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Segundo dia em Bratislava, Eslováquia

Começamos o segundo dia com o plano de visitar o Palácio do Primado (Primaciálny palác, mapa). Hoje sede da Prefeitura de Bratislava, esse palácio neoclássico foi construído no final do século XVIII (concluído em 1781) para ser a residência do Arcebispo József Batthyány. No pátio interno do palácio está a Fonte de São Jorge (Fontana Sv. Juraja), esculpida em arenito no século XVII e originalmente instalada nos jardins do Palácio Grassalkovich.

Mas nosso plano foi interrompido por uma invasão napoleônica.

Palácio do Primado (Primaciálny palác)

Fonte de São Jorge (Fontana Sv. Juraja)

Quando menos esperávamos, começaram a surgir – vindos da Praça Principal para a frente do Palácio do Primado – soldados com vestimentas de época, marchando por aí e dando tiros de festim para o alto. Demorou um tanto até entendermos que era parte da encenação das batalhas de 1809 entre o exército napoleônico e o exército húngaro (sim, húngaro, mesmo: lembrando que na época Bratislava – ou Pressburg – fazia parte do território húngaro). Napoleão sitiou Bratislava por quase um mês. Bem que tentou conquistá-la, mas fracassou: foi sua primeira derrota. Essa encenação se repete a cada ano na cidade, para comemorar esse momento histórico.

Depois da encenação, foi engraçado ver as ruas da cidade tomadas pelos soldados – como nesta foto, em frente ao nosso café favorito, o Schokocafe Maximilian.

Uma vez que expulsamos o exército napoleônico, fomos almoçar no Restaurante UFO, no alto da polêmica Ponte SNP (Most Slovenského národného povstania, mapa).

Essa ponte estaiada sobre o Danúbio foi construída em 1972, como uma demonstração das virtudes da engenharia comunista. A polêmica ficou por conta da parte significativa da cidade antiga de Bratislava que foi demolida para criar a rampa de acesso à ponte. Entre essa parte destruída estava praticamente todo o bairro judeu, inclusive uma importante sinagoga. A ponte também passa perigosamente da Catedral de São Martin: o tremor causado pelo tráfico pesado e intenso na rampa de acesso tem causado danos estruturais à igreja.

No alto do pilar único de 84,6 metros de altura da ponte fica o restaurante onde fomos almoçar, o UFO, em uma estrutura em formato de disco voador (daí o nome!). Meu ex-colega de NYU – Matus, meu único amigo eslovaco! – e sua família vieram nos encontrar para almoçar conosco. O UFO oferece belas vistas sobre o Danúbio e o centro antigo de Bratislava; pela que a chuva e a névoa não colaboraram muito!

Centro antigo de Bratislava, com destaque à Catedral de São Martin

Castelo de Bratislava

Nossa janela no UFO, com vista privilegiada!

Meu elegante prato no UFO

No caminho da saída do restaurante, a Lu encontrou (eu era capaz de nem ter visto…) a famosa estátua Paparazzo. Ela costumava ficar na esquina das ruas Radničná e Laurinská (onde havia um restaurante chamado Paparazzi, hoje permanentemente fechado), discretamente tirando fotos dos transeuntes! Essa estátua é uma das preferidas dos turistas e está praticamente em todos os guias de viagens e blogs sobre Bratislava que tínhamos lido. Tínhamos procurado bastante por ela na véspera – foi uma surpresa encontrá-la no UFO!

Aí está o Paparazzo, agora no bar do UFO

E aí está a Lu, fotografada a partir da esquina onde a estátua do Paparazzo costumava ficar, no centro de Bratislava

Entre o almoço, a busca das malas no hotel e o horário do trem, sobrou pouco tempo. Caminhamos do centro – passando pela Filarmônica Eslovaca (Slovenská filharmónia, mapa, site oficial) e pelo Museu Nacional Eslovaco (Slovenské národné múzeum, mapa, site oficial) – até o Danúbio para um passeio à beira do rio… abaixo de chuva.

