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Astronomia

(Na verdade esta é mais uma aleatoriedade, em complementação ao post anterior, tanto que merece os cinco asteriscos. Aí vamos.)

* * * * *

Nas minhas aventuras fotográficas de longa exposição, tirei esta foto:

Lua minguante deslumbrante, certo? Foi o que pensei. Porém, no dia seguinte, observei que a Lua estava mais perto de cheia, e não de nova. No dia seguinte, ainda mais cheia.

Para tudo. Tem coisa errada. Lá nos meus tempos de antigamente (quando
“ensino fundamental” ainda era “primeiro grau”) me ensinaram que a parte iluminada da Lua faz um “C” quando a fase é crescente e um “D” quando é minguante. Era tão fácil de lembrar, aliás: “C” de Crescente, “D” de… “Decrescente”. Então como é que a Lua em D estava (e ainda está) crescente, cada vez mais cheia? Poderia ser mais uma das estranhices de Nova Iorque. Não me surpreenderia.

Durante a semana não tive tempo de investigar. Mas hoje finalmente liguei pra Lu, minha irmã e assessora para assuntos aleatórios, e perguntei se andaram mudando aí alguma dessas leis astronômicas. “Não que eu saiba.” Eu disse, “não pode ser que no hemisfério sul se veja a Lua de um jeito e, no norte, de cabeça pra baixo, né?” E ela disse, “claro, é assim mesmo.” E eu, “sério?” E ela, “não, né, tchê!”

Pois bem. Mesmo sendo domingo, cometi um terrível sacrilégio: depois do clássico almoço com o pessoal da igreja, entrei na biblioteca do Direito. NÃO, não pra estudar! Por favor! Eu tenho todo o resto da semana pra fazer isso (de forma inescapável). Entrei na biblioteca pra (1) blogar (o post anterior) e (2) corrigir essa história de Lua invertida:

Pronto: com uma inversão básica, a Lua crescente ficou em C na minha foto. “Ufa, bem melhor.” Isso me acalmou um pouco inicialmente. Mas continuei incomodado por ver Manhattan toda ao contrário, como se vista de um espelho. Consertei a Astronomia e estraguei a Geografia.

Então, aproveitando que estava mesmo na biblioteca, resolvi (3) googlar o mistério da fase lunar invertida. E descobri que a minha suspeita aquela estava certa: vista do hemisfério norte, a Lua faz um “D” na fase crescente e um “C” na fase minguante.

Meu mundo virou de cabeça pra baixo. (Bom, na verdade minha Lua virou de cabeça pra baixo.) Mais: essa coisa de ficar de cabeça pra baixo fez com que caíssem do meu bolso todos os butiá. Tenho que voltar ao Instituto (hoje: Instituto Estadual) de Educação Assis Brasil e achar minha professora de Geografia de sei-lá-que-série pra ter com ela uma conversa séria: “Me falaram da história do Cruzeiro do Sul e da Estrela Polar, mas como é que ninguém me disse que essa regra do ‘C de crescente’ não era universal?” Absurdo. Me sinto traído e enganado.

The Bobst Mysteries

Tô aqui na Bobst, pra variar; estudando, pra variar. Saio da sala por cinco minutos (para um intervalinho de barra de cereal) e já me destraio com um mistério.

Saboreando minha barra de cereal e caminhando de um lado pro outro no corredor, me deparo com um pedaço de papel com a frase: “We are PEOPLE not PROFIT.” = “Somos PESSOAS, não LUCRO.” Ok: alguma espécie de protesto (vai saber contra quem? a universidade, talvez?). O que me intriga, porém, é como o pedacinho de papel foi parar ali.

