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Em Buenos Aires, com visita guiada ao Céu

Com este post eu finalmente concluo a temporada de viagens de março! Depois de GenebraBernaArushaAmsterdã e Paris du Nord, a última escala foi na París del Sur: ¡Buenos Aires!

Gosto muito de Buenos Aires e sempre me alegro em voltar. Minha última viagem pra lá tinha sido a trabalho, em agosto de 2014, quando também revi alguns pontos turísticos, vivenciei uma autêntica milonga e fiz uma visita guiada ao Teatro Colón. Em março deste ano, fui de novo por conta do imperdível casamento de Enrique e Lucrecia (aqui citados).

Cheguei num domingo pela manhã, com mau tempo.

Torre de los Ingleses, Retiro, Buenos Aires. A foto “fotobombada” pela pomba em pleno voo me fez pensar na minha amiga Lígia Kuhn, que tem uma habilidade inexplicável de tirar fotos dessas. No segundo plano, à esquerda da Torre de los Ingleses, também se pode ver a torre do Edificio Kavanagh, arranha-céu Art Déco de 1935.

A Sabrina, minha colega de trabalho que mora em Buenos Aires com sua família, gentilmente me acolheu em sua casa nos primeiros dias — enquanto eu, hóspede horrível, trabalhei 8h por dia. Mesmo assim, graças ao meu horário maleável e à hospitalidade criativa da Sabrina e sua família, consegui curtir um pouco de Buenos Aires.

Numa volta de bicicleta, passamos pelo Palacio Pereda, construído na década de 1920, que desde 1945 é residência oficial do Embaixador da República Federativa do Brasil à República Argentina. Ali perto também fica Palacio Ortiz Basualdo, de 1912, que em 1925 foi residência de Eduardo VIII, Príncipe de Gales, e desde 1939 é sede da Embaixada Francesa.

Palacio Pereda

Palacio Ortiz Basualdo, lindo até se visto da parte dos fundos

Outro dia voltei ao Teatro Colón, não para uma visita guiada, mas para um espetáculo de ballet! Uma amiga da Sabrina que tinha ingressos de temporada não pôde ir ao espetáculo — e eis que, de última hora, tive a oportunidade de adquirir o ingresso dela. Se o teatro já é incrível na visita guiada, tanto mais em funcionamento!

Teatro Colón

Quando escrevi sobre a visita de 2014 a Buenos Aires, comentei que o “gostinho de quero mais” ficou por conta do Palacio Barolo, na Avenida de Mayo: é o mais antigo edifício construído em concreto armado na Argentina, obra do arquiteto Mario Palanti. Quando concluído, em 1923, era o edifício mais alto da América do Sul, com 100m de altura. Comentei que gostaria de fazer a visita guiada — e a Sabrina gostou da ideia!

 

Dentro do Palacio Barolo, olhando para a Avenida de Mayo

Da galeria no térreo do Palacio Barolo (o Inferno), olhando para os andares mais altos (no Purgatório). As referências são do próprio arquiteto, que para o projeto do edifício encontrou inspiração na Divina Comédia, de Dante Alighieri.

O primeiro elevador vai até o 14o. andar. A agulha que indica os números dos andares segue em pleno funcionamento.

Do Purgatório, tirei foto da galeria (el pasaje) da entrada: o Inferno.

A partir do 14o andar, o mais alto do Purgatório, subimos uma escada (cada vez mais) estreita através dos andares da torre (o Céu) até o 22o, onde fica o farol, com vistas privilegiadas para a cidade de Buenos Aires.

Placas originais do edifício, indicando o caminho do Céu

Vista oeste do alto da torre do Edificio Barolo, com destaque para o Congreso de la Nación Argentina

A leste, vista para os arranha-céus de Puerto Madero e o infindável Mar Dulce que é o Río de la Plata

Olhando para dentro do refletor do farol, vi Buenos Aires de cabeça para baixo. (O fotógrafo também aparece. Em plena tarde tórrida de verão porteño, estava reluzindo de tanto suar dentro da redoma de vidro onde fica o farol!)

