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A Kombi da serralheria

Trânsito estressa, ainda mais em hora do rush. Por isso, os motoristas criam diferentes formas de descarregar a tensão. Uns buzinam por qualquer motivo (ou sem motivo aparente). Outros xingam, gritam, levantam o dedo médio. Há os que murmuram, falam sozinhos.

Eu ouço música para não me estressar, tentando evitar as condutas que acabo de citar. Às vezes eu cantarolo alguma coisa (aproveito para ensaiar as músicas do coro de que participo). Ou, quando estou realmente estressado, eu canto a plenos pulmões.

Há poucos dias descobri que não há coisa melhor pra descarregar que cantar o Agnus Dei da Missa Brevis K 49 de Mozart em fff (forte fortissimo). Atravessei a Avenida Ipiranga cantando assim. Quem me (ou)viu certamente me achou meio doido (com alguma razão).

http://www.youtube.com/watch?v=idssACIDyFw

Outro exemplo sugestivo foi o de um motorista de uma Kombi de uma serralheria. Estávamos parados no sinal vermelho; a Kombi, bem ao lado do meu carro. O motorista tinha os vidros da Kombi abertos e estava cantando, dançando e batucando na direção (que tremia de tanta batucada) um pagode. Era uma festa animadíssima às 8:45 da manhã.

Fiquei pensando que o motorista da Kombi da serralheria era bem mais feliz que eu com meu Agnus Dei em fff. Fiquei pensando que, se o efeito podia ser assim tão benéfico para o bom-humor, talvez eu devesse começar a ouvir e aprender a curtir pagode. #sqn

Antonio Vivaldi hoje em POA

Para quem está em Porto Alegre ou nas proximidades: ainda há tempo para prestigiar o terceiro concerto do Projeto Vésperas, na Igreja da Reconciliação, hoje às 18h. A entrada é franca! Estarei lá, em meio aos baixos do Grupo Cantabile. Segue o material de divulgação:

O concerto de hoje terá peças para orquestra, coro e solistas, escritas pelo compositor italiano Antonio Vivaldi, do período barroco (1678-1741). Uma delas será Gloria (RV 589). Opa, revelei parte do programa — informação privilegiada!

Para quem, por qualquer motivo, não puder prestigiar, o consolo é um vídeo de Gloria, por Collegium Singers & Baroque Orchestra, da University of North Texas (UNT), em 2 de dezembro de 2011. A UNT transmite seus concertos ao vivo na Internet.

Bluegrass progressivo: quem diria?

Junho de 2010. Incrível que já faça três anos! Eu tinha terminado o LL.M. em NYC em meados de maio e estava me preparando para o exame de ordem do Estado de New York. Foi um período que para mim foi, não traumático, sobretudo porque passei no exame (ha!), mas, digamos, de poucos prazeres, como relata de forma resumida este post da época.

O que eu não postei à época foi sobre o show a que fui, a convite de um grande amigo que fiz na City Grace Church (grande amigo desses que, três anos depois e a milhares de quilômetros de distância, continua sendo grande amigo). Ele, cantor, violonista e bandolinista, estava divulgando apaixonadamente entre seus amigos uma banda de que era fã de carteirinha e que faria show em Williamsburg, no Brooklyn: Punch Brothers, banda de… bluegrass progressivo.

Pronto: um prato cheio para o preconceito. Não curto música countryBluegrass é um subgênero da música country. Bluegrass progressivo só poderia ser uma variação sobre o mesmo tema. Portanto, seria impossível gostar. Mas meu amigo apelou convincentemente para meu lado amante de Bach, enviando por e-mail o seguinte vídeo:

(Brandenburg Concerto no. 3)

(Assistindo novamente ao vídeo, tive mais um microataque de nostalgia nova-iorquina: foi feito em uma apresentação ao vivo do Punch Brothers no The Living Room, um bar que costuma servir excelente música alternativa no Lower East Side.)

Começando por Bach, meu amigo me convenceu do talento da gurizada do Punch Brothers:

(This Is The Song)

E por fim conseguiu derrubar meus preconceitos e me fazer curtir bluegrass progressivo!

(Rye Whiskey)

No fim das contas, fui ao show (ótimo!) e também comprei Antifogmatic, o CD que o grupo tinha lançado em 15 de junho, poucos dias antes do show. Está à venda na Amazon e no iTunes e inclui versões de estúdio das três músicas dos vídeos acima.

Ao som dos bandolins barrocos de Bach

Uma das minhas rádios nostalgicamente preferidas é a WQXR, uma rádio pública de música erudita de New York. Para minha agradável surpresa, um dos CDs da semana na rádio é o primeiro volume de Bach: Sonatas e Partitas, lançado na semana passada. Nele, o bandolinista Chris Thile interpreta obras do compositor barroco (e luterano) Johann Sebastian Bach.

