O original, com 5.000 tubos, foi construído em 1859 e usado por músicos famosos, como Franz Liszt e Camille Saint-Saëns.

O templo, como se poderia supor, também sofreu durante a Segunda Guerra: foi bombardeado  em 1939 pelo Partido da Cruz Flechada (o primo húngaro do Partido Nazi alemão), e depois usado como base de rádio para os alemães e até como estábulo. De novembro de 1944 a janeiro de 1945, formou parte importante do Gueto de Budapeste, abrigando muitos dos judeus isolados por ordem do governo. Voltou a ser templo durante o período comunista e foi finalmente restaurado ao seu esplendor original nos anos 1990.

Nave principal da Grande Sinagoga

Detalhe da parte dianteira, onde se observa o órgão de tubos

O púlpito, outro elemento que lembra igrejas cristãs

Lustre e claraboia

Parte posterior do templo (mais alguns tubos do órgão, à direita)

Ainda no complexo da sinagoga, fica o Templo dos Heróis, para 250 pessoas; é o “templo de inverno” da congregação. No pequeno pátio lateral fica um cemitério, o que tampouco é usual haver ao lado de uma sinagoga. É que ali, muito por falta de alternativa, foram jogados e posteriormente sepultados os corpos de mais de 2.000 judeus que morreram durante o período do Gueto de Budapeste.

Na parte dos fundos, há o Memorial do Holocausto Raoul Wallenberg, em homenagem aos pelo menos 400.000 judeus húngaros mortos na Segunda Guerra. Destaca-se a Árvore da Vida, a escultura de um salgueiro-chorão, do artista Imre Varga; nos ramos estão inscritos nomes de vítimas. Ali também há o túmulo simbólico de Raoul Wallenberg, um diplomata sueco que resgatou muitos judeus, concedendo-lhes passaportes suecos e enviando-os para abrigos – e mais tarde, acusado de espião norte-americano, foi executado pelos soviéticos. Perto do túmulo há uma parede-vitral que simboliza o fogo do Holocausto.

A Árvore da Vida

Parede-vitral

Por fim, no prédio atrás do memorial (que se vê iluminado pelo sol na foto acima), há o Museu Judaico. Além de relíquias religiosas e objetos rituais, há uma sala que trata da vida dos judeus durante a Segunda Guerra. Para encerrar, fotos da repugnante propaganda anti-semita (traduções e explicações nas legendas).

No cartaz superior, um judeu com um saco de dinheiro e a inscrição: “Tomarei o reino e o poder”. No inferior: “A arma dos judeus é dinheiro. Não se entregue nas mãos de armas inimigas!”

Na entrada do gueto, o cartaz: “Bairro Judeu (Zsidónegyed): Cristãos estão proibidos de entrar”. (Faltou completar: e judeus, de sair…)

“Szalámi” é “salame”, mesmo. 🙂 Destaque para o judeu “devidamente” identificado com a estrela de Davi e para a curiosa igualização entre comunismo (a foice e o martelo) e judaísmo (a estrela de Davi).

Sinagoga Ortodoxa de Budapeste

Morando no Erzsébetváros, tradicionalmente o distrito judeu de Budapeste, não poderíamos deixar de visitar as sinagogas. Já na primeira caminhada pela vizinhança, a primeira que vimos — com sua bela e imponente fachada Art Nouveau, espremida na estreita Kazinczy utca — foi a Sinagoga Ortodoxa, cuja construção foi finalizada em 1913.

Fachada principal da Sinagoga Ortodoxa da rua Kazinczy

Detalhes da fachada da sinagoga

Tábuas da Lei na fachada da sinagoga

Foi minha primeira visita a uma sinagoga. Achei a decoração do interior deslumbrante e rica em detalhes, dos candelabros até os vitrais do teto e os símbolos judaicos pintados nas paredes. A sinagoga da rua Kazinczy é chamada de Ortodoxa porque foi construída por uma comunidade judaica dessa vertente do Judaísmo, mais voltada a interpretações tradicionais.

Teto, luminárias, galerias

Relógio em hebraico e símbolos judaicos nas paredes

Já que minha amiga Silvia pediu que eu postasse “figurinhas” em que eu aparecesse também (o que eu em geral evito fazer!), aí vai uma — de costas! — pra mostrar que eu estava apropriadamente usando o quipá, o chapéu utilizado pelos judeus como sinal de temor a Deus. Nesta foto, à direta, também se vê um pouco da bimá, o pódio usado para a leitura da Torá.

Contemplando…

O véu vermelho, com bordados de escritos em hebraico e das Tábuas da Lei, é o Parokhet, que cobre a porta que separa o templo da arca onde ficam guardados os rolos da Torá. Ele simboliza a cortina que, no Tabernáculo, cobria a Arca da Aliança, conforme descrito no Êxodo.

Detalhe do Parokhet

Rumo à saída da sinagoga, chama a atenção o vitral colorido sobre a porta principal. Por fim, nosso guia ainda nos mostrou uma página de jornal de 1944, mostrando o interior da sinagoga em ruínas, destruída pela ocupação nazista.

Vitral colorido que fica sobre a porta principal do templo

“A Sinagoga da Rua Kazinczy está em ruínas… Vamos reconstruí-la!”