Filarmônica Eslovaca (Slovenská filharmónia)

Museu Nacional Eslovaco (Slovenské národné múzeum)

Acabamos no shopping center Eurovea (mapa), onde encontramos mais estátuas interessantes, inclusive uma das minhas preferidas: a delicada estátua de uma equilibrista na corda-bamba, parte de uma instalação maior, com outras personagens circenses.

Entrada do Eurovea

A estátua da equilibrista e seus colegas de circo, sob diferentes ângulos

Em Bratislava vimos muitos prédios com símbolos e resquícios do comunismo, como este abandonado e vandalizado, com estátuas de trabalhadores da indústria e da agricultura.

A última agradável surpresa de Bratislava foi encontrarmos a Igreja de Santa Isabel (Kostol svätej Alžbety, mapa), também conhecida como a Igreja Azul. Foi construída em estilo Secessão (o Art Nouveau húngaro) nos anos 1907 e 1908. Já tínhamos visto projetos e fotos dessa igreja em Budapeste quando visitamos o Museu de Artes Aplicadas, onde havia uma exposição sobre a obra do arquiteto Ödön Lechner, que também projetou o próprio palácio do museu.

Primeiro dia em Bratislava, Eslováquia

Da Expedição 2015 só faltou contar de quando fugimos de Budapeste e fomos de trem a Bratislava, passar dois dias na capital da Eslov… Para. Pensa. Eslovênia? Eslováquia.

Keleti Pályaudvar, bela estação de trem de Budapeste, de onde partimos

Desbravando Bratislava (Desbravatislavando?)

Na caminhada da Estação Central de Bratislava (Bratislava hlavná stanica, mapa) até o hotel, passamos pelo Palácio Grasalkovičov (mapa). Construído em 1760 em estilo Rococó ou Barroco Tardio para o Conde Grasalkovičov, um nobre húngaro, hoje é o palácio presidencial (Prezidentský Palác) da Eslováquia, servindo como residência oficial do Presidente da República. Em frente ao palácio fica a praça Hodžovo námestie, com a fonte Terra – Planeta de Paz.

Devidamente instalados no hotel, saímos por uma caminhada de reconhecimento dos arredores, descobrindo as ruelas estreitas da antiga Bratislava e encontrando verdades eternas pelo caminho, até chegar à Praça Principal (Hlavné námestie, mapa).

Uma das verdades eternas encontradas em Bratislava: “A vida é cheia de perguntas – Cupcakes são a resposta”

Igreja de Santa Clara (Kostol Klarisiek) e o Castelo (Hrad) ao fundo

Já na Praça Principal, a Antiga Prefeitura (Stará radnica), um complexo de edifícios construído a partir do século XIV

Na praça principal, o edifício do Banco Húngaro e Palácio Palugyay Palace, além da Fonte Roland (ou Fonte Maximiliano), de 1572

Estátuas de Bratislava

Na Praça Principal começamos a observar as estátuas espalhadas pelas ruas. São muitas estátuas – e todas bastante originais e curiosas! A primeira que vimos foi a estátua do Soldado do Exército Napoleônico, esculpida em bronze por Juraj Melis. A estátua lembra a invasão de Bratislava pelas tropas de Napoleão no início do século XIX. O chapéu é típico.

Do jeito que está parado, parece que o soldado está permanentemente bisbilhotando a conversa de quem sentar no banco… ou está apenas descansando e contemplando a vista dali. Na dúvida, a Lu foi conferir essa perspectiva.

Outra estátua muito famosa é a de Cumil, um operário dentro de um bueiro, com a cabeça e os braços para fora, olhando para a rua. Foi instalada em 1997 e é tida como a mais famosa estátua de Bratislava (aliás, difícil tirar uma foto ali em que não tenha alguém na volta, ou tirando foto ou esperando na fila para posar junto à estátua). Não é pra menos: Cumil é mesmo muito simpático! A estátua fica na esquinas das ruas Panská e Rybárska brána (mapa).

Ainda outra é a do Schöne Náci, em homenagem a Ignác Lamár. Esse gentleman ganhou fama por andar pelas ruas do centro de Bratislava no início do século XX, bem-vestido (embora com roupas velhas), cumprimentando as moças com sua cartola e oferecendo-lhes flores.