Pra quem não conhece a Bobst, talvez valha a pena descrever um pouco o lugar, porque a foto (tirada com o celular, através de um vidro e de um ângulo complicado!) não é lá muito clara. A parte central da Biblioteca Bobst é “oca” (uma palavra que eu cuidadosamente selecionei no meu imenso vocabulário técnico de arquitetura). Tirei a foto olhando do corredor-galeria do décimo andar para baixo. (O padrão em preto, branco e cinza que predomina na foto é o piso do térreo; os semicírculos pretos são bancos estofados no saguão central.) Em cada andar, há um vidro de mais de dois metros de altura na beirada da galeria, como medida de segurança. Além disso, do lado “de fora” do vidro há uma grade de um metro de altura. O pedaço de papel que vi está entre o vidro e a grade! Como? Intrigante.

Segundo fator intrigante: que lugar mais estranho para um protesto, não? Fico me perguntando quantas poucas pessoas já tiveram a feliz ideia de, durante um intervalinho de barra de cereal, perambular pelo corredor do décimo andar observando o espaço estreito entre o vidro e a grade pra ver se encontram algum pedaço de papel com um recadinho de significado obscuro.

Terceiro fator intrigante: as hastes das grades de proteção em formato de cruz. Por incrível que pareça, há quem consiga não se sentir suficientemente encorajado pelo vidro de mais de dois metros de altura e pelas grades a ficar com os pés firmes no corredor-galeria e a desistir da ideia de aprender a voar. (Infelizmente, é isso mesmo. Já aconteceu algumas vezes. Uma delas, em novembro do ano passado.) Seria coincidência o formato das hastes das grades?

Se eu fosse inventar de colocar um recado entre o vidro de dois metros de altura e as grades do corredor-galeria do décimo andar da Bobst (e soubesse uma forma segura de fazer isso!), minha mensagem seria diferente; algo mais no estilo: “Think twice. Jesus loves you.” = “Pensa bem. Jesus te ama.” Acho que é isso que um bom protestante (!) faria.

Estilo importa

 

Na redação formalmente correta, nem tudo é gramática: certas convenções de estilo – por exemplo, quanto ao uso de aspas, travessões e vírgulas –, embora não sejam propriamente normas gramaticais, merecem a atenção de quem escreve. “Essas convenções variam tanto de um idioma para outro quanto entre diferentes manuais de estilo e redação de um mesmo idioma”, ressalta o Guri.

O trecho acima, além de expressar uma observação verdadeira minha, serve bem como ponto de partida para este post. As convenções de estilo que adotei no trecho são as que aprendi “com a vida” no Brasil e que uso consistentemente quando escrevo em português, inclusive aqui no blog. Nesse trecho não há nada de “estranho” para olhos brasileiros, né? Assim é porque estamos acostumados a ver o uso dessas convenções em jornais, revistas e livros de forma tão frequente e natural que as aceitamos e reproduzimos sem nem perceber.

Mas olha só como as convenções podem ser diferentes: pronto. Que tal? Acabei de fugir da convenção brasileira. Não dá pra ver? [Edit: Não dá mesmo pra ver: basta publicar no blog que a diferença desaparece! A autoformatação do blogger.com estragou meu texto.] É sutil: dois espaços após os dois pontos ou após o ponto final, convenção conhecida como double spacing, English spacing ou American typewriter spacing. (Sigo usando-a neste parágrafo.) Uma amiga canadense, eu acho, é que me disse para usar o double spacing em inglês, mas só comecei de fato a usá-lo quando fiz o estágio nas Nações Unidas: está no manual de estilo do secretariado. Desde então, comecei a observar que a convenção é bastante aplicada em documentos oficiais das Nações Unidas (em inglês). Mas nem sempre.

A mudança mais chocante, porém, foi quando vim para a NYU e entrei em contato com as convenções daqui, sejam elas específicas da área do direito ou gerais para a redação em inglês. (Parei de usar o espaço duplo. Aliás, bom começo: nos EUA não se usa [mais] o espaço duplo após os dois pontos ou após o ponto final. Até há quem ainda insista em usar, mas os manuais de estilo não recomendam.) Para tirar dúvidas que tenho de vez em quando, visito a versão online do Chicago Manual of Style (CMS). Algumas regras me agradam; outras, nem tanto.

