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Como (não) escrever um artigo científico

Durante um chat com GabrielaZ, a mais nova webjornalista (agora oficial) do pedaço, sobre o rigor acadêmico (?) de certas publicações na área do Direito, recomendei a ela o livro Economical Writing, que já comentei aqui e que trata muito bem (na minha modesta opinião) sobre escrita de artigos para a academia. Nesse belo intercâmbio, a Gabi mandou o link para este “artigo científico” aqui – uma abordagem bem-humorada sobre tudo o que o Economical Writing combate, mas que infelizmente acontece direto no mundo editorial acadêmico. Vale a pena conferir!

O último recesso

Como é fácil ficar sem postar… muito mais fácil que manter a postância, sem dúvida! Agora, vamos e venhamos: nos últimos dias a coisa não foi mole, então estou plenamente justificado (eu sempre aceito minhas próprias justificativas, porque são sempre tão convincentes!). Tive três provas semana passada e a última ontem, pra hoje finalmente entrar no tão-esperado recesso de inverno, tanto no Direito quanto na pós em Direito Ambiental. É hora de dizer basta, pelo menos até o fim do mês, e pelo menos quanto a aulas, provas e seminários. No mais, pouco muda: monografias por traduzir ou finalizar, artigos por escrever, livros por ler e estudar. E ¡viva la vida!

O interessante é que desde o último post se completaram muitos marcos do ano. Já se passaram três meses do fim do meu estágio nas Nações Unidas, que também durou três meses – ou seja, a distância a que estou dessas minhas (últimas) memórias (mais felizes) é tão grande quanto a própria duração dessas memórias, o que é gravíssimo, mesmo sem eu saber explicar direito por quê. Além disso, terminou o primeiro semestre, tanto no calendário civil quanto no acadêmico, e o grande estouro de 2008 ainda não aconteceu pra mim – ou pode ser que se tenha realizado durante os três meses que ficaram pra trás dos três últimos meses e que mesmo assim eu não queira admitir que nada de muito mais vai acontecer ainda em 2008. (Sempre há uma interpretação alternativa!)

Nesse falecido semestre de 2008/1, o mais matado da minha vida acadêmica (mês de março = 25% de ausência no semestre), passei deslizando por tudo sem dificuldade. Ainda que o ano passado tenha sido o quinto dos infernos, infelizmente não dá pra dizer que o último ano da faculdade de Direito seja o paraíso; não por excesso de trabalho… antes o inverso! Nas disciplinas, mais perda de tempo que exigência. De outro lado, enquanto alguns colegas andam às voltas com a elaboração de suas monografias de conclusão, a minha vai muito bem, obrigado: faltam apenas ajustes finais sugeridos pelo orientador. (Bom, é a minha terceira monografia em um ano e meio… eu tinha mesmo que ter aprendido alguma coisa nessa trajetória, né?)

O que mais me alegra nesse recesso de inverno, e até ameniza o fato de que essa época não tá com cara de inverno, é que finalmente tenho não “tempo livre” de verdade (acho que isso não existe), mas sim um pouco de liberdade na alocação do tempo. Não ter de freqüentar aulas tem seu lado maravilhoso. Posso me dedicar mais aos dilemas da vida – ao tratamento do fenômeno 7+2=9, por exemplo. Posso até ir à faculdade, mas pra coisas mais produtivas, como ler, pesquisar e escrever na biblioteca…

Não adianta, mesmo: não consigo ficar muito longe da vida acadêmica. Contei um pouco desses meus planos pro recesso a uma prima que está no início do curso de Direito. Ela me respondeu, não sem um pouquinho de indignação: “ISSO SÃO FÉRIAS?! Eu não quero chegar no fim da faculdade, heeein…“. Mas é assim – pelo menos pra mim é. Depois de quase onze anos de universidade, como costumo brincar (4 na Economia, 5,5 no Direito e 1 em Direito Ambiental!), estudar é o que eu melhor sei fazer, no fim das contas… Meio patético, até.