Ainda nos deparamos com outra estátua famosa… mas no dia seguinte.

Passeio de Prešporáčik

A partir da Praça Principal saímos para o Old Town Tour, um passeio pelo centro antigo no Prešporáčik, um pitoresco veículo conversível que é exclusivo de Bratislava. É o único tour motorizado que se pode fazer pelas ruas do centro antigo – ideal para o dia de chuvisco.

O Prešporáčik

Pelo centro de Bratislava, no Prešporáčik

Um dos meus prédios preferidos, perto da Catedral

Ruínas nas ruas estreitas do centro antigo

Ao fundo, o portão de São Miguel (Michalská bran), o único preservado entre os portões da fortificação medieval. Foi construído em 1300 e reformado em estilo Barroco em 1758.

Para o almoço, escolhemos um restaurante com vista privilegiada, bem em frente ao prédio histórico do Teatro Nacional Eslovaco (Slovenské národné divadlo, mapa, site oficial), inaugurado em 1886, em estilo Neo-Renascentista. (O prédio novo, inaugurado em 2007, fica aqui.)

Bratislavský hrad – o Castelo de Bratislava

Após o almoço, retomamos a segunda parte do tour: uma volta maior pela cidade (inclusive fora do centro antigo), com subida ao Castelo de Bratislava (Bratislavský hradmapa, site).

No século XV, o castelo foi construído em estilo Gótico e reconstruído no século XVI em estilo Renascentista. Por causa da da ocupação otomana do território atual da Hungria (1541–1699), Bratislava (também conhecida em alemão como Pressburg) tornou-se a capital do que restou do Reino Húngaro sob o poder dos Habsburgo. Por isso, de 1552 a 1784, foi no Castelo de Pressburg que permaneceram a coroa e as joias reais da Hungria.

A partir de 1740, para que a realeza tivesse uma residência tanto na Áustria tanto na Hungria, a rainha Maria Teresa da Áustria converteu o Castelo de Pressburg de fortaleza de defesa em residência real, em estilo Rococó.

Depois disso, em 1766, Alberto de Saxe-Teschen – Governador do Reino da Hungria designado pela senhora sua sogra, a rainha Maria Teresa! – e sua esposa Maria Cristina passaram a residir no castelo, expondo nele as muitas obras de arte que colecionavam.

Tudo ia muito bem para o Castelo de Pressburg, até que…

Em 1781 foi extinto o posto de Governador do Reino da Hungria. Alfredo foi para a Bélgica e levou consigo parte da coleção de arte; outra parte foi para a Viena (hoje, a Galeria Albertina). As joias da coroa húngara também foram para Viena. Um seminário funcionou no castelo por um tempo, mas logo os interiores rococó deram lugar a instalações militares. Em 1809 as tropas de Napoleão bombardearam o Castelo – e a cidade, também. E em 1811 sofreu um grande incêndio, por descuido dos soldados que o ocupavam.

Assim o castelo ficou em ruínas… até 1953. Outra grande reforma começou em 2008.

Os resquícios das janelas góticas estão entre meus detalhes preferidos!

Catedral de São Martin

Visitamos em seguida a Catedral de São Martin (Dóm sv. Martina, mapa). Foi originalmente construída em estilo Românico no século XIII, mas a catedral gótica hoje existente foi construída de 1311 a 1452. A torre tem 85 metros de altura – e no alto fica uma réplica da Coroa de Santo Estêvão (aquela que hoje está no Parlamento da Hungria), folhada com 8 Kg de ouro. A réplica  tem 1 metro de diâmetro e pesa 150 Kg!

A Catedral de São Martin – mal dá pra ver a coroa dourada de um metro de diâmetro no alto da torre!

Altar da Catedral de São Martin

Chama a atenção, no altar da catedral, a escultura equestre de São Martin, em estilo Barroco, instalada em 1744, obra do escultor Georg Rafael Donner. Ela mostra São Martin em trajes típicos húngaros, oferecendo parte de seu manto a um mendigo.

Em função da ocupação otomana de Budapeste, as coroações de onze reis e rainhas da Hungria, além de oito de seus consortes, aconteceram na Catedral de São Martin, entre 1563 e 1830. A lista dos reis e rainhas ali coroados está pintada no altar, em latim.

