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Sinagoga Ortodoxa de Budapeste

Morando no Erzsébetváros, tradicionalmente o distrito judeu de Budapeste, não poderíamos deixar de visitar as sinagogas. Já na primeira caminhada pela vizinhança, a primeira que vimos — com sua bela e imponente fachada Art Nouveau, espremida na estreita Kazinczy utca — foi a Sinagoga Ortodoxa, cuja construção foi finalizada em 1913.

Fachada principal da Sinagoga Ortodoxa da rua Kazinczy

Detalhes da fachada da sinagoga

Tábuas da Lei na fachada da sinagoga

Foi minha primeira visita a uma sinagoga. Achei a decoração do interior deslumbrante e rica em detalhes, dos candelabros até os vitrais do teto e os símbolos judaicos pintados nas paredes. A sinagoga da rua Kazinczy é chamada de Ortodoxa porque foi construída por uma comunidade judaica dessa vertente do Judaísmo, mais voltada a interpretações tradicionais.

Teto, luminárias, galerias

Relógio em hebraico e símbolos judaicos nas paredes

Já que minha amiga Silvia pediu que eu postasse “figurinhas” em que eu aparecesse também (o que eu em geral evito fazer!), aí vai uma — de costas! — pra mostrar que eu estava apropriadamente usando o quipá, o chapéu utilizado pelos judeus como sinal de temor a Deus. Nesta foto, à direta, também se vê um pouco da bimá, o pódio usado para a leitura da Torá.

Contemplando…

O véu vermelho, com bordados de escritos em hebraico e das Tábuas da Lei, é o Parokhet, que cobre a porta que separa o templo da arca onde ficam guardados os rolos da Torá. Ele simboliza a cortina que, no Tabernáculo, cobria a Arca da Aliança, conforme descrito no Êxodo.

Detalhe do Parokhet

Rumo à saída da sinagoga, chama a atenção o vitral colorido sobre a porta principal. Por fim, nosso guia ainda nos mostrou uma página de jornal de 1944, mostrando o interior da sinagoga em ruínas, destruída pela ocupação nazista.

Vitral colorido que fica sobre a porta principal do templo

“A Sinagoga da Rua Kazinczy está em ruínas… Vamos reconstruí-la!”

Magyar Állami Operaház: a Ópera do Estado Húngaro

proximidade da ópera foi um dos critérios para a escolha da nossa morada temporária durante a Expedição 2015. Mas a ideia era não só morar perto: também queríamos assistir a uma ópera em Budapeste! Conseguimos bons ingressos para assistir de camarote a Faust, ópera de Charles Gounod baseada na obra de Goethe.

Magyar Állami Operaház, a Ópera do Estado Húngaro. Foto tirada no lindo último dia da Expedição 2015.

A produção fez parte do Festival Faust225, organizado para comemorar os 225 anos da primeira publicação de “Fausto, um Fragmento” de Goethe, em 1790. O festival durou duas semanas durante o mês de maio — felizmente, bem no mês da nossa expedição! Fomos à récita de 19 de maio. Além da ópera de Gounod, quatro outras peças relacionadas à obra de Goethe foram apresentadas como parte do festival.

O poster do festival, visto do terraço do foyer, na noite do espetáculo

A produção da ópera era moderna, o que não esperávamos e que corresponde naturalmente a um maior risco de controvérsia. A Lu não gostou muito desse aspecto, mas acho que houve quem tenha gostado menos ainda, porque ouvimos até uma vaia rápida (mas forte!) logo que as cortinas baixaram após o último ato. Eu acho que teria gostado mais de uma produção clássica, mas a releitura e os aspectos cênicos moderninhos não me incomodaram tanto.

A visibilidade do nosso camarote era perfeita. A acústica também. E o teatro é só elegância.

Vista do nosso camarote

Hoje a maior ópera da Hungria, foi construída a partir de 1875 em estilo Neo-Renascentista, com elementos barrocos, na elegante avenida Andrássy út. Sua inauguração aconteceu em 1884, com a presença do Imperador Austro-Húngaro Franz Josef — que, juntamente com a cidade de Budapeste, financiou a construção — e sua esposa queridinha dos húngaros, a Imperatriz Sissi. Nos anos 1980, a ópera foi restaurada e reaberta no seu centenário, em 1984. Abriga 1261 pessoas e, segundo especialistas, tem uma das melhores acústicas entre os teatros de ópera da Europa, depois do Scala de Milão e do Palais Garnier de Paris.

