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Visita guiada ao deslumbrante Teatro Colón

Da minha mais recente ida a Buenos Aires, já tinha postado sobre os passeios-repeteco que fiz com a Joe, sobre a experiência da autêntica milonga, sobre a nostalgia das Brujas da Línea A do Subte e sobre o “gostinho de quero mais” do Palácio Barolo, que ficou para a próxima visita.

Apesar da abundância na postância (refletindo o gosto óbvio que tenho pela cidade), ainda faltava um post sobre o “gostinho de quero mais” da ida anterior a Buenos Aires, ou seja, o passeio que tinha ficado faltando, mas que na mais recente visita eu enfim fiz: a visita guiada ao Teatro Colón.

O prédio atual ficou pronto em 1908, depois de 20 anos de construção, e hoje está entre os teatros de melhor acústica. Ficou fechado entre 2005 e 2010 para reformas – por isso é que, nas minhas primeiras idas a Buenos Aires, não pude fazer a visita.

A entrada das visitas guiadas já começa nostálgica, pelo Pasaje de Carruajes. Esperando por ali o início da visita, turisticamente vestindo jeans e camisa polo, já me senti aquém da dignidade do teatro ao ler numa vitrine o Código de Vestimenta “sugerido” para as apresentações:

El estilo, la elegancia, la clase y la distinción han sido, desde siempre, pilares en donde se construyó la excelencia del Teatro Colón. … A partir de este año, en todas las funciones … de la temporada lírica, se sugiere vestir smoking o traje oscuro para caballeros y vestimenta de noche para damas en plateas y palcos.

Mas essa foi apenas a primeira de muitas impressões “uau!” que eu teria naquela visita. As demais eu compartilho a seguir por meio do meu modesto olhar fotográfico. Nem precisaria dizer, claro, que recomendo fortemente essa visita guiada!

O imponente hall de entrada ou Foyer, logo acima das escadarias de mármore de Carrara

O Foyer é ainda mais impressionante quando se olha para o alto

Vitral da cúpula do Foyer

Detalhe do vitral da cúpula do Foyer

Detalhe central do vitral da cúpula do Foyer

No andar superior do Foyer (Salón de los Bustos), mais um delicado vitral

Posição de destaque para o busto de Mozart

A riqueza de detalhes é impressionante…

Visão geral do Salón de los Bustos

O grande espelho do Salón Dorado

Visão geral do Salón Dorado

O vitral e a namoradeira do Salón Dorado

Próximo momento “uau!”… descerrando as cortinas do salão principal

Entrando sem fôlego na sala principal… São 32 m de diâmetro, 75 m de profundidade, 28 m de altura. O palco tem 35 m de profundidade e 34 de largura.

Detalhe do teto da sala principal, inclusive a cúpula

Do teto às galerias à plateia

Sol do entardecer sobre a fachada principal, pela Plaza Lavalle, Calle Libertad (não pela Avenida 9 de Julio)

Os gêmeos Barolo e Salvo, separados pelo Río de la Plata

Visitar outros lugares, pra mim, é coisa séria. Se viajo para passear, retorno invariavelmente mais exausto que na partida, por causa da intensidade dos passeios. Se viajo por outro compromisso, retorno exausto por causa do compromisso — e da intensidade dos passeios nas horas vagas! Acordar cedo, caminhar muito, fazer um lanche ou pular uma ou outra refeição (o que não quer dizer deixar de comer naquele restaurante legal!), dormir tarde. A lógica é: se quiser descansar, vou para um spa ou resort. O que nunca fiz, claro.

Ainda assim, sempre acabo com vontade de voltar, mesmo para rever o que já vi (nostalgia…), ou para ver um ou outro lugar que não tive tempo de ver. E o verbo “ver” aqui se lê como ver, ouvir, cheirar, saborear, tocar. Qualquer experiência sensorial vale. Aliás, emocional também.

No caso da minha última viagem a Buenos Aires, o gostinho de quero mais ficou por conta do Palacio Barolo, na Avenida de Mayo. O edifício já tinha chamado minha atenção quando fui a Buenos Aires pela primeira vez, em 2007.

Torre do Palacio Barolo, quando a fotografei em 2007, numa linda tarde de verão em Buenos Aires

Em 2012, fui pela primeira vez a Montevidéu. Lá foi o Palacio Salvo que me chamou a atenção, não só por ser um edifício de 27 andares (95 metros) em plena Plaza Independencia, coração de Montevidéu, mas também por me parecer familiar. “Eu já te vi em outro lugar…”

Palacio Salvo, em Montevidéu, 2012

Torre do Palacio Salvo, Montevidéu, 2012

A semelhança não é mera coincidência: os edifícios foram desenhados pelo mesmo arquiteto, Mario Palanti, italiano radicado em Buenos Aires. O Palacio Barolo foi inaugurado em 1923 em Buenos Aires; o Palacio Salvo, em 1928, em Montevidéu.

Palacio Barolo foi o primeiro edifício construído em concreto armado na Argentina. De um estilo arquitetônico único (formado de uma mescla de vários!), faz diversas referências à Divina Comédia de Dante Aliguieri. O andar mais alto (22º) oferece uma vista para toda Buenos Aires, com destaque para o Congresso e a Casa Rosada (em extremos opostos da Avenida de Mayo).

visitas guiadas, tanto diurnas quanto noturnas, do que infelizmente só fiquei sabendo depois de ter ido embora… Vou pré-agendar essas visitas para a próxima ida a Buenos Aires!