7 + 2 = 9

Os leitores que costumam (costumavam?) visitar o blog mesmo durante os períodos de postância nula podem ter entendido, com base no último post, que eu teria de fato desistido dos estudos de Direito para seguir uma carreira de músico. Mas não: infelizmente não foi isso.

Aliás, se é que foi alguma coisa, foi justamente o contrário disso. Digamos que, “de volta ao Brasil e à minha rotina universitária sem-graça”, fracassei no meu desafio, descrito neste post aqui (À propos, ¡disculpame, Vir!).

Se serve de consolo, estou vivo. Será mesmo? Depende da concepção de vida de cada um. No momento, minha vida anda um pouco em descompasso com o que eu gostaria de fazer dela, ou com o que eu gostaria que ela fosse, ou com o que eu acho que ela deveria (idealmente) ser.

Tudo é culpa do fenômeno 7+2=9. Não se trata de nenhuma fórmula matemática mágica: é só um esqueminha pra decorar que dia sete (7) de fevereiro (2) de 2009 (9) é a data da minha formatura em Direito.

E o fenômeno esse é culpado pelo meu estado descompassado porque se trata de um daqueles momentos que definem a história: a.F. e d.F., se é que me entendem. Muitas decisões importantes precisam ser tomadas até lá, ainda durante a pré-história, porque, quando começar a história, pode ser tarde.

Até aí, tudo bem. É natural que transição demande decisão. O problema é que a pré-história anda passando rápido demais e o que eu menos tenho é tempo para tomar essas decisões. Aliás, seria bom se tivesse pelo menos tempo para pensar a respeito delas! E a cada vez que sinto o tempo (escasso passar), tenho a impressão de que desperdicei a pré-história.

(Pra completar, ainda inventaram de dizer por aí que eu fiquei mais velho. Uma injúria, diga-se de passagem. Ou seria difamação?)

E era isso: postei. Voltei a postar? Sei lá. O dia de amanhã (ou depois de amanhã, enfim) é que o dirá. Até lá, sigo vivendo. Ou não?

Um pulinho no Palácio da Paz?

Quando cheguei ao Secretariado hoje de manhã o sistema estava fora do ar e fiquei sem Internet até a hora do meio-dia. Percebi (mais uma vez) como a humanidade se fez dependente de Internet, e como isso tem o seu lado triste!

Assim que voltou a conexão, continuei a seleção bibliográfica para o meu paper, tarefa que eu já vinha desenvolvendo mais ou menos desde o início do estágio. Eu precisava pedir o quanto antes os livros e artigos acadêmicos que pretendo utilizar na pesquisa (e que não estão na biblioteca do Secretariado), para para que o Secretariado peça emprestado a alguma biblioteca com a qual tenha convênio. Consegui terminar hoje uma seleção inicial, e mandei a lista para a bibliotecária. Ela deve ter ficado em choque diante do grande número de obras, tanto que nem me respondeu ainda, mas eu não tenho culpa de nada: foram instruções da minha supervisora! 😉

Um dos principais aspectos positivos deste estágio, do qual eu sentirei falta no primeiro dia de aulas na Faculdade de Direito assim que voltar ao Brasil, é o acesso à literatura. Tudo bem, a coleção da biblioteca do Secretariado é bastante rica na área de Direito Ambiental Internacional e, claro, mudança climática. Mas o que eu não consigo obter por aqui eu tenho pelo menos a chance de conseguir na biblioteca da Universidade de Bonn, ou na de Colônia…

E ontem me veio a melhor das idéias: onde no mundo haveria mais livros de Direito (Ambiental) Internacional que a biblioteca da Corte Internacional de Justiça, na Haia, Holanda? Não é assim tão perto daqui, mas tampouco tão longe; além do mais, a CIJ é um órgão da ONU, e como estagiário da UNFCCC eu poderia mais facilmente conseguir um empréstimo. Pra completar, minha irmã foi a trabalho para Rotterdam, na Holanda… hoje!