O uso da vírgula serial (ou vírgula de Oxford) me agrada. Vírgula serial é a que separa o último elemento de uma lista. No trecho inicial deste post, eu citei como exemplos de convenções de estilo as relativas ao uso de aspas, travessões, e vírgulas. Essa última vírgula aí, entre “travessões” e “e vírgulas”, é a vírgula serial. Sim, é provável que tenhas ouvido da tua professora de português do ensino fundamental que “vírgula + e” era uma construção absolutamente inaceitável em português. Mas, pensando bem, talvez esse seja mais uma regra absoluta da professora de português do ensino fundamental que mereça (a regra!) ser flexibilizada, especialmente nos casos em que uma vírgula serial pode ajudar a evitar uma ambiguidade.

Clássico é o exemplo da Wikipédia. Imagina uma dedicatória de livro escrita assim: “Para meus pais, Amy Rand e Deus”. A quem o livro é dedicado? Talvez seja evidente: (1) aos pais de quem escreveu o livro, (2) a Amy Rand e (3) a Deus. Mesmo assim, não se pode negar que existe uma ambiguidade: “Amy Rand e Deus” pode ser um aposto explicativo, ou seja, uma explicação do termo anterior. No nosso exemplinho clássico, quem escreveu pode ter querido dizer: “Para meus pais, [que são] Amy Rand e Deus”. Ok, improvável. Mas possível. E a simples possibilidade de uma ambiguidade justifica o uso de uma vírgula serial, “só pra garantir”.

À primeira vista não gosto de regras absolutas: nem da regra absoluta da professora de português do ensino fundamental (“vírgula serial: nunca”) nem da regra absoluta do CMS (“vírgula serial: sempre”). Gosto mesmo é de abordagens flexíveis, como esta: “vírgula serial: quando evitar ambiguidade”. Afinal, uma vírgula serial em “aspas, travessões, e vírgulas” não me parece ter grande utilidade prática (e o que aparentemente não tem utilidade pode vir a causar problemas e talvez deva ser removido – um argumento que valeria tanto para o não-uso de vírgulas seriais quanto para cirurgias preventivas de remoção de apêndice…?). Por outro lado, também gosto de abordagens consistentes, algo que a abordagem flexível que acabo de apresentar não parece ser. Sendo assim, prefiro a regra absoluta do CMS. “Vírgula serial: sempre.” Se me condenarem pelo uso da vírgula serial à toa, sem haver ambiguidade a solucionar, posso me justificar: “bom, pelo menos fui consistente.”

Se a vírgula serial é o que eu gosto no CMS, há aspectos dos quais não sei se gosto muito. Um deles é o travessão (m-dash): ele é mais longo que o comumente usado em português (mais longo que o traço, “meia-risca”, que aparece no Word quando se coloca um hífen entre duas palavras – este!). Além de mais longo, o travessão em inglês não é separado das palavras adjacentes. Uma expressão parentética típica na convenção brasileira – como esta – torna-se bastante diferente—como esta—na convenção do CMS. Ahá! Acabo de violar – intencionalmente, é claro – uma convenção comum ao estilo brasileiro e ao do CMS: não se deve usar, em uma mesma frase, mais de uma expressão parentética com travessões. Se for mesmo preciso fazer mais de uma – o que (na minha modesta opinião) pode ser um forte indicativo de redação ruim –, usam-se parênteses (como acabo de fazer) ou vírgulas.

A última frase do parágrafo anterior me traz a uma das coisas de que não gosto no CMS: se uma vírgula normalmente seria necessária—mas se se resolve incluir uma expressão parentética com travessões, como esta—não se deve pôr vírgula após o segundo travessão. Dá pra sentir a falta da vírgula antes de “não se deve […] travessão”! A convenção brasileira me parece melhor nesse aspecto: se uma vírgula é necessária – ainda que se resolva incluir uma expressão parentética com travessões, como esta –, a vírgula deve aparecer (como acabou de aparecer!) após o travessão, ora. Ela é necessária e pronto. O travessão não a substitui.

