Num dos últimos cultos a que fui, durante a mensagem, o pastor ironizou a ética dos advogados. Não me lembro exatamente do que disse. Foi algum comentário generalizador, no sentido de que todo advogado seria antiético, dito num tom de pressuposto lógico. Não nas seguintes palavras, mas no seguinte espírito: “é óbvio que todo advogado é antiético e que todos vocês sabem disso e concordam com isso; portanto, vocês concordarão com tudo o eu disser a seguir”.
Mais lamentável que o próprio uso de sarcasmo como ferramenta para validar o discurso e ganhar a cumplicidade e dos ouvintes, especialmente inapropriado no contexto de um culto cristão, foi o fato de a artimanha ter permitido ao pastor alcançar o resultado pretendido. Os ouvintes riram risos abafados, com cumplicidade. “É bem isso, mesmo: todo advogado é antiético. Vamos ouvir e concordar com o que ele disser a seguir.”
Mesmo correndo o risco de aprofundar minha notória ingenuidade, acho que pode não ter sido um comentário mal-intencionado por parte do pastor. Afinal, a intenção dele não foi criar nem reforçar um preconceito contra os advogados: foi apenas beneficiar-se de um preconceito já existente. Ao mesmo tempo que não foi mal-intencionado, tampouco foi bem-intencionado: não ajudou a amenizar esse preconceito, que, como todo preconceito, não tem fundamento.
Ser fiel à verdade, agir com lealdade e de boa-fé nas relações profissionais, merecer a confiança do cliente e da sociedade pelos atributos intelectuais e pela probidade pessoal — mais que obrigações, esses são princípios formadores da consciência profissional do advogado, e não poderia ser diferente: confiança é essencial. Infelizmente, uma minoria de profissionais antiéticos cria uma névoa de desconfiança que a maioria se ocupa de dissipar. Novamente correndo (sem medo) o risco de ser acusado de ingênuo ou romântico, refuto absolutamente o preconceito, não só porque eu mesmo sou advogado e ajo rigorosamente conforme princípios éticos, mas também porque conheço muitos outros advogados que fazem o mesmo. Somos a maioria.
Concordo plenamente, infelizmente ocorre.
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