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O Tempo e o Vento (2013)

Tem que ter coragem pra fazer uma adaptação de O Tempo e o Vento. O risco é altíssimo. As consequências de uma adaptação infeliz seriam desastrosas. Exagero? Não mesmo. O Tempo e o Vento é uma obra querida ao Rio Grande do Sul, porque conta com genialidade e um sotaque muito próprio a formação do povo gaúcho. Ninguém queira brincar com isso, porque, se a gauchada não gostar, responde a laço e espora.

No Vinte de Setembro de 2013, o Rio Grande do Sul foi presenteado com a estreia exclusiva do filme O Tempo e o Vento (2013) (imdb e site oficial) dirigido por Jayme Monjardim. O filme é uma adaptação ao cinema que Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski fizeram de O Continente, primeira parte da trilogia O Tempo e o Vento, do escritor gaúcho Érico Verissimo.

No elenco, ninguém menos que Fernanda Montenegro (como Bibiana Terra na terceira idade), além de Thiago Lacerda (como o Capitão Rodrigo Cambará), Marjorie Estiano (Bibiana Terra na juventude), Cléo Pires (Ana Terra), entre outros.

* Alerta de spoiler *

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Woody Allen (New York) State of Mind

Num desses meus acessos de nostalgia nova-iorquina, comecei uma maratona para assistir aos filmes de Woody Allen, especialmente os ambientados em Nova Iorque, desde os mais antigos.

Comecei com Annie Hall (1977) e depois vi Interiors (1978) e então Manhattan (1979) e em seguida Stardust Memories (1980) e também A Midsummer Night’s Sex Comedy (1982) além de Broadway Danny Rose (1984) e ainda The Purple Rose of Cairo (1985). Recomendo todos: alguns mais (Broadway Danny Rose, além dos óbvios); outros, menos (Stardust Memories).

Ainda há muitos na lista do IMDB e a lista segue aumentando. O mais recente, Blue Jasmine (2013), nem estreou ainda no Brasil e outro ainda sem título já está sendo filmado. Woody Allen é muito produtivo e começou com vantagem (antes de eu nascer!), mas um dia eu o alcanço.

Toda quarta-feira de manhã, a rádio WQXR convida os ouvintes a votar na música que gostariam de ouvir ao meio-dia. As três opções de hoje faziam parte da trilha sonora de algum filme de Woody Allen: o Quarteto de Cordas número 15 de Schubert (do filme Crimes and Misdemeanors, 1989), Rhapsody in Blue de George Gershwin (do filme Manhattan, 1979) e o Concerto para Cravo BWV1056, de Bach (do filme Hannah and Her Sisters, 1986).

Curiosamente, eu já tinha me programado para ver Hannah and Her Sisters hoje à noite: mais um nova-iorquino, é o próximo filme da lista. Por isso, e também um pouquinho por gostar um pouquinho de Bach, votei (e olha que não costumo votar nesse tipo de coisa) na última opção.

E é claro que minha escolha não foi a da esmagadora maioria, que pediu Rhapsody in Blue:


Resultado previsível. O público da WQXR, majoritariamente nova-iorquino, escolheu a música de Gershwin só porque ele também é nova-iorquino. Assim como Woody Allen é nova-iorquino. Gente bairrista esses nova-iorquinos.

E com toda a razão.

Hannah Arendt (2012)

A convite dos amigos Karina e Felipe (que eu espero que voltem a ler meu blog regularmente, agora que eu voltei a escrever nele regularmente!), fui assistir ao filme Hannah Arendt (2012), em cartaz no Espaço Itaú de Cinema. (A partir daqui, pode haver spoilers!)

O filme trata da parte da vida de Arendt em que ela, já radicada em Nova York, vai a Israel em 1961 como correspondente da revista The New Yorker para acompanhar e relatar o julgamento de Adolf Eichmann, ex-oficial da polícia secreta alemã envolvido diretamente no Holocausto. Ela viu nele não um ser monstruoso e cruel, mas um exemplo de mediocridade: ele teria agido como um simples cumpridor de ordens de seus superiores, sem reflexão crítica. Nesse sentido e com base em sua descrição de Eichmann foi que Arendt cunhou a expressão “banalidade do mal”.

Seus cinco artigos publicados após o julgamento em The New Yorker escandalizaram muitos, tanto no público em geral, que já havia condenado Eichmann desde antes mesmo do julgamento, quanto nas comunidades acadêmica e judaica, das quais ela fazia parte. Os artigos deram origem ao livro Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal (título original: Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil), publicado pela primeira vez em 1963. O filme é um convite à leitura do livro, que já foi para minha (infindável) lista de leituras.