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Rajastour, dia 2 (Jaisalmer): Bazaar e Havelis

Depois de um longo intervalo (vamos pular a parte de apontar motivos e ir logo ao que interessa, ok?), volto a contar da viagem à Índia. Eu estava contando sobre meus passeios pelo estado do Rajastão, na série Rajastour 2013.

Os últimos posts foram sobre o primeiro dia do Rajastour, em que fiz a viagem de Mumbai a Jaisalmer via Jodhpur, e sobre o segundo dia, em que visitei o Lago Gadsisar e, em seguida, o Forte de Jaisalmer. Como são muitos os lugares e fotos interessantes, o segundo dia ainda terá dois posts, começando por este, em que contarei do passeio pelo bazaar e pelas havelis de Jaisalmer.

Bazaar é “bazar”, em bom português, mas prefiro usar bazaar porque um bazaar indiano significa algo bem diferente daquilo a que nos referimos com a palavra “bazar”. É uma palavra de origem persa que significa, simplesmente, um mercado ou uma área pública (na rua, mesmo) onde há bancas (às vezes com um aspecto de camelódromo) e lojas dos mais diversos bens e serviços.

Na Índia, os bazaars que conheci (começando pelo de Jaisalmer) são bem característicos, porque exemplificam traços da vida urbana indiana: o caos (gente olhando, comprando e vendendo; produtos expostos à venda por todos os lados), pechincha (tanto no sentido de preço baixo quanto no de negociação para chegar lá) e diversidade (de produtos e esquisitices).

Vi tanta coisa que não duvido de que se possa encontrar de tudo, mas há destaques evidentes: têxteis, temperos e… quinquilharias industrializadas (o aspecto camelódromo que mencionei).

Bazaar em Jaisalmer: de tudo um pouco, principalmente têxteis
Segundo o guia turístico, bigode para cima + turbante colorido = hindu
Segundo o guia turístico, bigode para baixo + turbante branco = muçulmano
Pessoas, têxteis, comércio, caos
Banca de venda de hortaliças, legumes, verduras

Para terminar o passeio, visitei algumas das famosas havelis de Jaisalmer: são palacetes construídos principalmente no século XIX (embora ainda se encontrem havelis construídas recentemente, seguindo o mesmo estilo das mais antigas).

Os principais destaques das havelis são os jalis, sobre os quais já contei em outro post: as belas telas de treliça de pedra esculpidas no arenito. Elas protegem do sol forte, mas deixam entrar a brisa do deserto; também permitem que as mulheres muçulmanas vejam o movimento da rua sem ser observadas.

Estátua de elefante esculpido em arenito, em frente à Nathmalji Ki Haveli
Nathmalji Ki Haveli decorada para um casamento
Entrada da Nathmalji Ki Haveli
Detalhe da Nathmalji Ki Haveli
Cômodo dentro da Nathmalji Ki Haveli
Cottage Gallery, onde fiz uma paradinha para comprar algumas lembranças em pashmina
Chegando à Haveli Patwon Ki pelas ruas estreitas
Fachada principal da Patwon Ki Haveli
Havelis com sacadas projetadas sobre as ruelas
Detalhe da Patwon Ki Haveli
Bigodão
Para o almoço tardio, Ker Sangri (feijão do deserto com alcaparras) e naan de manteiga

Rajastour, dia 2 (Jaisalmer): Forte de Jaisalmer

Após a visita ao lago, fomos à atração principal do dia: o Forte de Jaisalmer, construído em 1156 pelo Maharawal Jaisal Singh. Milhares de pessoas ainda moram dentro do forte, fazendo dele o único ainda habitado da Índia. Segundo o guia, brâmanes (membros da casta mais elevada, dos adoradores do deus Shiva) têm direito vitalício e hereditário a morar dentro do forte.