Na frente da Catedral de São Martin e em diversas ruas da cidade de Bratislava está indicado nas ruas, com pequenos “selos” metálicos presos às pedras do calçamento, o caminho por onde passava o cortejo das coroações. Ainda hoje se encenam, nas ruas de Bratislava, as festas de coroação.

Fim de tarde e ballet no Teatro Nacional

Para encerrar o primeiro dia, mais uma caminhada e um café no elegante Schokocafe Maximilian (mapa) antes do ballet La Bayadère, a que assistimos no prédio histórico do Teatro Nacional Eslovaco (Slovenské národné divadlo, mapa, site oficial).

Vitrine de uma padaria, com bonecos em movimento

Café musical pré-ballet no Schokocafe Maximilian

Dentro do prédio histórico do Teatro Nacional Eslovaco

Dentro do prédio histórico do Teatro Nacional Eslovaco

Após o ballet, vista noturna da Praça Principal (Hlavné námestie)

 

Miniversum e mais um gostinho (amargo) de comunismo

Miniversum (website em inglês, mapa), na Avenida Andrássy, é uma exibição de maquetes e miniaturas, principalmente de Budapeste e da Hungria, mas também com seções dedicadas à Áustria e à Alemanha. É legal para adultos, pela riqueza de detalhes e informação, e para crianças, pela interatividade – há botões que acionam sons, luzes e movimentos.

Há miniaturas perfeitas de muitos dos prédios importantes da cidade. Gostei especialmente de ver os detalhes dos edifícios que, no tumulto urbano, são difíceis de contemplar (por causa do trânsito, dos cabos de bonde, das árvores) – como é o caso da Estação Budapeste-Ocidente, conhecida simplesmente por Nyugati (Budapest-Nyugati pályaudvar, mapa).

Budapest-Nyugati pályaudvar no Miniversum

Como na série Expedição 2015 já publiquei muitas fotos dos próprios prédios, dedico o resto deste post à mostra A Vida sob o Comunismo (Life Under Communism) do Miniversum, que traz dez cenas e lugares da era comunista na Hungria.

A construção de moradias populares era dever do Estado durante a era comunista, e o ímpeto de industrialização levou a uma rápida urbanização. Cerca de 800.000 apartamentos de 30 a 70 metros quadrados foram construídos em materiais pré-fabricados, em prédios padronizados de quatro ou dez andares, além de escolas, centros comunitários etc. Cerca de um quinto da população da Hungria ainda vive nesses edifícios pré-fabricados. A população desses centros residenciais comprava os alimentos a baixo custo nas lojas ABC – como até hoje são conhecidos os mercadinhos e as lojas de conveniência em Budapeste!

Residências populares pré-fabricadas

No post sobre o Parque Memento incluí uma foto de um monumento aos Pioneiros, o movimento criado pelo Partido Comunista. Esse movimento estabeleceu diversos acampamentos de verão, onde a ideia era para doutrinar os jovens na ideologia soviética comunista, para torná-los fiéis ao partido. As crianças e jovens até queriam que esses retiros fossem férias, mas a disciplina era rígida. No auge do movimento, até 200.000 crianças e adolescentes participavam desses acampamentos por ano. Na prática, a participação era obrigatória para estudantes de 10 a 14 anos.

Acampamento do Movimento dos Pioneiros

Também no post sobre o Parque Memento há uma foto de uma estátua de Lênin colocada em frente a uma fábrica após uma “sugestão” de Khrushchev. Essa estátua ficava na entrada do distrito industrial Csepel, criado em 1892 numa área de 200 hectares não muito distante do centro de Budapeste.

Durante o regime comunista, 30.000 pessoas chegaram a trabalhar em Csepel na produção de máquinas, bicicletas e motocicletas para os países membros do Conselho para Assistência Econômica Mútua (Comecon), a organização econômica dos países do bloco comunista, que existiu de 1949 até 1991. Com a restauração do capitalismo, desapareceu o mercado para os produtos de baixa qualidade fabricados em Csepel. Por isso, hoje há apenas pequenas fábricas no velho complexo.