Visão geral da parte posterior do auditório

Destaque para as estátuas que ficam sobre o camarote real (hoje presidencial), que representam os quatro naipes: soprano, contralto, tenor e baixo

São muitos os detalhes deslumbrantes, mas se destaca no teto o afresco de Károly Lotz que retrata deuses gregos no monte Olimpo. O fabuloso lustre pesa mais de 2 toneladas.

O afresco e o lustre

Detalhes da luxuosa decoração dos camarotes

Num dos intervalos entre os atos, passamos pela grande escadaria até o foyer.

Detalhe lateral da grande escadaria

O foyer

Na frente do teatro há estátuas de Erkel Ferenc, compositor do hino nacional húngaro, diretor da Ópera e fundador da Orquestra Filarmônica de Budapeste. Há também uma estátua de outro Ferenc (ou Franz): Liszt, o mais famoso compositor húngaro.

Estátua de Franz Liszt (Liszt Ferenc) em frente à Ópera

Outro dia voltamos à ópera para uma visita guiada, que também vale muito a pena para conhecer outras partes do teatro que não se podem visitar durante os espetáculos — por exemplo, o salão da entrada lateral construída para a corte e a nobreza. Por um pequeno adicional ao preço da visita guiada, a casa oferece um miniconcerto no foyer.

Caminhadas pelo Distrito VII de Budapeste

No Erzsébetváros, nosso lar temporário durante a Expedição 2015 a Budapeste, há elegantes prédios antigos, construídos antes da Segunda Guerra. Muitos foram restaurados, mas há outros bem decadentes, com fachadas marcadas por poluição e abandono. Em muitos prédios de uso comercial é curioso ver que a restauração chegou só à fachada do andar térreo, onde ficam as vitrines; os demais andares continuam deteriorados. Há prédios que estão quase em ruínas — e muitos desses mesmo assim estão habitados ou ocupados pelos ruinpubs, famosas atrações da vida noturna de Budapeste.

Não restaurado, mas nem por isso menos elegante

Restaurado — e já precisando de retoques

Bela fachada de edifício na Klauzál tér, 2, pela Nagy Diófa utca (a Grande Rua das Nozes)

Pertinho do final da Akácfa utca, fica a Avilai Nagy Szent Teréz Plébánia, a Igreja de Santa Teresa de Ávila. Também ficou conhecida como “nossa igreja amarela”, porque ficava perto do apartamento, caminhávamos bastante por ali e servia de ponto de referência. E porque notamos que por alguma razão há várias igrejas amarelas em Budapeste — mas aquela era a “nossa”. O edifício foi construído no início do século XIX (1801–1809). O interior foi restaurado no século XX e está muito bem preservado.

Nossa Igreja Amarela de Santa Teresa de Ávila

Interior neoclássico da Igreja de Santa Teresa de Ávila

Na diagonal da igreja chama a atenção um prédio neogótico, construído em 1847.

Ainda no Erzsébetváros — a caminho do Parque da Cidade — visitamos Árpádházi Szent Erzsébet templom, a Igreja de Santa Isabel, construída na virada do século XIX para o XX, também em estilo neogótico. O templo sofreu com um bombardeio durante a Segunda Guerra. A partir de 1993, ocorreu a renovação do teto e de uma das torres, mas na parte interna se vê que reparos adicionais são necessários.

A fachada principal da Igreja de Santa Isabel, com a rosácea e as torres de 76 metros de altura

Interior da Igreja de Santa Isabel

Voltando para pertíssimo do apartamento, na própria Akácfa utca, um prédio muito importante no nosso quotidiano: a sede da

Budapesti Közlekedési
Zártkörűen Működő
Részvénytársaság

“Budapesti” é tranquilo entender… e o resto?

Nossa plena fluência em húngaro (mas principalmente o logo sugestivo) nos permitiu concluir que se tratava de “alguma coisa municipal referente a transportes”. Mais precisamente, é a sede da Budapest Transport Privately Held Corporation (BKV Zrt.), que opera metrôs, trens suburbanos (HÉV), bondes e ônibus.

Para encerrar o post, outro destaque do Distrito VII: os belos murais pintados nos paredões de alguns prédios. Na montagem a seguir vemos dois. No da direita, uma homenagem aos costureiros de Budapeste; no da esquerda, a imitação da fachada do mesmo prédio. Há muitos outros desses murais — como retrata este post do site BeBudapest.hu.

