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Coisa de gente grande

Essa estória de fazer aniversário é brincadeira. Não, nem brincadeira é, porque já não sou criança pra ficar de brincadeira. Tenho compromissos sérios.

Um deles é ler com calma e atenção o Estatuto do Idoso, pra saber tão logo possível os direitos que muito em breve aplicar-se-me-ão.

Outra tarefa importantíssima é aprender a escrever, porque essa coisa de “aplicar-se-me-ão” não pode estar de acordo com qualquer norma de escrita. E, se estiver, é porque esse mundo tá mesmo muito torto.

Tô dizendo! “Esse mundo tá mesmo muito torto”? Frase de velho. Ok, apesar da decadência evidente, pelo menos ainda tenho autocrítica. Mais uma tarefa: mantê-la.

Como se vê, vários indicativos da maturidade surgiram do nada, subitamente interrompendo minha juventude. No último post eu ainda estava com duas dúzias incompletas de anos de vida, e agora as pessoas já me dizem que estou “rumando ao quarto de século”. Peraí, não mesmo. Nego peremptòriamente. (Ai, esses dias caiu o tal do acento subtônico, não é?)

O derradeiro indicativo do declínio, agora mais oficial do que nunca (depois de publicado no Diário Oficial da União, ninguém se atreve a dizer que não é oficial): fui aprovado em concurso público, do IPEA.

Fiquei no cadastro de reserva (décimo-oitavo de nove vagas). Tudo bem, porque sempre corro o risco de ser nomeado uma hora dessas, e isso seria ótimo. Afinal, preciso garantir a subsistência na velhice.

Tantos motivos para ter parado de postar

Não tem jeito, mesmo: sempre que volto a postar no blog do Guri depois de um tempo de hibernação, escrevo um postão com justificativas. Eu adoraria poder evitar isso (seja simplesmente não hibernando, seja não me justificando depois da hibernação!), mas (1) tem vezes que não dá pra postar e pronto, e (2) não tenho a cara-de-pau de voltar a postar así nomás, sem nenhuma explicação pros meus leitores.

Aliás, que leitores? Coitados – os mais persistentes fugiram de raiva nos últimos meses. Vamos ver se consigo me redimir, pelo menos por enquanto. Sabem como é – não foi a primeira hibernação do bdG, e muito provavelmente não será a última. Melhor assumir isso do que jogar tudo pro alto e desistir de ter um blog. Bem, eu poderia muito bem jogar tudo pro alto e desistir de ter um blog. Mas isso é outra coisa que eu não consigo fazer, e só porque eu gosto muito do meu bloguinho – embora isso não seja aparente todo o tempo, como nesses longos períodos de apostância (bah, isso existe? entenda-se!).

Tá, mas o que aconteceu que eu parei de postar? No primeiro semestre de 2008 eu estive muito triste, e acho que hoje entendo bastante bem o porquê. Resumindo, foi uma combinação de três ingredientes: um caminhão de saudade de um dos melhores períodos da minha vida (meu tão sonhado estágio nas Nações Unidas) mais uma pitada de frustração com meus cursos (Direito e pós em Direito Ambiental) mais um punhado de falta de perspectivas para o futuro (deprê pós-formatura da Economia mais deprê pré-formatura do Direito). Minhas atividades não me ocupavam nem me consolavam, só me faziam entrar em pânico por não ter absolutamente nada marcado na agenda de 2009 (como muito bem ilustrou Carol Grassi).

Então, num impulso de determinação (do tipo, “basta!”), criei uma pasta “2009” no computador e criei um label “2009” no meu gmail. (Podem acreditar: isso funciona; não é puramente simbólico.) Comecei a encher a pasta “2009” com as mais diversas subpastas: concurso para a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), concurso para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), projeto de dissertação para a seleção do Mestrado em Direito da UFRGS (também conhecida como “Úrguis”), processo de seleção para um emprego na World Resources Institute (WRI) em Washington, estudos para a prova de proficiência TOEFL, candidaturas para mestrados em Direito nos EUA

Em suma, dei tiros pra todos os lados. Se acertasse um pássaro, ficaria triste, porque sou pró-ambiente, mas assumi o risco: atirar era preciso. O segundo semestre de 2008 inaugurou um tempo de reorganizar a vida e os planos para 2009 e além, e não um tempo de postar. Vida e planos reorganizados, perdas e ganhos contabilizados, volto a postar.