Csepel

O regime comunista na Hungria – como em diversos países soviéticos e em outros países comunistas até hoje – implantou o controle central da economia pelo Estado, sem considerar as circunstâncias de mercado. Abriram-se mineradoras inviáveis economicamente, com policiamento de uma milícia ligada ao Partido Comunista, para fornecer matéria-prima e energia para a indústria pesada criada artificialmente pelo Estado. Praticamente não havia desemprego – mas a produção era ineficiente e havia desperdício de recursos.

Modelo de mineradora da era comunista

O café mais lindo do mundo

Um dos muitos encantos da localização de nossa morada em Budapeste era que bastava dobrar uma esquina para chegar ao New York Palota, ou Palácio Nova York. Foi construído entre 1890 e 1894 pelo arquiteto húngaro Alajos Hauszmann para sediar a New York Insurance Company. O estilo é eclético, mas inspirado principalmente pelo Barroco italiano.

Vista da fachada principal do New York Palota

A fachada é decorada por diversos sátiros (mitologia grega) ou faunos (mitologia romana) – divindades de corpo parte humano, parte equino – que seguram luminárias.

Reflexos e um sátiro em uma das laterais do edifício

O New York Palota hoje abriga o elegante hotel 5 estrelas Boscolo Budapest. Mas a grande preciosidade do edifício é o New York Kávéház, ou New York Café, situado no térreo, com entrada pela esquina. Foi aberto no final do século XIX, auge da popularidade dos cafés de Budapeste para a cena intelectual da cidade. Diz a lenda que o escritor húngaro Ferenc Molnár, no dia da inauguração, jogou no Danúbio as chaves do café, para que nunca mais fechasse.

Não era apenas “mais um café”: era o café mais lindo do mundo.

New York Café: The most beautiful café in the world

Anno 1894, ano da conclusão da construção do edifício

Simplesmente passar pela soleira da porta do New York Café provoca um poderoso efeito uau. Basta entrar para sentir uma rajada de esplendor e o luxo da Belle Époque, por todos os lados. Tudo ao redor – candelabros, colunas de mármore, ornamentos dourados pelas paredes – é precioso. No teto há afrescos de Gusztav Mannheimer e Ferenc Eisenhut. Os lustres venezianos são espetaculares.

Interior do café a partir da nossa mesa

Um dos diversos afrescos do teto

A riqueza de detalhes parece interminável

A maioria dos turistas vai ao New York Café pela atmosfera deslumbrante, claro. Mesmo assim, a comida e os cafés também são excelentes (embora, como se poderia esperar, mais caros que a média de Budapeste). Minha forte recomendação vai para os omeletes – com queijos, pimentões (típicos na Hungria) e mais.

Um arco de madeira sobre colunas de mármore em espiral dá acesso ao nível inferior do restaurante, onde estava montado o bufê para os hóspedes do hotel.

O arco e a área do bufê

Visão geral da área do bufê

Visão geral da área do bufê

A área do bufê, vista do outro extremo

O arco, visto de outro ângulo

Nas galerias ao lado da área do bufê, há um espaço para música ao vivo. Numa das visitas ao New York Café, havia um pianista, e em outra, uma harpista.

A área dos músicos

Durante a Segunda Guerra Mundial, o prédio foi danificado. Chegou a servir de loja e até de depósito – era o depósito mais lindo do mundo. Apesar de restaurado em 1954, durante a era comunista o prédio nunca retomou seu esplendor. Depois da redemocratização, ficou vazio por uma década, até ser restaurado pelo grupo Boscolo. Foi reinaugurado em 2006.

Ao lado do café, o jardim interno do Boscolo

Vista noturna do New York Palota, com destaque à esquina da entrada do New York Café

Caminhadas pelo Distrito VII de Budapeste

No Erzsébetváros, nosso lar temporário durante a Expedição 2015 a Budapeste, há elegantes prédios antigos, construídos antes da Segunda Guerra. Muitos foram restaurados, mas há outros bem decadentes, com fachadas marcadas por poluição e abandono. Em muitos prédios de uso comercial é curioso ver que a restauração chegou só à fachada do andar térreo, onde ficam as vitrines; os demais andares continuam deteriorados. Há prédios que estão quase em ruínas — e muitos desses mesmo assim estão habitados ou ocupados pelos ruinpubs, famosas atrações da vida noturna de Budapeste.

