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O carinha do xerox

Acordei e fui direto à Biblioteca do Centro de Direito Ambiental da IUCN (The World Conservation Union), para coletar e fotocopiar artigos para minha pesquisa. Fiquei lá até as 15:30 e só então vim para o Secretariado – ou seja, passei a maior parte do dia por lá.

O sistema de xerox, tanto aqui no Secretariado quanto na IUCN, é o seguinte: cada um faz por si próprio as fotocópias de que precisar. Eu já conhecia o sistema, mas até hoje nunca o tinha sentido na própria pele. Acontece que a máquina de xerox era supermoderna: mudava suas configurações (magnitude de zoom e tamanho de folha) conforme as dimensões do material que estava copiando. Eu já tinha operado uma máquina de xerox alguma vez na vida (francamente não me lembro quando nem em que ocasião; só sei que foi no Brasil!); porém, definitivamente ela não tinha a metade das funções automáticas dessa que usei hoje.

Moral da história: das 63 cópias que fiz, 51 (uma boa idéia!) prestaram; as outras 12 foram para o lixo (ou melhor, para o bloquinho de rascunho). Suponho que tenha sido ótimo para um principiante como eu – um aproveitamento de 80,95%! (51 em 63 dá isso, pra quem ficou pensando “daonde ele tirou esse número?”.)

Enfim, a experiência serviu para pensar em nunca mais praguejar contra o carinha do xerox, aquela figura curiosíssima que existe no Brasil e que, aqui na Alemanha, se é que existe, está em extinção. Primeiro: praguejar não é uma atitude cristã. Segundo: faz mal à saúde. Terceiro, e principalmente: o carinha do xerox nos faz um trabalho de grande valia!

Guri e blog em boa fase

Recebi ontem um e-mail muito legal de uma colega igualmente muito legal (Lu da pós: é tu!). Entre outras coisas muito legais (hehe, chega!), ela me disse que nunca tinha visitado blogs, mas que veio ler o blog do Guri, depois do meu convite, e acabou gostando.

Foi um prazer enorme saber que estou contribuindo para que mais pessoas se aprocheguem (não pude encontrar palavra mais gaudéria!) à blogosfera! Pelo menos um visitante, meu amigo Bruno, se aprochegou tanto que acabou juntando-se à blogosfera: abriu o Obra Aberta e chamou o BdG de “blog-pai”. Uma honra e tanto pro Guri!

Voltando ao e-mail da colega Lu, vale ainda dizer que foi reconfortante: agora sei que, apesar dos meus longos períodos sem postagem, o BdG ainda continua recebendo ilustres e persistentes visitas. Algumas delas até pretendem me trocar por outros blogs, como o do David Coimbra, mas acabam voltando (Camila da pós: agora é tu!). Pretendo continuar “agradecendo a preferência” da melhor forma possível: postando!

Um pulinho no Palácio da Paz?

Quando cheguei ao Secretariado hoje de manhã o sistema estava fora do ar e fiquei sem Internet até a hora do meio-dia. Percebi (mais uma vez) como a humanidade se fez dependente de Internet, e como isso tem o seu lado triste!

Assim que voltou a conexão, continuei a seleção bibliográfica para o meu paper, tarefa que eu já vinha desenvolvendo mais ou menos desde o início do estágio. Eu precisava pedir o quanto antes os livros e artigos acadêmicos que pretendo utilizar na pesquisa (e que não estão na biblioteca do Secretariado), para para que o Secretariado peça emprestado a alguma biblioteca com a qual tenha convênio. Consegui terminar hoje uma seleção inicial, e mandei a lista para a bibliotecária. Ela deve ter ficado em choque diante do grande número de obras, tanto que nem me respondeu ainda, mas eu não tenho culpa de nada: foram instruções da minha supervisora! 😉

Um dos principais aspectos positivos deste estágio, do qual eu sentirei falta no primeiro dia de aulas na Faculdade de Direito assim que voltar ao Brasil, é o acesso à literatura. Tudo bem, a coleção da biblioteca do Secretariado é bastante rica na área de Direito Ambiental Internacional e, claro, mudança climática. Mas o que eu não consigo obter por aqui eu tenho pelo menos a chance de conseguir na biblioteca da Universidade de Bonn, ou na de Colônia…

E ontem me veio a melhor das idéias: onde no mundo haveria mais livros de Direito (Ambiental) Internacional que a biblioteca da Corte Internacional de Justiça, na Haia, Holanda? Não é assim tão perto daqui, mas tampouco tão longe; além do mais, a CIJ é um órgão da ONU, e como estagiário da UNFCCC eu poderia mais facilmente conseguir um empréstimo. Pra completar, minha irmã foi a trabalho para Rotterdam, na Holanda… hoje!