Na sexta-feira tirei folga e fui para San Isidro, na Grande Buenos Aires, para o casamento de Enrique e da Lucrecia. Foi muito bom rever meu hermano — que há uma década conheci no Canadá —, ajudar nos preparativos do casamento e entregar a ele os chocolates que tinha trazido de Genebra (via Arusha, Amsterdã e Paris). E me diverti muito ficando hospedado com a Vir, mãe do noivo, minha Mamá greco-argentina desde 2007, que morou na Grécia por um tempo e faz pouco se mudou para o Chile. E me alegrei também por ver depois de anos a Alejandra, irmã do Enrique, e conhecer o marido dela, Jean — eles moram na África do Sul.

O internacionalismo não é provocado. Acontece espontaneamente. 🙂

Depois de três intensivas semanas em três continentes, voltei enfim — sem mais escalas — ao Porto que convencionei chamar de casa.

Estación Retiro-Mitre, primeira parada no meu retorno multimodal a Porto Alegre (trem–ônibus–avião–táxi)

Uma manhã em Amsterdã

Após uma semana em Genebra (menos um sábado em Berna) e outra em Arusha, no dia 14 de março comecei a volta pra casa – com direito a algumas escalas. A primeira delas foi em Amsterdã, na Holanda. Cheguei ao aeroporto Schiphol às 7:30 da manhã. Meu próximo voo seria só às 14:30. Sete horas de espera… jogando Angry Birds no aeroporto? Nem pensar.

Deixei a mala de mão num armário (€7), comprei um mapa da cidade (€2,50) e um bilhete diário para o transporte urbano (€15) e tomei um trem – em 18 minutos estava na estação Amsterdam Centraal. Ainda era cedo e muitos museus não estavam abertos, então aproveitei para caminhar pela cidade e tirar algumas fotos. Foi minha segunda visita a Amsterdã; a primeira tinha sido em novembro de 2000, cinco anos antes de ter uma câmera digital!

Amsterdam Centraal

Bicicletas na rua Nieuwezijds Voorburgwal. Ao fundo, à esquerda, o antigo prédio dos correios, hoje o shopping center Magna Plaza. Ao fundo, à direita, a parte dos fundos do Palácio Real

A partir dos fundos do Palácio Real, fui caminhando pela Raadhuisstraat e atravessando os canais em direção ao Prinsengracht (Canal do Príncipe), o mais longo dos canais principais.

Atravessando o Canal Singel

Atravessando o Canal Herengracht

Atravessando o canal Kaizergracht

À beira do Prinsengracht fica a Anne Frank Huis, ou Casa de Anne Frank, que queria muito ter visitado em 2000 e não tive oportunidade. Ao chegar no aeroporto de manhã cedo, tentei comprar um ingresso antecipado, que me permitiria pular a fila de uma hora de espera. Como não havia mais ingressos, resolvi não visitar – de novo – o museu. Pouco depois, inexplicavelmente, estava eu lá, esperando na fila. “Só pra ver se demora mesmo uma hora.” Pois demorou.

E valeu a pena! A visita é emocionante. Deu vontade de reler O Diário de Anne Frank, em que a menina narra o dia a dia na casa e no anexo secreto onde se escondeu, com vários outros, da polícia nazista na Holanda ocupada durante a Segunda Guerra Mundial. O museu não permite fotografia, mas o site oferece um passeio em 3D.

A fila para entrar na Casa de Anne Frank literalmente dobrava a esquina!

Esperando na fila, fotografei a torre da Westerkerk (Igreja do Oeste), onde Rembrandt está sepultado

Uma hora de espera depois, a fila atrás de mim ainda era grande

O quarteirão onde fica a Casa de Anne Frank; à direita, a torre da Westerkerk

Os dois prédios no centro da foto são a casa original de Anne Frank; à direita, um edifício incorporado ao museu

Na saída do museu, topei com uma banca de flores e plantas em minha homenagem: Martin’s Bloemen en Planten

Após a visita à Casa de Anne Frank, fui ao Bijbelsmuseum. O Museu da Bíblia fica em dois elegantes edifícios históricos de estilo holandês clássico, construídos em 1662 – são as Cromhouthuizen, ou casas de Cromhout, em alusão ao sobrenome do seu primeiro proprietário, Jacob Cromhout. Na coleção do museu, destacam-se minuciosos modelos do Tabernáculo e do Templo de Salomão, artefatos egípcios (até mesmo uma múmia) e, é claro, Bíblias, incluindo a mais antiga impressa na Holanda (1477) e um exemplar da primeira edição da versão autorizada em holandês (1637).