Não restaurado, mas nem por isso menos elegante

Restaurado — e já precisando de retoques

Bela fachada de edifício na Klauzál tér, 2, pela Nagy Diófa utca (a Grande Rua das Nozes)

Pertinho do final da Akácfa utca, fica a Avilai Nagy Szent Teréz Plébánia, a Igreja de Santa Teresa de Ávila. Também ficou conhecida como “nossa igreja amarela”, porque ficava perto do apartamento, caminhávamos bastante por ali e servia de ponto de referência. E porque notamos que por alguma razão há várias igrejas amarelas em Budapeste — mas aquela era a “nossa”. O edifício foi construído no início do século XIX (1801–1809). O interior foi restaurado no século XX e está muito bem preservado.

Nossa Igreja Amarela de Santa Teresa de Ávila

Interior neoclássico da Igreja de Santa Teresa de Ávila

Na diagonal da igreja chama a atenção um prédio neogótico, construído em 1847.

Ainda no Erzsébetváros — a caminho do Parque da Cidade — visitamos Árpádházi Szent Erzsébet templom, a Igreja de Santa Isabel, construída na virada do século XIX para o XX, também em estilo neogótico. O templo sofreu com um bombardeio durante a Segunda Guerra. A partir de 1993, ocorreu a renovação do teto e de uma das torres, mas na parte interna se vê que reparos adicionais são necessários.

A fachada principal da Igreja de Santa Isabel, com a rosácea e as torres de 76 metros de altura

Interior da Igreja de Santa Isabel

Voltando para pertíssimo do apartamento, na própria Akácfa utca, um prédio muito importante no nosso quotidiano: a sede da

Budapesti Közlekedési
Zártkörűen Működő
Részvénytársaság

“Budapesti” é tranquilo entender… e o resto?

Nossa plena fluência em húngaro (mas principalmente o logo sugestivo) nos permitiu concluir que se tratava de “alguma coisa municipal referente a transportes”. Mais precisamente, é a sede da Budapest Transport Privately Held Corporation (BKV Zrt.), que opera metrôs, trens suburbanos (HÉV), bondes e ônibus.

Para encerrar o post, outro destaque do Distrito VII: os belos murais pintados nos paredões de alguns prédios. Na montagem a seguir vemos dois. No da direita, uma homenagem aos costureiros de Budapeste; no da esquerda, a imitação da fachada do mesmo prédio. Há muitos outros desses murais — como retrata este post do site BeBudapest.hu.

Erzsébetváros e o Gueto de Budapeste

No airbnb encontramos diversas opções legais de apartamentos em Budapeste. Avaliamos apartamentos localizados entre o Parque da Cidade e o Danúbio. Nosso critério mais específico de boa localização era a proximidade da Ópera do Estado Húngaro (de onde poderíamos caminhar para muitos pontos de interesse) e, ao mesmo tempo, de alguma estação de metrô ou bonde (para conveniência e distâncias maiores). Internet, máquina de lavar roupa, mesa para trabalhar e cama extra para receber hóspedes também eram critérios importantes.

Decidimos pelo Apartamento Axanda, na Akácfa utca (lê-se “Ó-cats-fa útsa”; utca significa “rua”), a 1 Km da Ópera e a duas quadra da estação de metrô Blaha Lujza — e cumprindo todos os  requisitos essenciais. A fachada do prédio de mais de 100 anos esconde um simpático pátio interno. O apartamento que alugamos tinha sol todas as manhãs.

Lu e James no corredor-sacada do nosso prédio

A Akácfa utca fica no Erzsébetváros — ou “cidade de Isabel” (Erzébet = Elizabeth = Isabel) —, o VII Distrito de Budapeste. O bairro recebeu seu nome em homenagem à Sissi, Rainha consorte da Hungria no final do século XIX. Historicamente foi o bairro judeu de Budapeste.

