Tendo estabelecido que eu não sou o máximo, posso dar seguimento àquela que um dia foi a narrativa de ontem e que, como percebem os leitores mais assíduos desse blog, pode muito bem ser chamada de a narrativa de outrora… e sempre.
A partir da minha seleção para a primeira conferência da ONU sobre o clima com participação jovem, quando estava ainda no primeiro ano do Ensino Médio, tudo mudou drasticamente. O contato direto com a mídia européia durante a conferência me fez pensar sobre a qualidade (nem sempre muito boa) da informação que se publica(va) no Brasil a respeito das mudanças climáticas. Estudando cada vez mais o tema, passei a escrever artigos para alguns jornais. Minhas atividades de escrita deixaram de ter um fim em si mesmas; passei a escrever tendo por fim a conscientização ambiental.
No ano seguinte (2001) fui convidado para a continuação da mesma conferência. Nessa oportunidade, tive mais uma boa dose de mídia. E mais: estabeleci contato com o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) e passei a atuar como uma espécie de consultor jovem. Escrevi uma cartilha jovem sobre o clima, participei como relator de vários eventos pelo FBMC… pensando sempre em como comunicar melhor a mensagem da mudança climática, que no Brasil não tem o mesmo eco que encontra em outros países.
Mergulhado de cabeça nesses ideais, o Jornalismo passou a despontar no meu leque de opções profissionais. No terceiro ano, minhas atividades climático-jornalísticas relaxaram um pouco (afinal, estudei para o vestibular!), mas não foram deixadas de lado. E a idéia de fazer Jornalismo, diante de tantas experiências, crescia dentro de mim… Por outro lado, eu pretendia cursar Direito, para aprofundar-me em Direito Ambiental, já que a ciência da mudança climática não era pra mim.
Fiz um teste vocacional que media a probabilidade de ser feliz por realizar determinada atividade profissional. Resultado: área de literárias (97% ou algo tão absurdamente elevado quanto isso) e área de persuasivas (90%). Cursos sugeridos: Direito e Jornalismo. O teste me reforçou a certeza que eu já tinha e me permitiu continuar com a dúvida que eu também já tinha. (Não é uma maravilha? Não esperava milagre de um teste vocacional; ele fez tudo o que tinha que fazer! Até hoje dou graças a Deus, de verdade, por ter feito esse teste.)
Não por uma questão de herança familiar, porque nenhum de meus ascendentes se formou bacharel em Direito, mas minha família tinha como certo que esse era o curso para o qual eu prestaria vestibular. Não havia preconceito negativo contra Jornalismo, mas já estava estabelecido para todos que eu prestaria vestibular para Direito na UFPel e na UFRGS – para todos, menos para mim. A dúvida ainda me inquietava. A vontade de escrever, de comunicar… O Direito Ambiental…
A inscrição para o vestibular da UFPel já estava feita: Direito. Mas eu ainda tinha de ir aos Correios para fazer a inscrição para o vestibular da UFRGS… Ah, como eu adiei aquela ida aos Correios! Uma conversa com um grande amigo me fez ter uma idéia. Fui aos Correios. Quando voltei, avisei minha mãe que tinha feito a inscrição também na UFRGS. Para Jornalismo.
Acho que até discussão em casa eu tive – “como assim, Jornalismo?”. Mas não tinha mais volta. Era a única forma que eu tinha de empurrar para mais tarde a decisão : “se passar, decido o curso – ou não, porque posso não ter opção”. Foi uma espécie de loteria vocacional. Ganhei um prêmio, mas a loteria não serviu para nada – passei nos dois vestibulares. E agora, José?!