Fachada do Bijbelsmuseum

As Cromhouthuizen, vistas do outro lado do canal Herengracht

De volta à rua Nieuwezijds Voorburgwal (nos fundos do Palácio Real), visitei por último o Amsterdam Museum. Para mim, o destaque no museu foi a exposição Amsterdam DNA, que resume a história da cidade (e, de carona, também a do país) ao longo de sete épocas, por meio de imagens, sons, objetos e movimentos.

Em frente ao Amsterdam Museum, a interessante fachada da Posthumus, loja que produz e vende selos customizados (além de papéis, tintas, envelopes…) desde 1865

Letreiro do Amsterdam Museum

Portão de entrada do Amsterdam Museum

Foram sete horas muito bem aproveitadas em caminhadas pela cidade e em visitas a três museus importantes. Terminada a manhã em Amsterdã, voltei ao aeroporto para não perder meu voo às 14:30. À tarde fiz mais passeios… mas sobre esses eu conto no próximo post!

Páscoa Missioneira

O atraso é grande, mas não poderia deixar chegar a Páscoa de 2015 sem publicar algumas fotos do passeio da Páscoa de 2014 com os primos Cris e Fer às Missões Jesuíticas dos Guaranis. As ruínas dos séculos XVII e XVIII foram tombadas pelo Patrimônio Nacional; são também o único sítio histórico do Rio Grande do Sul incluído na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.

Depois da viagem de 500 quilômetros de pura alegria de Porto Alegre até lá, a primeira parada foi em Santo Ângelo – para almoço e café com sobremesa pascoal na Kemper’s Haus, dica (até hoje festejada!) da amiga angelopolitana Renata Lauermann.

Delicioso cupcake da Kemper’s Haus

Dali fomos à Catedral Angelopolitana, construída já no século XX (1929–1971), mas lembrando o estilo do templo da Missão de São Miguel Arcanjo, hoje em ruínas. Está no mesmo lugar da igreja original (1706) da Missão de Santo Ângelo Custódio.

Fachada principal da Catedral Angelopolitana

Detalhes e esculturas da Catedral Angelopolitana

Vitral de Jesus, Maria e José na Catedral Angelopolitana

Visitamos o Museu Municipal Dr. José Olavo Machado (pertinho da catedral) e o Memorial Coluna Prestes (na antiga estação ferroviária) e vimos o Monumento a José (Sepé) Tiaraju, o herói indígena da defesa das Missões na Guerra dos Guaranis. A escultura é de Olindo Donadel.

Memorial Coluna Prestes

Monumento a Sepé Tiaraju, com a frase atribuída a ele – “Esta Terra Tem Dono”

Em São Miguel das Missões, visitamos o Sítio Arqueológico São Miguel Arcanjo, onde ficam as ruínas do templo barroco da principal redução jesuítica, construído entre 1735 e 1745, mas nunca finalizado (ficou faltando a segunda torre – observatório astronômico). Construído todo em pedra grês, foi projetado pelo padre jesuíta Gian Battista Primoli, de Milão.

As ruínas de São Miguel Arcanjo, emolduradas pelo céu gaúcho

As ruínas de São Miguel Arcanjo e a cruz missioneira

Vista lateral da fachada principal das ruínas

Detalhe de uma das colunas da fachada principal

Os arcos da nave principal da igreja em ruínas

No capitel de uma das colunas, abaixo dos ornamentos, o ano: 1739.