Chris Thile é um bandolinista virtuoso, mais famoso por outros estilos que pela música barroca. De minhas outras experiências com a obra musical dele eu conto um pouco mais amanhã. Por hoje, digo apenas que nem de longe esse cara de trinta e poucos anos é um músico erudito careta.

O CD recém-lançado está à venda na Amazon e no iTunes. É um investimento musical de retorno certo (digo isso por experiência, não por publicidade, porque o Chris Thile não me paga). Pra quem precisa de uma provinha antes de comprar, aí vai: 

* Lembrando que clássica é a música erudita do período clássico (fim do século XVIII, início do século XIX): Haydn, Mozart, Beethoven. No século XX, outro exemplo: The Beatles.

Vuelvo al Sur

Não costumo compartilhar músicas no blog; só quando são especiais.

Esta tem tudo a ver.

Vuelvo al Sur
Como se vuelve siempre al amor
Vuelvo a vos
Con mi deseo, con mi temor

Llevo el Sur
Como un destino del corazón
Soy del Sur
Como los aires del bandoneón

Sueño el Sur
Inmensa luna, cielo al revés [genial]
Busco el Sur
El tiempo abierto, y su después

Quiero al Sur
Su buena gente, su dignidad
Siento el Sur
Como tu cuerpo en la intimidad

Vuelvo al Sur
Llevo el Sur
Te quiero, Sur
Te quiero, Sur…

Música: Astor Piazzolla
Letra: Fernando Pino Solanas
Fonte: http://www.planet-tango.com/lyrics/vuelvosu.htm

Findi 20–21 de novembro

Não se podia mesmo esperar que todo findi fizesse tempo bom como nos últimos; o findi 20–21 novembro foi nublado e um pouco frio. Mesmo assim, consegui espremer um bom suco de Genebra.

Piscina fechada para uma competição no sábado, fui ao Museu Patek Philippe, que conta com uma coleção de mais de 2000 relógios fabricados ao longo dos últimos 500 anos. Sem exagero, um dos melhores museus a que já fui: ambiente agradável, organização interna muito bem planejada, visita guiada com a quantidade certa de informação. Quanto à relojoaria… arte, ciência e técnica (e mais?) da mais alta qualidade e nas mais finas e disciplinadas proporções. Impressionante.

Domingo fui à igreja evangélica livre de Carouge, uma paróquia pequena bem perto de casa. A acolhida e as melodias conhecidas e a proximidade de casa me fazem querer voltar. Veremos.

À noite fui com uma amiga a um recital do pianista  Jean-Marc Luisada no Conservatoire de Musique de Geneve, parte de uma série de concertos em homenagem aos 200 anos do nascimento de Frederik Chopin. Nossos lugares eram no mezzanino esquerdo – embora não tão “nas alturas” como no Carnegie Hall (o Conservatoire é uma sala de concerto bem menor), ainda era praticamente um “puleiro”. Mas pode acreditar: a escolha dos lugares não poderia ter sido melhor.

Primeiro, estando no mezzanino esquerdo, perto do palco, tivemos uma espetacular “vista aérea” das mãos do pianista sobre as teclas. Passamos o recital inteiro inclinados para frente, olhando para baixo, para poder ver o pianista em ação… mas valeu a pena! A experiência auditiva foi turbinada pelo visual privilegiado.

Segundo, ao sair da galeria terminado o recital, logo notamos o que talvez não tivessemos notado se estivessemos na plateia: havia no foyer uma longa mesa com pães, queijos, sanduíches e confeitos, tudo do bom e do melhor. Para beber, água, suco de laranja, vinho tinto e vinho branco. “Uma recepção para os VIPs”, pensei. Não: aberta a todo o publico do recital, inclusive para nós, parte do “público budget” das galerias. Não acreditei.

La joie de vivre… en Suisse.


Conservatório de Música de Genebra 

Programa

FRYDERYK CHOPIN
Mazurkas op. 24
Quatre Scherzos op. 20, op. 31, op. 39, op. 54

ROBERT SCHUMANN
Davidsbündlertänze op. 6

FRYDERYK CHOPIN
Grandes Valses Brillantes op. 18 et op. 34 N 1, 2, 3

Grammy

Her Morning Elegance é um dos vídeos mais lindos que já vi. Está concorrendo ao Grammy. Coldplay também está no páreo, com Life In Technicolor ii.

Heat wave

Ontem foi um dia chique: almoço com o reitor e New York Philharmonic (NY Phil, para os íntimos) à noite.

O almoço com o reitor começou mal. Não era propriamente almoço (era sanduíche) nem com o reitor (que chegou atrasado). Mas depois foi melhorando.