E a última coisa (por hoje?) de que não gosto no CMS é que “vírgulas precedem as aspas,” assim como acabo de fazer, e também assim: “pontos finais precedem as aspas.” Não gosto. Prefiro “vírgulas fora das aspas”, bem como “pontos finais fora das aspas”. É mais lógico. O próprio CMS reconhece isso, mas diz que “usos tipográficos” ditam que pontos finais e vírgulas precedam as aspas.

O problema é mais profundo do que parece. Se eu escrever que, segundo o Guri, “é mais lógico que vírgulas e pontos finais fiquem fora das aspas,” incluindo a vírgula dentro das aspas, minha frase sugere que a opinião do Guri é que tem uma vírgula e que talvez continue depois dessa vírgula; porém, na verdade a vírgula pertence à minha frase a respeito da opinião do Guri. Enfim: se a vírgula é minha, é minha; se é do Guri, é do Guri, e só se for do Guri vou querer atribuí-la ao Guri, porque seria impreciso (e talvez desonesto) dizer que o Guri disse vírgulas que de fato não disse. Como aqui o Guri sou eu mesmo, não há risco, mas pode haver situações em que o risco de imprecisão e desonestidade seja alto.

Comecei com a convenção corrente no Brasil:

Na redação formalmente correta, nem tudo é gramática: certas convenções de estilo – por exemplo, quanto ao uso de aspas, travessões e vírgulas –, embora não sejam propriamente normas gramaticais, merecem a atenção de quem escreve. “Essas convenções variam tanto de um idioma para outro quanto entre diferentes manuais de estilo e redação de um mesmo idioma”, ressalta o Guri.

E termino com a convenção do Chicago Manual:

Na redação formalmente correta, nem tudo é gramática: certas convenções de estilo—por exemplo, quanto ao uso de aspas, travessões, e vírgulas—embora não sejam propriamente normas gramaticais, merecem a atenção de quem escreve. “Essas convenções variam tanto de um idioma para outro quanto entre diferentes manuais de estilo e redação de um mesmo idioma,” ressalta o Guri.

Esse “jogo dos sete erros” é irrelevante, “a distinction without a difference“? Quanto à mensagem, é claro que não há diferença. Mas a percepção de quem lê pode ser bem diferente. Nos EUA alguém pode estranhar um texto em língua inglesa usando estilo brasileiro, assim como no Brasil alguém pode estranhar um texto em língua portuguesa usando o estilo de Chicago. Esse “estranhar” da parte de quem lê pode variar entre, num extremo, um desconforto motivado pela aversão ao incomum e, no outro extremo, a sensação de que quem escreveu é incompetente. Para evitar esse segundo extremo, que é mais dramático, acho que vale aqui adotar uma abordagem flexibilidade–consistência: com flexibilidade, cuidar para usar em cada contexto o estilo apropriado e, com consistência, usar apenas um estilo em cada contexto.

Pra onde vai o tempo?

Não é nenhuma novidade a ideia de que o tempo é a commodity mais valiosa do mercado atualmente. Desde que cheguei a NYC – mas em especial nas últimas semanas – essa ideia ficou ainda mais clara para mim.

Nos meses em que morei em São Lourenço, eu não valorizava tanto o meu tempo, porque ele me parecia tão abundante comparado aos poucos compromissos que eu tinha. Então cheguei a NYC e tudo mudou. Tudo suga tempo: os estudos, a socialização, a cidade, as tarefas rotineiras. Logo percebi que o tempo não seria suficiente para tudo o que eu gostaria de fazer. E isso só se agravou à medida que eu percebi que o tempo nem de longe era suficiente para tudo o que eu deveria fazer.