Forte de Jaisalmer ao fundo
Garoto-propaganda NYU posando para a foto
Primeiro portão de entrada no Forte de Jaisalmer: Ganesh Prol
Músico na entrada do Forte de Jaisalmer
Suraj Prol, um dos quatro portões de acesso ao forte
Pelos quatro portões que dão acesso ao forte (Ganesh ProlAkshaya ProlSuraj Prol e Hawa Prol) chega-se à praça Dussehra Chowk, de onde se pode ver o Raj Mahal (Raj = Rei, Mahal = Palácio, portanto, Palácio Real).
No palácio, como em muitas havelis (mansões) de Jaisalmer, há lindos exemplos de jalis: telas de treliça de pedra esculpidas no arenito. Elas protegem do sol forte, mas deixam entrar a brisa do deserto. Também têm a vantagem de permitir que as mulheres (muçulmanas) vejam o movimento da rua sem ser observadas.
Loja em Dussehra Chowk, com itens de tapeçaria em exposição
Jalis do Raj Mahal
Sacada em outro detalhe do Raj Mahal
Vista geral do Raj Mahal
Em diversas casas dentro do forte, vi decorações de casamento. Além das bandeirinhas e outros ornamentos, as pessoas costumam pintar painéis com o deus Ganesha, o filho de Shiva e Parvati que tem corpo de homem e cabeça de elefante. É considerado um deus de riqueza e proteção. Por isso é que as ilustrações deles são comuns nas casas dos recém-casados e no alto dos marcos das portas.
Casa de recém-casados com painel de Ganesha
O guia local em seguida me levou para o alto do Hotel Garh Jaisal, de onde se tem uma bela vista aérea do forte e de toda a cidade de Jaisalmer. Dali fica bem claro por que Jaisalmer é conhecida como a Cidade Dourada: as construções de arenito, em toda parte, reluzem sob o sol forte do deserto.
Entrada do Hotel Garh Jaisal
Jaisalmer, a Cidade Dourada
Entrada do forte de Jaisalmer, vista do Hotel Garh Jaisal
A última visita dentro do forte foi ao complexo de sete templos interligados da religião jainista, construídos entre os séculos XII e XVI. A arquitetura e a riqueza de detalhes são bastante impressionantes (embora opressivas aos olhos cristãos). Nas fotos seguintes, para encerrar o post, alguns detalhes. No próximo post, relatos e fotos das visitas às havelis (mansões ou palacetes) de Jaisalmer, do lado de fora do forte.
Fachada do principal templo jainista do Forte de Jaisalmer
Portal de entrada do templo jainista
Garoto-propaganda NYU no templo jainista
Detalhe de escultura decorativa
Mais uma escultura
Área central de um dos templos
Cúpula de um dos templos
Detalhe de escultura na parede
Detalhes de esculturas na parede
Templo jainista visto de cima

Rajastour, dia 2 (Jaisalmer): Lago Gadsisar

O primeiro passeio no primeiro e único dia em Jaisalmer foi o Lago Gadsisar ou Gadisagar, construído por Rawal Gadsi Singh em 1367 para servir de fonte de água.

A construção do portal de entrada foi ordem de uma cortesã real. Isso desagradou as maharanis (rainhas), que mandaram destruir o portal. Para evitar a demolição, a cortesã ordenou que se colocasse uma estátua do deus Krishna no alto do portal, que permanece intacto até hoje.

Portal do Lago Gadsisar
Do outro lado do portal do Lago Gadsisar
Lago Gadsisar
Foi também ali, à margem do lago, que visitei pela primeira vez um templo hindu.
Antes de entrar no templo: tirar os calçados
Vestíbulo do templo hindu

Um hindu colocando oferendas no altar.
No centro da foto, lingam (representando o deus Shiva)
e yoni (representando Shakti, energia criativa feminina)
Ficarão para o próximo post o relato e as fotos do passeio pelo Forte de Jaisalmer!

Rajastour, dia 1: Rumo a Jaisalmer

Após o fabuloso casamento, comecei um tour de nove dias pela Índia, organizado por mim e pela agência de viagem Diethelm Travel a partir de roteiros sugeridos e dicas de amigas (a noiva Rahela e a Fernanda Kaur) e irmã (Lucy).

Na primeira parte do tour, fiz um “Rajastour”, visitando três cidades do Rajastão: Jaisalmer, Jodhpur e Jaipur. O Rajastão (Terra de Reis), na fronteira com o Paquistão, é o maior estado da Índia. É a terra dos marajás e de lindos e muito antigos fortes e palácios. Entrei no Rajastão pelo aeroporto de Jodhpur.

