Arquivo da tag: Bonn

Tempos históricos

Ao longo do meu período aqui em Bonn, sinto que estou cada vez mais interessado, consciente e informado a respeito de questões de política internacional. E não se trata apenas de uma conseqüência óbvia de estar fazendo estágio nas Nações Unidas e de assistir todas as noites à CNN: acho que realmente estou acompanhando mais intensamente e mais de perto o curso da história. (Não consegui encontrar uma forma menos cafona para expressar isso, mas é bem como estou me sentindo!)

Primeiro, os preparativos para a terceira reunião do enforcement branch do Protocolo de Quioto. Não, nada de bocejos nesta hora: é no mínimo emocionante que pela primeira vez um Estado soberano seja de certa forma “julgado” (num processo quase-judicial) por descumprir determinações do Protocolo, ainda que parcialmente, correndo o risco de ser penalizado. Nesse momento histórico, tenho o privilégio de trabalhar “nos bastidores do tribunal”. (Mais informações sobre o caso aqui, na parte final da página, sobre “Questions of Implementation”!)

Segundo, a declaração de independência de Kosovo no último fim de semana – uma mudança nas fronteiras do Velho Continente, justo quando estou pesquisando sobre questões territoriais no cenário internacional. Eu estava na Suíça com minha irmã e meu cunhado no domingo, e passamos na frente da sede de Genebra das Nações Unidas, onde havia comemorações pela declaração de independência. Acabei tirando uma foto histórica, que ilustra o dilema de vários países e das Nações Unidas em conjunto (do lado de dentro das grades da comunidade internacional) quanto a reconhecer ou não o novo Estado de Kosovo (do lado de fora).

Por fim, ontem, a renúncia de Fidel Castro. Como costumo brincar por aqui, nunca imaginei que viveria pra ver isso! 😛

Famosos da Uni Bonn

Pesquisando online na (e sobre a) biblioteca da Universidade de Bonn, acabo de ficar sabendo de que por ali passaram Bento XVI, Friedrich Nietzsche, Joseph Schumpeter e Karl Marx!

Orgulhosamente honesto

Lembram da história da Yuki e da raridade com que fiscalizam se os passageiros dos ônibus têm ticket válido? Pois é: fui fiscalizado ontem pela primeira vez! Mostrei meu Monatsticket pro fiscal com o maior orgulho. Ele conferiu, agradeceu, e foi só isso – nenhum trauma. Segui sentadinho, quase sorrindo de felicidade porque os 54,30 € valeram e porque minha honestidade foi verificada. Agora… fiquei com uma dúvida quanto ao meu caráter: será que orgulho anula honestidade?

Rumo à escassez de bastões

Emendando com este post e este outro mais antigo aqui: nem acredito, mas houve mais desenvolvimentos nessa história! Sexta-feira, quando me despedi do supervisor-tio, ele me deixou de sobreaviso para entrar em contato com mais um potencial estagiário aqui no Legal Affairs sobre “questões da vida” em Bonn – isso, claro, assim que o candidato seja oficialmente aceito. Óbvio que eu disse que o farei com o maior prazer, e o tio brincou (ele tem um excelente senso de humor, a propósito) que vou acabar me tornando um “focal point for interns” do Legal Affairs.

No fim de semana, na Suíça (vide nota de rodapé), minha irmã e meu cunhado disseram que eu deveria escrever um “Manual para estagiários” pra vender. De início fiquei um pouco desconfiado, mas, pensando bem (como economista e futuro jurista), não é tão má idéia. Legalmente não posso ser obrigado a ser conselheiro de estagiários, porque não está no meu contrato; portanto, nada me impediria de cobrar pelo servicinho extra.

Mas a história não para por aí! Hoje fui almoçar meio tarde e acabei me sentando na companhia de um pessoal que já estava terminando o almoço. Além de funcionários de outros departamentos, estava ali a chefe do RH, que me apresentou um novo funcionário mexicano. Quando a galera saiu para dar uma caminhada após o almoço, o novato não quis ir junto; a galera então sugeriu que ele ficasse conversando comigo, já que (1) poderíamos falar espanhol e (2) eu poderia levá-lo de novo para dentro do Secretariado assim que terminasse de almoçar (ele, sendo recém-chegado, ainda não tem o cartão magnético de acesso).

Em suma… já viram tudo, né? Acho que sem querer entrei pra equipe de boas-vindas do secretariado. Mas no fim das contas foi um sem querer “querendo”: sempre gostei de praticar a hospitalidade. Já fiz até um estudo bíblico a respeito do tema! Procurei no blog e não está por aí… vou ver se publico num post um dia desses!