Erzsébetváros e o Gueto de Budapeste

No airbnb encontramos diversas opções legais de apartamentos em Budapeste. Avaliamos apartamentos localizados entre o Parque da Cidade e o Danúbio. Nosso critério mais específico de boa localização era a proximidade da Ópera do Estado Húngaro (de onde poderíamos caminhar para muitos pontos de interesse) e, ao mesmo tempo, de alguma estação de metrô ou bonde (para conveniência e distâncias maiores). Internet, máquina de lavar roupa, mesa para trabalhar e cama extra para receber hóspedes também eram critérios importantes.

Decidimos pelo Apartamento Axanda, na Akácfa utca (lê-se “Ó-cats-fa útsa”; utca significa “rua”), a 1 Km da Ópera e a duas quadra da estação de metrô Blaha Lujza — e cumprindo todos os  requisitos essenciais. A fachada do prédio de mais de 100 anos esconde um simpático pátio interno. O apartamento que alugamos tinha sol todas as manhãs.

Lu e James no corredor-sacada do nosso prédio

A Akácfa utca fica no Erzsébetváros — ou “cidade de Isabel” (Erzébet = Elizabeth = Isabel) —, o VII Distrito de Budapeste. O bairro recebeu seu nome em homenagem à Sissi, Rainha consorte da Hungria no final do século XIX. Historicamente foi o bairro judeu de Budapeste.

Nosso prédio e muitos outros vizinhos testemunharam uma parte triste da história. Em março de 1944, Budapeste foi ocupada pelos nazistas. Em novembro do mesmo ano, o Governo Húngaro — aliado à Alemanha nazista durante a Segunda Guerra, vale lembrar — determinou que vários quarteirões do Erzsébetváros (incluindo duas sinagogas) fossem isolados com muros de pedras e cercas. Assim se formou ali o Gueto de Budapeste, onde os judeus foram aprisionados em condições desumanas, sem comida, sem recolhimento de lixo.

Ainda que o gueto tenha existido ali por apenas três meses — até a liberação de Budapeste pelo Exército Vermelho Soviético em janeiro de 1945 —, milhares de pessoas morreram ali, de fome ou por diversas doenças. (Sem contar outros milhares que foram deportados a campos de concentração.) Apartamentos como o que alugamos, em que umas 6 pessoas podem viver com conforto, foram superlotados com 20 ou 30. O gueto chegou a ter 200.000 habitantes.

Mapa do Gueto de Budapeste. A Akácfa utca é a rua bem da direta.

Triste, mas não podia deixar de contar essa parte importante da história do Erzsébetváros. Prometo compensar nos próximos posts contando histórias mais leves e mostrando fotos de lugares lindos próximos ao nosso apartamento na Akácfa ucta.

Expedição 2015: o primeiro de n posts

Minha irmã Lu trabalha em home office faz uma década (sim, tudo isso; ela é um pouco velha) e eu comecei em maio do ano passado. Pouco depois – em meados de 2014 – ela veio com uma ideia muito interessante (não sejamos preconceituosos: gente mais velha pode ter ideias interessantes): por que não viajávamos juntos?

A flexibilidade de trabalhar onde estivéssemos nos permitia viajar para algum lugar e ficar lá mais tempo que as tradicionais férias de 7 a 14 dias. Poderíamos folgar em alguns dias, claro, mas também trabalhar em outros, de “casa” ou de diferentes cafés – e nesses dias fazer um pouco de turismo, caminhar pela cidade, ir a um espetáculo qualquer, jantar num restaurante legal. Assim teríamos uma experiência diferente: curtiríamos a cidade não como turistas, mas como residentes.

Tá bem: como 50% turistas e 50% residentes, digamos.

Para nossa Expedição 2015, começamos a olhar alguns destinos no airbnb (muito mais em conta que hotel, especialmente para uma proposta como a nossa).

Paris era uma opção atraente. Seria fácil encontrar um apartamento com conexão boa à Internet (um dos requisitos essenciais, para que pudéssemos trabalhar!). Do resto a cidade cuidaria: arquitetura, cafés e restaurantes, vida cultural… Os preços não chegavam a ser proibitivos – já que racharíamos a conta – mas desencorajavam. Outro fator negativo foi que ambos já conhecíamos Paris. Longe de nós a esnobarmos, mas para a primeira expedição seria clichê.

Então pensamos em Santiago, que não conhecemos e sempre quisemos conhecer. Assim nós valorizaríamos nosso continente natal. O fator “aventura” seria maior, pensamos, por ser um país em desenvolvimento. O preço seria mais em conta. Ambos falamos espanhol. Eu não estaria tão longe de casa – e para a Lu, que não mora no Brasil, seria uma boa ideia estar perto daqui e aproveitar para visitar família e amigos. Tudo bastante familiar. Excessivamente familiar.