A diferença entre o que eu gostaria de fazer e o que eu deveria fazer pode ser considerada bastante subjetiva, claro, porque afinal de contas sou eu mesmo o responsável por definir minha estrutura de prioridades. Assim, cabe a mim mesmo definir o que eu deveria fazer (e que, portanto, deve ter prioridade) e o que eu gostaria de fazer (e que, portanto, ficará para quando sobrar tempo – ou seja, para momentos de baixa no preço da commodity). O grande problema foi que passei a perceber que o tempo nem (ou mal) basta para as atividades de altíssima prioridade – uma superinflação da commodity!

No dia 15 fui a um workshop de gerenciamento do tempo, coordenado por um psicólogo da NYU. O título do evento, muito sugestivo, era “Where does the time go?” (“Pra onde vai o tempo?”). O workshop, que surpresa!, não deu nenhuma dica milagrosa, do tipo “como fazer com que o seu dia de 24 horas renda como se tivesse 48 horas”. O ruim do workshop foi perceber que eu já faço muita coisa para otimizar meu tempo (o que me deixa pouco espaço para melhorar): preparar “to do lists” (listas de afazeres) com prioridades e metas, superestimar o tempo necessário para cada projeto, manter uma agenda. O bom, claro, foi perceber que ainda há algum espaço para melhorar: ser menos perfeccionista, procrastinar menos, aprender a dizer “não”.

Por essa eu não esperava

Preliminarmente, devo um esclarecimento sobre minhas tentativas de bolsa. O esclarecimento é devido porque, na semana passada, conversando pessoalmente com leitores do blog, ouvi de muitos que não ficou claro que a dinâmica em São Paulo e a entrevista por telefone NÃO faziam parte da mesma seleção de bolsa. E, se o leitor diz que não está claro, é porque não está! Aí vamos:

  • Seleção A: eliminado depois da dinâmica de grupo em São Paulo;
  • Seleção B: entrevistado por telefone;
  • Seleção C: ainda na etapa inicial (documentação enviada); sem resultados parciais até agora.

Ok, melhor que fique tudo assim, desidentificado…

No mérito… fui chamado pra dinâmica de grupo da Seleção B! Por essa eu não esperava; não depois disto. Não é que eu tivesse perdido completamente a esperança – eu só não fiquei todo esse tempo naquela escravidão obsessivo-compulsiva do F5. Acho que, enfim, consegui relaxar, no melhor sentido da coisa – o que é bom, afinal de contas! Relaxei tanto que nem me lembrei da data provável de divulgação dos resultados parciais, e que recebi com total surpresa a comunicação de que fui selecionado.

Talvez seja um sinal de que estou progredindo na minha habilidade de confiar no Papai do Céu. (Mas melhor não “relaxar” muito quanto a essa habilidade; preciso continuar treinando!)

9 dias pra pensar em 9 meses

Nos nove últimos dias, depois de ter sido lançado ao topo da pilha do descarte, fiquei pensativo. Vendo as chances de bolsa escaparem uma a uma – bah, até agora escapou só uma das três a que estou concorrendo, mas, como bom pessimista, tendo a pensar que “uma” é apenas a primeira de “uma a uma”…

Enfim, depois de ver uma das chances de bolsa escapar, estive pensando nos desafios pelos quais tenho passado para chegar aos nove meses do mestrado na NYU (08/2009 a 05/2010), que eu tanto quero fazer. Claro que nessas reflexões pintou aquele tantinho básico de frustração, de sensação de fracasso; um “L” gigante na testa, o qual infelizmente não era de Law nem de Legum Magister.

Mas aí voltei à minha terra natal pra ser padrinho de casamento do casal Fê e Rafa, dos quais (como pessoas, como amigos meus e como casal!) sou um grande fã. Nessa oportunidade encontrei vários outros amigos preciosos, conversei com muitos e obviamente me aconselhei com eles sobre o assunto de ir ou não ir a NY. Tudo isso me fez muito bem. Aos que me aconselharam ou simplesmente conversaram comigo e que estão lendo este post – vocês sabem quem são! -, meu sincero obrigado.