Parte superior da fachada principal da igreja em ruínas

Detalhe da fachada principal

A torre, que originalmente continha cinco sinos

Interior da torre

De catedral a ruína

Estátuas feitas pelos índios guaranis, à exposição no Museu das Missões

“Anno 1726” no destaque do sino exposto no Museu das Missões

Os três aventureiros missioneiros

“Tira rápido que não tem muita gente”

Brincando com a função panorama: Cris e Fer, Cris e Fer, Cris e Fer

A fonte missionária, a um quilômetro do sítio arqueológico

O tradicional Espetáculo Som & Luz, que narra a história dos Sete Povos das Missões e da Guerra Guaranítica

Sábado em Berna

Quando escrevi sobre a semana em Genebra, escondi o jogo sobre a atividade de sábado, porque ela mereceu um post todo seu, com muitas fotos! Na companhia do amigo Atul, finalmente fui conhecer Berna. Depois de morar em Genebra por quatro meses e passar algumas vezes pela Suíça, nunca tinha visitado a capital do país! Não vou dizer que um dia seja suficiente, mas já dá pra ver bastante. Berna é uma cidade pequena, perfeita para caminhar.

O passeio começou pela viagem de trem de Genebra até lá, sábado de manhã não-tão-cedinho (porque ninguém e de ferro). Apesar da neblina, as montanhas e o lago nos brindaram com algumas vistas lindas, como esta – perto de Lausanne, pouco antes do trem se afastar do lago:

Ao chegarmos à estação de trem de Berna, a Valériane – colega minha e do Atul dos tempos de NYU – já nos esperava para nos abraçar na plataforma. Isso é que é hospitalidade! Fomos caminhando (e colocando as conversas de quase cinco anos em dia) rumo ao Rio Aare. Dali se vê o lado sul da Bundeshaus, o Palácio Federal da Suíça, onde funciona o parlamento:

O restaurante para o qual a Valériane nos convidou, à margem do rio, é o Schwellenmätteli (tenta pronunciar que é divertido!). Lá nossa anfitriã não conseguia parar de rir (de alegria, ela disse, mas provavelmente também um pouco de vergonha alheia) das minhas extravagâncias suíças. Rivella é um refrigerante à base de soro de leite; está para os suíços mais ou menos o que o guaraná está para os brasileiros nostálgicos no exterior. Depois do almoço… café? Claro que não: Ovomaltine, também tipicamente suíço. Tudo isso, pontualmente, conforme meu relógio Swiss made.

A Valériane não pôde continuar conosco à tarde, então seguimos Atul e eu para o turismo intensivo! Seguimos caminhando à beira do Aare até o Parque dos Ursos, símbolo da cidade.

Um urso pousou para foto, mas não parecia muito feliz :/

Visto o Parque dos Ursos, fomos ao Altes Tramdepot, o antigo terminal de bondes. Ali há um centro de informações turísticas, onde assistimos a um vídeo sobre Berna – história e atrações. Há também um restaurante (muito bom, segundo a dica da minha irmã).

Além disso, é um lugar estratégico para começar a visita à Cidade Antiga de Berna – inscrita na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 1983. Dali, é só atravessar a ponte (Nydeggbrücke) sobre o Rio Aare para chegar à rua principal (Gerechtigkeitsgasse) da Cidade Antiga.

Na Gerechtigkeitsgasse (assim como em muitas outras ruas da Cidade Antiga), as calçadas ficam ao abrigo dos prédios que, lado a lado, formam um longo corredor de galerias. No centro da rua há diversas fontes, muitas com esculturas e outras formas decorativas.

Sobre a Nydeggbrücke

As galerias de Berna

Uma das fontes na Gerechtigkeitsgasse

Uma parada ao longo da Gerechtigkeitsgasse fizemos na Einstein-Haus, a casa onde o genial matemático, físico e músico (opa? sim! e tantas outras coisas mais…) Albert Einstein morou de 1902 a 1909. Nesse período, ele publicou 32 trabalhos científicos. Em 1905, conhecido como o annus mirabilis (ano maravilhoso) no campo da Física, aos 26 aninhos (!) ele publicou quatro artigos, dois dos quais estão entre seus mais importantes trabalhos: a Teoria Especial da Relatividade e a descoberta do efeito fotoelétrico, que rendeu a ele o Prêmio Nobel em Física em 1921. Como o próprio Einstein reconheceu, “aqueles foram bons tempos, os anos em Berna”.