Cheguei a sugerir a idéia para minha supervisora hoje de manhã, e ela disse que talvez fosse possível dar um pulinho no Palácio da Paz (sede da CIJ) e retirar livros, desde que o Secretariado avisasse com uma certa antecedência sobre a visita do estagiário aqui. Não foi desta vez: não tive a antecedência necessária, e por isso não pude aproveitar a carona com minha irmã. Mas quem sabe até o fim de março…? 😉

Começando a Semana 3

O fim de semana com minha irmã e meu cunhado não foi muito produtivo em termos de passeios. Além das condições de tempo nada propícias (nublado, chuvoso, nhaca), eles tiveram duas reuniões na Igreja para organizar um retiro. Pra completar, sábado a noite tiveram de viajar… para Bonn. Dá pra acreditar? Eu vou pra casa deles em Untershausen pra passar o fim de semana, e eles me inventam de vir pra Bonn, e sem mim ainda por cima?! Hehe…

Mas tinham um bom motivo: o chefe do Volker (meu cunhado) mora aqui e fez uma festa de aniversário. O único desaforo real da história foi que não fui convidado. Hrumpf! Ou, no fim das contas, pode que não tenha sido tão grande desaforo assim: a festa foi num bar, e a lei que proíbe fumar em ambientes fechados ainda não entrou em vigor aqui no estado de Nordrhein-Westfalen. Ou seja, a Ca e o Volker voltaram defumados de cigarro até a alma, e eu fiquei em casa, cheirosinho. 😛

Porém, se não passeamos, pelo menos avançamos muito no planejamento dos passeios! No fim de semana que vem vamos a Frankfurt, jantar na casa de uns amigos da Ca e do Volker. (Esses, sim, me convidaram! Iuhu!) No fim de semana seguinte teremos o retiro dos jovens da Igreja (esse que eles estão planejando). Mas o resultado maior do planejamento concluído ontem é que, depois de uma longa pesquisa, compramos as passagens aéreas para o feriadão da Páscoa… Paris, nos aguarde! 😉 Até lá vou ter que encontrar algum francófono aqui na ONU pra tirar a ferrugem do meu francês!

Ontem à noite Ca e Volker me deixaram em Bonn, e acabei indo dormir bem tarde. Ainda assim, estava bastante empolgado para o início da Semana 3 no estágio, e no fim das contas o dia foi um balde de água fria… Começamos com a primeira staff meeting do Legal Affairs (das 10h ao meio-dia!), que não foi, digamos, muito interessante, já que eu cheguei há apenas duas semanas e sabia pouco a respeito dos temas que foram discutidos. Depois, pensava que teria uma reunião com minha supervisora sobre o trabalho que enviei a ela na quinta-feira da semana passada, mas a reunião acabou não acontecendo. Isso me chateou um pouco, porque fiquei sem poder avançar muito no meu projeto. Ela só me deu a resposta sobre o sumário provisório do meu paper hoje no fim da tardinha, e a reunião ficou pra amanhã… mas de amanhã não passa! 😉

Tudo de Bonn

Desde que voltei de Portugal, demorei a conseguir pôr a vida em ordem. Dia 7 comecei o estágio dos meus sonhos na ONU em Bonn, Alemanha. Na primeira semana do estágio, ainda morando na casa da minha irmã e do meu cunhado em Untershausen, viajava 90 Km todos os dias de carona com meu cunhado, de casa para o estágio, e mais outro tanto na volta. Desde dezembro vinha procurando um lugar para morar em Bonn até o fim de março, quando volto ao Brasil. A procura foi estressante e eu quase pus fogo na família inteira (meus pais e minha “outra” irmã e meu “outro” cunhado, após a viagem em família a Lisboa, ainda ficaram em Untershausen por uma semana). Felizmente, encontrei um quarto bem legal na sexta-feira, dia 11, a tempo de evitar queimaduras graves, e as leves já foram tratadas. 🙂

