Na madrugada de 11 para 12 de dezembro de 1602, a população da República de Genebra repeliu com sucesso um ataque surpresa das tropas do Duque de Savoie (França), que pretendia invadir e conquistar a cidade. Por isso, todo ano em meados de dezembro aqui se comemora a Fête de l’Escalade, a festa nacional de Genebra.
Conta a lenda que Mère Royaume, uma genebrense valerosa (como diria Camões), feriu diversos savoyards atirando sopa escaldante sobre eles do alto das muralhas da cidade. Hoje se relembra o episódio fictício com a “Marmite de l’Escalade”: uma “panela” feita de chocolate e cheia de marzipans e chocolates em forma de vegetais (os ingredientes da “sopa”).
A tradição manda que, em um grupo (família, amigos, colegas), o integrante mais velho e o mais novo quebrem num só golpe a “marmite”, depois de dizerem em coro, “ainsi périssent les ennemis de la République!” (algo como, “assim morrem os inimigos da República”). Eu, sendo o mais novo no escritório do IISD em Genebra, tive a honra de participar ativamente da solenidade!
Hoje, depois de patinarmos na pista de Carouge, minha amiga Noriko e eu fomos ao centro antigo de Genebra para participar (agora passivamente, como expectadores) das atividades do festival: marchas e outras demonstrações militares de soldados com vestimentas de época, alguns a cavalo; tiros de espingarda e canhão; e performances musicais: recital de trompetes na catedral e apresentação de canto coral no Auditorium Calvin. Algumas músicas eram de Advento, mas a maioria era comemorativa da Escalade.
Algumas fotos – depois tem mais texto!
Gu na pista de patinação de Carouge
Trompetes na Catedral Saint-Pierre
Exercícios militares em frente à Catedral
O coro, preciso dizer, não era lá tudo isso… Mas valeu a pena pelo aspecto folclórico, já que nem tanto pela qualidade musical. A última peça foi, claro, o “Cé qu’è lainô”, hino nacional de Genebra, que conta a história da Escalade em 68 estrofes (muita calma nesta hora: normalmente só se cantam as estrofes 1, 2, 4, e 68).
“Cé qu’è lainô” é franco-provençal da época; em francês atual, “Celui qui est en haut”, ou em português: “Aquele que está nas alturas”. É um canto de louvor a Deus! A última estrofe diz (traduzo):
Em Suas mãos Ele detém a vitória,
nEle somente permanece a glória.
Para todo o sempre o Seu Santo Nome bendito seja,
amém, amém, assim seja!
E todos os genebrinos cantaram junto, em pé, de cor.