Nota de rodapé: Não, não estou me esquivando de publicar sobre a Suíça; é que ainda não fui pra “casa” (ou: pro quarto que eu chamo de “casa” aqui em Bonn) desde que voltei, e portanto ainda não descarreguei as fotos. 😉

Passando adiante o bastão também com a outra mão – Corrigendum

A nova estagiária será orientada não pela supervisora-mãe, mas sim pelo supervisor-tio; portanto, ela será minha estagiária-prima, e não estagiária-irmã. Duh!

Nostalgia antecipada

O tempo passou rápido e já estou na metade do período de estágio! Embora sinta que um longo pedaço (e bastante intensivo em termos de trabalho!) ainda está por vir, tenho a impressão de que a volta ao Brasil será num piscar de olhos, e já estou bem consciente de tudo o que vou sentir falta.

Por exemplo, os amigos. Hoje me diverti muito no almoço com os estagiários de outros departamentos, conheci uma recém-chegada da China, e ainda me correspondi com a que virá semana que vem (minha estagiária-prima) e com o brasileiro para quem passarei o bastão no fim de março (meu estagiário-herdeiro).

Também sentirei falta da rotina de trabalho. Acabo de escrever a terceira edição de um jornalzinho simpático que tenho mandado para a minha SUPERvisora nas últimas sextas-feiras, o “Weekly signs of progress”, ao qual eu sempre anexo, para revisão dela, as partes do meu paper desenvolvidas ao longo da semana. Sentirei falta também dela, e do supervisor-tio, e em geral de toda o pessoal do Legal Affairs. E, claro, também sentirei falta da cidade de Bonn, inclusive (pasmem!) do seu sistema de transporte coletivo.

Mas chega dessa nostalgia antecipada, porque agora preciso juntar meus brinquedinhos e ralar peito, pra continuar curtindo essa aventura tudo de Bonn. No meio do caminho, pedras? Não, a Suiça! Adieu! 😉

Passando adiante o bastão também com a outra mão

Emendando com o post de ontem… ok, já está ficando engraçada a coisa! Recebi hoje uma visita do meu supervisor-tio…

Já falei sobre o meu supervisor-tio? Por ser colega da minha supervisora-mãe, ele tem alguns poderes sobre o estagiário-sobrinho aqui. Sim: o Legal Affairs do Secretariado do Clima funciona como uma grande família! (Agora não sei se devo ficar surpreso com o fato de que funciona de verdade ou se considero que é por isso mesmo que funciona de verdade!)

Pois bem, voltando: meu supervisor-tio veio me pedir que escrevesse para uma estagiária nova (não-brasileira), mandando dicas sobre como se virar em Bonn. Ela está para chegar por volta do dia 20, por aí em uma semana.

Claro que vou escrever a ela, e não só porque foi uma quase ordem de um quase superior hierárquico. É bom mesmo que a gente se dê bem, a nova estagiária e eu. Afinal, vamos dividir a sala. Seremos estagiários-irmãos.

Passando adiante o bastão

Desde ontem tenho estado em contato por e-mail com o novo estagiário aqui do Legal Affairs. Ele começará o estágio em abril, assim que eu terminar o meu. E acreditem: ele também é brasileiro. (O Secretariado, como a própria ONU, já era azul; agora está ficando cada vez mais verde e amarelo!)

O legal de já estar em contato é que acho que posso ajudar bastante. Quer dizer, pelo menos tenho uma disposição enorme de passar adiante conselhos que eu gostaria de ter tido ao chegar aqui, tanto sobre o funcionamento do Secretariado quanto sobre a vida em Bonn. É uma ótima chance para um exercício de solidariedade!

No mais, as atividades de pesquisa e de preparação para a reunião do Comitê de Cumprimento do Protocolo de Quioto (no início de março) não me deixam muito tempo para atualizar o blog. Ainda estou devendo fotos dos passeios dos últimos findis: Franfurt, Koblenz e Luxemburgo. Pra completar, no próximo findi o tempo de blogagem vai continuar a ser escasso, porque vou com minha irmã e meu cunhado para a Suíça (chiquééérimos!), onde pretendo pôr meu francês em uso e renovar o estoque de Toblerone! 😉

P.S.: Como se aqui na Alemanha não tivesse Toblerone…

Papo de gente grande

A semana passada terminou em alto estilo e esta continuou em alto estilo: dias ensolarados! Também estava (e continua) quente pra essa época (climate change!), mas deixo esse aspecto um pouco de lado… O fato é que sexta-feira foi o dia perfeito para conciliar a ineficiência do sistema de transporte coletivo de Bonn (olha ele aí!) com uma agradável caminhada de volta pra casa, pelo menos na metade do caminho de uns cinco quilômetros. Não é a primeira vez que faço dessas. Gosto de caminhar para sentir o pulso (ou a falta de pulso!) da cidade, e também para ativar um pouco a circulação neste corpinho religiosamente confinado a um escritório das 9h às 17h.