Cheguei a sugerir a idéia para minha supervisora hoje de manhã, e ela disse que talvez fosse possível dar um pulinho no Palácio da Paz (sede da CIJ) e retirar livros, desde que o Secretariado avisasse com uma certa antecedência sobre a visita do estagiário aqui. Não foi desta vez: não tive a antecedência necessária, e por isso não pude aproveitar a carona com minha irmã. Mas quem sabe até o fim de março…? 😉

O fim do quinto dos infernos

Desde o início do curso de Direito, os meses de novembro têm sido bastante conturbados para mim. Além das provas finais, parece que sempre acontece alguma coisa pra complicar. Por exemplo: em 2005, a seleção, os preparativos e a conferência do clima no Canadá; em 2006, o semestre mais difícil no curso de Economia e a cirurgia de remoção de um calo ósseo no pé (ninguém merece).

Este ano, novembro foi conturbado como sempre e marcou o fim do quinto dos infernos: o mais difícil (até agora) no curso de Direito, conjugado com o fim do primeiro semestre da pós em Direito Ambiental. Ainda assim, o encerramento foi em grande estilo. Já no primeiro dia do mês, fui chamado para um estágio de três meses no Departamento Jurídico do Secretariado da ONU para o Clima, em Bonn.

Vencida uma angustiante batalha (de toda a família!) por um visto de estagiário, cheguei à Alemanha hoje, 08/12. O atraso na emissão do visto fez com que eu perdesse uma semana de férias em La Plata, onde teria visitado meus amigos Enri y Virginia. Mas o resto dos planos não foi prejudicado:

12 a 22/12: viagem ao Reino Unido com o amigo Shaun, que conheci na conferência do clima de 2000;

Natal: com meus pais, irmã Ca e cunhado Volker, na cidade onde eles moram, em Untershausen;

Ano Novo: com toda a família em Lisboa, ora pois!

Sempre com algum atraso (como é típico, hehe), pretendo publicar relatos e fotos dos passeios, já que muitos amigos me pedem notícias. Por mais que eu gostaria de escrever a todos, infelizmente não há tempo suficiente… E assim também aproveito para resgatar meu blog do prolongado standby dos últimos tempos. O quinto dos infernos terminou, e 2008 promete. 😉

Uma revolução redacional

Não pretendo em um só post recuperar o atraso do blog, mas desde já faço a advertência: isso pode muito bem acontecer. Este texto resulta de uma profunda reflexão que tenho feito desde que reli um livro realmente transformador: Economical Writing, da Dra. Deirdre McCloskey. Podes parar de bocejar: mesmo que Economia não seja tua praia, o livro tem muito mais de Writing que de Economical. Aliás, na minha opinião deveria chamar-se Academic Writing, ou, sem querer exagerar na abrangência, Writing.

A lição do livro serve para qualquer pessoa, já que escrever bem deveria ser o objetivo de qualquer pessoa. Tudo bem que o público-alvo é o escritor de língua inglesa, e que justamente por eu estar escrevendo um artigo em inglês ao ler o livro acabei aproveitando mais a lição, mas farei aqui apenas comentários que na minha opinião valem para qualquer idioma ou até, de novo sem querer exagerar na abrangência, em qualquer forma de comunicação.

“Escritores amadores acham que escrever é um traço de personalidade, e não uma habilidade.” (p. 1)

Já pensei assim, e talvez também penses. Mas vejamos: escrever não é simplesmente um dom que as pessoas têm. É muito mais transpiração (prática) do que inspiração (talento). É muito mais questão de ter conteúdo e vontade de exprimi-lo do que de ter uma capacidade extraordinária para expressar idéias por escrito. Todos somos falantes competentes da nossa língua. Às vezes o que nos falta para escrever bem é apenas um pouco de domínio sobre aspectos técnicos da língua escrita, e isso só a prática ensina.

“Escrever é pensar. Não aprendes os detalhes de um argumento até que o escrevas em detalhe, e em escrever os detalhes descobres falhas nos fundamentos.” (p. 7)

Fica até difícil comentar essa colocação, porque é auto-explicativa! Muito bem escrito e verdadeiro. Por esse e outros motivos eu digo que esse livro é o máximo!

