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Depois do trabalho… ¡el tango!

Trabalhei muito no primeiro dia de pasantía (estágio) na Fundación Biosfera. Comecei às 8h e fiquei até as 19h, com pausa para almoço. Elaborei o projeto da pesquisa que vou desenvolver durante minha temporada em La Plata, para chegar a um paper científico sobre economia e mudança climática. Depois discuti o projeto com Horacio, el jefe, presidente da fundação.

É curioso que tenha arranjado tudo para um trabalho de pesquisa na Argentina e não tenha percebido que teria de escrever em espanhol. Só me dei conta desse detalhe depois de escrever o projeto. Nunca escrevi nada de muito sério em espanhol, embora tenha estudado o idioma por um ano. Vai ser no mínimo hilário!

Voltei tarde para a hospedería e estava bastante cansado. Além do trabalho ao longo de todo o dia, senti falta das horas de sono das duas últimas noites, que foram bastante curtas. Ademais, os passeios a pé dos dias anteriores – em La Plata e Buenos Aires – e a caminhada de 25 minutos da fundación até a hospedería em um dia de calor deixaram meus pés inchados e… bem, com algumas inevitáveis bolhas. Mas decidi que não dava nada e, além disso, que merecia lazer: pus calça comprida, sapato e fui à aula de tango com Enrique e três americanos que estão hospedados aqui por uns dias.

Fiz algumas aulas de tango no Brasil, anos atrás, mas nem de longe foram tão divertidas como a de hoje. No início fizemos alguns exercícios para aquecer, como caminhar ao ritmo da música e com a postura adequada. Em seguida, o instrutor nos ensinou (no meu caso, reensinou) o passo “básico” de tango.

Em mim não corre sangue argentino, tampouco tenho qualquer talento para a baila, mas o fato é que o tango me encanta de forma inexplicável. A música, o movimento, a paixão – tudo se concatena de forma perfeita e me desperta sensações singulares. Já está decidido que vou sempre que puder às aulas, pois assim na volta ao Brasil levarei comigo um pouco do que há de mais intenso na cultura argentina.

Ostinato

A maratona de estudos desta semana não me impediu de ouvir online, uma hora ou outra, a Rádio Canadá Internacional. Como estou estudando francês (ouvir rádio em francês é útil), e como morro de saudades do Canadá (ouvir rádio em francês é agradável), ouvir rádio em francês une útil e agradável.

Só que uma música acabou tirando minha concentração: a Valse d’Amélie, da trilha sonora do prestigiado filme francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). O filme, quem já viu sabe, é a coisa mais querida; mais do que isso, um alívio para os cansados da previsibilidade hollywoodiana. Uma fuga da rotina.

A trilha sonora, por sua vez, tem a delicadeza da própria Amélie. A orquestração (três instrumentos, basicamente: acordeon, piano, violão) e as melodias são simples, o que não quer dizer que sejam simplórias. Nessa simplicidade, aliás, é que está a riqueza da arte. O mérito do gênio (dependente, claro, do exercício de sua técnica) está não na realização do inimaginável e do complexo, mas na expressão do básico e do óbvio, de forma original, antes que qualquer outro o faça.

O francês (homenagem aux Bleus?) Yann Tiersen é o compositor de todas as músicas da trilha sonora de Amélie, bem como da de outro belo filme, o alemão Good Bye Lenin! (2003). Escutando mais de sua apaixonante obra, observei o uso recorrente do ostinato. Essa palavra vem do italiano (homenagem à Azurra?) e significa teimoso, obstinado.

Na música, ostinato é a repetição de motivo ou frase musical. De forma bastante peculiar na música de Tiersen, o ostinato produz um ritmo viciante (não vicioso!), marcado, impositivo; parece até que dita o pulso da vida. Conjugado a esse efeito, o jogo que o compositor faz com os mesmos acordes dá ao conjunto da obra um ar de “variações sobre um mesmo tema”. Nada mais adequado para traduzir em música a rotina de funcionamento do próprio mundo.

Também, nada mais adequado para traduzir a minha rotina (não só nos últimos dias): frenética e invariável. Obstinada, como Yann Tiersen – ou pelo menos como a sua música. Aliás, a própria trilha sonora que escolhi para este blog (Unwritten, de Natasha Bedingfield) tem um ostinato; persiste do início ao fim, com um violão que repete insistentemente a mesma linha melódica.

Felizmente, obstinação ou ostinato não implicam em chatice ou monotonia – nem na música (vide exemplos de Yann Tiersen e Natasha Bedingfield) nem na minha rotina. Basta viver com gosto pelo previsível, sem, porém, fechar-se ao inusitado, que sempre encontra suas oportunidades.

Agora que passou a parte dura da maratona de fim de semestre, minha rotina não se interrompeu (ainda tenho aulas, trabalhos, provas…), mas me abriu um espaço para o não-usual: eu vou compor. Não sou um compositor genial aos olhos do mundo – talvez apenas na minha própria concepção de genialidade, que expus acima! Ainda assim, será minha pequena transgressão à rotina. Não se descarte, entretanto, a possibilidade de que a composição contenha um ostinato.

Ah, é mesmo… eu tenho um blog!

É claro que não surtei de vez a ponto de esquecer que tenho um blog. Não. Tive duas provas horríveis e passei as duas últimas semanas estudando. Ainda vou ter de aprender a privilegiar o blog em detrimento dos estudos. Isso não significa me deitar nas cordas nas faculdades, mas me reservar no direito de também viver além dos estudos! Outra coisa é que outras manifestações artísticas que me têm servido de válvula de escape também atrapalham um pouco ou tendem a continuar atrapalhando.