Tínhamos de ir a uma cidade menos familiar – ou menos facilmente familiarizável. Seria melhor que não fosse um destino turístico muito óbvio. Poderíamos ousar um pouco, sem radicalizar (Badgá e Cabul continuariam fora da lista de opções!). A expedição poderia muito bem ser pra longe de casa e da zona de conforto. Se não conhecêssemos o idioma, tanto melhor.

Que tal Budapeste? É na Europa, mas não na Ocidental – é ponto turístico, mas menos óbvio. Nunca tínhamos estado lá. Nenhum de nós falava húngaro. E o airbnb oferecia belas opções de acomodação. Logo percebemos que Budapeste reunia a proporção adequada de qualidades e defeitos para uma dosagem certa de aventura e tranquilidade para trabalhar e passear.

Assim foi que a Expedição 2015 ocorreu no mês de maio, em Budapeste. A Lu ficou o mês todo lá; eu cheguei com uma semana de atraso, após a reunião de turma da NYU em Nova York.

O lado Peste de Budapeste, onde moramos

Enquanto estava em Budapeste, fiquei com remorso de “perder tempo” escrevendo a respeito. Preferi aproveitar para absorver tudo quanto pudesse da Expedição 2015.

Agora, de volta ao Rio Grande do Sul por um tempo, começo a encarar as 1500 fotos e os temas para diversos posts aqui no blog, sobre…

Este é o primeiro de posts porque eu não sei de quantos vou precisar para cobrir a lista não exaustiva acima! Resolvi me sacudir e enfim começar – mesmo sem meu tradicional planejamento neurótico de cada post – antes que as memórias comecem a falhar.

Aí vem uma série grande e nostálgica sobre Budapeste!

(E depois volto a contar de viagens mais antigas… a defasagem aqui segue grande!)

Em Buenos Aires, com visita guiada ao Céu

Com este post eu finalmente concluo a temporada de viagens de março! Depois de GenebraBernaArushaAmsterdã e Paris du Nord, a última escala foi na París del Sur: ¡Buenos Aires!

Gosto muito de Buenos Aires e sempre me alegro em voltar. Minha última viagem pra lá tinha sido a trabalho, em agosto de 2014, quando também revi alguns pontos turísticos, vivenciei uma autêntica milonga e fiz uma visita guiada ao Teatro Colón. Em março deste ano, fui de novo por conta do imperdível casamento de Enrique e Lucrecia (aqui citados).

Cheguei num domingo pela manhã, com mau tempo.

Torre de los Ingleses, Retiro, Buenos Aires. A foto “fotobombada” pela pomba em pleno voo me fez pensar na minha amiga Lígia Kuhn, que tem uma habilidade inexplicável de tirar fotos dessas. No segundo plano, à esquerda da Torre de los Ingleses, também se pode ver a torre do Edificio Kavanagh, arranha-céu Art Déco de 1935.

A Sabrina, minha colega de trabalho que mora em Buenos Aires com sua família, gentilmente me acolheu em sua casa nos primeiros dias — enquanto eu, hóspede horrível, trabalhei 8h por dia. Mesmo assim, graças ao meu horário maleável e à hospitalidade criativa da Sabrina e sua família, consegui curtir um pouco de Buenos Aires.

Numa volta de bicicleta, passamos pelo Palacio Pereda, construído na década de 1920, que desde 1945 é residência oficial do Embaixador da República Federativa do Brasil à República Argentina. Ali perto também fica Palacio Ortiz Basualdo, de 1912, que em 1925 foi residência de Eduardo VIII, Príncipe de Gales, e desde 1939 é sede da Embaixada Francesa.

Palacio Pereda

Palacio Ortiz Basualdo, lindo até se visto da parte dos fundos

Outro dia voltei ao Teatro Colón, não para uma visita guiada, mas para um espetáculo de ballet! Uma amiga da Sabrina que tinha ingressos de temporada não pôde ir ao espetáculo — e eis que, de última hora, tive a oportunidade de adquirir o ingresso dela. Se o teatro já é incrível na visita guiada, tanto mais em funcionamento!

Teatro Colón

Quando escrevi sobre a visita de 2014 a Buenos Aires, comentei que o “gostinho de quero mais” ficou por conta do Palacio Barolo, na Avenida de Mayo: é o mais antigo edifício construído em concreto armado na Argentina, obra do arquiteto Mario Palanti. Quando concluído, em 1923, era o edifício mais alto da América do Sul, com 100m de altura. Comentei que gostaria de fazer a visita guiada — e a Sabrina gostou da ideia!