Área de desembarque do aeroporto de Jodhpur, onde provavelmente era proibido fotografar
Caos urbano de Jodhpur (mas poderia ser em qualquer outro lugar da Índia que eu tenha visitado)

Em Jodhpur, já me aguardavam o agente de viagem local e o Muni, que seria meu motorista pelos próximos dias. Dali comecei a viagem de cinco horas (!) a oeste, rumo a Jaisalmer, o primeiro destino do passeio.

Salvo poucas exceções (sobre as quais contarei mais adiante), fiz todos os traslados de carro (Tata Indigo) com motorista. De início, achei a ideia luxuosa e, portanto, absurda (eu? de carro alugado e motorista?), mas não me arrependo. A Índia não é a Europa, em muitos sentidos: o trânsito na Índia é confuso, as cidades não são exemplos de boa sinalização para turistas, a segurança é incerta, o transporte público (quando existe) não é necessariamente recomendável. Aventura de mochileiro pela Índia até seria legal, mas percebi que teria riscos de contratempos incompatíveis com o pouco tempo que eu tinha para aproveitar. Optei pelo carro com motorista para ter garantia do menor risco possível de contratempos.

Um caminhão levemente sobrecarregado…
Deserto rumo a Jaisalmer
Vaca (no meio da rodovia): uma instituição indiana
Deserto rumo a Jaisalmer

Lá pelo meio da tarde, fiz pausa para almoço em um hotel à beira da estrada. Provei o delicioso Shahi Paneer: cubos de queijo coalho cozidos em gravy de castanha de caju, servidos com creme e manteiga e  acompanhados de naan (pão indiano) de queijo e, só pra não perder o costume, masala chai.

Portão do hotel onde fiz pausa para almoço
Almoço: Shahi Paneer
Parque eólico no deserto

Cinco horas depois… enfim, Jaisalmer! Logo na chegada da cidade, chama a atenção o Forte de Jaisalmer, um dos maiores do mundo e ainda habitado. Foi construído em 1156 por Rao Jaisal (Jaisalmer = Jaisal + Mer = Forte de Jaisal). A onipresença do arenito, tanto no forte quanto na maioria das construções urbanas fora dele, dão à cidade desértica de Jaisalmer um aspecto dourado, especialmente no pôr-do-sol. Por isso, Jaisalmer é conhecida como a Cidade Dourada.

No próximo post, mais relatos e fotos da cidade e do forte. Encerro este com as fotos finais do dia de traslado e do lindo hotel onde fiquei, o Rang Mahal. (Confesso que, depois de achar lindo o hotel, meu primeiro pensamento foi “bah, não acredito que estou pagando duas diárias nesse palácio”. Minhas acomodações talvez pudessem ter sido mais simples. Mesmo assim, sem arrependimentos!)

Chegando a Jaisalmer: primeira vista do Jaisalmer Fort
Ala onde fiquei hospedado no Hotel Rang Mahal
Área da piscina e do bar no Hotel Rang Mahal
Hall de entrada do Hotel Rang Mahal
Sala de espera do Hotel Rang Mahal
Fachada externa do Hotel Rang Mahal

Casamento indiano: Grand finale

Uma festa para 2.500 convidados. Um casamento de duas semanas tinha de ter um encerramento à altura! Cheguei ao local da festa (ao ar livre, no jóquei clube de Mumbai) logo do início, com os amigos da NYU. Entramos na área da festa pelo corredor iluminado um pouco antes da entrada oficial dos noivos com suas famílias. Todos estavam ainda mais espetacularmente elegantes que nos outros eventos!

Chegada da família após a passagem pelo corredor iluminado
Noiva posando para fotos com a família e o noivo

Claro que nem todos os 2.500 convidados estavam todos, ao mesmo tempo, no local da festa: algum fluxo certamente houve. Mesmo assim, para comportar tantos convidados, o local tinha de de ser enorme. Havia três longos buffets (vegetariano, não vegetariano e de sobremesas), um coffee bar, estação de chás (que na Índia não poderia faltar!), uma área com sofás para conversar e relaxar, uma área com as mesas de jantar.