Na última segunda-feira, dia 14, fiz a mudança para o quarto alugado: duas malas de roupa e um rancho de supermercado supersized que minha irmã e meu cunhado me deram! A desvantagem é que o quarto não é muito perto do Secretariado do Clima; levo uns 40 minutos combinando dois ônibus e uma caminhadinha básica. Ainda assim, não é uma desvantagem em termos relativos, já que nenhum dos outros quartos ou apartamentos que poderia ter alugado era muito próximo da ONU.

Além do mais, os pontos positivos do quarto escolhido são muito mais numerosos que os negativos! A localidade onde moro (Bonn-Kessenich) é tranqüila, e o bonde (Straßenbahn) para o centro de Bonn passa a cada 10 minutos. O quarto é espaçoso e totalmente mobiliado, e o valor do aluguel é justo. A proprietária fala um alemão claríssimo que eu compreendo quase sempre. O problema, por enquanto, é responder em alemão, mas quando me aperto falo inglês, que ela entende e fala bastante bem. No mais, a gente nem se encontra tanto assim. Eu saio cedo e volto tarde, e ela é aposentada e passa bastante tempo fora de casa (carpe diem)!

Agora, um pouco sobre o meu estágio. Nos primeiros dias precisei resolver muitos trâmites burocráticos com o fim de “existir” de fato e de direito na ONU: um verdadeiro tour por diversos departamentos, coletando assinaturas para ter contrato de estágio, Internet, intranet, telefone, crachá, cartão eletrônico para liberar as portas de acesso… Ainda assim, desde logo me deram algumas tarefas práticas, principalmente de pesquisa na “legislação internacional” sobre mudança climática. Na quinta-feira da primeira semana (dia 10) minha supervisora voltou de férias, e juntos estruturamos o projeto de pesquisa que devo desenvolver, com vistas a um artigo a ser escrito durante o estágio. Já estou aliás bastante adiantado na pesquisa: de acordo com o meu plano de trabalho, terminei ontem a tarefa da semana que vem. (¡Dale Guri!)

Os colegas do Legal Affairs (Compliance) Programme (que, evitando a pobreza da tradução literal, prefiro chamar de “Departamento Jurídico”) são show. Todos, por mais trabalho que tenham, são acessíveis, atenciosos e dedicados, da assistente administrativa até o chefão. O ambiente de trabalho também ajuda: o Departamento Jurídico fica no sexto andar, o mais alto e por isso também o mais bem iluminado do prédio C. Minha sala (C-609) tem duas áreas de trabalho, mas por enquanto estou sozinho. Tenho uma mesa enorme, um computador, um armário, além de material de consumo à disposição. Na porta da sala tem até uma plaquinha com meu nome… até parece que eu sou grande coisa! 😛

O complexo onde o Secretariado do Clima está instalado fica às margens do Rio Reno, junto à Haus Carstanjen, um castelinho onde foi assinado o Plano Marshall. Fotos, fotos…

À esquerda, o prédio C do complexo; à direita, parte da Haus Carstanjen.

Haus Carstanjen, vista da margem do Rio Reno.

O Rio Reno, visto das proximidades da Haus Carstanjen!(O dia em que tirei essas fotos foi o último com sol antes de um tempo bem chuvoso na segunda semana. O inverno não está muito rigoroso [mudança climática!!!], e está bastante semelhante ao de Pelotas, com temperaturas entre 5 e 12 graus Celsius.)

Uma funcionária brasileira do Secretariado ficou sabendo que o Legal Affairs tinha um estagiário também brasileiro, e entrou em contato; uns dias depois almoçamos juntos ali por perto e conversamos bastante. Também há poucos dias conheci os outros estagiários: uma finlandesa (Outi), uma alemã (Barbara) e um alemão (pois é, que dúvida… Martin!). Todos têm mais ou menos a mesma idade, são alguns aninhos mais velhos que eu, e trabalham os três na mesma sala no ATS Programme (Adaptação, Tecnologia e Ciência). Na última quinta-feira, agora que eu sou um legítimo residente de Bonn, saímos os quatro juntos ao centro da cidade para uma divertida reuniãozinha de integração – pizza, café pra mim e cerveja pra eles (típico! haha!), e muito papo e trocas de experiências.