 

Dentro do Palacio Barolo, olhando para a Avenida de Mayo

Da galeria no térreo do Palacio Barolo (o Inferno), olhando para os andares mais altos (no Purgatório). As referências são do próprio arquiteto, que para o projeto do edifício encontrou inspiração na Divina Comédia, de Dante Alighieri.

O primeiro elevador vai até o 14o. andar. A agulha que indica os números dos andares segue em pleno funcionamento.

Do Purgatório, tirei foto da galeria (el pasaje) da entrada: o Inferno.

A partir do 14o andar, o mais alto do Purgatório, subimos uma escada (cada vez mais) estreita através dos andares da torre (o Céu) até o 22o, onde fica o farol, com vistas privilegiadas para a cidade de Buenos Aires.

Placas originais do edifício, indicando o caminho do Céu

Vista oeste do alto da torre do Edificio Barolo, com destaque para o Congreso de la Nación Argentina

A leste, vista para os arranha-céus de Puerto Madero e o infindável Mar Dulce que é o Río de la Plata

Olhando para dentro do refletor do farol, vi Buenos Aires de cabeça para baixo. (O fotógrafo também aparece. Em plena tarde tórrida de verão porteño, estava reluzindo de tanto suar dentro da redoma de vidro onde fica o farol!)

Na sexta-feira tirei folga e fui para San Isidro, na Grande Buenos Aires, para o casamento de Enrique e da Lucrecia. Foi muito bom rever meu hermano — que há uma década conheci no Canadá —, ajudar nos preparativos do casamento e entregar a ele os chocolates que tinha trazido de Genebra (via Arusha, Amsterdã e Paris). E me diverti muito ficando hospedado com a Vir, mãe do noivo, minha Mamá greco-argentina desde 2007, que morou na Grécia por um tempo e faz pouco se mudou para o Chile. E me alegrei também por ver depois de anos a Alejandra, irmã do Enrique, e conhecer o marido dela, Jean — eles moram na África do Sul.

O internacionalismo não é provocado. Acontece espontaneamente. 🙂

Depois de três intensivas semanas em três continentes, voltei enfim — sem mais escalas — ao Porto que convencionei chamar de casa.

Estación Retiro-Mitre, primeira parada no meu retorno multimodal a Porto Alegre (trem–ônibus–avião–táxi)

Páscoa Missioneira

O atraso é grande, mas não poderia deixar chegar a Páscoa de 2015 sem publicar algumas fotos do passeio da Páscoa de 2014 com os primos Cris e Fer às Missões Jesuíticas dos Guaranis. As ruínas dos séculos XVII e XVIII foram tombadas pelo Patrimônio Nacional; são também o único sítio histórico do Rio Grande do Sul incluído na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.

Depois da viagem de 500 quilômetros de pura alegria de Porto Alegre até lá, a primeira parada foi em Santo Ângelo – para almoço e café com sobremesa pascoal na Kemper’s Haus, dica (até hoje festejada!) da amiga angelopolitana Renata Lauermann.

Delicioso cupcake da Kemper’s Haus

Dali fomos à Catedral Angelopolitana, construída já no século XX (1929–1971), mas lembrando o estilo do templo da Missão de São Miguel Arcanjo, hoje em ruínas. Está no mesmo lugar da igreja original (1706) da Missão de Santo Ângelo Custódio.

Fachada principal da Catedral Angelopolitana

Detalhes e esculturas da Catedral Angelopolitana

Vitral de Jesus, Maria e José na Catedral Angelopolitana

Visitamos o Museu Municipal Dr. José Olavo Machado (pertinho da catedral) e o Memorial Coluna Prestes (na antiga estação ferroviária) e vimos o Monumento a José (Sepé) Tiaraju, o herói indígena da defesa das Missões na Guerra dos Guaranis. A escultura é de Olindo Donadel.

Memorial Coluna Prestes

Monumento a Sepé Tiaraju, com a frase atribuída a ele – “Esta Terra Tem Dono”

Em São Miguel das Missões, visitamos o Sítio Arqueológico São Miguel Arcanjo, onde ficam as ruínas do templo barroco da principal redução jesuítica, construído entre 1735 e 1745, mas nunca finalizado (ficou faltando a segunda torre – observatório astronômico). Construído todo em pedra grês, foi projetado pelo padre jesuíta Gian Battista Primoli, de Milão.