Visão geral do lado de cá
Visão geral do lado de lá
Coffee Bar

A área central da festa tinha uma árvore iluminada e decorada com flores e colares, no mesmo estilo do corredor da entrada. Ali os noivos receberam cada um dos convidados e tiraram fotos. Foram para ali logo depois de entrarem na festa, lá pelas 19:30. Até pouco depois da meia-noite (quando os colegas da NYU e eu voltamos para o hotel), os noivos ainda não tinham jantado… Uma maratona de cumprimentos e fotos. Cãibra nas bochechas de tanto sorrir. (Sempre me dói um pouco quando os noivos ficam tanto em função do protocolo que não conseguem aproveitar adequadamente a festa de casamento!)

Já os convidados aproveitaram a festa e foram muito bem servidos com diversos tipos de coquetéis de frutas (todos não alcoólicos), petiscos… e uma refeição fabulosa em tamanho e sabor. Mais uma vez, contei com a ajuda do amigo indiano (e hindu e vegetariano) Atul, da NYU, que me deu todas as dicas sobre os pratos a provar (e, de novo, provei de tudo e me deliciei com tudo!). Achei excelente a ideia de uma área de sofás, que eu nunca tinha visto (talvez porque nunca tivesse ido a uma festa com tantos convidados que tivesse espaço para uma área de sofás!). Passei um tempão ali com o pessoal da NYU e outros amigos que fiz ao longo dos eventos do casamento.

Convidados curtindo a festa
Foto quase oficial da reunion NYU LL.M. 2010 (com a roupa que ganhei da noiva!)

O dia seguinte ao casamento foi de correria: madrugadão para finalizar as malas e ir ao aeroporto, de onde voei a Jodhpur, para começar o passeio turístico pós-casamento. Minha aventura indiana estava apenas começando… e continuará aqui nos próximos posts!

Elephanta Island e Prince of Wales Museum: últimos passeios em Mumbai

E chegou o último dia das festividades de casamento na Índia (sábado, 19 de janeiro). Porém, como a festa de casamento seria só à noite, aproveitei meu último dia de passeio em Mumbai.

O Remy, colega de Singapura da NYU com quem dividi o quarto no hotel, topou acordar cedo para pegarmos o primeiro ferry até Elephanta Island (ou Gharapuri Island) uma ilha a cerca de 10 quilômetros a sudeste de Mumbai onde há as impressionantes Elephanta Caves, cavernas hindus e budistas esculpidas em rocha basáltica entre os séculos V e VIII d.C. As Elephanta Caves e o Chhatrapati Shivaji Terminus (Victoria Terminus) são os dois locais da região de Mumbai que estão inscritos na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO.

No barco, saindo para Elephanta Island
Taj Mahal Palace e Gateway of India
Rumo a Elephanta Island
Chegada em Elephanta Island: macacos, não me mordam!
Entrada da caverna principal, templo de Shiva, o principal deus hindu.
Painel de Bhairava (Shiva) matando Andhaka
Painel Trimurti (ou Trimurti Sadashiva ou Maheshmurti),
representando Brahma (criador), Vishnu (preservador) e Shiva (destruidor)
Painel Ardhanarishvara, representando a união entre
Shiva e sua esposa Parvati
Painel que retrata o casamento de Shiva e Parvati

Na volta de Elephanta Island, uma aventura de táxi (porque tudo o que envolva trânsito em Mumbai pode ser considerado aventura, ainda mais se também envolver táxi) até o restaurante Britannia & Co., uma joia persa pertinho do hotel. No restaurante, veio conversar conosco o Sr. Boman Kohinoor, filho do fundador do estabelecimento. Simpático saudosista da era britânica, ele veio nos mostrar a carta (plastificada) que lhe enviou a Rainha Elizabeth II, em que agradece a ele a correspondência gentil e a lealdade.