De longe já se vê que a Gerechtigkeitsgasse leva à torre Zytglogge, outro símbolo de Berna. Foi construída no início do século XIII e no século XV ganhou um relógio astronômico.

Zytglogge

Zytglogge – detalhe do relógio astronômico

Desviando para uma rua lateral, fomos ver Berner Münster, a catedral de Berna, construída de 1421 a 1893 em estilo gótico tardio.

Berner Münster

Detalhe da porta principal da catedral

É possível subir por escadas a torre de 100,6 metros de altura…

E eu, obviamente, não resisti ao desafio!

Vale a pena, um pouco pelo exercício físico e bastante pelas vistas que se tem da cidade – a oeste:

A leste:

E, ao sul, os Alpes Bernenses:

Detalhe de uma sacada, vista da catedral

Do alto se vê bem o corredor de galerias nas calçadas

Destaque para a rua principal, a torre Zytglogge e, mais ao fundo, a Torre da Prisão

Berner Münster, vista da praça da catedral, à beira do rio Aare

Pouco antes de começar a escurecer, passeamos por volta da Bundeshaus. Do parque que fica no lado sul, com um terraço debruçado sobre o rio, uma bela vista para os Alpes Bernenses:

Fachada sul do Bundeshaus

Em busca de um restaurante para jantar, mais algumas descobertas arquitetônicas interessantes…

Uma caminhada tranquila pelas ruas igualmente tranquilas… (porque às 18h tudo na Suíça fecha e as pessoas começam a se recolher em suas casas!)

Deu tempo até de uma rápida viagem ao passado:

Para não perder o gosto pelas fotos noturnas, a fachada norte da Bundeshaus:

Curia Confoederationis Helveticae – a fachada norte da Bundeshaus

Antes de voltar a Genebra, nada mais suíço que jantar fondue, com vinho da casa. Para o Atul, foi o primeiro; para mim, sei lá, o enésimo – mas sempre gosto! A foto foi para a Valériane, que, mesmo sem poder vir jantar conosco, pelo menos poderia se divertir com nossas turistices. 😀

95.000 quilômetros

Há exatamente um ano (02/02/2014) eu publicava a distância que havia percorrido em viagens no ano anterior (2013): 100.000 quilômetros. Embora nunca antes tivesse feito esse cálculo, posso dizer com segurança que nunca tinha viajado tanto num mesmo ano. Também pudera: em 2013 eu fui do Brasil para a Ásia, a Europa e a América do Norte em ocasiões diferentes.

Bobeira não ter guardado a memória de cálculo; hoje quis conferi-la. Terminei 2013 em Seattle; no início de 2014, ainda fui de lá para Nova York e, de lá, de volta para Porto Alegre. Não me lembro se incluí essas viagens no cálculo de 2013 (porque, afinal, foram as paradas finais de uma viagem iniciada em 2013) ou se não as incluí (porque, afinal, ocorreram em 2014).

Hoje resolvi repetir o exercício para 2014. Para evitar dupla contagem, não contabilizei as viagens de janeiro de 2014 (Seattle–Nova York–Porto Alegre). Nem esperava chegar perto da marca anterior (porque em 2014 não fui à Ásia), mas não é que foi por pouco? 95.000 quilômetros. Não foram 2,5 voltas ao mundo. Foram 2,37 voltas.

Unisphere

Minha foto da Unisphere (altura de 12 andares e 300 toneladas de aço), no Flushing Meadows-Corona Park, NYC

No último post comentei que viajei um tanto e citei alguns locais visitados. Por lapso, deixei de citar alguns (*). Aí vai a lista completa (inclusive com as viagens de janeiro de 2014), com links para posts, quando houver. À medida que for escrevendo posts e publicando fotos referentes aos itens sem link, volto aqui e incluo o link. Ou seja, tenho assunto para todo o ano de 2015. 😀

Muitos dos destinos (Buenos Aires, Genebra, Montreux e Santo Domingo) foram a trabalho. O que não quer dizer que só trabalhei. O que não quer dizer que matei trabalho para passear!

