Dez minutos

Primeira entrevista em processo seletivo de bolsa de estudos. Foi informal, tranquila… só que durou dez minutos, sendo que deveria durar 30 ou 40. Tudo bem, disseram que os documentos que enviei na inscrição estavam bem claros e que por isso não restavam muitas dúvidas. Enfim, não foi péssimo nem fui eliminado preliminarmente, mas sinto que estou cada vez mais distante de receber dindim pra estudar na NYU.

Parece que sou o contrário do que se espera de um bolsista. “Perfil acadêmico, então?”, com certo tom depreciativo. “Recém te formou na faculdade e já quer uma pós-graduação?”, meio que rindo. “É, isso aí”, respondi, e pensei, “putz, isso não era uma coisa boa?”.

Aparentemente não. Aparentemente essa história de qualificação acadêmica está fora de moda – e eu que achava que graduação era apenas o mínimo da decência! Aparentemente eu teria que entrar no mercado logo após de me formar, ganhar experiência profissional, e só então tentar uma pós-graduação.

Afinal, o que importa é trabalhar (no meu caso, advogar ou “economizar” pra gente grande) e ganhar dinheiro, porque só assim se mostra empreendedorismo e competência e liderança. Excelência acadêmica em duas graduações, pesquisa e extensão, estágios no exterior, serviço público, preocupações ambientais… naaah.

Desculpa, Mundo, mas minha trajetória foi diferente. Aliás, acho que não teria sido aceito na NYU se não tivesse sido. Eu até poderia ter sido “empreendedor” em vez de CDF, mas acho que teria fracassado (em algum ou em ambos) se tivesse tentado ser ambos ao mesmo tempo. Ademais, agora a Inês é morta: desde sempre “optei” pelo cedefismo (“optei”, entre aspas, porque talvez não tenha tido opção). Se essa foi a “opção” errada pra quem viria a postular uma bolsa, acho que vou ter mesmo que me endividar pra bancar a NYU.

Ou desistir, e trabalhar pra ganhar muito dinheiro e “experiência profissional” e pra me tornar um líder empreendedor e competente. E talvez mais tarde tentar de novo um mestrado na NYU ou noutra universidade. E talvez fracassar, porque terei perdido o “perfil acadêmico” que eu tanto valorizei e que lutei pra construir e que agora desprezam. E talvez me arrepender de não ter feito o que eu queria (estudar na NYU, nestes tempos) pro resto da vida. Que é uma só. Que desperdício. É, acho que vou ter mesmo que me endividar.

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