A experiência de andar de táxi em Mumbai
Britannia & Co.: restaurante de culinária persa próximo ao Grand Hotel Bombay
Com o Remy, saboreando um Berry Pulav no Britannia

Durante a tarde (sozinho, porque os amigos foram descansar para a cerimônia do casamento, mas eu me neguei, obviamente), fui dar umas últimas voltas por Mumbai. Passei pela Estação Churchgate e fiquei umas horinhas no Museu de Mumbai (mapa). Num lindo exemplo de arquitetura indo-sarracênica fica um vasto acervo de diversas obras de arte da Índia, do Nepal e do Tibet, com destaque para esculturas em pedra, pintura em miniatura, artes decorativas (em pedra, madeira, marfim, metais, têxteis), porcelana, armaduras…

Prédio antigo da Churchgate Station
Museu Chhatrapati Shivaki Maharaj Vastu Sangrahalaya;
antes, Prince of Wales Museum of Western India
Hall de entrada do museu
(antes de me dizerem que não podia fotografar, nem sem flash!)

Mumbai

Com as intensas programações do casamento, tive de aproveitar os curtos intervalos para passear um pouco em Mumbai. Após o Mosallah, saí com alguns amigos da NYU para caminhar e fotografar alguns pontos turísticos mais óbvios (com meu foco involuntário na arquitetura gótica), expandindo o passeio já realizado pelas redondezas do hotel.

General Post Office (mapa aqui), o Escritório Geral dos Correios,
um dos exemplos de arquitetura indo-gótica
Pombos no telhado, em casa na frente do General Post Office

A Estação Chhatrapati Shivaji (nome original em inglês: Victoria Terminus, em homenagem à Rainha Vitória, do Reino Unido) é um dos edifícios neogóticos mais impressionantes. Foi designado Patrimônio Mundial pela Unesco em 2004. Até hoje em funcionamento, por ali passam três milhões de pessoas por dia.

Chegando ao Victoria Terminus
Pátio interno da parte administrativa do Victoria Terminus
Torre principal do Victoria Terminus
Entrada principal do Victoria Terminus; à esquerda, o pavilhão dos trens
À esquerda, a entrada principal; à direita, a parte administrativa
O decadente saguão dos trens no Victoria Terminus,
não condizente com a majestade externa do edifício

O prédio da sede da Brihanmumbai Municipal Corporation (BMC), a Corporação Municipal da Grande Mumbai, é outro exemplo da arquitetura gótica de Mumbai. O edifício fica bem em frente à Victoria Terminus. A BMC é responsável, em Mumbai, por serviços públicos como os de saúde e hospitais, iluminação, manutenção de parques, tratamento de esgotos e segurança.

Sede da BMC, vista da Victoria Terminus
Destaque para a torre principal da sede da BMC
Detalhe da sede da BMC
Outro edifício de inspiração gótica

A Flora Fountain (Fonte de Flora) é um chafariz-escultura do século XIX que retrata a deusa romana Flora. Fica na Hutatma Chowk (Praça do Mártir).

Flora Fountain
Detalhe da Flora Fountain
Detalhe da Flora Fountain

Outra exemplo imperdível da arquitetura gótica de Mumbai é a Bombay High Court, a Alta Corte de Mumbai. Com 75 juízes, têm jurisdição originária e de apelação. Suas decisões só podem ser apeladas à Suprema Corte da Índia.

Bombay High Court
Bombay High Court

Por hoje, o último exemplo da arquitetura gótica e veneziana de Mumbai é a Rajabai Clock Tower (Torre de Relógio Rajabai), com 85 metros de altura. Está localizada no campus da Universidade de Mumbai, inspirada no Big Ben e construída entre 1869 e 1878.

Rajabai Tower

Casamento indiano: Mosallah

De roupa nova, fui ao meu primeiro almoço tradicional indiano e vestido tradicionalmente como indiano. Foi o Mosallah, uma festa-almoço organizada pelo tio materno da noiva, realizada em um dos salões do Princess Victoria and Mary Gymkhana, um centenário clube de Mumbai. O evento começou com uma cerimônia em que os noivos ganharam diversos presentes pequenos da família da noiva.