“Diz o que que vais dizer; dize-o; e depois diz que o disseste.” (p. 11)

Enquanto McCloskey simplesmente abomina essa regra, nós a ouvimos até de professores de Língua Portuguesa ou Redação e de Metodologia da Pesquisa. Para constatar que muita gente leva essa regra a sério, basta ler alguns trabalhos científicos e até livros didáticos (mesmo de ensino superior). Há quem não se canse de repetir a mesma idéia expressa de outra forma. Alguns escritores têm prazer em dizer a mesma coisa em outras palavras. Só para garantir que o leitor entenda, reformulam frase após frase…

Pronto, pronto, já entendeste bem o que eu quero dizer: repetição cansa o leitor! Como é que tem gente que não se dá conta disso? Ah, se fosse só disso que não se dão conta… Tem tanto mais na escrita acadêmica que deveria ser repensado. Queres ver?

“Notas de rodapé são ninhos de pedantes. Uma nota de rotapé deveria ser subordinada. É por isso que está no pé da página.” (p. 48)

Tenho professores que amam tanto as notas de rodapé a ponto de dizer que é nelas que deve estar a contribuição principal do autor: no corpo do texto, caberia apenas fazer um “diálogo” com a literatura já existente sobre o tema. Isso não faz o menor sentido para mim. Notas desviam a atenção do autor, porque quebram a fluência da leitura, especialmente quando colocadas no meio de uma frase. Gosto da regra da McCloskey: “Notas de rodapé deveriam guiar o leitor às fontes. E só” (p. 48). Talvez seja uma opinião radical demais, porque às vezes também acho difícil evitar uma nota explicativa… De qualquer forma, se as notas começam a tomar volume, é porque não têm importância meramente “subordinada”; nesse caso, merecem ser “promovidas” para o corpo do texto.

“Usa verbos, na voz ativa” (p. 70)

McCloskey sugere o uso de verbos na voz ativa e do imperativo (“usa verbos na voz ativa”) como substituto para a voz passiva (“verbos na voz ativa devem ser usados”). A tal da voz passiva, que a autora (des)qualifica de “covardia”, é a recomendação de vários manuais de normas técnicas, redação acadêmica e metodologia da pesquisa, inclusive o da universidade onde estudo. Mas, pra falar a verdade, ninguém pensa na voz passiva e ninguém fala na voz passiva. Muitos dos manuais autorizam a voz ativa, mas ainda em nome da impessoalidade, recomendam o uso da terceira pessoa do plural: “nós”. Agora, convenhamos: se sou autor único do texto, por que diria que “nós” fizemos isto ou aquilo? Na busca pela impessoalidade, pela imparcialidade, pelo distanciamento do pesquisador e tudo o mais, a academia acabou tornando-se um lugar onde se escrevem esquisitices.

“Evitar a Variação Elegante” (p. 56)

Variação Elegante é o uso de várias palavras com o mesmo significado – que muitos escritores usam e muitos professores recomendam com o fim de evitar repetições. Exemplo: “o autor”, “o eminente jurista”, “o doutrinador”, “o discípulo de Beltrano” – sempre para substituir o nome da pessoa, Fulano de Tal. McCloskey, no extremo oposto, chega a recomenda a repetição moderada de palavras, para manter a coerência do texto, usando às vezes pronomes oblíquos “para aliviar a monotonia” (p. 50). É uma solução melhor do que o perigo de, no fim das contas, o leitor nem saber mais a respeito de que estamos escrevendo (p. 56).

Outras dicas de McCloskey válidas para a escrita acadêmica

Não começar um trabalho acadêmico com aquela clássica encheção de lingüiça da “imaginação falida”: “Este paper…”.

Evitar a seção de “background”, “aquele material que coletaste e que depois descobriste que estava além do objetivo do texto” (pp. 36-37). Em outras palavras: manter o foco do texto; não divagar; excluir informações irrelevantes.