(Foi praticamente uma maratona de conversas e aconselhamentos, e isso que nem era minha intenção atormentar a todos com o meu dilema. O assunto simplesmente surgia, uma hora ou outra, e aí perdurava por um bom tempo. Compreensível, claro, porque chega a ser um problema físico, de diferença de pressão: minha cabeça está tão cheia e inchada desse assunto que, quando abro a boca, ele escapa.)

Quando voltei pra casa, no início da semana, fiquei meio deprê, down, low (além de gripado). Assisti ao filme “O Pianista” (não, eu ainda não tinha visto) e chorei como nunca por causa de um filme. Outro dia inventei de assistir a Party of Five e, pelo mais puro acaso, peguei o episódio 14 da temporada 3, “Life’s Too Short” (na dúvida, *spoiler alert*, mesmo em se tratando de episódio que foi ao ar em 1997, de série que já terminou!). Nesse episódio, a Libby (em alguns aspectos intelectuais, uma versão minha de saias) comete suicídio depois de ser aceita pela Harvard University, alcançando o objetivo pelo qual tinha lutado tão arduamente, mas ao mesmo tempo enfrentando um invencível medo de fracassar, de não corresponder às expectativas de todos à sua volta, de “nunca ser como uma daquelas pessoas felizes, bem-sucedidas e populares que aparecem nas fotos do catálogo da universidade”, como ela escreveu no seu diário. É, sortear justo esse episódio não ajudou muito.

Felizmente, nos dias seguintes fui melhorando, porque minha gripe foi passando aos poucos (hoje estou quase curado), e também porque li um livro bom (“Dias Melhores Virão”, de Max Lucado; o título é sugestivo, mas não é autoajuda barata; é autoajuda com fundamento bíblico!), e finalmente porque passei a conversar mais com Deus a respeito de NY. Às vezes é difícil entender o que Ele quer de nós, porque as respostas dEle não são necessariamente bilhetinhos com a palavra “sim” trazidos por borboletas até o nosso travesseiro numa manhã de sol depois de uma noite de sono restaurador – nem trovoadas retumbantes que gritam “não” por semanas na nossa cabeça para garantia de que tenhamos entendido a mensagem. As respostas podem ser (e acho que geralmente são) bem mais sutis.

Não sei e não tenho muito como saber se entendi direito, mas o que entendi é que devo ir. Se fui aceito justo para o programa de mestrado que eu mais queria, e se tantas coisas até agora deram tão certo (tudo, aliás, deu certo até agora, à exceção das bolsas!), só posso interpretar que recebi um “sim”. Então estou “decidido” a ir, com ou sem bolsa.

Estar “decidido”, porém, não significa que eu tenha “aceitado” bem a ideia. Pedir um empréstimo tão grande para bancar estudos avançados pode assustar um pouco quem ainda está num clima de pós-formatura (vezes dois!), sem ter certeza de que aprendeu mesmo alguma coisa em todos esses anos de estudo nem de que um dia vai ter um salário razoável. Mais, é chocante para alguém que estudou a vida inteira em escola pública saltar para a maior instituição privada de ensino superior dos Estados Unidos, numa das cidades mais caras do mundo. Por outro lado, sei que empréstimos estudantis são bastante comuns por lá e não tenho dúvida de que valham a pena como investimento.

Não tenho o mesmo medo do fracasso que tinha a Libby de Party of Five. Posso não alcançar A+ em tudo nem sair do Mestrado como primeiro lugar da turma, mas sei que, com a dedicação que vou empregar aos estudos, vou conseguir me dar bem no curso e alavancar minha carreira através dele.

Já quanto ao medo de não conseguir saldar (ou pelo menos não tão cedo) os empréstimos, esse medão que sempre me faz engolir em seco, é isto: preciso aprender a administrá-lo. Talvez seja apenas uma enorme questão de depositar mais confiança em Deus. Racionalmente é bem fácil: reconheço que até hoje não tive motivos para não confiar nEle; por experiência e por fé, sei que no futuro, se eu fizer a minha parte (trabalho árduo e sacrifícios de consumo), Ele tampouco me deixará na mão. Na prática, claro, é mais difícil; assim mesmo, com o tempo, hei de conseguir.