Os noivos e a família da noiva, em parte da cerimônia que antecedeu o almoço
De pyjama e kurta,
rindo da situação de ser “modelo fotográfico indiano”
para três amigos ao mesmo tempo

Infelizmente não vou me lembrar dos nomes (eu deveria ter anotado tudo!), mas do “fluxo” da refeição eu me lembro bem! Sete pessoas sentam no chão ao redor de um prato metálico comum, bem grande. Em regra, não menos nem mais que sete poderiam sentar ao redor de cada prato, mas essa regra foi flexibilizada para que todos os estrangeiros pudessem participar também (sob instruções dos indianos).

Nesse prato grande são servidos os diferentes pratos da refeição: um prato salgado e outro doce, de forma alternada. Não se deve começar o segundo prato antes de que o primeiro tenha sido consumido – e assim sucessivamente até o enésimo… foram muitos e muito bons!

Sou vegetariano, então não tive problemas com a maioria das refeições que fiz na Índia – esta foi a exceção. Alguns pratos tinham carnes, mas a família insistiu que eu participasse da refeição, como experiência. Para isso, quando um prato não vegetariano era servido no prato-mesa comum, algum familiar da noiva me trazia um prato vegetariano. Afinal de contas, acho que nessa refeição fui tão paparicado quanto os noivos. O cuidado dos noivos e das suas famílias em bem receber todos os convidados (evidenciado, aliás, em todos os eventos do casamento) chegou a ser enternecedor.

Encerro com algumas fotos. No próximo post, conto dos passeios que fiz após o Mosallah.

Tive a honra de sentar ao redor do prato-mesa dos noivos
“Vista aérea” da refeição. Neste momento,
eu estava deliciando separadamente
um prato vegetariano que me trouxeram,
enquanto os demais comiam o prato não vegetariano.
Aqui fui flagrado pelo amigo Apostolos secando a boca da lata de refrigerante (ha!)
Lavando as mãos ao final da refeição (foto também do Apostolos)

Casamento indiano: passeio e roupa nova

O dress code para o almoço do meu segundo dia de casamento indiano era roupa formal indiana. Para não usar a roupa que ganhei e ter de repeti-la na festa principal, resolvi ir às compras! (Repetir roupa nem seria tão grave assim, eu acho, mas, num contexto de tanta elegância, não tive coragem.)

Como a loja recomendada pela noiva só abriria às 10h, aproveitei para passear um pouco pelas redondezas do Grand Hotel Bombay. (Lembro que, para quem costuma caminhar dezenas de quilômetros nos lugares que visita — vide NYC, Boston, Philly e Montevideo, apenas como exemplos —, “redondezas” pode ser um conceito mais amplo que o usual!) As redondezas do hotel apresentam características arquitetônicas que evidenciam a influência inglesa durante o Raj Britânico, de 1858 até a independência da Índia, em 1947.

Mumbai — ou Paris — ou Londres
Elphinstone College
Cricket
Biblioteca David Sassoon e um desfile imprevisto de saris
Um toque da bagunça urbana indiana; torre da universidade ao fundo (Rajabai Clock Tower)
Mais um prédio que me chamou muito a atenção: a Majestic House

Terminei o breve passeio no Gateway of India, arco concebido para dar boas-vindas ao Rei George V e à Rainha Mary, da Inglaterra, quando visitaram a Índia em 1911, mas concluído somente em 1924. Perto do arco, chama a atenção o Taj Mahal Palace Hotel, palco do atentado terrorista de 2008.

Gateway of India
Taj Mahal Palace Hotel ao fundo

Depois do passeio, fui à Fabindia (mapa aqui), a loja recomendada pela noiva, e comprei meu traje indiano número dois (além de uns chás orgânicos que encontrei no caminho!). Tinha combinado de encontrar as amigas da NYU Pam e Sarah na mesma loja. Voltei com elas ao hotel, para nos prepararmos para o almoço. Mas sobre o meu primeiro almoço indiano vestido como indiano eu conto no meu próximo post!

Casamento indiano: piquenique à beira do lago

O primeiro evento do casamento foi um dia de piquenique na casa de férias da família da noiva, à beira do lago-represa de Uksan, em Kamshet, a sudeste de Mumbai.