Pular o parágrafo-índice: “O presente paper está estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo…”. Dependendo da forma como se escreve esse parágrafo (e aqui me refiro também a “recapitulações” no início de novos capítulos), pode ficar mais fácil para o leitor localizar-se e ter uma noção de unidade do texto. Por isso eu relativizo esta regra…

Nunca repetir sem pedir desculpas: se julgares preciso repetir para reforçar ou relembrar um argumento, cuidado para não insultar a inteligência e a memória do leitor!

As REGRAS DE OURO ensinadas por McCloskey no seu livro são as duas seguintes, na minha opinião:

1) “Clareza é uma questão social, não algo a ser decidido unilateralmente por quem escreve. O leitor, como o consumidor, é soberano. Se o leitor acha que o que tu escreveste não está claro, então não está, por definição. Desiste de discutir.” (p. 12)

Por não entendermos isso, às vezes somos hostis às críticas de nossos leitores (involuntários revisores!)… Pensamos que está bem escrito e ponto, que se o leitor não entendeu porque é “limitadinho” intelectualmente, que ele não respeita o nosso “estilo”. Não, não, não: clareza não tem nada a ver com inteligência ou estilo. Nosso texto tem clareza, como bem ensina McCloskey, quando tem objetividade e fluência, isto é, quando o leitor (a “sociedade”) compreende o que escrevemos sem embaralhar-se.

2a) Lê, relê, trelê…

A autora dá uma dica para contornar o problema da falta de clareza: “Ler o que escreveste com frieza, uma semana depois de ter feito o rascunho, vai evidenciar partes do texto que nem mesmo tu consegues ler com facilidade” (p. 13). Aliás, também recomenda a leitura do texto em voz alta, para não usar palavras pomposas demais: “Tu ouves uma frase quando a lês em alta voz. É uma boa regra não escrever nada que terias vergonha de falar ao teu público-alvo” (p. 30). Mais adiante, diz ainda o seguinte: “Ler em voz alta é uma técnica poderosa de revisão. Lendo em voz alta, tu ouves o teu texto como os outros o ouvem internamente, e se teu ouvido é bom vais detectar os pontos ruins” (p. 68).

2b) … e reescreve!

“Escrita fácil produz leitura difícil. O Dr. Johnson disse há dois séculos: ‘O que é escrito sem esforço é em geral lido sem prazer’.” (p. 58). Revisar e reescrever é imprescindível. É o resultado da primeira idéia que expus neste texto (lembrando: escrever é uma habilidade, e não um dom) e da primeira regra de ouro (de novo: clareza é uma questão social, e não de estilo). É, enfim, um sinal de respeito ao leitor.

Se eu já era perfeccionista e um revisor compulsivo (de escritos próprios e alheios!), a releitura de Economical Writing me fez ainda pior. Ou melhor. Isso quem há de decidir é o leitor, que é soberano. Agora, uma coisa é certa: a literatura acadêmica muito se beneficiaria da aplicação das regrinhas simples expostas pela Dra. McCloskey. Haveria mais qualidade e interesse na ciência e no ensino-aprendizagem se houvesse mais qualidade na escrita. Encerro como comecei, “sem querer exagerar na abrangência”: teríamos um mundo bem melhor (pelo menos mais agradável para todos nós, leitores!) depois de uma revolução redacional.

Meu Dia

Ontem, 11 de agosto, foi o Dia do Advogado. Foi também o Dia do Pendura: segundo a tradição, os estudantes de Direito estão autorizados a ir em grupo a um restaurante e não pagar pelo que consomem. Duas observações importantes:

1) Digo que os estudantes estão autorizados a fazer isso porque, afinal, o costume também é fonte de Direito.

2) Muita gente, não entendendo muito bem essa história de costume e fonte de Direito, acha que o Pendura (sim, com letra maiúscula) é sinônimo de calote e que configuraria o crime de “Outras fraudes” (art. 176 do Código Penal). Não caiam nesse engano. O Pendura é um ritual erudito, com certa solenidade. Tomar uma refeição em restaurante sem ter os recursos para pagá-la – isso, sim, é crime.

Mas, de qualquer forma, este é meu quinto ano como estudante de Direito, e é o quinto ano em que não exercito meu direito de Pendura. Estou em crédito com os restaurantes de Pelotas. Um dia, essa dívida haverá de ser cobrada. Me aguardem.