(Esses posts epifânicos são superpropícios a comentários. Aliás, eles gritam desesperadamente por comentários. Prometo tentar não ficar triste se ninguém comentar; por outro lado, garanto que ficarei bem feliz se alguém comentar.)

Dez minutos

Primeira entrevista em processo seletivo de bolsa de estudos. Foi informal, tranquila… só que durou dez minutos, sendo que deveria durar 30 ou 40. Tudo bem, disseram que os documentos que enviei na inscrição estavam bem claros e que por isso não restavam muitas dúvidas. Enfim, não foi péssimo nem fui eliminado preliminarmente, mas sinto que estou cada vez mais distante de receber dindim pra estudar na NYU.

Parece que sou o contrário do que se espera de um bolsista. “Perfil acadêmico, então?”, com certo tom depreciativo. “Recém te formou na faculdade e já quer uma pós-graduação?”, meio que rindo. “É, isso aí”, respondi, e pensei, “putz, isso não era uma coisa boa?”.

Aparentemente não. Aparentemente essa história de qualificação acadêmica está fora de moda – e eu que achava que graduação era apenas o mínimo da decência! Aparentemente eu teria que entrar no mercado logo após de me formar, ganhar experiência profissional, e só então tentar uma pós-graduação.

Afinal, o que importa é trabalhar (no meu caso, advogar ou “economizar” pra gente grande) e ganhar dinheiro, porque só assim se mostra empreendedorismo e competência e liderança. Excelência acadêmica em duas graduações, pesquisa e extensão, estágios no exterior, serviço público, preocupações ambientais… naaah.

Desculpa, Mundo, mas minha trajetória foi diferente. Aliás, acho que não teria sido aceito na NYU se não tivesse sido. Eu até poderia ter sido “empreendedor” em vez de CDF, mas acho que teria fracassado (em algum ou em ambos) se tivesse tentado ser ambos ao mesmo tempo. Ademais, agora a Inês é morta: desde sempre “optei” pelo cedefismo (“optei”, entre aspas, porque talvez não tenha tido opção). Se essa foi a “opção” errada pra quem viria a postular uma bolsa, acho que vou ter mesmo que me endividar pra bancar a NYU.

Ou desistir, e trabalhar pra ganhar muito dinheiro e “experiência profissional” e pra me tornar um líder empreendedor e competente. E talvez mais tarde tentar de novo um mestrado na NYU ou noutra universidade. E talvez fracassar, porque terei perdido o “perfil acadêmico” que eu tanto valorizei e que lutei pra construir e que agora desprezam. E talvez me arrepender de não ter feito o que eu queria (estudar na NYU, nestes tempos) pro resto da vida. Que é uma só. Que desperdício. É, acho que vou ter mesmo que me endividar.

Duas dúzias incompletas

Em fevereiro fui com minha irmã Lu e alguns amigos a um show da Alanis Morissette em Porto Alegre. A verdade é que eu conhecia pouco de Alanis – pouco além do básico, que a maioria das pessoas já ouviu na rádio –, embora já gostasse do pouco que conhecia. Comecei a ouvir mais e a gostar ainda mais por causa do show.

E foi assim que ouvi pela primeira vez Incomplete, a última música do último CD da Alanis, Flavors of Entanglement. Se por um lado a música fala do incompleto, por outro ela está repleta de significado. A letra me encantou tanto – tudo a ver com coisas que tenho pensado e vivido – que resolvi fazer uma paráfrase, contendo minha interpretação e a expressão do tanto dessa música que absorvo como sentimentos meus, iguais ou análogos.

Tenho preparado a reflexão a seguir nas últimas semanas, de a pouco, mas resolvi deixar para postá-la só hoje, véspera de completar duas dúzias de anos de vida – um dia perfeito para colocar no ar algumas conclusões incompletas acerca da minha própria incompletude.

