Vinte e tantos anos morando no Rio Grande do Sul e nunca tinha conseguido ir a Montevidéu. Não por falta de tentativas.
A primeira foi em 2004, com minha irmã Lu e minha prima Cris. Com o Escort somente a etanol (não flex) do meu pai não conseguiríamos chegar lá, porque no Uruguai não teríamos onde reabastecer. Então o jeito era alugar um carro. Goulart, o trambiqueiro de carros, disse que conseguiria o seguro obrigatório do Mercosul para o carro alugado. “Sí, sí, como no; Carta Verde, no hay problema; la garantía soy yo.” Só que não acreditamos na história (felizmente!) e acabamos desistindo (infelizmente!). De São Lourenço do Sul fomos a Floripa.
A segunda foi no carnaval de 2012, com as mesmas personagens – mais o Fer, marido da Cris. Desta vez, meu Fiesta flex nos levaria até lá, e eu mesmo consegui a Carta Verde. O problema foi que, depois de todos os preparativos, não conseguimos mais hotel em Montevidéu. Carta Verde na mão, fomos igual, na esperança de conseguir hospedagem. De São Lourenço do Sul fomos a los free shops del Chuy, ao forte de Santa Teresa e até à praia de Punta del Diablo. Lá procuramos, mas não encontramos hospedagem disponível – nem hotel, nem pousada, nem casa, nem palafita. Tudo lotado. E se em Punta del Este só houvesse hospedagem absurdamente cara? Amarelamos. Depois do pôr-do-sol, voltamos a São Lourenço do Sul, onde nosso bloco de quatro pessoas incendiou o carnaval lourenciano (até parece).
A terceira foi em setembro de 2012, solito. Reservei hotel (Hotel América) e passagens aéreas POA-MVD-POA com duas semanas de antecedência. Dessa vez, não tinha o que dar errado. Melhor de três. Aqui estão as fotos.
01/09/2012 Sábado
Voo POA-MVD e uma fortuna de táxi do Aeropuerto de Carrasco até o hotel. Dica: melhor pegar um táxi do aeroporto até a praia de Carrasco e ali trocar para um táxi urbano comum até o centro, ou então pegar um ônibus do aeroporto até o Terminal Tres Cruces e ali pegar um táxi.
A primeira noite foi de reconhecimento do território, da vizinhança do hotel até a Ciudad Vieja: Plazas de Cagancha, del Entevero, Independencia e Constitución (Matriz) – a Zabala ficou para outro dia. Já bastou para que eu curtisse a atmosfera da cidade. Bem como me disseram, um pouco de Buenos Aires, um pouco de Porto Alegre.
02/09/2012 Domingo
Dia perfeito para caminhar e fotografar a Avenida 18 de Julio sem tropeçar em ninguém; no meio do movimento normal de dia útil, isso teria sido praticamente impossível.
Parando de vez em quando para fotografar os palacios, fui até a Faculdade de Direito e dali entrei na Feria de Tristán Narvaja, a tradicional feira de antiguidades (e quinquilharias) que acontece todos os domingos na Calle Tristán Narvaja e em muitas outras nos arredores.
Da feira fui pela Avenida del Libertador ao Palacio Legislativo, um lindo prédio neoclássico que é a sede do Poder Legislativo uruguaio.
Do neoclássico ao contemporâneo: em seguida fui até a Torre de las Telecomunicaciones, mais alto arranha-céu do Uruguai, com 35 andares (157,6 metros).
Aproveitando a proximidade, passei pela linda Estación Central General Artigas (lamentavelmente desativada e em precário estado).
Caminhei de volta rumo à Ciudad Vieja, para fotografar com calma e em detalhes o Palacio Salvo, na Plaza Independencia. Datado de 1928 e com 27 andares (95 metros), foi o edifício mais alto da América Latina por vários anos.
Então começou a bater a fome – fui almoçar uma massa com salmão no El Palenque do Mercado del Puerto (sim, ali também há opções de peixes para nós, estranhos seres ovolactopescovegetarianos).
Depois do almoço, segui a caminhada até o extremo oeste da cidade, a Escollera Sarandí, e voltei pela Rambla (a grande avenida que segue a costa do Río de La Plata) até o hotel para uma pequena pausa antes do passeio final do dia: mais uma “caminhadinha” até o Estadio Centenario (y dale, dale, dale ¡Pe! ¡Pe-ña-rol!).
Total do dia: 22 Km de caminhada!
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03/09/2012 Segunda-feira
Dediquei o dia para uma supercaminhada pela Rambla, contemplando a vista sobre o rio e as praias mais próximas (e outras, nem tanto).
Desci pela Río Negro até o rio e dali comecei a caminhar a leste até a Playa Ramírez, onde fica a sede do Mercosul. Passei através do Parque Rodó e depois segui pela Rambla até Punta Carretas.
No Punta Carretas Shopping, o peixe espada com molho de manteiga e alcaparras no El Fogón estava tão delicioso que fez o almoço da véspera (no Mercado del Puerto) parecer piada de mau gosto.