Nosso prédio e muitos outros vizinhos testemunharam uma parte triste da história. Em março de 1944, Budapeste foi ocupada pelos nazistas. Em novembro do mesmo ano, o Governo Húngaro — aliado à Alemanha nazista durante a Segunda Guerra, vale lembrar — determinou que vários quarteirões do Erzsébetváros (incluindo duas sinagogas) fossem isolados com muros de pedras e cercas. Assim se formou ali o Gueto de Budapeste, onde os judeus foram aprisionados em condições desumanas, sem comida, sem recolhimento de lixo.

Ainda que o gueto tenha existido ali por apenas três meses — até a liberação de Budapeste pelo Exército Vermelho Soviético em janeiro de 1945 —, milhares de pessoas morreram ali, de fome ou por diversas doenças. (Sem contar outros milhares que foram deportados a campos de concentração.) Apartamentos como o que alugamos, em que umas 6 pessoas podem viver com conforto, foram superlotados com 20 ou 30. O gueto chegou a ter 200.000 habitantes.

Mapa do Gueto de Budapeste. A Akácfa utca é a rua bem da direta.

Triste, mas não podia deixar de contar essa parte importante da história do Erzsébetváros. Prometo compensar nos próximos posts contando histórias mais leves e mostrando fotos de lugares lindos próximos ao nosso apartamento na Akácfa ucta.

Expedição 2015: o primeiro de n posts

Minha irmã Lu trabalha em home office faz uma década (sim, tudo isso; ela é um pouco velha) e eu comecei em maio do ano passado. Pouco depois – em meados de 2014 – ela veio com uma ideia muito interessante (não sejamos preconceituosos: gente mais velha pode ter ideias interessantes): por que não viajávamos juntos?

A flexibilidade de trabalhar onde estivéssemos nos permitia viajar para algum lugar e ficar lá mais tempo que as tradicionais férias de 7 a 14 dias. Poderíamos folgar em alguns dias, claro, mas também trabalhar em outros, de “casa” ou de diferentes cafés – e nesses dias fazer um pouco de turismo, caminhar pela cidade, ir a um espetáculo qualquer, jantar num restaurante legal. Assim teríamos uma experiência diferente: curtiríamos a cidade não como turistas, mas como residentes.

Tá bem: como 50% turistas e 50% residentes, digamos.

Para nossa Expedição 2015, começamos a olhar alguns destinos no airbnb (muito mais em conta que hotel, especialmente para uma proposta como a nossa).

Paris era uma opção atraente. Seria fácil encontrar um apartamento com conexão boa à Internet (um dos requisitos essenciais, para que pudéssemos trabalhar!). Do resto a cidade cuidaria: arquitetura, cafés e restaurantes, vida cultural… Os preços não chegavam a ser proibitivos – já que racharíamos a conta – mas desencorajavam. Outro fator negativo foi que ambos já conhecíamos Paris. Longe de nós a esnobarmos, mas para a primeira expedição seria clichê.

Então pensamos em Santiago, que não conhecemos e sempre quisemos conhecer. Assim nós valorizaríamos nosso continente natal. O fator “aventura” seria maior, pensamos, por ser um país em desenvolvimento. O preço seria mais em conta. Ambos falamos espanhol. Eu não estaria tão longe de casa – e para a Lu, que não mora no Brasil, seria uma boa ideia estar perto daqui e aproveitar para visitar família e amigos. Tudo bastante familiar. Excessivamente familiar.

Tínhamos de ir a uma cidade menos familiar – ou menos facilmente familiarizável. Seria melhor que não fosse um destino turístico muito óbvio. Poderíamos ousar um pouco, sem radicalizar (Badgá e Cabul continuariam fora da lista de opções!). A expedição poderia muito bem ser pra longe de casa e da zona de conforto. Se não conhecêssemos o idioma, tanto melhor.

Que tal Budapeste? É na Europa, mas não na Ocidental – é ponto turístico, mas menos óbvio. Nunca tínhamos estado lá. Nenhum de nós falava húngaro. E o airbnb oferecia belas opções de acomodação. Logo percebemos que Budapeste reunia a proporção adequada de qualidades e defeitos para uma dosagem certa de aventura e tranquilidade para trabalhar e passear.