A primeira delas, que já tem atrapalhado, é o fato de que estou cineasta. Tenho criado animações em vídeo a partir de fotografias digitais. Fiquei orgulhoso dos primeiros resultados, o que é bastante surpreendente, visto que eu sou, via de regra, o mais crítico quanto às minhas próprias realizações. Descobri que fazer vídeos é uma ótima forma de consolidar memórias e também de transmitir recordações aos queridos da volta, sem fazê-los adormecer…

A outra manifestação artística, que tende a atrapalhar esse blog, são minhas aulas de flauta. Voltar a estudar um instrumento musical é algo que invariavelmente tinha de ocorrer nessa fase de auto-reestruturação. Pode atrapalhar um pouco o blog, na medida em que vou precisar de tempo de prática de flauta, mas estou certo de que vale a pena. Fiquei feliz só de aspirar a atmosfera carregada do Conservatório, na minha primeira aula, ontem… Estou retomando o que importa na minha vida.

Até por isso é que, depois da correria de provas (que reinicia daqui a vinte dias…), retomo o blog. Peço desculpas pela inércia passageira. Por um lado, foi bom saber que tenho uns poucos leitores fiéis que vêm ao meu blog procurar algo novo – e até notariam se eu tivesse desaparecido da face da Terra. Obrigado! 🙂

De volta ao Conservatório

No início da tarde recebi uma notícia que – ao que tudo indica – será a melhor da semana: fui aceito como aluno do curso de extensão em flauta transversa do Conservatório de Música da UFPEL. Minhas aulas começam, na pior das hipóteses, semana que vem!

O Conservatório me traz excelentes lembranças. Foi lá que, ainda piá, tive minha iniciação musical. Eu já lia música, mesmo incipientemente, e tocava um pouco de órgão (minha irmã mais velha foi minha professora). Mas a iniciação no Conservatório tinha mesmo ênfase em flauta-doce. A partir de então é que me dediquei por anos a fio ao estudo da flauta-doce, estudando depois com professores particulares e, até uns anos atrás, com uma rotina bem disciplinada de estudo.

Já adolescente voltei ao Conservatório para estudar violino… um tempo inesquecível da minha vida. As aulas eram em grupo, nada produtivas, mas a minha paixão pelo violino (e pela novidade) me fizeram persistir, primeiro no Conservatório e depois com um professor particular. O sonho durou até que eu não agüentei mais as críticas do meu professor… ao meu violino. Era um instrumento pobre, que mais me limitava do que colaborava. O professor era excelente, e um ótimo amigo, mas espirituoso demais – e a precariedade do violino se prestava a piadinhas. E eu não tinha, à época, dinheiro para um Stradivarius… O professor, para piorar a situação, foi embora para o Mato Grosso do Sul… Desmotivado por essas e por outras, acabei deixando de lado o violino.

Participei ainda de coros, por bastante tempo. Cantei no coro da Igreja São João, e anos mais tarde vim até a reger o coro da Igreja São Lucas. Mas, quando comecei a estudar Economia à noite, precisei largar ambos. Também já compus algumas peças sacras para coro, mas isso requer muita inspiração e transpiração que minha agenda corrida não permite. Ó vida…

Resolvi não faz muito tempo retomar a paixão pela música na minha vida ( não digas que eu não avisei). A flauta-doce é um instrumento de sonoridade belíssima (opinião, claro), mas tem sido muito deixada em segundo plano (já essa constatação é bastante objetiva e difícil de negar). O grupo de música antiga do qual fui convidado a participar anos atrás continua apenas projeto… E os meus amigos pianistas-potenciais-acompanhadores se mudaram (um, para Porto; outro, para o Rio)… Sobram poucas oportunidades de tocar.

Foi percebendo isso que resolvi investir na flauta-transversa, na esperança de ter mais facilidade, mais tarde, para tocar em algum grupo, seja na Igreja ou no Conservatório. Por causa das greves na UFPEL, demorou a sair essa vaga no curso de extensão. Mas finalmente saiu. E, finalmente, estou voltando ao Conservatório…

Unwritten: trilha sonora do blog do Guri

Pensei que esse blog só teria coisas escritas por mim, mas não pude resistir. Unwritten é uma música de Natasha Bedingfield que a minha irmã Lucila um dia me mostrou. Pra ser bem sincero, da primeira vez eu nem ouvi direito a música… mas agora vejo que ela tem tudo a ver com a fase atual da minha vida – e em especial com o Blog do Guri e seus propósitos delineados no seu primeiro post. Por isso resolvi adotá-la como trilha sonora do blog. 😉

A letra segue abaixo, em inglês. Seria quase um assassinato poético traduzi-la, mas poderei fazê-lo se houver suficiente pressão (através dos comentários a esse post totalmente desconexo).

(Natasha Bedingfield)

I am unwritten
Can’t read my mind
I’m undefined
I’m just beginning
The pen’s in my hand
Ending unplanned

Staring at the blank page before you
Open up the dirty window
Let the sun illuminate the words
That you could not find
Reaching for something in the distance
So close you can almost taste it
Release your inhibitions

Feel the rain on your skin
No one else can feel it for you
Only you can let it in
No one else, no one else
Can speak the words on your lips
Drench yourself in words unspoken
Live your life with arms wide open
Today is where your book begins
The rest is still unwritten

I break tradition
Sometimes my tries
Are outside the lines
We’ve been conditioned
To not make mistakes
But I can’t live that way

Staring at the blank page before you…