A NY Phil, por outro lado, começou e terminou bem, conforme o esperado. Da primeira vez, assisti à orquestra no Carnegie Hall, com o Alan Gilbert de maestro, como contei alhures. (Haha! “Alhures” é uma daquelas palavras horrendas, pedantes, contrárias a qualquer princípio de boa redação em português brasileiro, mas me lembrei agora de que ela existe e resolvi usá-la só por diversão. Significa “em outro lugar”, só pra deixar claro pra quem talvez não soubesse. Na boa, nenhuma obrigação de saber. Aliás, não recomendo essa palavra. Olha, até já me arrependi de usá-la. Não, agora é tarde; não vou apagar este comentário parentético e metadiscursivo. Talvez devesse. Ih, quanto mais eu penso alto a respeito, mais longo fica o comentário. Não vou apagar. E chega. Fecha-parênteses.)

Desta vez, assisti à NY Phil no Avery Fisher Hall, do Lincoln Center – a “casa” da NY Phil –, com o maestro Antonio Pappano. Espetacular. Começou com a Sinfonia no. 31 em Ré Maior de Mozart, conhecida como “Sinfonia Paris” (primeiro movimento: Allegro Vivace). Totalmente Mozart. Sem intervalo (o que eu achei ótimo!), finalizou com a Sinfonia no. 4 em Mi menor de Brahms (primeiro movimento: Allegro non troppo). Totalmente romântico. Ah, é tão triste pensar que em tão pouco tempo perderei essa barbada dos ingressos estudantis…

Um dia de atividades agradáveis, mas um péssimo dia pra ter de usar terno. Quase derreti, em pleno início de primavera. Foi 90 °F (32,2 °C) a temperatura registrada no Central Park, a mais alta num 7 de abril desde 1929, quando fez 89 °F (31,6 °C). Hoje foi bem mais ameno, mas a tempestade prometida ainda não chegou pra fazer a coisa voltar ao agradável normal primaveril. Neste instante, 81 °F (27,2 °C) dentro do meu quarto. A brisa já é escassa, e pouco dela chega até mim através dos dez centímetros de abertura possível da janela (não abre mais que isso – regras da universidade, para reduzir o índice de suicídios… pior que é sério). O D’Ag (meu prédio) ou tem aquecimento no prédio todo ou tem ar condicionado no prédio todo – e a administração só pretende fazer a troca para a função ar condicionado (é um processo complicado, não apenas um clic de interruptor) em 31 de maio. Até lá, sofrimento.

Como se vê, calor me irrita. A intenção inicial do post era um “what really grinds my gears” pra liberar com sarcasmo poético (?) algumas frustrações entaladas na garganta há algum tempo. Mas calor me irrita tanto que perco até a paciência de manifestar minha irritação.

Primavera e Páscoa

É primavera. Assim, de uma hora pra outra. Incrível. Os dias estão cada vez mais quentes. As ruas estão cada vez mais cheias das mais vivas cores (de flores) e dos mais intrigantes cheiros (de flores, também). E pensar que um dos últimos posts tem fotos de nevasca… Em breve, fotos da nova estação.

Tanta coisa aconteceu na última semana: viagem a Washington, visita da Lígia, diversas correrias acadêmicas (três papers importantes y más). Infelizmente me falta tempo pra fazer relatórios detalhados. Algumas fotos desse período já coloquei no picasaweb do guri.

Na Sexta-feira Santa e no Domingo de Páscoa tivemos cultos muito lindos e emocionantes na City Grace. No total, sete amigas e amigos da NYU aceitaram meu convite e foram a pelo menos um dos cultos – fiquei bem feliz! Também foram as apresentações do City Grace Choir. Felizmente, desta vez temos vídeo! (Tem que clicar pra ver o vídeo, que vai abrir em nova janela ou aba. O vídeo está em widescreen e “não cabe” direito no layout do blog!) Só pra esclarecer: o guri de costas e vestindo camisas elegantes sou eu. As músicas, na ordem:

Sexta-feira Santa

  • O Sacred Head Now Wounded
  • Were You There

Domingo de Páscoa

  • Early In The Morning On Easter Day
  • The Irish Blessing

Após o culto de Páscoa, passei um tempo agradável com alguns amigos da igreja, primeiro no almoço comunitário, depois lagarteando (!) no Washington Square Park (eles no sol, eu na sombra, haha), e finalmente jogando frisbee no Central Park. “Coisa de guri de apartamento”, disse a Lucila – pode até ser, Lu, mas são os raros momentos de escape do mundo jurídico. (Na volta, passei boa parte da madrugada escrevendo um reaction paper sobre direitos humanos!)

The Guritles

Ri, chorei, me atirei no chão. Estarrecedoramente divertido.

Valeu, André, pelo link! 😀

(Postagem 300 do blog do Guri!)