A violação da regra zero

Em um de seus acessos criativos, o professor de Metodologia inventou três regras fundamentais para a elaboração de um projeto de pesquisa. A regra um é a de que “hipótese é tudo” – é o ponto de partida mais seguro. A regra dois, “faça a pesquisa para um marciano” – é preciso explicar tudo nos mínimos detalhes. E não há regra três. O que ele fez foi estabelecer uma regra-base tão primordial que veio a ser a regra zero: “não confunda projeto de pesquisa com projeto de vida”.

Há uma semana, tivemos uma aula tipo mesa-redonda para discutir as primeiras versões dos projetos de pesquisa. O meu pré-projeto foi aprovado sem ressalvas – o professor achou que é interessante e viável e que está corretamente elaborado. Fiquei feliz, é claro, mas uma coceirinha atrás da orelha persistiu…

Acho que violei a regra zero. Os colegas preocuparam-se em fazer projetos formalmente corretos, mesmo que não lhes despertem muito interesse. Quando não há envolvimento emocional, é fácil elaborar o projeto – é o que explica o professor. A coisa complica, segundo ele, quando colocamos no projeto muita paixão.

E é o meu caso. Meu projeto é sobre Direito Internacional, tema que já escolhi como provável alvo profissional desde meu ingresso no curso de Direito. Fiz o tal projeto com a disposição de levá-lo adiante, até mesmo para a monografia de conclusão de curso a ser escrita daqui a dois anos. Aliás, cheguei a fazer três projetos, todos de meu profundo interesse pessoal e profissional, e entreguei apenas um.

Será que fiz mal? Felizmente posso sair dessa enrascada potencial a qualquer tempo, porque estou livre para, se preciso, alterar o projeto de pesquisa. Seria, é claro, uma boa incomodação, acompanhada de perda de tempo. No fim das contas, é bem pra essas situações que servem as regras. Segui-las (neste caso, fazendo um trabalho sem grandes pretensões) ajuda a evitar incomodações. Vai ver que o meu problema está aí: parece que eu gosto mesmo é de me incomodar…

Só mais uma coisinha:

Um professor pode marcar muito a vida de uma pessoa. Comigo, isso aconteceu várias vezes; uma delas, aliás, já relatei por aqui.

Outro caso de professor marcante foi o de Direito e Economia, no primeiro ano do curso de Direito. Suas aulas me despertaram ainda mais o interesse pela Economia, para entender melhor o mundo. Foi então que comecei a cogitar a possibilidade de fazer algumas cadeiras de Economia em curso dois (ou três: já estava fazendo Jornalismo!).

Eu e meus meios pouco convencionais para a consecução dos fins pretendidos: em vez de fazer matrícula em uma ou outra cadeira do curso de Economia, resolvi fazer vestibular de inverno, meio ano depois da loteria vocacional. E passei. Comecei a fazer o curso, sem muita intenção de concluí-lo, na mesma idéia de ampliar horizontes, complementando a formação jurídica.

Só que não esperava gostar tanto. Então, só mais uma coisinha: Direito, uma pitada de Jornalismo e… Economia. Agora faltam apenas dois semestres para minha formatura. Vou acabar sendo economista antes que possa sonhar com a formatura em Direito, e muito antes de uma eventual (embora improvável) formatura em Jornalismo… Considero até me aprofundar em Desenvolvimento Econômico (Sustentável!) e trabalhar no ramo.

Não sei como cheguei a essa situação. Se algum tempo atrás alguém me dissesse que me formaria em Economia, minha reação mínima seria uma gostosa gargalhada. Poderia pensar em fazer Direito, Jornalismo, Letras, Música. Nunca estivera a Economia nessa lista de opções. Meus planos estavam em Direito Internacional Ambiental, Diplomacia Ambiental, Comunicação.

Daí se conclui que planejar demais não leva a nada, porque (1) today is where your book begins – the rest is still unwritten, mas principalmente porque (2) Quem está no comando da minha vida é meu Deus. Resulta inevitável lembrar, em face disso, que “muitos são os planos no coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor” (Provérbios 19:21). Ainda bem!

O vigor da minha juventude

Sempre tive muito pique, iniciativa. Vivo envolvido em diversas atividades. No ano em que estudava para o vestibular, dava aulas de inglês, regia um coro de música sacra e participava de eventos sobre mudança climática – cheguei a ir ao Rio duas vezes para isso. Tudo era perfeitamente conciliável com os estudos.

Depois que passei no vestibular e (que sacrilégio!) fiz o supletivo, comecei a estudar Direito e Jornalismo. Mas como eu queria porque queria meu diploma do CEFET-RS, continuei fazendo o ensino médio lá. Sim: Direito todas as manhãs, ensino médio todas as noites e, um dia por semana, uma longa viagem a Porto Alegre para cursar Lingüística no Jornalismo da UFRGS (quatro horas pra ir, duas horas de aula, quatro horas pra voltar). Continuei “ativista”.