Falando em socialização e comida… Mmm! Quase todos os dias (quando não trago lanche de casa, porque o mega-rancho sobre o qual comentei precisa ser consumido!) eu vou almoçar na cantina do Secretariado. É um restaurante indiano; ou seja, muito curry, todos os dias! Ao combinar o almoço com a funcionária brasileira, ela me pediu, por favor, que fôssemos a outra cantina ali perto, que ela não podia mais com curry… Hehe! Eu (ainda) não me importo e tenho gostado; também é bom para mim porque não faltam comidas vegetarianas, e porque aproveito para almoçar conversando com o pessoal do Legal Affairs e funcionários de outros programas que já conheço ou que vou conhecendo nessas oportunidades, ou com os outros estagiários.

Na última quinta-feira conheci o Herr Heisen, o “vizinho” que aluga o quarto ao lado. Ele mora em outra cidade com a família, mas trabalha nos Correios (Deutsche Post) em Bonn, e por isso às vezes pernoite na cidade. O vizinho gentilmente me ofereceu uma carona na sexta-feira de manhã até a sede dos Correios, conhecida como Post Tower. Trata-se de um dos maiores arranha-céus da Alemanha, com 162,5 metros e 41 andares. O Herr Heisen me contou que trabalha no décimo-oitavo, com vista para o Reno, e que nos dias bonitos do seu escritório consegue ver até a cidade de Colônia (30 Km ao norte de Bonn). Deve ser mesmo um ambiente de trabalho muito insalubre! Desumano… 😉

Saindo da Post Tower chego em 10 minutos de ônibus ao Secretariado. Será ótimo se puder contar com uma carona do Herr Heisen mais vezes, ou se finalmente levar a bicicleta da minha irmã para Bonn, mas mesmo sem essas facilidades já me viro superbem no transporte coletivo de Bonn, que é bastante abrangente (embora nem sempre tão pontual quanto eu imaginava e desejava!). Comprei (preciso ressaltar isto, com muito orgulho: comprei falando alemão com a funcionária!) um MonatsTicket de estudante/estagiário. Esse passe mensal sai bem mais em conta que comprar bilhetes de ida e volta todos os dias, e é até melhor, porque permite usar livremente todo o transporte coletivo de Bonn (metrô, bonde e ônibus).

Agora, uma semana depois de estar bem instalado, morando em Bonn e acostumado com a rotina, vou procurar me engajar nas atividades da Igreja Protestante Americana que há quase na frente do Secretariado… Poderia ser melhor – uma igreja anglófona quase em frente ao Secretariado?! Já conheço a pastora e o líder dos jovens dali. Pretendo me envolver no coro, se me aceitarem, e no grupo de jovens, se puder conciliar os horários das reuniões com o estágio.

O ideal talvez fosse procurar uma igreja de fala alemã, ou procurar um coro da cidade para cantar em alemão, mas simplesmente não tenho coragem… Também não quero ficar só sorrindo pras pessoas, entendendo muita coisa, mas sem conseguir me comunicar! Quem sabe daqui a algum tempo, quando estiver melhor no alemão? Tenho estudado em casa, à noite, depois do estágio. A proprietária da casa onde eu moro até me elogiou; disse que falo melhor dia após dia… 😀 Espero que não esteja apenas sendo simpática!

PRONTO! Nem acredito que consegui fazer um relato de todas as novidades das últimas duas semanas, e num nível razoável (profundo mas não demasiado) de detalhamento… ou será que me passei como sempre? Hay que ter em conta que cobri duas semanas, hein, então acho que não me passei muito, não! 😉 Acho que a essas alturas deve estar bastante evidente o fato de que estou muito feliz com tudo o que tenho vivido nas últimas semanas. Eu já sonhava fazia algum tempo com este estágio na ONU… só não sabia que a experiência como um todo ia ser tudo de Bonn!