Hoje, 12 de agosto, segundo domingo de agosto, é o Dia dos Pais.

Mas, embora seja biologicamente um pai em potencial, na realidade (ainda) não sou pai. Que eu saiba. [Risos!] Não, não, tô brincando: definitivamente não sou pai. Nem de um bichinho de estimação, que nunca tive.

Amanhã, 13 de agosto, é o Dia do Economista.

Mas, embora minha formatura em Economia tenha sido terça-feira passada, ainda não sou economista, porque ainda não tenho o registro no Conselho Regional de Economia. Enão, por favor, não me chamem de economista, pra não me arranjar confusão – dizer-se “economista” sem ter o registro é exercício ilegal da profissão.

Eu sou um quase-tudo: um quase-advogado, um quase-economista e um quase-pai. E como tanto faz dizer que o copo está meio cheio ou meio vazio, sou, ao mesmo tempo, um quase-nada. Eu protesto! Não quero ser um quase-nada, um infeliz, um sem-dia. Quero meu Dia.

Mas o calendário já contempla o meu triste caso: depois de amanhã, 14 de agosto, é o Dia do Protesto.

Sobrevivente

Desta vez eu me puxei na “paradinha de uma semana” desde a terça-feira de carnaval. Mas não vou pedir perdão, porque eu tenho suficientes desculpas para não ter postado ao longo de todo esse tempo. Por óbvio, a idéia de posts retroativos está rejeitadíssima, porque a essas alturas isso seria humanamente impossível. E, ao contrário do que alguns pensam, não sou alienígena. Mas pra justificar meu sumiço vou fazer uma breve retrospectiva. Breve. Prometo que consigo.

Neste meu último semestre no curso de Economia, a Universidade resolveu exigir cadeiras que, até então, diziam ser eletivas. E a exigência veio depois do período de matrículas, quando já não há muito o que fazer. Aí é pra enlouquecer qualquer um, né? E foi exatamente isso que aconteceu – enloquecemos, meus colegas e eu. (…) E essas reticências significam intermináveis MESES de sangue e suor e negociação com a coordenação do curso, a pró-reitoria de graduação, os registros acadêmicos, até a reitoria… em um processo administrativo que finalmente garantiu a oferta das disciplinas faltantes. Apesar dos percalços, tudo se resolveu.

Só que pra me formar, além das cadeiras, faltava a monografia. Primeiro, tive de traduzi-la (pra quem lembra, foi escrita originalmente em espanhol!) e finalizá-la. Tudo certo. Dia 30 de julho, fui aprovado (yay!), depois de uma banca de duas horas. Mas não foi uma tortura. Ao contrário – foi uma das minhas melhores experiências. Os professores elogiaram bastante o trabalho e eu não tive dúvidas de que valeu o sacrifício.

Mesmo enquanto ainda não tinha certeza de que as disciplinas faltantes seriam oferecidas e de que eu poderia me formar em 2007/1, eu me candidatei a uma pós-graduação: Especialização em Direito Ambiental, a área que eu pretendia seguir, desde que entrei no curso de Direito. E passei. Aí tive de pedir uma formatura interna às pressas (pra fazer pós-graduação, há quem diga que precisa ser graduado). Então tá, desde terça-feira sou Bacharel em Economia. E a matrícula na pós é hoje à tarde. Ufa…

Quando voltei supermegafeliz voltando da Argentina, nunca imaginei que tudo isso poderia acontecer em um só semestre, e um semestre tão decisivo. Nesse período eu li Hard Times, de Charles Dickens. E me parecia claramente que eu estava descendo a escadaria da Sra. Sparsit: a mighty Staircase, with a dark pit of shame and ruin at the bottom (“uma grandiosa Escadaria, com um escuro poço de desonra e ruína na sua base” – tradução livre).