As ruínas de São Miguel Arcanjo, emolduradas pelo céu gaúcho

As ruínas de São Miguel Arcanjo e a cruz missioneira

Vista lateral da fachada principal das ruínas

Detalhe de uma das colunas da fachada principal

Os arcos da nave principal da igreja em ruínas

No capitel de uma das colunas, abaixo dos ornamentos, o ano: 1739.

Parte superior da fachada principal da igreja em ruínas

Detalhe da fachada principal

A torre, que originalmente continha cinco sinos

Interior da torre

De catedral a ruína

Estátuas feitas pelos índios guaranis, à exposição no Museu das Missões

“Anno 1726” no destaque do sino exposto no Museu das Missões

Os três aventureiros missioneiros

“Tira rápido que não tem muita gente”

Brincando com a função panorama: Cris e Fer, Cris e Fer, Cris e Fer

A fonte missionária, a um quilômetro do sítio arqueológico

O tradicional Espetáculo Som & Luz, que narra a história dos Sete Povos das Missões e da Guerra Guaranítica

Sábado em Berna

Quando escrevi sobre a semana em Genebra, escondi o jogo sobre a atividade de sábado, porque ela mereceu um post todo seu, com muitas fotos! Na companhia do amigo Atul, finalmente fui conhecer Berna. Depois de morar em Genebra por quatro meses e passar algumas vezes pela Suíça, nunca tinha visitado a capital do país! Não vou dizer que um dia seja suficiente, mas já dá pra ver bastante. Berna é uma cidade pequena, perfeita para caminhar.

O passeio começou pela viagem de trem de Genebra até lá, sábado de manhã não-tão-cedinho (porque ninguém e de ferro). Apesar da neblina, as montanhas e o lago nos brindaram com algumas vistas lindas, como esta – perto de Lausanne, pouco antes do trem se afastar do lago:

Ao chegarmos à estação de trem de Berna, a Valériane – colega minha e do Atul dos tempos de NYU – já nos esperava para nos abraçar na plataforma. Isso é que é hospitalidade! Fomos caminhando (e colocando as conversas de quase cinco anos em dia) rumo ao Rio Aare. Dali se vê o lado sul da Bundeshaus, o Palácio Federal da Suíça, onde funciona o parlamento:

O restaurante para o qual a Valériane nos convidou, à margem do rio, é o Schwellenmätteli (tenta pronunciar que é divertido!). Lá nossa anfitriã não conseguia parar de rir (de alegria, ela disse, mas provavelmente também um pouco de vergonha alheia) das minhas extravagâncias suíças. Rivella é um refrigerante à base de soro de leite; está para os suíços mais ou menos o que o guaraná está para os brasileiros nostálgicos no exterior. Depois do almoço… café? Claro que não: Ovomaltine, também tipicamente suíço. Tudo isso, pontualmente, conforme meu relógio Swiss made.

A Valériane não pôde continuar conosco à tarde, então seguimos Atul e eu para o turismo intensivo! Seguimos caminhando à beira do Aare até o Parque dos Ursos, símbolo da cidade.

Um urso pousou para foto, mas não parecia muito feliz :/

Visto o Parque dos Ursos, fomos ao Altes Tramdepot, o antigo terminal de bondes. Ali há um centro de informações turísticas, onde assistimos a um vídeo sobre Berna – história e atrações. Há também um restaurante (muito bom, segundo a dica da minha irmã).

Além disso, é um lugar estratégico para começar a visita à Cidade Antiga de Berna – inscrita na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 1983. Dali, é só atravessar a ponte (Nydeggbrücke) sobre o Rio Aare para chegar à rua principal (Gerechtigkeitsgasse) da Cidade Antiga.

Na Gerechtigkeitsgasse (assim como em muitas outras ruas da Cidade Antiga), as calçadas ficam ao abrigo dos prédios que, lado a lado, formam um longo corredor de galerias. No centro da rua há diversas fontes, muitas com esculturas e outras formas decorativas.

Sobre a Nydeggbrücke

As galerias de Berna

Uma das fontes na Gerechtigkeitsgasse

Uma parada ao longo da Gerechtigkeitsgasse fizemos na Einstein-Haus, a casa onde o genial matemático, físico e músico (opa? sim! e tantas outras coisas mais…) Albert Einstein morou de 1902 a 1909. Nesse período, ele publicou 32 trabalhos científicos. Em 1905, conhecido como o annus mirabilis (ano maravilhoso) no campo da Física, aos 26 aninhos (!) ele publicou quatro artigos, dois dos quais estão entre seus mais importantes trabalhos: a Teoria Especial da Relatividade e a descoberta do efeito fotoelétrico, que rendeu a ele o Prêmio Nobel em Física em 1921. Como o próprio Einstein reconheceu, “aqueles foram bons tempos, os anos em Berna”.