* * * * *

Duas dúzias incompletas

Um dia,

serei um bom amigo,
e conseguirei retribuir à altura a amizade dos bons amigos;

serei autoconfiante,
e não mais me importarei com o que pensam ou dizem de mim;

minha mente estará em paz,
e não mais terei medo da vida e dos seus desafios;

não terei pressa alguma,
e me deliciarei com as experiências da vida, uma a uma;

serei autêntico,
e pensarei, falarei, cantarei e escreverei com plena liberdade;

terei reconhecido meu valor intrínseco,
e serei avaliado para além do meu currículo;

saberei aceitar meus erros,
e serei mais tolerante quanto aos erros dos outros;

serei empático,
e em troca, sem me dar conta, receberei mais simpatia;

estarei curado,
e aprenderei a suportar feridas e a perdoar com facilidade;

estarei pleno de fé,
e isso será perceptível, e aproveitará a todos ao meu redor.

Um dia,
terei o privilégio de encontrar Deus pessoalmente,
e ficarei eternidades conversando face a face com Ele,
e tirando dúvidas sobre tantas coisas que nunca entendi.

Sempre batalhando e crendo,
Sempre arriscando e confiando,
Sempre aprendendo e melhorando,
mas nunca pronto.

Tenho corrido e suado tanto, durante toda a vida, sempre ansiando por uma linha de chegada.

E nesse tempo todo tenho deixado de aproveitar o entusiasmo de ser sempre incompleto.

* * * * *

Para ouvir e ver Alanis cantando Incomplete, aí vai um vídeo do youtube (vale ressalvar que eu prefiro a versão do CD!).

Incomplete

Alanis Morissette & Guy Sigsworth

One day, I’ll find relief
I’ll be arrived
And I’ll be a friend to my friends who know how to be friends

One day, I’ll be at peace
I’ll be enlightened
And I’ll be married with children and maybe adopt

One day, I will be healed
I will gather my wounds, forge the end of tragic comedy

I have been running so sweaty my whole life
Urgent for a finish line
And I have been missing the rapture this whole time
Of being forever incomplete

One day, my mind will retreat
And I’ll know God
And I’ll be constantly one with her – night, dusk and day

One day, I’ll be secure
Like the women I see on their 30th anniversaries

I have been running so sweaty my whole life
Urgent for a finish line
And I have been missing the rapture this whole time
Of being forever incomplete

Ever unfolding, ever expanding
Ever adventurous and torturous
But never done

One day, I will speak freely
I’ll be less afraid
And measured outside of my poems and lyrics and art

One day, I will be faith-filled
I’ll be trusting and spacious, authentic and grounded and whole

I have been running so sweaty my whole life
Urgent for a finish line
And I have been missing the rapture this whole time
Of being forever incomplete

© Sigasong Ltd; Szeretlek

Momento de epifania

Quando me perguntam como anda a vida em São Lourenço (o que é mais ou menos frequente), minha tendência é elaborar longas explicações. Hoje acho que enfim encontrei uma resposta curta e suficiente.

Ah, tem muitas vantagens e também muitas desvantagens, mas o balanço é positivo. Afinal, cada um é responsável por forjar seu jeito de ser feliz, não importa quando nem onde. 😉

Essa vai ficar na área de transferências, para eventuais Ctrl+C Ctrl+V.

Boicote ao dia dos bobos (ou da mentira)

Sempre odiei o primeiro de abril, por várias razões.

Primeiro, porque mentir é do demo (o pai da mentira) – é feio e pronto.

Segundo, porque sou ingênuo – vítima fácil para as sacanagens típicas do dia.

Terceiro, porque não minto (mentir é do demo, lembram?) e, mais do que isso, prezo muito a minha credibilidade – fico de cara quando as pessoas não acreditam no que eu digo. Então postar pra quê? Pra depois ninguém acreditar no que eu contar? Nada disso. Hoje é dia de boicote no blog do Guri. Voltaremos amanhã (não é mentira; podem voltar pra conferir).