Mas agora eu posso, finalmente, voltar a respirar tranqüilo. Nem acredito que consegui interromper a descida antes de chegar ao poço. Sobrevivi. E sou muito grato a Deus por isso – não teria sobrevivido não fosse pela força dEle. Por isso, quero reinaugurar a atividade de postagem neste blog-fênix com o meu LOUVOR reproduzindo um hino que a minha irmã Lu me apresentou um dia desses. É em inglês, mas já estamos trabalhando em resolver esse probleminha, né, Lu? 😉 Fabi, vamos cantá-la quando eu voltar ao coro? 😀 (Quem tiver banda larga está FORTEMENTE aconselhado a ouvir aqui uma linda versão da música!)

In Christ Alone

Letra e Música: Keith Getty & Stuart Townend

Copyright © 2001 Kingsway Thankyou Music

In Christ alone my hope is found;
He is my light, my strength, my song;
This cornerstone, this solid ground,
Firm through the fiercest drought and storm.

What heights of love, what depths of peace,
When fears are stilled, when strivings cease!
My comforter, my all in all—
Here in the love of Christ I stand.

In Christ alone, Who took on flesh,
Fullness of God in helpless babe!
This gift of love and righteousness,
Scorned by the ones He came to save.

Till on that cross as Jesus died,
The wrath of God was satisfied;
For ev’ry sin on Him was laid—
Here in the death of Christ I live.

There in the ground His body lay,
Light of the world by darkness slain;
Then bursting forth in glorious day,
Up from the grave He rose again!

And as He stands in victory,
Sin’s curse has lost its grip on me;
For I am His and He is mine—
Bought with the precious blood of Christ.

No guilt in life, no fear in death—
This is the pow’r of Christ in me;
From life’s first cry to final breath,
Jesus commands my destiny.

No pow’r of hell, no scheme of man,
Can ever pluck me from His hand;
Till He returns or calls me home—
Here in the pow’r of Christ I’ll stand.

Dia-a-dia na fundación

Na primeira semana, o trabalho foi tranqüilo, porque na fundação estávamos somente Horacio (el jefe) e eu. Basicamente lia, escrevia e às vezes atendia ao telefone. Há muita procura pelos cursos oferecidos pela fundação – culinária, cultivo de fungos comestíveis, hortas caseiras e coisas do estilo. Em uma semana e pouco consegui produzir bastante, de sorte que já tenho 20 páginas de meu potencial trabalho de conclusão de curso. Meu horário de trabalho se consolidou – das 8:30 às 19:00. Tenho minha própria mesa, onde posso ligar meu computador e usar internet banda larga, principalmente para minhas comunicações (com orientador, professores, família) e consultas bibliográficas.

(Foto que Horacio sacou sem me dizer, logo se vê – senão não estaria assim tão sério!)

Agora, minha segunda semana de estágio, a equipe da fundação começou a voltar das férias. A gentil secretária Mercedes, uma senhora que me ajuda a revisar o castellano dos meus escritos, e Martín, um rapaz que também estuda economia e que trabalha na mesma sala que eu, são os mais assíduos. Também Mae, uma das intercambistas estadunidenses, passou a trabalhar na fundação em um programa de conscientização e comprometimento ambiental de candidatos a cargos políticos.

A bem da verdade, sinto falta de um pouco de sossego para realizar minhas tarefas, que requerem bastante concentração – ler e escrever! Mesmo assim, é divertido ter companhia, e nosso ambiente de trabalho é bastante descontraído. Particularmente, gosto do senso de humor comedido (quero dizer, na medida certa) de Horacio, e também da companhia de Mae, que tem mais ou menos a minha idade e, como eu, algumas dificuldades de comunicação. O almoço preparamos nós mesmos – Mae, Horacio e eu. Isto é: estou aprendendo a cozinhar, inicialmente comidas bastante singelas, é claro. Na verdade, para mim toda a vivência aqui tem sido uma grande aprendizagem – que por certo não se restringe à economia da mudança climática!

Proyecto de investigación

No sítio da Fundación Biosfera, veja um breve resumo do projeto de pesquisa que estou desenvolvendo como estagiário do Departamento de Mudança Climática da instituição, aqui em La Plata, Argentina.