Entrei de cabeça na Academia. O primeiro ano no Direito serviu para o meu verdadeiro encontro com as ciências humanas – eu estava no lugar certo! Minhas aulas na UFRGS, especialmente nos primeiros semestres, foram um contato com uma realidade incrível! A conclusão simultânea do ensino médio não foi tão emocionante… mas, no fim, eu fiz um discurso de orador de turma que talvez tenha sido o mais polêmico da história do CEFET-RS!

Não me resta dúvida: a correria valeu a pena. Eu continuo cheio de atividades, mas, não sei por que, não é mais a mesma coisa. Talvez falte um pouco da emoção do início: a novidade dos cursos universitários, a aventura da viagem semanal a Porto Alegre, a ousadia de um discurso inesperado e surpreendente.

Hoje, eu me sinto com sono, por vezes desmotivado e cansado. É difícil levantar da cama, algumas vezes, para ir assistir a uma aula desmotivante. As tardes passam voando e nem sempre consigo fazer tudo o que gostaria de ter feito – muitas vezes fico restrito ao que preciso fazer. Em semana de prova, principalmente, fico preso aos estudos e não consigo fazer o que é importante para mim – ler a Bíblia, ver e falar com minha família e meus amigos, escrever no blog, tocar flauta…

Não, não passou o vigor da minha juventude. Eu ainda tenho o vigor; continuo envolvido em um sem número de atividades. O problema é que, às vezes, as situações que o mundo impõe não me são muito favoráveis, não me interessam tanto como no passado.

Concluo afirmando minha consciência de que essas angústias são passageiras, repousando minha confiança em Deus. “Ele dá força ao cansado” (Isaías 40:29). Por fim, é preciso aprender a deixar no passado as coisas que já não cabem mais ou que pertencem ao passado e não mais ao presente. Isso é entender de fato que há tempo para tudo (Eclesiastes 3:1-8 – sugiro fortemente a leitura da passagem completa!):

Para tudo há uma ocasião certa;

há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu:

Tempo de nascer e tempo de morrer,

tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,

tempo de matar e tempo de curar,

tempo de derrubar e tempo de construir,

tempo de chorar e tempo de rir,

tempo de prantear e tempo de dançar,

tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las,

tempo de abraçar e tempo de se conter,

tempo de procurar e tempo de desistir,

tempo de guardar e tempo de jogar fora,

tempo de rasgar e tempo de costurar,

tempo de calar e tempo de falar,

tempo de amar e tempo de odiar,

tempo de lutar e tempo de viver em paz.

Mas o dilema não estava resolvido?

Apesar de todos os argumentos pela escolha do Direito, nenhum era forte o suficiente para que eu pudesse abrir mão da minha vontade de escrever, que já era inarredável. Então optei pelo Jornalismo. Também.

Fiz quatro das seis cadeiras obrigatórias do primeiro semestre do curso (Lingüística, Sociologia, Filosofia e Língua Portuguesa I), além de uma eletiva (Ecologia), ao longo de sete semestres letivos (falhando um ou outro). Para algumas dessas cadeiras, ia uma vez por semana a Porto Alegre; para outras, minha presença era meio real, meio virtual – ia a algumas aulas, mas entregava trabalhos por e-mail.

Estudar na Fabico foi uma experiência e tanto – enriquecedora e também esclarecedora. Posso dizer que estudei na UFRGS. Posso também dizer que sou 7,84% de um jornalista. E posso ainda dizer que isso não é pra mim. Não perdi a vontade de comunicar nem a admiração pela profissão do jornalista. Só cheguei a uma singela conclusão. Num belo dia, percebi que, se queria escrever, não precisava estudar Jornalismo – era só escrever!

Meus colegas da UFRGS vão se formar no fim deste ano. (Refiro-me aos meus primeiros colegas – vale lembrar que estou há vários semestres letivos no primeiro semestre do curso!) Gostaria de receber um convite para a formatura. Participando como espectador, talvez satisfizesse a partezinha de mim que gostaria de que eu fosse um dos formandos…

Prédio da Fabico
(Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS)
Os créditos devem ser do Núcleo de Fotografia

A arte de protelar

Compromisso é dívida: é neste post que conto como se resolveu o dilema – Direito ou Jornalismo? Direito, pelos fatos e fundamentos que passo a expor. (A minha necessidade de argumentar talvez seja o primeiro bom motivo para fazer Direito!)