De longe já se vê que a Gerechtigkeitsgasse leva à torre Zytglogge, outro símbolo de Berna. Foi construída no início do século XIII e no século XV ganhou um relógio astronômico.

Zytglogge

Zytglogge – detalhe do relógio astronômico

Desviando para uma rua lateral, fomos ver Berner Münster, a catedral de Berna, construída de 1421 a 1893 em estilo gótico tardio.

Berner Münster

Detalhe da porta principal da catedral

É possível subir por escadas a torre de 100,6 metros de altura…

E eu, obviamente, não resisti ao desafio!

Vale a pena, um pouco pelo exercício físico e bastante pelas vistas que se tem da cidade – a oeste:

A leste:

E, ao sul, os Alpes Bernenses:

Detalhe de uma sacada, vista da catedral

Do alto se vê bem o corredor de galerias nas calçadas

Destaque para a rua principal, a torre Zytglogge e, mais ao fundo, a Torre da Prisão

Berner Münster, vista da praça da catedral, à beira do rio Aare

Pouco antes de começar a escurecer, passeamos por volta da Bundeshaus. Do parque que fica no lado sul, com um terraço debruçado sobre o rio, uma bela vista para os Alpes Bernenses:

Fachada sul do Bundeshaus

Em busca de um restaurante para jantar, mais algumas descobertas arquitetônicas interessantes…

Uma caminhada tranquila pelas ruas igualmente tranquilas… (porque às 18h tudo na Suíça fecha e as pessoas começam a se recolher em suas casas!)

Deu tempo até de uma rápida viagem ao passado:

Para não perder o gosto pelas fotos noturnas, a fachada norte da Bundeshaus:

Curia Confoederationis Helveticae – a fachada norte da Bundeshaus

Antes de voltar a Genebra, nada mais suíço que jantar fondue, com vinho da casa. Para o Atul, foi o primeiro; para mim, sei lá, o enésimo – mas sempre gosto! A foto foi para a Valériane, que, mesmo sem poder vir jantar conosco, pelo menos poderia se divertir com nossas turistices. 😀

Um pé na África

Considerando que em todo o ano de 2013 foram 100.000 quilômetros e, em todo 2014, 95.000, a marca de 40.000 quilômetros percorridos no último mês (e mais uns dias) não está nada mal para a duodécima parte do ano de 2015.

(Linda essa palavra, “duodécima”. Depois de um mês sem publicar um post, parece até que estou tentando afugentar o leitor já no primeiro parágrafo. Para aí: não vai embora ainda.)

Uma pequena parte desses 40.000 se deveu a uma bela viagem de carro com meus pais a este simpático paisito ao sul do Rio Grande do Sul: o Uruguai. (Lembrando que “a pequena parte” de 5% ainda significam 2.000 quilômetros!) O tempo estava per-fei-to. Virão fotos e relatos.

A maior parte dos 40.000 aconteceu por uma viagem a trabalho. Não foi inesperada, mas acabou sendo definida de última hora. Sem exagero, foi assim: passagem comprada na sexta-feira, malas feitas no sábado, partida no domingo. O destino principal foi Arusha, na Tanzânia.

(Houve outros destinos, também – muitos outros –, mas vou deixar para contar com calma.)

Pela primeira vez na vida, coloquei um pé na África – bom, os dois, na verdade! A trabalho, participei de um treinamento realizado junto à Comunidade da África Oriental (EAC, na sigla em inglês), organização regional que abrange Burundi, Quênia, Ruanda, Tanzânia e Uganda. Além da sede da EAC, em Arusha também fica o Tribunal Penal Internacional para Ruanda.

Aliás, na frente do Tribunal Penal Internacional para Ruanda aconteceu meu mico africano. Não, não vi nenhum macaco. Como bom advogado internacionalista, quis uma foto da sede do tribunal. Tirada a foto, segui caminhando. Atrás de mim veio um simpático cidadão local e me cutucou. Parei; achei que eu pudesse ter perdido alguma coisa pelo caminho. Ele não falava inglês: só sorria e apontava para outras duas pessoas que vinham atrás da gente. Um deles, armado até os dentes. Esses, sim, falavam inglês.

– Aqui não é permitido fotografar.

– Ops, eu não sabia!

– Mostre a foto.

Mostrei.

– Apague.

Apaguei e me desculpei – e segui caminhando. Portanto, fotografei, mas não tenho foto.