Depois do almoço, Playa de Los Pocitos, Puerto del Buceo e pausa para um delicioso Freddo no Montevideo Shopping. Voltei pela Calle 21 de Septiembre (que é bem menos legal que o anunciado!) e terminei o dia jantando no Facal, em frente à Fuente de los Candados.
Total do dia: 23 Km de caminhada!
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04/09/2012 Terça-feira
Depois dos 45 Km dos últimos dois dias, resolvi pegar mais leve nas caminhadas e pegar um ônibus até o Prado, bairro arborizado com muitas mansões do início do século XX.
Desci bem em frente ao Museo Municipal de Bellas Artes Juan Manuel Blanes, que ainda estava fechado e que acabei por não visitar. Fui direto ao Jardín Botánico para um breve passeio. Estava um pouco sem graça; acho que setembro ainda é um pouco cedo para esperar que tudo esteja bem verde e em flor. O mesmo aconteceu no Rosedal.
O que valeu mesmo a pena foi o Jardín Japonés. É o terceiro que visito (depois do de Buenos Aires e do de Düsseldorf) e gosto bastante. Mesmo com o dia nublado, o passeio rendeu boas fotos.
Outras boas surpresas cênicas foram as quintas y villas del Prado (as mansões antigas que mencionei, inclusive a Residência Presidencial de Suárez y Reyes), o Hotel del Prado e a Iglesia de Las Carmelitas, uma inesperada igreja neogótica.
Voltando à Ciudad Vieja, terminei o dia com um jantar-sobremesa no tradicional Café Brasilero (fundado em 1877). Não tive a sorte de encontrar Eduardo Galeano por ali, mas me deliciei com um buenísimo crêpe de dulce de leche e, claro, um café. A atmosfera do lugar é uma viagem ao passado. Fiz umas fotos em preto e branco que parecem tiradas de um álbum antigo.
05/09/2012 Quarta-feira
Dia nublado – felizmente já tinha feito quase todos os passeios externos que queria fazer! Em vez de me arriscar a tomar banho de chuva, resolvi tomar banho de museu.
Antes disso, voltei a alguns lugares próximos ao hotel e já vistos, mas fotograficamente negligenciados por mim nos dias anteriores. Na Plaza de Cagancha, fui observar e fotografar com mais atenção o Palacio Piria (sede da Suprema Corte de Justicia) e o Atheneo de Montevideo. Na Plaza Independencia, fotografei detalhes do Palacio Rinaldi, o edifício art déco oposto ao Palacio Salvo.
(Em um ano e quase meio em New York City, não dei toda a atenção merecida ao sem-número de monumentos do art déco que existem por lá. Apenas mais um motivo para voltar…)
Começando o circuito de museus e afins, fiz a visita guiada ao Teatro Solís, lindamente restaurado. Dica: a visita en español às quartas-feiras é gratuita. Nos outros dias (ou em outros idiomas), vale a pena pagar os poucos pesos cobrados; é um passeio muito informativo e interessante.
Do Solís ao La Corte, na Plaza Constitución, para almoço (merluza) e sobremesa bem montevideana (torta de chocolate com dulce de leche).
Em seguida do almoço, fui ao Cabildo, sede da administração espanhola em tempos coloniais. Ali me detive um tempo contemplando as fotos da Plaza Constitución em diferentes momentos dos séculos XIX e XX. Do Cabildo à Catedral (Iglesia Matriz), no lado oposto da praça.
Também valeu muito a visita ao Museo de Artes Decorativas Palacio Taranco, que ocupa todo um quarteirão irregular em frente à Plaza Zabala. Construído no início do século XX, está em muito bom estado de conservação e mantém a decoração elegante da época (elegante, mas um pouco excessiva, para o gosto de alguns – como o meu!).
Caminhei, ainda, pela Calle Carlos Gardel, no Barrio Sur – nada de muito interessante além de uns retratos populares do Gardel em casas coloniais simpáticas que me fizeram lembrar de Pelotas.
Pretendia visitar ainda o Panteón Nacional, mas cheguei em frente ao Cementerio Central uns dez minutos antes da hora de fechamento (16h); infelizmente já não me deixaram entrar.
Por fim, visitei as exposições de fotografia do Centro de Fotografía de Montevideo (no prédio da Intendencia) e as instalações com vídeo e escultura do Subte (na Plaza del Entrevero).
A janta-sobremesa foi argentina (ops!): torta de alfajor e café no Café Havanna do Peatonal Sarandí.
E o encerramento da última noite em Montevidéu foi em grande estilo: concerto de tango de Gran Orquesta Montevideo con Valeria Lima na Sala Zitarrosa. Música e canto, sem dança, mas não menos válido por isso. Cinco (!) bandoneones, violino, viola, violoncello, contrabaixo e piano, acompanhando Valeria Lima em tangos bastante conhecidos. Muito talento e carisma. O melhor de tudo é que estavam gravando ao vivo para um CD, que ainda hei de comprar!
06/09/2012 Quinta-feira
Despedida de Montevideo… Tomei um táxi para o Terminal Tres Cruces e, de lá, um ônibus para Colonia del Sacramento, onde o passeio haveria de continuar!
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