Assim foi que a Expedição 2015 ocorreu no mês de maio, em Budapeste. A Lu ficou o mês todo lá; eu cheguei com uma semana de atraso, após a reunião de turma da NYU em Nova York.

O lado Peste de Budapeste, onde moramos

Enquanto estava em Budapeste, fiquei com remorso de “perder tempo” escrevendo a respeito. Preferi aproveitar para absorver tudo quanto pudesse da Expedição 2015.

Agora, de volta ao Rio Grande do Sul por um tempo, começo a encarar as 1500 fotos e os temas para diversos posts aqui no blog, sobre…

Este é o primeiro de posts porque eu não sei de quantos vou precisar para cobrir a lista não exaustiva acima! Resolvi me sacudir e enfim começar – mesmo sem meu tradicional planejamento neurótico de cada post – antes que as memórias comecem a falhar.

Aí vem uma série grande e nostálgica sobre Budapeste!

(E depois volto a contar de viagens mais antigas… a defasagem aqui segue grande!)

Anoitecer em Paris

Recapitulando a última viagem contada por aqui (porque ainda tenho muito para pôr em dia)… Em março passei uma semana em Genebra (menos um sábado em Berna) e uma semana em Arusha. No retorno ao Brasil, fiz algumas escalas. Na primeira, de 7h, passei uma manhã em Amsterdã. A segunda, também de umas 7h, foi em Paris, onde passei o anoitecer.

Cheguei ao aeroporto Charles de Gaulle (CDG) por volta das 16h e, meia hora depois, já estava no RER B3 (azul) para o centro da cidade (estação St-Michel – Notre-Dame). Para minha sorte, tomei um trem expresso, que passou sem parar por diversas estações!

Decidi aproveitar para fazer passeios pela Rua, já que não teria tempo para visitar museus. Atravessei la Seine e fui rever o exterior da Catedral Notre Dame.

La Seine – Atravessando o Rio Sena

Cathédrale Notre-Dame de Paris – Catedral de Nossa Senhora

A Catedral e o Sena

Vista lateral da Catedral

Segui a pé, passando pela Prefeitura e pela Torre de São Tiago, em direção à estação Châtelet – Les Halles, para de lá tomar o RER A (vermelho) até a estação Charles de Gaulle Étoile. Cheguei lá justo a tempo de ver o Arco do Triunfo ao anoitecer.

Hôtel de Ville de Paris – Prefeitura de Paris

Tour Saint Jacques – Torre de São Tiago

Arc de Triomphe – Arco do Triunfo

(Re)visto o Arco do Triunfo, a noite estava quase caindo, então resolvi tomar rumo para o destino final antes da (infelizmente inevitável) volta ao aeroporto Charles de Gaulle (CDG). E o destino final não poderia ser outro: a Torre Eiffel, o grande símbolo da Cidade Luz.

De RER A (vermelho) voltei até Châtelet Les Halles e, de lá, fiz transferência ao RER C (amarelo) até a estação Champ de Mars – Tour Eiffel. Caminhei até o pé da torre, esticando o pescoço para não perdê-la de vista em nenhum momento. ❤

Atravessei o Sena, para aproveitar a linda vista e tirar fotos noturnas do alto dos Jardins du Trocadéro. Dali, contemplei a torre toda iluminada ao saborear o mais autêntico (ou turístico) crêpe au Nutella (de rua) do mundo. E me lambuzei deliciosamente.

Tour Eiffel et Pont d’Iéna

Tour Eiffel – Torre Eiffel

Tour Eiffel – Torre Eiffel, vista do alto dos Jardins du Trocadéro

Da torre, voltei de RER C (amarelo) até St-Michel – Notre-Dame e de lá conectei ao RER B (azul) de volta ao Charles de Gaulle (CDG), a tempo de tomar o próximo voo. Assim foi que espremi todo o suco de uma deliciosa escala de 7h em Paris.

E segui o retorno em direção a Porto Alegre, com mais uma pequena “escala” antes de chegar em casa – desta vez, não de 7 horas, mas de 7 dias! Sobre essa escala conto no próximo post…