Assim como em 2013, trabalhei bastante em 2014, mas no cotidiano percorri uma distância bem menor de casa ao trabalho: uns 1.200 quilômetros dentro de Porto Alegre, porque em maio comecei a trabalhar de casa. Claro, considerando as viagens de longa a distância, eu percorri uns 70.000 quilômetros a trabalho…

Cada vez faz menos sentido ter um carro, mas ainda não foi em 2014 que vendi o meu. Não me perguntem por quê. (Um belo dia surge um post-classificados: BARBADA VENDO FIESTA 2008.)

Há um ano eu estava feliz de ter voltado em 2013 a cantar num coro, o Grupo Cantabile. Ironicamente, agora estou triste de tê-lo abandonado em 2014. Achei (e ainda acho) complicado conciliar o nomadismo com os compromissos semanais (ensaios) e eventuais (apresentações).

Há um ano estava superfeliz de ter crescido profissionalmente e ido de um emprego muito bom a outro com potencial ainda maior em 2013. Curiosamente, agora posso dizer exatamente o mesmo sobre 2014. Enfim estou trabalhando com Direito Internacional! Para o ano que vem, espero continuar crescendo, claro, mas sem tantas reviravoltas…

Tudo isso foi importante para mim e me faz concluir que, embora ainda precise fazer alguns autoajustes, estou mais próximo do balanço positivo que costumava manter e que perdi em algum momento nos últimos anos. Perceber o quanto viajei no último ano foi a cereja que faltava no bolo.

O triste é que o parágrafo anterior é uma cópia do que escrevi há um ano. Ou não é triste? Ou é normal e devo me conformar em ser sempre incompleto?

Os gêmeos Barolo e Salvo, separados pelo Río de la Plata

Visitar outros lugares, pra mim, é coisa séria. Se viajo para passear, retorno invariavelmente mais exausto que na partida, por causa da intensidade dos passeios. Se viajo por outro compromisso, retorno exausto por causa do compromisso — e da intensidade dos passeios nas horas vagas! Acordar cedo, caminhar muito, fazer um lanche ou pular uma ou outra refeição (o que não quer dizer deixar de comer naquele restaurante legal!), dormir tarde. A lógica é: se quiser descansar, vou para um spa ou resort. O que nunca fiz, claro.

Ainda assim, sempre acabo com vontade de voltar, mesmo para rever o que já vi (nostalgia…), ou para ver um ou outro lugar que não tive tempo de ver. E o verbo “ver” aqui se lê como ver, ouvir, cheirar, saborear, tocar. Qualquer experiência sensorial vale. Aliás, emocional também.

No caso da minha última viagem a Buenos Aires, o gostinho de quero mais ficou por conta do Palacio Barolo, na Avenida de Mayo. O edifício já tinha chamado minha atenção quando fui a Buenos Aires pela primeira vez, em 2007.

Torre do Palacio Barolo, quando a fotografei em 2007, numa linda tarde de verão em Buenos Aires

Em 2012, fui pela primeira vez a Montevidéu. Lá foi o Palacio Salvo que me chamou a atenção, não só por ser um edifício de 27 andares (95 metros) em plena Plaza Independencia, coração de Montevidéu, mas também por me parecer familiar. “Eu já te vi em outro lugar…”

Palacio Salvo, em Montevidéu, 2012

Torre do Palacio Salvo, Montevidéu, 2012

A semelhança não é mera coincidência: os edifícios foram desenhados pelo mesmo arquiteto, Mario Palanti, italiano radicado em Buenos Aires. O Palacio Barolo foi inaugurado em 1923 em Buenos Aires; o Palacio Salvo, em 1928, em Montevidéu.