Palacio Barolo e a Avenida de Mayo no inverno de 2014

Noche de milonga: um autêntico baile de tango

Minha viagem a Buenos Aires incluiu uma experiência deslumbrante: ir a uma autêntica milonga (baile de tango), numa imersão no tango, sua beleza, sua paixão e sua riqueza cultural, o que inclui seu código de etiqueta mui particular e romântico. (Foi muito além do trabalho e dos passeios-repeteco relatados no post anterior.)

Minha amiga Joe e eu entramos em contato com meu hermano Enrique e sua novia Lucrecia (que eu ainda não conhecia pessoalmente) para combinar um encontro em algum momento. Minha sugestão, por WhatsApp: “Podemos ir a un sitio de tango que elijan ustedes, porque nos gustaría verlos bailar tango. Ver a ustedes. No bailaríamos nosotros, por motivos obvios.” (Para quem não acha que os motivos sejam tão óbvios assim: infelizmente não sei dançar tango!)

Então eles nos levaram a El Beso, a milonga onde se conheceram e (também por isso) gostam de voltar às vezes. Antigamente, no mesmo local funcionava um cabaret.

InstaBeso: El Beso, Milonga de Los Domingos.
Domingo 22 Hs.
Riobamba 416, 1er Piso, Bs. As.
Reservas: 4953 2794.

Chegamos pouco antes das 22h, ainda cedo para padrões argentinos (não era tarde, mesmo, mas a Joe e eu estávamos cansados de caminhar todo o dia!). A gerente da milonga, conhecida de meus amigos, explicou que estava terminando uma aula de tango no salão. Ficamos conversando (e espiando um pouco a aula) enquanto esperávamos e, assim que terminou, buscamos uma mesa para quatro.

Aos poucos o salão foi ficando mais cheio. Os homens se sentavam de um lado e as mulheres, de outro — quer dizer, isso entre os indivíduos avulsos, porque os casais que foram juntos, para dançar sempre um com o outro, sentavam também juntos.

E então começou o ritual, detalhadamente explicado a cada etapa por Enrique e Lucrecia. Ele dança tango há bastante tempo e, quando viajou pelo exterior, chegou a dar aulas para ajudar no orçamento. Ela, além de ser muy amable e ter uma didática excelente, é bailarina profissional. A especialidade dela é dança contemporânea; para ela, tango é diversão, válvula de escape, e não trabalho. Ambos archi-requete-contra argentinos.

Os homens, sentados de um lado, observam o ambiente e silenciosamente metralham olhares para as mulheres, sentadas de outro lado. Quando a luz dos olhos de um deles encontra a luz dos olhos de uma delas, o homem convida a mulher para dançar, com um simples gesto, inclinando cordialmente a cabeça: é o cabeceo. Para aceitar o convite, a mulher também faz o cabeceo olhando para o homem; para rejeitar, simplesmente desvia o olhar. Tudo muito discreto, sem constrangimentos. Somente se a mulher aceita o convite é que homem pode ir buscá-la para bailar — e pode confiar que não será rejeitado.

Uma pareja assim formada dança não só uma música, mas toda uma tanda, que normalmente se compõe de três ou quatro músicas tocadas em sequência. Numa mesma tanda, o estilo das músicas é um só: ou tango (mais lento, dramático, passional), ou milonga (mais rápido e animado, normalmente em 2/4) ou vals (mais lento, em três tempos, como a valsa).

Não se começa a dançar logo no início de cada música: há uns 15 ou 20 segundinhos de conversa entre as parejas. “Essas parcelas de minuto são todo o tempo que el varón tem para conhecer la mujer, dar-se a conhecer e, afinal… conseguir o número de telefone dela,” explicou o Enrique, rindo.

Deu certo no caso de Enrique e Lucrecia. Eles se conheceram ali, no El Beso, uns quatro anos atrás. Claro que depois veio o tempo de fortalecer o relacionamento, conviver, conhecer família e amigos de um e de outro… Mesmo assim, foi na milonga que surgiu a primeira faísca. Hoje estão noivos, de casamento marcado para 2015!

O convite do homem é para toda uma tanda, não só para uma música. A mulher que não honra o convite e abandona o homem na pista no meio de uma tanda comete uma ofensa bastante grave, que só se justifica se o homem dança muito mal (pisou no pé dela ou não soube llevarla, conduzi-la) — ou se ele se comportou mal, por exemplo, colocando a mão onde não deveria!

Créditos da foto: Joe (Fernanda Botelho dos Santos)

Entre uma tanda e outra, há a cortina: toca-se uma música nada a ver, de outro estilo (nem tango nem milonga nem vals). É o intervalo para que as parejas saiam da pista e voltem às suas posições iniciais: homens metralhando olhares silenciosos em direção às mulheres… é lindo.

Antes de irmos embora, ainda fomos brindados com uma apresentação de tango escenario, que é aquele mais coreográfico (e às vezes até acrobático!) que se vê nos shows mais turísticos.

Créditos da foto: Joe (Fernanda Botelho dos Santos), com edição minha