Fiquei quatro dias em Arusha e trabalhei em todos eles – ou seja, o safari infelizmente teve de ficar pra próxima! Mesmo assim, minha impressão de Arusha foi muito positiva. O povo é simpático e pacífico. As ruas são bastante limpas. Não dá nem pra dizer que a cidade é arborizada; tem tanto verde que é mais preciso dizer que a floresta é urbanizada! Vi alguma pobreza, sim, mas comparável a uma periferia no Brasil – e bem menor que a que vi na Índia, por exemplo.

Do hotel onde fiquei, tive uma vista privilegiada para o Monte Meru, ao norte de Arusha.

No caminho de volta ao aeroporto Kilimanjaro, vi o próprio Kilimanjaro, a montanha mais alta da África (5.895 metros)! O motorista que me levou ao aeroporto – um jovem cristão que falava inglês bastante bem e conversou bastante – parou para que eu pudesse fotografar.

A seguir, outras paradas ao longo dos 40.000 quilômetros…

95.000 quilômetros

Há exatamente um ano (02/02/2014) eu publicava a distância que havia percorrido em viagens no ano anterior (2013): 100.000 quilômetros. Embora nunca antes tivesse feito esse cálculo, posso dizer com segurança que nunca tinha viajado tanto num mesmo ano. Também pudera: em 2013 eu fui do Brasil para a Ásia, a Europa e a América do Norte em ocasiões diferentes.

Bobeira não ter guardado a memória de cálculo; hoje quis conferi-la. Terminei 2013 em Seattle; no início de 2014, ainda fui de lá para Nova York e, de lá, de volta para Porto Alegre. Não me lembro se incluí essas viagens no cálculo de 2013 (porque, afinal, foram as paradas finais de uma viagem iniciada em 2013) ou se não as incluí (porque, afinal, ocorreram em 2014).

Hoje resolvi repetir o exercício para 2014. Para evitar dupla contagem, não contabilizei as viagens de janeiro de 2014 (Seattle–Nova York–Porto Alegre). Nem esperava chegar perto da marca anterior (porque em 2014 não fui à Ásia), mas não é que foi por pouco? 95.000 quilômetros. Não foram 2,5 voltas ao mundo. Foram 2,37 voltas.

Unisphere

Minha foto da Unisphere (altura de 12 andares e 300 toneladas de aço), no Flushing Meadows-Corona Park, NYC

No último post comentei que viajei um tanto e citei alguns locais visitados. Por lapso, deixei de citar alguns (*). Aí vai a lista completa (inclusive com as viagens de janeiro de 2014), com links para posts, quando houver. À medida que for escrevendo posts e publicando fotos referentes aos itens sem link, volto aqui e incluo o link. Ou seja, tenho assunto para todo o ano de 2015. 😀

Muitos dos destinos (Buenos Aires, Genebra, Montreux e Santo Domingo) foram a trabalho. O que não quer dizer que só trabalhei. O que não quer dizer que matei trabalho para passear!

Assim como em 2013, trabalhei bastante em 2014, mas no cotidiano percorri uma distância bem menor de casa ao trabalho: uns 1.200 quilômetros dentro de Porto Alegre, porque em maio comecei a trabalhar de casa. Claro, considerando as viagens de longa a distância, eu percorri uns 70.000 quilômetros a trabalho…

Cada vez faz menos sentido ter um carro, mas ainda não foi em 2014 que vendi o meu. Não me perguntem por quê. (Um belo dia surge um post-classificados: BARBADA VENDO FIESTA 2008.)

Há um ano eu estava feliz de ter voltado em 2013 a cantar num coro, o Grupo Cantabile. Ironicamente, agora estou triste de tê-lo abandonado em 2014. Achei (e ainda acho) complicado conciliar o nomadismo com os compromissos semanais (ensaios) e eventuais (apresentações).

Há um ano estava superfeliz de ter crescido profissionalmente e ido de um emprego muito bom a outro com potencial ainda maior em 2013. Curiosamente, agora posso dizer exatamente o mesmo sobre 2014. Enfim estou trabalhando com Direito Internacional! Para o ano que vem, espero continuar crescendo, claro, mas sem tantas reviravoltas…

Tudo isso foi importante para mim e me faz concluir que, embora ainda precise fazer alguns autoajustes, estou mais próximo do balanço positivo que costumava manter e que perdi em algum momento nos últimos anos. Perceber o quanto viajei no último ano foi a cereja que faltava no bolo.

O triste é que o parágrafo anterior é uma cópia do que escrevi há um ano. Ou não é triste? Ou é normal e devo me conformar em ser sempre incompleto?