Outra vez minha irmã queria saber como eu não me perco nas minhas caminhadas. Na real, não tenho segredo: vou da torre ao monte. Já falei num post sobre a Post Tower, mas aí vai mais informação a respeito. Ela fica na beira do Reno, ou seja, no extremo leste da cidade. Porém, sendo um dos poucos arranha-céus da cidade, pode ser vista de praticamente qualquer lugar: do meu escritório no Secretariado ao meu quarto em Kessenich! Se a torre está no extremo leste, no oeste fica Venusberg, o morro aos pés do qual fica o bairro onde eu moro. No sentido norte-sul, posso me guiar pelas linhas de trem e metrô que cortam a cidade. Por isso, enfim, dispenso a bússola!

Essas referências para localização, além de bastante úteis, trazem à memória lembranças da cidade em que morei por pouco mais de um mês no inverno de 2005/2006 e que adotei como cidade-natal-adotada: Montreal, Canadá. Lá, ao contrário desse inverno frouxo de Bonn, fazia frio pra gaúcho; a temperatura chegou a uns -15 graus Celsius! Por outro lado, tal como aqui, Montréal conta com o referencial do morro (o Mount Royal) de um lado e o rio (o São Lourenço) de outro.

Quanto aos arranha-céus, que lá são bem mais numerosos, até servem de ponto de referência, mas não tanto como cá. Apesar disso, também em Montréal existe uma saudável interação entre as torres e o monte. O plano diretor da cidade limita as construções à altura do Mount Royal, de forma que os maiores arranha-céus são da mesma altura do monte, num sinal de respeito ao marco geográfico que dá nome à cidade (Mount Royal… Montréal!). Lá de cima, torres de um lado e morro de outro conversam à altura – literalmente.

Trilha sonora tudo de Bonn

A galera do Departamento Jurídico saiu em massa ontem para um encontro só pra staff e, como eu tecnicamente não sou staff, acabei abandonado no sexto andar do Secretariado. O silêncio assustadoramente anormal me induziu a levar a cabo uma nova experiência: ouvir rádio no escritório.

A coisa foi meio estranha, porque só tenho alto-falantes dentro da minitorre do computador, mas no fim deu certo. Sintonizei (rádio online se sintoniza?!) a Classical KUSC, uma rádio do sul da Califórnia que gosto de ouvir trabalhando porque só toca música erudita. É a trilha sonora ideal: posso escutar baixinho, sem incomodar ninguém, e assim ganho um pouco de inspiração pra escrever meu paper.

Falando em trilha sonora, quando estou solito na rua às vezes eu ouço rádio no MP3 player; tem a BFBS (British Forces Broadcasting Service) e rádios alemãs com notícias compreensíveis até certo ponto (tudo bem, a culpa é minha) e programação musical razoavelmente boa. Porém, naqueles momentos em que simplesmente nada presta na rádio, o que acontece seguido comigo aqui como no Brasil, acabo me voltando à seleção de músicas em MP3/WMA.

E, como ontem estava no ritmo de novas experiências musicais, também resolvi reorganizar minha seleção musical. Tirei um pouco da pop music comercialzinha enjoativa e acrescentei uma pitada de música gospel em inglês (tudo bem, a culpa continua sendo minha). E mantive o electrotango. Além de me trazer lindas recordações de la Argentina, é uma batida que tem tudo a ver com cidade e movimento e auto-estima. Pelo menos pra mim. Quando caminho pela rua ouvindo electrotango me sinto uma celebridade internacional – e agora que tenho um corte de cabelo europeu isso tende a ficar ainda mais grave. Haha…

Voltando à seleção musical pra finalizar: o que ainda falta é Beethoven. Até tenho algumas dele aqui, mas bem menos que deveria; afinal, ele nasceu em Bonn, e nada poderia ser mais culturalmente adaptado da minha parte do que me embalar numa trilha sonora de um “artista local”!