Continuar morando em casa, na minha própria cidade, significava menos despesa e menos esforço. Comodismo, talvez; preguiça, não! Passei em dois vestibulares e persistia na vontade de dedicar-me aos estudos. Minhas irmãs, que se mudaram para Porto Alegre para estudar, não disseram que se arrependiam da decisão, mas me advertiram da complicação (talvez desnecessária) que isso significou na vida delas.

Além disso, depois de minhas experiências internacionais com mudança do clima, surgiu o interesse não só pelo Direito Ambiental, mas também pelo Direito Internacional e pela Diplomacia. O curso de Direito seria, naturalmente, o primeiro passo. Não que eu fosse um apaixonado pela advocacia, ou pelo Direito Civil, ou pelo Penal… não! Eu não queria me tornar um técnico jurídico – queria escrever!

Então fui cursar Direito, tendo em mente o que contou um bacharel que trabalhava com mudanças climáticas. Lembro-me das palavras dele: “Durante as aulas do curso de Direito, eu lia peças literárias por debaixo da classe” .

“Que espetáculo!” foi o que eu pensei. Sim, era isso o que eu queria: ser estudante de Direito, um curso que abre um vasto leque de possibilidades de trabalho e que serviria de trampolim para áreas que me interessam, mas não deixar de ler e escrever, não me deixar tornar um técnico jurídico. Ser estudante de Direito


A Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Pelotas,
sob nova perspectiva (de dentro para fora!)

The time of my life (?)

No último post da história de outrora e sempre ficou a deixa: E agora, José – Direito ou Jornalismo?Passei nos dois vestibulares: Direito na UFPEL, Jornalismo na UFRGS. Era preciso tomar uma decisão muito difícil.

Ainda mais difícil foi chegar a ter a oportunidade de tomar essa decisão. Primeiro, eu nem esperava passar, sinceramente. Por causa de greve no CEFET-RS, escola onde fiz o ensino médio, ainda me faltava o conteúdo metade do terceiro ano. Passei no vestibular, mas havia outro problema: como fazer a matrícula na universidade sem o certificado do ensino médio? A universidade não flexibilizou, como em anos anteriores, para as vítimas das greves federais.

Restavam algumas saídas. Uma delas era pleitear na Justiça a matrícula na universidade, uma brincadeirinha jurídica antes mesmo de entrar no curso de Direito. Em outros anos o Judiciário havia concedido medida liminar para permitir o ingresso dos alunos. Mas havia sempre o risco de que outros classificados no vestibular, já formados no ensino médio, alegassem seu melhor direito à vaga.

Outra solução possível era fazer um supletivo, concluindo o ensino médio a tempo da matrícula. Era a opção de menor risco. Lá fui, com uns outros doze bixos avessos ao risco , para o supletivo. Afirmo o seguinte, cuidando para deixar claro que não pretendo desmerecer quem estuda em supletivo: foi a época mais inglória da minha vida. Já aprovado no vestibular, estava, com os colegas, enclausurado horas e horas por dia em uma sala abafada e úmida do escaldante verão pelotense, estudando e fazendo trabalhos e provas da matéria de um semestre condensado em um só mês. Quase um Sacrilégio.

Todos fomos aprovados no supletivo (!) e tínhamos em mãos o certificado do ensino médio poucos dias antes da matrícula, mas a dor daquele janeiro será difícil apagar da memória. A solidariedade e a amizade persiste entre muitos dentre nós, os supletivados, até hoje, apesar da diferença entre os rumos acadêmicos.

Três dos supletivados, em recente e emocionante reencontro:
Luciana, a turista (Turismo); Renata e Martin (Direito, ambos na mesma turma).

De posse do certificado e abraçado na possibilidade da matrícula na universidade, não havia mais desculpa: E agora, José – Direito ou Jornalismo? A solução do dilema, garanto, virá no próximo post…

A loteria vocacional

Tendo estabelecido que eu não sou o máximo, posso dar seguimento àquela que um dia foi a narrativa de ontem e que, como percebem os leitores mais assíduos desse blog, pode muito bem ser chamada de a narrativa de outrora… e sempre.

A partir da minha seleção para a primeira conferência da ONU sobre o clima com participação jovem, quando estava ainda no primeiro ano do Ensino Médio, tudo mudou drasticamente. O contato direto com a mídia européia durante a conferência me fez pensar sobre a qualidade (nem sempre muito boa) da informação que se publica(va) no Brasil a respeito das mudanças climáticas. Estudando cada vez mais o tema, passei a escrever artigos para alguns jornais. Minhas atividades de escrita deixaram de ter um fim em si mesmas; passei a escrever tendo por fim a conscientização ambiental.

