Daquelas tipo esta.
Um assunto sobre o qual não comentei muito (ou pelo menos não de forma sistemática) aqui no blog foi o bar exam – o exame de ordem do estado de Nova Iorque. No post aquele das 4.000 palavras eu comentei que, depois da minha formatura no mestrado, em meados de maio, tive miniférias e logo comecei o curso preparatório para o exame, no barbri. No início de junho, contei um pouco sobre a minha árdua rotina de preparação, que não mudou muito até o fim de julho, exceto no período em que fui para San Antonio visitar mana e cunha.
Quem acompanhou o blog na época vai se lembrar (e quem não acompanhou vai ficar sabendo agora): os meses de barbri, junho e julho, foram de posts curtos e poucos. Em geral, postei só pra compartilhar alguns de meus olhares fotográficos para a cidade de Nova Iorque, às vezes combinados com momentos esparsos de inspiração literária aleatória e incontrolável. Até que em agosto finalmente voltei à postância normal, mesmo antes de fazer a última prova relacionada ao bar exam – a de responsabilidade profissional.
Vale lembrar meu posicionamento oficial sobre a prova:
[…] não tenho nenhuma base para saber como fui – e nem quero ficar pensando a respeito, porque os resultados só saem daqui a alguns meses (nem estarei mais em Nova Iorque quando saírem). O que posso dizer de consciência limpa é que fiz o meu melhor considerando as circunstâncias. E seja o que Deus quiser [e digo isso da forma mais sincera possível – nada de “força de expressão”].
E então eu parei de pensar nisso. Aproveitei muito bem aproveitados meus últimos dois meses morando em Nova Iorque, e depois vim pra Genebra. Muitas transições. A vida aqui é bem diferente da vida lá. Outros projetos, outras coisas pra me manter ocupado. A ideia era mesmo nem ter muitas esperanças, e deixei isso bem claro para todos com quem falei sobre esse assunto. Claro que muitos amigos seguiram insistindo que tinham certeza de que eu tinha passado… o que, embora não seja mal-intencionado, não ajuda muito; só me coloca ainda mais na responsa, na necessidade (autoimposta) de sempre mostrar bons resultados e de corresponder às expectativas do mundo ao meu redor.
Como já expliquei no meu posicionamento oficial, fiz o meu melhor na prova. Passar seria ótimo, mas não passar não seria o fim do mundo – talvez apenas um sinal de que Papai do Céu não quisesse que eu fosse um big-shot New York lawyer (difícil traduzir isso!). Cheguei a dizer isso pra alguns amigos aqui e ali.
Aliás, saindo do escritório ao final do expediente na minha primeira sexta-feira de trabalho no IISD aqui em Genebra, a Jocelyn, uma colega de trabalho, perguntou sobre a prova da ordem (eu já tinha comentado que tinha feito a prova). Então eu expliquei essa minha postura – nas palavras que usei no parágrafo anterior, mesmo. Pra minha total surpresa, ela respondeu, “bom, se já colocaste essa questão diante do Senhor, talvez Ele possa mesmo responder dessa forma.” E foi assim que, na minha primeira interação com alguém do trabalho fora do ambiente de trabalho, ainda novo na cidade e sem igreja e sem amigos, descobri uma colega de trabalho cristã, e aparentemente a única do escritório. Coincidência?
Até que chegou novembro e comecei a pensar, “o resultado do exame de ordem deve sair em breve.” Semana passada comecei a olhar o site… todos os dias, na esperança de encontrar a lista de aprovados. Mas nada. Chegou um e-mail do barbri, dizendo que os resultados só sairiam a partir da semana que vem. E me determinei, “pronto, não adianta ficar olhando o site freneticamente; o negócio é ter paciência.”
É interessante como determinar-se não significa absolutamente nada. Semana passada, um dia sonhei que tinha olhado a lista e meu nome estava lá. Outro dia, também semana passada, sonhei que tinha olhado a lista e meu nome não estava lá. Sim: na semana passada, sonhei duas vezes com a lista dos aprovados. Por mais que não quisesse me importar com o resultado (“passar seria ótimo, mas não passar não seria o fim do mundo”), a simples determinação de não me importar com o resultado era um sinal de que já estava me importando.