Palacio Barolo foi o primeiro edifício construído em concreto armado na Argentina. De um estilo arquitetônico único (formado de uma mescla de vários!), faz diversas referências à Divina Comédia de Dante Aliguieri. O andar mais alto (22º) oferece uma vista para toda Buenos Aires, com destaque para o Congresso e a Casa Rosada (em extremos opostos da Avenida de Mayo).

visitas guiadas, tanto diurnas quanto noturnas, do que infelizmente só fiquei sabendo depois de ter ido embora… Vou pré-agendar essas visitas para a próxima ida a Buenos Aires!

Palacio Barolo e a Avenida de Mayo no inverno de 2014

Belle époque sobre trilhos subterrâneos

Em 1913, após dois anos de escavações e construções, foi inaugurada a Línea A do subte, o metrô de Buenos Aires. Assim surgiu a primeira linha de metrô da América Latina e do hemisfério austral, apenas alguns anos depois do underground (tube) de Londres, do métro de Paris, do U-Bahn de Berlim e do subway de New York City.

Entre os primeiros trens usados no subte estavam os fabricados na década de 1910 pela empresa La Brugeoise, na cidade de Bruges, Bélgica. Os vagões tinham revestimento e bancos de madeira, luminárias em forma de tulipa, portas com abertura manual.

Quando fui a Buenos Aires pela primeira vez, em 2007,  fiquei deslumbrado que esses trens centenários ainda circulassem na Línea A. Tive a oportunidade de andar neles algumas vezes. Era um passeio ao início do século XX. A penumbra dos vagões ainda exalava a nostalgia da belle époque porteña, em que Buenos Aires era conhecida como a París de Sudamérica.

Ao voltar a Buenos Aires em 2014 e novamente andar na Línea A do subte, senti falta das “Brujas”, como são conhecidos os trens, por causa do nome espanhol (Brujas) da cidade belga (Bruges) onde eram produzidos. Como “bruja” também quer dizer “bruxa”, ficou o trocadilho.
O que eu não sabia é que em 12 de janeiro de 2013 houve uma caça às bruxas: os centenários trens, então os mais antigos em operação no mundo, foram tirados de circulação.

A ideia, naturalmente, era modernizar o sistema, mas, também naturalmente, houve oposição e polêmica. As Brujas foram formalmente declaradas patrimônio histórico e cultural da cidade de Buenos Aires. Algumas estão sendo restauradas e voltarão a circular, mas fora de serviço, apenas para passeios turísticos em finais de semana. Em 2014 já se fizeram alguns testes com Brujas cujos componentes eletromecânicos foram restaurados e modernizados.

Até que os trens de metrô mais antigos do mundo voltem a circular, ficamos só na nostalgia…

Alguns links recomendados, para quem quiser ler ou ver mais:

  • A revista Perfil e a BBC prepararam galerias de fotos com a história do subte, incluindo a construção e os primeiros anos de operação.
  • Mais leituras e fotos sobre o Taller Polvorín, construído em 1914 pela Compañía de Tranvías Anglo-Argentinas como lar para os trens da Línea A, então chamada de Línea Anglo-Argentina.

Noche de milonga: um autêntico baile de tango

Minha viagem a Buenos Aires incluiu uma experiência deslumbrante: ir a uma autêntica milonga (baile de tango), numa imersão no tango, sua beleza, sua paixão e sua riqueza cultural, o que inclui seu código de etiqueta mui particular e romântico. (Foi muito além do trabalho e dos passeios-repeteco relatados no post anterior.)

Minha amiga Joe e eu entramos em contato com meu hermano Enrique e sua novia Lucrecia (que eu ainda não conhecia pessoalmente) para combinar um encontro em algum momento. Minha sugestão, por WhatsApp: “Podemos ir a un sitio de tango que elijan ustedes, porque nos gustaría verlos bailar tango. Ver a ustedes. No bailaríamos nosotros, por motivos obvios.” (Para quem não acha que os motivos sejam tão óbvios assim: infelizmente não sei dançar tango!)