No ano seguinte (2001) fui convidado para a continuação da mesma conferência. Nessa oportunidade, tive mais uma boa dose de mídia. E mais: estabeleci contato com o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) e passei a atuar como uma espécie de consultor jovem. Escrevi uma cartilha jovem sobre o clima, participei como relator de vários eventos pelo FBMC… pensando sempre em como comunicar melhor a mensagem da mudança climática, que no Brasil não tem o mesmo eco que encontra em outros países.

Mergulhado de cabeça nesses ideais, o Jornalismo passou a despontar no meu leque de opções profissionais. No terceiro ano, minhas atividades climático-jornalísticas relaxaram um pouco (afinal, estudei para o vestibular!), mas não foram deixadas de lado. E a idéia de fazer Jornalismo, diante de tantas experiências, crescia dentro de mim… Por outro lado, eu pretendia cursar Direito, para aprofundar-me em Direito Ambiental, já que a ciência da mudança climática não era pra mim.

Fiz um teste vocacional que media a probabilidade de ser feliz por realizar determinada atividade profissional. Resultado: área de literárias (97% ou algo tão absurdamente elevado quanto isso) e área de persuasivas (90%). Cursos sugeridos: Direito e Jornalismo. O teste me reforçou a certeza que eu já tinha e me permitiu continuar com a dúvida que eu também já tinha. (Não é uma maravilha? Não esperava milagre de um teste vocacional; ele fez tudo o que tinha que fazer! Até hoje dou graças a Deus, de verdade, por ter feito esse teste.)

Não por uma questão de herança familiar, porque nenhum de meus ascendentes se formou bacharel em Direito, mas minha família tinha como certo que esse era o curso para o qual eu prestaria vestibular. Não havia preconceito negativo contra Jornalismo, mas já estava estabelecido para todos que eu prestaria vestibular para Direito na UFPel e na UFRGS – para todos, menos para mim. A dúvida ainda me inquietava. A vontade de escrever, de comunicar… O Direito Ambiental…

A inscrição para o vestibular da UFPel já estava feita: Direito. Mas eu ainda tinha de ir aos Correios para fazer a inscrição para o vestibular da UFRGS… Ah, como eu adiei aquela ida aos Correios! Uma conversa com um grande amigo me fez ter uma idéia. Fui aos Correios. Quando voltei, avisei minha mãe que tinha feito a inscrição também na UFRGS. Para Jornalismo.

Acho que até discussão em casa eu tive – “como assim, Jornalismo?”. Mas não tinha mais volta. Era a única forma que eu tinha de empurrar para mais tarde a decisão : “se passar, decido o curso – ou não, porque posso não ter opção”. Foi uma espécie de loteria vocacional. Ganhei um prêmio, mas a loteria não serviu para nada – passei nos dois vestibulares. E agora, José?!

Mudando (ou tentando mudar) de assunto…

Não, hoje não vou continuar a história de ontem e sempre – quem sabe amanhã? 😉

Comecei hoje o meu atendimento em projeto de assistência judiciária no bairro onde moro. É a primeira vez que me envolvo com o Direito de forma mais prática. O friozinho na barriga pouco antes do início deve ser normal, por dúvidas tanto de forma (petição inicial eu já redigi, mas só como tarefa de aula – e se eu não conseguir fazer?) quanto de conteúdo (e se eu não souber resolver o problema do assistido? que ação propor?).

Apesar desse impacto inicial, com a colaboração das colegas (atendemos em trio) e as dicas de estagiários mais experientes, da assistente social e do professor orientador, tudo parece fácil. Minha principal motivação é que eu gosto de pessoas e quero ajudá-las, na medida da minha capacidade. Além do mais, a aplicação do conhecimento jurídico possibilita uma perspectiva interessante sobre as diversas realidades que existem e para as quais muitas vezes fechamos os olhos.

Entrei no Direito com a idéia que a minha amiga Fernanda Joe defende (até em comunidade do orkut): se tudo der errado, serei advogado. Talvez seja um posicionamento radical demais; não quero desconsiderar possibilidades a priori. É bem possível e até provável que, ao longo da segunda metade do curso, venha a gostar cada vez mais da idéia de advogar, mas a verdade é que nunca fui um grande apaixonado pela prática do Direito.

Não nego a importância da prática, mas não faço como os estudantes afoitos por processos, que desprezam as matérias extra-jurídicas – Sociologia, Filosofia, Economia, História… Nunca quis ser apenas um bom técnico jurídico. Sempre quis pensar, posicionar-me, escrever.

(Parece que, mesmo querendo, não consigo interromper a história de ontem e sempre…)