Quer dizer, foi o primeiro evento de que participei. O casamento começou com a cerimônia perante a autoridade religiosa (muçulmana), no início de janeiro, restrita às famílias — a alguns homens das famílias, entenda-se. A festa principal (para 2.500 convidados), gran finale do casamento, ficou marcada para 19 de janeiro. Antes dela, houve duas semanas de recepções menores, essencialmente familiares, mas para as quais eu também estava convidado. Acabei participando apenas da segunda dessas semanas, até porque eu não tinha tanto tempo de férias e queria também aproveitar para passear em outras partes da Índia.

Voltando ao piquenique: o dia começou cedo. Às 6h da manhã estava em frente ao hotel com os demais amigos da NYU ali também hospedados, aguardando um dois dois ônibus que levariam os convidados a Uksan. A viagem de 110 Km por estradas caóticas em meio a paisagens rurais deslumbrantes durou umas três horas. Aproveitei para pôr o papo em dia com a Pam, amiga canadense que “era” minha Study Group de Transnational Law na NYU (nosso grupo de estudos era, na verdade, uma dupla!).

A proposta do piquenique, conforme o informado no convite, era: “pipa, banho no lago e mehendi [tatuagens festivas para o público feminino]”. Acabou sendo bem mais: comidas deliciosas, apresentações artísticas, cricket, música e dança.

Uma das convidadas ganhando uma tatuagem de henna (mehendi)

Na chegada, a decoração ao ar livre e a vista do lago compensaram o chacoalhar da viagem. Três tendas decoradas com flores e mobiliadas com espreguiçadeiras foram estrategicamente montadas no gramado, uma ideia excelente para as conversas dos convidados. Uma grande tenda branca protegia as mesas de refeição do forte sol. Outra ideia genial foi a árvore das pipas: cada convidado escrevia uma mensagem aos noivos em uma pequena pipa de celofane e a pendurava numa árvore, que ficou repleta de pipas coloridas.

Ao fundo, o lago; ao centro, as tendas floridas com espreguiçadeiras;
à direita, parte da tenda branca com as mesas de refeição
A Pam fotografando a árvore das pipas depois de deixar sua mensagem ali
A tenda branca com as mesas de refeição;
ao fundo, uma ponta de terra perto do lago, lugar das pipas e, depois, do cricket

O café-da-manhã que nos esperava na chegada era um verdadeiro banquete. Numa das extremidades da tenda branca, um buffet vegetariano; na outra, um não vegetariano. Eu me senti bem em casa no lado vegetariano, graças à ajuda do amigo indiano Atul, colega da NYU e vegetariano como eu, que me deu todas as dicas de que eu precisava quanto aos pratos indianos. Infelizmente não tive como memorizar todos os nomes, mas o certo é que eu provei de tudo que o Atul me recomendava. Mal tinha terminado o farto café-da-manhã, foi servido um almoço mais completo ainda.

A Rahela, a noiva, já tinha dito para mim e outros colegas estrangeiros da NYU que nesse piquenique várias “comidas de rua” indianas bem originais seriam servidas e que poderíamos comer sem preocupação, porque tudo seria feito com ingredientes de procedência segura. O grande problema de estrangeiros com alimentação na Índia é com a água, que comumente agride os estômagos e intestinos não imunizados contra alguma bactéria particularmente indiana. Por isso, o cuidado especial da noiva. Além de chai (obviamente), café e refrigerantes, serviram também água engarrafada, para a segurança dos gastrointestinal dos estrangeiros!

Ah, e nada de álcool, em nenhum evento do casamento, por observância aos preceitos islâmicos. Não por isso a diversão foi menor que em qualquer casamento a que eu já tivesse ido!

O lado vegetariano do buffet

Meu delicioso prato de café-da-manhã
Os noivos estavam superfelizes, visitando cada uma das mesas

Com meu prato de almoço à sombra, junto com o pessoal da NYU
(O chapéu também foi ideia dos organizadores!)

Os noivos dançando, inicialmente com a família, mas depois com todos os convidados
(e aí não tirei mais fotos, porque também fui aprender uns passinhos indianos!)