Então eles nos levaram a El Beso, a milonga onde se conheceram e (também por isso) gostam de voltar às vezes. Antigamente, no mesmo local funcionava um cabaret.

InstaBeso: El Beso, Milonga de Los Domingos.
Domingo 22 Hs.
Riobamba 416, 1er Piso, Bs. As.
Reservas: 4953 2794.

Chegamos pouco antes das 22h, ainda cedo para padrões argentinos (não era tarde, mesmo, mas a Joe e eu estávamos cansados de caminhar todo o dia!). A gerente da milonga, conhecida de meus amigos, explicou que estava terminando uma aula de tango no salão. Ficamos conversando (e espiando um pouco a aula) enquanto esperávamos e, assim que terminou, buscamos uma mesa para quatro.

Aos poucos o salão foi ficando mais cheio. Os homens se sentavam de um lado e as mulheres, de outro — quer dizer, isso entre os indivíduos avulsos, porque os casais que foram juntos, para dançar sempre um com o outro, sentavam também juntos.

E então começou o ritual, detalhadamente explicado a cada etapa por Enrique e Lucrecia. Ele dança tango há bastante tempo e, quando viajou pelo exterior, chegou a dar aulas para ajudar no orçamento. Ela, além de ser muy amable e ter uma didática excelente, é bailarina profissional. A especialidade dela é dança contemporânea; para ela, tango é diversão, válvula de escape, e não trabalho. Ambos archi-requete-contra argentinos.

Os homens, sentados de um lado, observam o ambiente e silenciosamente metralham olhares para as mulheres, sentadas de outro lado. Quando a luz dos olhos de um deles encontra a luz dos olhos de uma delas, o homem convida a mulher para dançar, com um simples gesto, inclinando cordialmente a cabeça: é o cabeceo. Para aceitar o convite, a mulher também faz o cabeceo olhando para o homem; para rejeitar, simplesmente desvia o olhar. Tudo muito discreto, sem constrangimentos. Somente se a mulher aceita o convite é que homem pode ir buscá-la para bailar — e pode confiar que não será rejeitado.

Uma pareja assim formada dança não só uma música, mas toda uma tanda, que normalmente se compõe de três ou quatro músicas tocadas em sequência. Numa mesma tanda, o estilo das músicas é um só: ou tango (mais lento, dramático, passional), ou milonga (mais rápido e animado, normalmente em 2/4) ou vals (mais lento, em três tempos, como a valsa).

Não se começa a dançar logo no início de cada música: há uns 15 ou 20 segundinhos de conversa entre as parejas. “Essas parcelas de minuto são todo o tempo que el varón tem para conhecer la mujer, dar-se a conhecer e, afinal… conseguir o número de telefone dela,” explicou o Enrique, rindo.

Deu certo no caso de Enrique e Lucrecia. Eles se conheceram ali, no El Beso, uns quatro anos atrás. Claro que depois veio o tempo de fortalecer o relacionamento, conviver, conhecer família e amigos de um e de outro… Mesmo assim, foi na milonga que surgiu a primeira faísca. Hoje estão noivos, de casamento marcado para 2015!

O convite do homem é para toda uma tanda, não só para uma música. A mulher que não honra o convite e abandona o homem na pista no meio de uma tanda comete uma ofensa bastante grave, que só se justifica se o homem dança muito mal (pisou no pé dela ou não soube llevarla, conduzi-la) — ou se ele se comportou mal, por exemplo, colocando a mão onde não deveria!

Créditos da foto: Joe (Fernanda Botelho dos Santos)

Entre uma tanda e outra, há a cortina: toca-se uma música nada a ver, de outro estilo (nem tango nem milonga nem vals). É o intervalo para que as parejas saiam da pista e voltem às suas posições iniciais: homens metralhando olhares silenciosos em direção às mulheres… é lindo.

Antes de irmos embora, ainda fomos brindados com uma apresentação de tango escenario, que é aquele mais coreográfico (e às vezes até acrobático!) que se vê nos shows mais turísticos.

Créditos da foto: Joe (Fernanda Botelho dos Santos), com edição minha