Foi bem isso que me disse a Jocelyn no intervalo de almoço de sexta-feira. Eu tinha contado a ela que a história do bar exam vinha me atormentando… e que eu não queria mais me importar. Mais, ela enfatizou bastante o que eu já sabia: tinha apenas que deixar de lado essa preocupação e confiar em Deus. Pronto. Claro que eu já sabia disso. Mas é tão difícil pôr em prática… Os amigos cristãos às vezes ajudam simplesmente nisso – lembrando o que já sabemos sobre Deus, mas que às vezes é difícil de aplicar no dia-a-dia. Ótimo. Mais uma vez, eu disse a Deus, “tá contigo… quero paz; não quero mais pensar nesse exame.”
Sábado acordei superdisposto e fui passear. Peguei um bonde até o Palais de Nations (sede das Nações Unidas aqui), de onde caminhei até o Jardim Botânico. De lá, caminhei na Pérola do Lago (um parque) e atravessei de barco até o outro lado do lago, em Genève Plage. Voltei pra casa, fiz um almocinho básico, e à tarde fui até a Piscine de Pervenches, em Carouge: fui nadar, o que não fazia desde abril, quando ainda tinha acesso ao centro esportivo da NYU. Comprei um passe para toda a temporada; pretendo ir regularmente! Cãimbras à parte (normal, depois de tanto tempo!), a primeira vez foi ótima. Eu amo natação. Ria sozinho no vestiário, me preparando pra entrar na piscina. “Não acredito – eu vou nadar!” Haha… Espero que ninguém tenha notado minha felicidade boba. Voltei pra casa a pé. O dia foi lindo – chegou a fazer 19 graus! E em nenhum momento do dia pensei no exame.
Pérola do Lago, parque em Genebra.
Não parece a Pérola da Lagoa, São Lourenço do Sul? 😉
Finalmente vim para o computador colocar os e-mails em dia. Também estava determinado a telefonar para alguns amigos de Nova Iorque (telefonemas pelo Google Voice para os EUA são de graça até o fim do ano – fica aqui a dica!). Então vi que tinha um e-mail do comitê de examinadores da ordem dos advogados de Nova Iorque na minha caixa de entrada. Não podia ser. Eu tinha olhado pela última vez o site da ordem na sexta-feira à noite e o resultado não tinha saído; no sábado é que não teria sido publicado! Mas tinha a diferença de horário… será? Não podia ser. Mas aí entrei no facebook e vi várias atualizações dos meus amigos, anunciando que tinham passado… Não podia ser. Mas era: tinha saído o resultado do exame de ordem.
Aí, o que se faz? Entra-se na caixa de entrada e abre-se o e-mail do comitê de examinadores, certo? Não. Surta-se primeiro. Catei minha prima Carol no Google Talk. “Carol, acontece o seguinte…”, e expliquei a história, acrescentando, “não quero abrir o e-mail. Tô com medo.” Acho que se não fosse a Carol me ordenar que abrisse o e-mail imediatamente (hahaha!), até agora estaria aqui, esperando… sei lá exatamente pelo quê. E então eu abri o e-mail. Diz assim:
The New York State Board of Law Examiners congratulates you on passing the New York State bar examination held on July 27-28, 2010.
Passei. No e-mail, o comitê me dá os parabéns. Só tenho a agradecer a Deus por tudo… pelo meu intelecto, sim, mas principalmente pela capacitação e pela paz de espírito que Ele me concedeu, desde o tempo de barbri, passando pelos os dias de prova, até a publicação do resultado (apesar do momento “low” da última semana). Também sou muito grato a minha família e aos meus amigos (no Brasil e em Nova Iorque), por torcer e orar por mim, e especialmente por me aturar (ou aturar minha ausência) durante os meses estressantes de estudos. O que essa aprovação significa em termos práticos eu ainda não sei; isso também está nas mãos de Deus. A única certeza, por enquanto, é que uma porta segue aberta. 🙂
Parabéns Martin!!! Que legal, estou muito feliz por ti. Sucesso em Genebra tb. bjao
CurtirCurtir